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CAPÍTULO 3: O REGIME LEGISLATIVO DO SETOR SIDERÚRGICO: UMA ABORDAGEM NORMATIVO-TEÓRICA

3.3. Regulamentação do consumo de carvão vegetal de mata nativa pela indústria siderúrgica

Na dicção do parágrafo único do art. 21 do Código Florestal, a autoridade competente fixará para cada empresa o prazo que lhe é facultado para atender ao disposto no caput do artigo, dentro do limite de cinco a 10 anos.

Regulamentando em primeira mão a previsão legislativa, foi editado o Decreto n° 97.628, de 10 de abril de 1989, que condicionava o registro da empresa siderúrgica perante os órgãos competentes à apresentação de Plano Integrado Floresta-Indústria (PIFI) ao IBAMA no prazo de 90 dias a contar da publicação daquela norma. Para tanto, estabeleceu um cronograma para apresentação dos planos, escalonado de acordo com a data do registro da siderúrgica no órgão ambiental.

De acordo com o vetusto Decreto, as empresas que, na execução de seus cronogramas anuais, praticassem excedentes sobre os níveis mínimos de suprimento previstos nesse artigo, e desde que continuassem a cumprir seus programas de plantio, poderiam requerer que os volumes excedentes fossem levados a crédito, prescritível em cinco anos, para compensação de eventuais frustrações em seus cronogramas.

O uso de produtos resultantes do aproveitamento de atividades agropastoris, desmate por interesse socioeconômico, ou em obras públicas de relevância socioeconômicas era admitido até o limite de 20%, desde que o solicitante atendesse, cumulativamente, aos seguintes requisitos:

a) os programas de plantio previstos no Plano Integrado Floresta-Indústria (PIFI) tivessem sido realizados, em sua totalidade, nos três anos florestais anteriores;

b) a empresa tivesse cumprido, integralmente, nos três exercícios anteriores, os níveis previstos para o consumo de florestas plantadas;

c) que se comprovasse ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis que a matéria-prima era oriunda de atividade agropastoril legalizada ou de obra pública que implique na ocupação de áreas florestais, tais como barragens, linha de transmissão etc.

O referido Decreto foi revogado com a edição do Decreto Federal n° 5.975, de 30 de novembro de 2006, o qual está ainda em vigor e regulamentou integralmente o art. 21 do Código Florestal. Ocorre que, contrariando frontalmente a dicção expressa do art. 21, caput, do Código Florestal, o Decreto permite que as empresas consumidoras de matéria- prima florestal realizem seu suprimento por meio de supressão vegetação natural, desde

que devidamente autorizada, não havendo limites. Admite ainda que as empresas realizem seu suprimento a partir de manejo florestal aprovado, florestas plantadas e outras fontes de biomassa florestal, definidas em normas específicas estabelecidas pelo órgão ambiental competente. Como se vê, a norma regulamentadora criou uma inovação no ordenamento jurídico, ao estabelecer uma permissão não prevista na norma regulamentada – no caso o art. 21 da Lei n°. 4.771/1965.

Nos termos do novel regramento, as empresas que consumirem anualmente mais de 50 mil metros de carvão vegetal por ano deverão apresentar plano de suprimento sustentável ao órgão ambiental, o qual deverá incluir: a programação de suprimento de matéria-prima florestal; o contrato entre os particulares envolvidos quando o Plano de Suprimento Sustentável incluir plantios florestais em terras de terceiros, além da indicação das áreas de origem da matéria-prima florestal georreferenciadas ou a indicação de pelo menos um ponto de azimute para áreas com até vinte hectares.

É indubitável, em face do que dispõe textualmente o parágrafo único do art. 21 do Código Florestal, que o mencionado plano de suprimento sustentável deva propor o prazo em que a siderúrgica alcançará sua sustentabilidade, obedecido o limite de cinco a dez anos a contar do início de suas atividades. Caso assim não proceda, cumprirá à autoridade administrativa estabelecer o prazo, sendo que sua omissão ou estabelecimento de condições ilegais podem ser supridos pela via judicial.

Para Loubet (2007), qualquer siderúrgica que possua mais de dez anos de existência não pode obter – sob pena de nulidade e ilegalidade – ato administrativo que lhe autorize ao consumo de matéria-prima vegetal fora das hipóteses do caput do artigo 21. Em outros termos, todas as indústrias de siderurgia em operação há mais de 10 anos não podem se valer de carvão vegetal como suprimento energético. Para o mesmo autor, a lacuna administrativa ou judicial na fixação do mencionado prazo não pode ser invocada para que a empresa siderúrgica continue a consumir carvão vegetal de mata nativa, visto que o prazo para a implementação da sustentabilidade energética conta-se a partir da constituição da empresa – e não da fixação do mesmo pela autoridade administrativa ou, a sua falta, pelo Poder Judiciário. No mesmo sentido é o entendimento de Silva (2002, p. 104):

Alegar que a autoridade competente, conforme dito no referido parágrafo, foi inerte ou omissa no que tange à fixação de cinco a dez anos para cada empresa

cumprir tal obrigação, é no mínimo, alegação oportunista e ardilosa daqueles que passaram anos a fio consumindo matéria-prima florestal de origem nativa sem se preocuparem com o esgotamento desta fonte de suprimento.”

A cumprir-se tal regramento, os órgãos ambientais estariam impedidos de conceder guias para o transporte de carvão de origem nativa para toda e qualquer empresa siderúrgica que se encontre há mais de 10 anos em operação. Contudo, não obstante a clareza da norma federal, o art. 47-A da Lei nº. 14.309/2002 estabelece que a empresa de siderurgia à base de carvão vegetal deverá cumprir um cronograma anual de plantio de florestas para que, no prazo máximo de nove anos agrícolas, contados do ano agrícola 2010-2011, promova o suprimento de suas demandas com florestas de produção na proporção de 95% de seu consumo total de matéria-prima florestal. A proposta de suprimento deverá ser apresentada até 31 de março de 2010 ao órgão ambiental competente, que se entende ser o IEF, o qual terá o prazo de 180 dias, a contar de seu recebimento, para concluir sua análise4.

Ou seja, segundo a disciplina legal do Estado de Minas Gerais todas as empresas, em funcionamento há mais ou há menos de dez anos, terão prazo de nove anos para alcançar sustentabilidade energética. Note-se que, ao findar do prazo estabelecido – quase uma década! – a empresa siderúrgica ainda poderá valer-se de carvão de mata nativa. Triste cenário.

3.4. O uso de carvão vegetal de mata nativa e a obrigatoriedade de adotar

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