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Retoma-se, neste momento, um dos objetivos da presente tese, que é verificar a adequação e eficiência do planejamento de aula desenvolvido pelos docentes para uso efetivo das TICs em sala de aula. Para tanto, discute-se, na vertente do planejamento de aula, o que a literatura apresenta sobre esse tema (no capítulo seguinte, será discutido um pouco mais sobre as TIC).

Turra et al (1995) dedicam um capítulo de sua obra aos “recursos de ensino” (termo utilizado na época) e escrevem com relação à tecnologia:

Através de um modo sistemático de preparar, implementar e utilizar os recursos de aprendizagem, o que a tecnologia educacional [termo utilizado para referir-se ao uso de tecnologias aplicadas à educação] pretende é tornar mais efetiva a aprendizagem. A tecnologia educacional pode ou não implicar uso de recursos materiais (TURRA et al, 1995, p. 162).

Mas excluem os audiovisuais, que são considerados pelas autoras como “recursos materiais da tecnologia educacional”, os quais “têm muito maior abrangência” (TURRA et al, 1995, p. 163).

Elas fornecem, ainda, algumas características dessa tecnologia educacional: “os recursos possuem caráter instrumental, só têm valor como auxiliares que completam e facilitam a ação docente, multiplicando as possibilidades de atuação” (TURRA et al, 1995, p. 172). E ressaltam a necessidade de formação docente para conhecer os potenciais tecnológicos e inventar novos usos educacionais: “os meios, como qualquer outro

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instrumento, exigem de quem os emprega que conheça suas possibilidades, saiba aproveitá-las e lhes invente novas utilizações. Assim, o professor deve ser preparado para o emprego dos meios” (TURRA et al, 1995, p. 173).

E, por fim, as autoras estabelecem critérios para a seleção de recursos, sendo o primeiro deles relacionado à adequação aos objetivos, aos conteúdos, aos alunos e ao meio. Os seguintes são: quais contribuições oferecerão; economia, gastos e tempo, e se os fins podem ser atingidos com os recursos disponíveis – relação entre o tempo necessário para elaborar ou escolher o recurso e o objetivo pretendido; disponibilidade, os recursos devem estar disponíveis, entendendo-se que devem tanto estar acessíveis, adquiridos pela escola, com os direitos autorais autorizados, quanto disporem da infraestrutura técnica necessária no momento de seu uso; precisão, “os recursos devem dar uma informação tão exata quanto seja possível” (TURRA et al, 1995, p. 172); cuidados da utilização, às vezes o mau emprego pode ser improdutivo, de modo que é preciso, antes, examinar o funcionamento dos recursos e apresentá-los no momento certo, integrado ao conteúdo, tendo sob controle o tempo e os alunos previamente preparados, em suma, tendo estudado as maneiras mais efetivas e eficientes de utilização.

Desse modo, Turra et al (1995) apresentam uma utilização puramente instrumental das TICs, em que elas ainda não são vistas como linguagem e cultura a ser incorporada por meio do planejamento de aula.

Já para Zabalza (1992, p. 182, grifo original do autor), “não se trata de levar para a aula muitos e sofisticados recursos, mas, isso sim, de os meter no currículo”. Isso significa redimensionar o sentido deles no contexto curricular. O autor completa dizendo que, se o ensino é de qualidade, será por conta da boa seleção e da adequação dos meios às necessidades da escola. Mas, ressalva que “é ao professor que interessa a distinção substantiva entre possuir meios e utilizar bem os meios” (ZABALZA, 1992, p. 183, grifo original do autor).

O autor considera importante que os docentes e equipes de planejamento tenham clareza das funções dos recursos e das diferenças dos meios em que podem desempenhá-los. Essas diversas funções dos recursos no ensino seriam: inovadora – renovação e importantes modificações na instituição; motivadora – superar ou diversificar a via do verbalismo; estruturadores da realidade – meios são mediadores do encontro do aluno com a realidade; configuração do tipo de relação que o aluno estabelece com os conhecimentos a adquirir – dependendo do tipo de meio usado será um tipo de operação mental, em nítida concomitância entre a estrutura semântica da informação que o meio possui e os resultados da

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aprendizagem; solicitadora ou operativa – os meios atuam como guias metodológicos organizadores das experiências de aprendizagem dos alunos; e formativa global – vinculada ao mundo dos valores educativos que o próprio meio transmite, relacionada ao nível de cooperação, implicação emocional, intensidade e esforço exigido.

Para além das funções, Zabalza (1992) também descreve critérios para que as mídias funcionem bem na escola e no currículo. São eles: (1) congruência com o modelo didático assumido; (2) adaptabilidade do recurso ao contexto curricular; (2.1) da qualidade técnica do recurso; (2.2) do contexto de utilização em que se integre o recurso; (2.3) da funcionalidade curricular; (3) aprender o meio ou aprender através do meio; e (4) a questão do “melhor meio” ou a eficácia dos recursos didáticos.

Falando da análise de eficácia didática que se deve fazer dos recursos, assinala o autor algumas perspectivas de análise quanto às virtualidades técnicas; à adequação aos sujeitos com quem se quer trabalhar; à adequação das funções que se pretende que desempenhe na programação; à adequação às variáveis extrínsecas ao recurso – tempo, espaço, interação entre docente-aluno; e à forma que assume e possibilita uma aprendizagem integrada ou da capacidade para se integrar; além de critérios de tipo administrativo – custo, rentabilidade (ZABALZA, 1992).

Como se observa, Turra et al (1995) discorrem sobre uma visão mais instrumental de tecnologia no planejamento, e Zabalza (1992) amplia essa concepção para o meio8.

8 Há de se entender que outras variáveis existem e interferem profundamente em um planejamento para o uso das TICs, tais como: as condições de trabalho do professor e a vida dos alunos. Assuntos esses que estão sendo abordados em outras teses e pesquisas da Linha de Pesquisa Novas Tecnologias em Educação da PUC-SP.

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3 SOBRE A APROPRIAÇÃO DAS TECNOLOGIAS PELOS DOCENTES

“A leitura deste mundo não pode ser feita com os mesmos instrumentos de mundos passados” (ALMEIDA, 2009, p. 30). Neste capítulo são discutidas as TICs e os modelos de apropriação das mesmas pelos docentes, perpassando pelos aspectos filosóficos de tecnologias e uma breve contextualização de TIC na educação. Para finalizar, as TICs são retomadas e articuladas com o planejamento e o plano de aula.

Diversos autores têm discutido sobre as mudanças ocorridas na sociedade contemporânea no tocante à proliferação das tecnologias digitais móveis e da internet. Tal desenvolvimento tem intensificado as conexões entre os usuários e contribuído para aumentar a flexibilidade do tempo e dos espaços de aprendizagem, ampliando consideravelmente as possibilidades de trabalhos em redes, em coautorias e colaborativos. Essas tecnologias são concebidas como estruturantes do pensamento, pois permitem trabalhar e construir o conhecimento de formas não lineares, em redes, permitindo o uso de diversas linguagens e estabelecendo uma cultura digital (ALMEIDA, 2005; BAIN; WESTON, 2012; CASTELLS, 2009; KENSKI, 2003; LEMOS, 2006; LÉVY, 2009; SILVA; ALMEIDA, 2011).

Frente a esse contexto, os desafios apresentados aos docentes para articular as TICs ao processo de ensino e aprendizagem, de forma integrada ao currículo, são complexos. Existem macro e microaspectos envolvidos. Os primeiros dizem respeito às políticas públicas estabelecidas, à remuneração do docente, à gestão da escola, às diretrizes curriculares, à infraestrutura e ao número de alunos por classe (condições de trabalho), entre outros aspectos. Os últimos referem-se à prática pedagógica do docente, sua formação, sua cultura e seu compromisso e empenho com a educação do país.

O foco da presente pesquisa é o planejamento de aula do docente, porém, para uma completa integração das TICs ao currículo em desenvolvimento, os macroaspectos também devem ser analisados. Nesse sentido, Araújo e Araújo (2010) constataram a importância da formação dos docentes para o uso de tecnologias, mesmo a proposta inicial sendo voltada aos alunos.

Diante disso, sugere-se que cada docente identifique potencialidades e limites das TICs disponíveis e que as mesmas sejam utilizadas para criar diversificadas situações de aprendizagem, em consonância com os objetivos pedagógicos de cada curso. Os docentes

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podem, durante os momentos de planejamentos de aula, partir de seus conhecimentos sobre o processo de ensino e aprendizagem para estabelecer critérios e selecionar quais tecnologias utilizar – dependendo do grau de apropriação das mesmas –, integrando-as ao currículo em desenvolvimento (ALMEIDA; VALENTE, 2011).

Faz-se necessário abordar o aspecto filosófico da conceituação da tecnologia, para que o leitor possa melhor compreender que ela é um constructo histórico pela humanidade e o seu desenvolvimento não ocorre de forma naturalizada, e sim entre conflitos e tensões.