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Recurso adesivo do autor provido Recurso do réu prejudicado.

No documento rdj104 (páginas 141-149)

ii – do recurso da autora

8. Recurso adesivo do autor provido Recurso do réu prejudicado.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Sebastião Coelho – Relator, Gislene Pinheiro – Revisora, Angelo Canducci Passareli – Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Sebastião Coelho, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Julgar prejudicado o recurso principal e dar parcial provimento ao recurso adesivo. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 26 de fevereiro de 2014.

relatório

Cuida-se de apelações interpostas por J.P. DE O.C. (réu) e S.M.R. (autor) contra sentença (fls. 76/82), proferida pelo Juízo da 20ª Vara Cível de Brasília em ação de Indenização, que julgou parcialmente procedente o pedido para condenar o réu ao pagamento de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), a título de danos morais. Condenou ainda ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação.

Suscita o apelante/réu (fls. 84/96) a inexistência do dano moral, uma vez que utilizou de expressões absolutamente comuns no meio esportivo, principalmente no futebol, e que devem ser analisadas no contexto em que proferidas, não se podendo afirmar que tiveram a intenção de atingir a honra subjetiva ou objetiva do autor.

Ressalta que as suas declarações se limitaram ao desempenho técnico-profissional do apelado/autor, não tendo havido nenhuma repercussão exagerada, não havendo nos autos prova de que em razão desse fato tenha sido o réu impedido de apitar outras partidas na qualidade de árbitro, tampouco de que as declarações do autor tenham lhe gerado dor, sofrimento ou transtorno que caracterizassem o dano moral.

Aduz o direito à liberdade de expressão e pensamento assegurado em âmbito constitucional, bem como a desproporcionalidade do valor fixado na condenação. Pugna, ao final, pelo conhecimento e provimento do apelo para reformar a r. sentença a fim de que seja julgado improcedente o pedido de indenização por danos morais, ou a redução do valor fixado.

Preparo à fl. 97.

Pleiteia a parte autora, em seu recurso adesivo (fls. 102/117), a majoração do valor atribuído ao dano moral, bem como a condenação do réu à retratação, por meio de comunicação de grande circulação nacional. Afirma que as declarações do réu denegriram sua honra, pois as ofensas foram veiculadas na mídia, bem como na rede internacional de computadores, fato que gerou imensa repercussão em sua vida profissional e pessoal, em afronta à dignidade da pessoa humana.

Alega a capacidade econômica do réu a fim de que o valor da condenação seja a ela proporcional e sirva como exemplo. Por fim, requer seja conhecido e provido o recurso adesivo interposto, para que seja majorado o valor da condenação a título de danos morais arbitrado na r. sentença e determinada a retratação pelo réu. Preparo às fls. 118/119.

Contrarrazões do autor às fls. 121/135, pugnando pelo improvimento do recurso, tendo em vista a comprovação da ocorrência do dano moral. O réu não as apresentou (fls. 138/139).

É o relatório.

votos

Des. Sebastião Coelho (Relator) – Presentes os pressupostos de admissibilidade,

conheço dos recursos principal e adesivo. Sem preliminares para análise, passo ao mérito. Ambas as partes interpuseram recurso.

A sentença recorrida deve ser parcialmente reformada. De início, passo ao exame do apelo interposto pelo réu.

Cuidam os autos de pedido de indenização por dano moral em que narra o autor, árbitro de futebol, que após partida realizada entre a equipe do Corinthians Paulista e Cruzeiro Esporte Clube, o réu, então presidente deste, teria proferido à sua pessoa palavras ofensivas, as quais foram veiculadas em várias reportagens, repercutindo nacionalmente.

Doutrina e jurisprudência evoluíram para o reconhecimento de que o dever de indenizar por danos morais decorre de violação de direitos da personalidade, caracterizada pela dor e sofrimento psíquico que podem atingir, em última análise, o sentimento de dignidade da vítima.

A análise da configuração do dano moral, contudo, guarda certa complexidade, já que a demonstração da dor e sofrimento suportados pela vítima situa-se na esfera do subjetivismo, impondo-se verificação detida em cada caso.

Nesse sentido, devem ser desconsiderados os dissabores ou vicissitudes do cotidiano, impondo-se a aplicação do instituto nas situações em que a ofensa à personalidade seja expressiva, não sendo razoável naquelas tão somente desagradáveis a que todos estamos suscetíveis no cotidiano.

Analisando detidamente os autos, verifico o acerto do douto juízo sentenciante quanto ao reconhecimento da existência do dano moral ocasionada pelo apelante/ réu ao autor.

O apelante/réu utilizou diversas expressões ofensivas à honra do autor, as quais foram divulgadas por meios de comunicação, conforme se vê dos documentos acostados às fls. 21/30, o que repercutiu para além do contexto em que se deu o fato (estádio de futebol).

A utilização de expressões como “picareta desonesto”, “safado”, “incompetente”, além da imputação de que o autor havia sido “comprado” (fls. 22/30), em entrevista realizada por jornalistas ao réu, então dirigente de clube de renome internacional, excede a normalidade de expressões utilizadas por torcedores contra árbitros. Ademais, tais declarações foram gravadas em vídeo e disponibilizada em sítio de amplo acesso na internet, com o título “Presidente do Cruzeiro diz que juiz levou dinheiro do Corinthians” (fl. 21).

O réu, portanto, além da utilização de termos pejorativos, imputou falsamente ao autor a prática de crime (calúnia), o que denegriu a sua honra e causou grande repercussão em sua vida pessoal e profissional.

Não obstante o direito à liberdade de expressão e pensamento, assegurado em âmbito constitucional, não se pode olvidar que a dignidade da pessoa humana foi erigida a princípio fundamental da República Federativa do Brasil, nos termos do Art. 1º, III, da Constituição, razão pela qual sua ofensa gera direito à reparação por dano moral.

Ademais, todo direito está sujeito a restrições, pois nenhum é absoluto e o seu exercício encontra limite na ausência de abuso.

No caso, verifica-se presente a violação a direito da personalidade, consistente na angústia desproporcional causada pela conduta do apelante/réu, que ultrapassou o mero aborrecimento e feriu a dignidade de sua pessoa, em especial sua conduta profissional, impondo-se o dever de indenizar.

Dessa forma, comprovados os requisitos da responsabilidade civil, quais sejam, a conduta dolosa ou culposa do agente, o dano e o nexo de causalidade entre eles, como no caso, impõe-se a procedência do pedido indenizatório.

No que concerne ao quantum indenizatório, que também é objeto do recurso adesivo interposto pela parte autora, tenho que merece reparos.

A fixação do valor indenizatório não é tarefa fácil e deve ser realizada pelo Julgador, a seu prudente critério, de modo que não deva ser muito elevado, a fim de proporcionar o enriquecimento sem causa, tampouco tão baixo a ponto de não ser sentida no patrimônio do responsável pelo dano.

Sem dúvida o valor fixado a título de reparação por danos morais, em que pese a falta de critérios objetivos, deve ser pautado pela proporcionalidade e razoabilidade, bem como em face da condição econômico-financeira das partes e da gravidade do dano, de forma a servir como forma de compensação à vítima e de possuir caráter sancionatório e inibidor da conduta praticada pelo autor.

Deve ser observada a normativa que trata da efetiva extensão do dano, por inteligência do artigo 944 do Código Civil: “a indenização mede-se pela extensão do dano”.

A indenização deve ser fixada com ponderação, não se justificando exageros, devendo ser proporcional ao grau de culpa e à capacidade econômica de ambos os litigantes, atentando-se à realidade do país e às peculiaridades de cada caso. No caso, levando-se em consideração as condições econômicas do réu, que à época dos fatos era presidente de clube de futebol e atualmente é senador da república, bem como o teor das ofensas, diante da falsa imputação ao autor da prática de crime (calúnia), mostra-se apropriada a majoração do valor fixado a título de danos morais na r. Sentença.

Assim, em vista do potencial sócio-econômico do ofensor e da gravidade das ofensas, entendo que deve ser majorado o quantum indenizatório para R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), quantia razoável e proporcional às circunstâncias do caso.

Nesse sentido, confiram-se decisões deste e. TJDFT:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PESSOA JURÍDICA. HONRA OBJETIVA. RECONVENÇÃO. OFENSA À HONRA DE ADVOGADO. ATO ILÍCITO. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR ARBITRADO EXCESSIVO. REDUÇÃO. 1. Na apuração do montante da indenização por danos morais deve levar em conta os critérios de proporcionalidade e razoabilidade.

2. Recurso parcialmente provido. (Acórdão 729672, 20060110159104APC, Relator: ANTONINHO LOPES, Revisor: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento: 05/12/2012, Publicado no DJE: 11/11/2013. Pág.: 273); INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. MATÉRIA JORNALÍSTICA. IMPUTAÇÃO DE ATO CRIMINOSO. INFORMAÇÃO INVERÍDICA. ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REPERCUSSÃO. MAJORAÇÃO.

1. Veiculando a matéria jornalística fato inverídico e causando danos, faz-se devida a indenização por danos morais. 2. O valor da indenização atenderá a repercussão do dano na esfera íntima do ofendido, eventual extrapolação, a sua extensão e, ainda, o potencial econômico-social do obrigado ao ressarci- mento. 3. Recursos desprovidos.

(Acórdão 661088, 20100610094683APC, Relator: ANTONINHO LOPES, Revi- sor: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento: 20/02/2013, Publi- cado no DJE: 15/03/2013. Pág.: 278);

DANOS MORAIS – IMPRENSA – PUBLICAÇÃO OFENSIVA – EXCESSO NO DI- REITO DE INFORMAR – DANO MORAL CONFIGURADO – QUANTUM – PESSOA PÚBLICA – VALOR REDUZIDO – JUROS E CORREÇÃO INICIAL – TERMO INICIAL – SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA 1) A notícia veiculada em revista de grande circulação que ultrapassa os limites da liberdade de imprensa, extra- polando o animus narrandi e atingindo a honra subjetiva do autor, gera dano moral, que tem que ser indenizado. 2) O quantum indenizatório deve ser fixado com moderação, observando-se a posição social e a capacidade econômica das partes, a imagem pública e o conceito que tem o ofendido perante a so- ciedade, sob pena de propiciar o enriquecimento indevido do ofendido ou o estímulo à prática de nova conduta irregular pelo ofensor. 3) Mostrando-se o valor da condenação excessivo, necessário que se dê a diminuição. 4) São devidos juros de mora e correção monetária, incidentes sobre o valor da con- denação, contados do instante da fixação do valor da condenação. 5) Recurso conhecido e parcialmente provido. (Acórdão 525115, 20100110142052APC, Relator: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS, Revisor: ANGELO CANDUCCI PAS- SARELI, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 03/08/2011, Publicado no DJE: 09/08/2011. Pág.: 169);

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL E CONSTITUCIONAL. PRODUÇÃO DE PROVA ORAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO CONFIGURADO. REPORTAGEM. FATOS INVERÍDICOS. DANOS MORAIS. DIREITO DE RESPOSTA. QUANTUM.

(...). A liberdade de informação, deve ser submetida aos limites da licitude, pre- cisando ser preservada por ser imperativo de ordem constitucional. Os fatos podem ser veiculados se traduzirem fielmente o direito de informar sobre um acontecimento.

Ultrapassados os limites legais e constitucionais do direito de expressão, de- corrente da imputação de um fato lesivo à honra e à reputação da vítima, ante a divulgação de notícia de um fato inverídico, o dever de indenizar se impõe. Dispõe o art. 5º, V, da CF que “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.” Na fixação de danos morais, o magistrado deve utilizar-se dos “critérios da prudência e do bom senso e levando em estima que o quantum arbitrado re- presenta um valor simbólico que tem por escopo não o pagamento do ultraje, mas a compensação moral, a reparação Satisfativa devida pelo ofensor ao ofendido” (TJPR – 1ª Turma Cível – APC 19.411-2 – Rel. Oto Luiz Sponholz). Recurso da autora parcialmente provido, e recurso do réu não provido. (Acórdão 522370, 20050110741674APC, Relator: ANA MARIA DUARTE AMA- RANTE BRITO, Revisor: JAIR SOARES, 6ª Turma Cível, Data de Julgamento: 20/07/2011, Publicado no DJE: 04/08/2011. Pág.: 136).

No que concerne à condenação à retratação pública, não merece prosperar, pois não encontra respaldo no ordenamento jurídico. Não se mostra juridicamente possível delinear tal obrigação, pois não há como obrigar alguém a manifestar-se de determinada maneira, seja para retratar-se ou não.

A ofensa é passível de indenização, conforme já delimitado nos presentes autos, admitindo-se, outrossim, o direito de resposta proporcional ao agravo (CF, art. 5º, V), a ser exercido pelo próprio ofendido, de modo a esclarecer as acusações proferidas pelo ofensor.

O direito de resposta, portanto, está assegurado na Constituição, mas tendo em vista a não recepção da Lei de Imprensa pela Constituição Federal de 1988, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, na ADPF 130, não mais cabível a imposição da obrigação dos veículos de comunicação da publicação de sentenças. Nesse sentido, recente decisão liminar da Ministra Rosa Weber, do STF, na Re- clamação 15.6811, que reforma parte da condenação confirmada pelo TJDFT em

2007, em ação movida por membros do Conselho de Contribuintes da Receita Federal, contra a empresa Folha da Manhã S.A., que determinou a publicação do inteiro teor da sentença na qual houve condenação por danos morais.

Na referida decisão, a Ministra ressalta que o único embasamento legal para a publicação da sentença era a Lei 5.250/1967 (Lei de Imprensa), declarada não recepcionada pela Constituição Federal de 1988 em decisão do STF.

Por todo o exposto, CONHEÇO dos recursos principal e adesivo. DOU PROVIMENTO AO APELO ADESIVO DO AUTOR para majorar o valor fixado a título de danos morais para o importe de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Prejudicado o apelo do réu. No mais, mantenho íntegra a r. sentença recorrida, inclusive quanto aos ônus sucumbenciais.

É como voto.

Desa. Gislene Pinheiro (Revisora) – Com o Relator. Des. Angelo Canducci Passareli (Vogal) – Com o Relator.

decisão

Conhecer. Julgar prejudicado o recurso principal e dar parcial provimento ao recurso adesivo. Unânime.

1 RCL 15.681. Origem: DF. Rel. Min. Rosa Weber. DJE 38, em 21.02.2014.

apelação cível

2013011079403-5 Relator – Des. Cruz Macedo Quarta Turma Cível

ementa

Civil e processo civil. Ação de reparação de danos. Palavras de baixo calão. Ofen-

sas dirigidas por professor a aluna no ambiente de ensino. Sala de aula. Dano moral configurado. Desnecessidade da prova do prejuízo. Fixação do quantum. Proporcionalidade e razoabilidade.

No documento rdj104 (páginas 141-149)