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Embora o Estado de Minas Gerais tenha sido pioneiro no país na fabricação de ferro gusa em altos-fornos a carvão vegetal, somente no ano de 1994 é que, por meio da DN Copam n°. 15/1993, regulamentou os aspectos ambientais de tal atividade. Por meio da referida norma, todo o setor siderúrgico mineiro foi convocado ao licenciamento ambiental corretivo, assim como foram estabelecidas regras para a instalação e a operação de usinas siderúrgicas não integradas a carvão vegetal no Estado.

Entrementes, foi concebido o Projeto Minas Ambiente na tentativa de ofertar apoio às pequenas e médias empresas do Estado de Minas Gerais na busca e na implementação de opções tecnológicas mais adequadas ao processo produtivo e ao controle ambiental. A referida proposta buscava ainda o fortalecimento da função da universidade e dos institutos de pesquisa, bem como auxiliar as instituições governamentais na busca de desenvolvimento tecnológico e no estabelecimento de parcerias com o setor industrial (GTZ, 2007).

O Projeto foi executado sob coordenação da Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit – GTZ e do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais. Também participaram da iniciativa o Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN, a Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM, a Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.

No planejamento do projeto, em 1996, foram selecionados setores industriais considerados prioritários pelo órgão ambiental de Minas Gerais, a saber: ferro gusa, laticínios, têxtil (tinturaria de malhas), galvanoplastia (em atividade até 1998) e mineração de quartzito São Tomé.

O Projeto desenvolveu-se, inicialmente, mediante diagnóstico das indústrias participantes, partindo do ponto de vista tecnológico e ambiental. Em seguida, foi feito o levantamento

da situação e do tipo de tecnologia de produção e das formas de controle ambiental exercidas nas indústrias desses setores, em nível nacional e internacional (GTZ, 2007). O objetivo da proposta consistiu em identificar as alternativas de modificações tecnológicas mais viáveis a serem propostas para as indústrias participantes do projeto. A identificação de tecnologias de produção e de controle ambiental para as emissões atmosféricas, efluentes líquidos, e resíduos sólidos levou em consideração a condição econômica e social vigente no País, e a legislação ambiental do Estado de Minas Gerais (GTZ, 2007).

Nesse cenário, as empresas de siderurgia em Minas Gerais funcionavam sem a menor prudência ambiental, conduzindo a DN Copam n°. 15/1993 a um estado de absoluta ineficácia.

Assim foi até que, na expectativa de promover melhorias ambientais no setor siderúrgico, foi editada a DN Copam nº. 49/2002, a qual representou, sem sombra de dúvidas, um avanço no cenário legislativo, porque, para a implantação das melhorias de processo indicadas, foi estabelecido o prazo máximo de 24 meses às indústrias siderúrgicas, independentemente de aprovação dos projetos apresentados, cuja responsabilidade pelo atendimento aos padrões legais seria de inteiramente do empreendedor.

Contudo, é preciso que se estabeleça que a DN indicada representa tão somente o conteúdo mínimo de investimentos que devem ser promovidos por uma unidade siderúrgica não- integrada a carvão vegetal, quando em funcionamento. Não se espera, portanto, que a norma esgote todas as expectativas com relação ao controle ambiental desse tipo de empreendimento. O próprio texto normativo não deixa dúvidas a esse respeito, quando estabelece, em seu art. 1°, que “todas as instalações de produção de ferro gusa existentes na data de sua publicação, em operação ou não, ficariam obrigadas à promoção de melhorias de processo, à instalação de equipamentos de controle, à disposição adequada de resíduos, ao monitoramento e às demais medidas necessárias ao cumprimento integral da legislação ambiental”. Busca-se, com tais disposições, evitar prejuízos ambientais e, por conseguinte, ao próprio homem, encerrando “verdadeira norma-princípio (...) que reforça o conceito de prevenção à geração da poluição” (SANTIAGO, 2007).

Nessa linha de idéias, podem ser exigidas do setor siderúrgico todas as providências necessárias para reduzir, ao mínimo possível, as externalidades negativas decorrentes de suas atividades, pois, como observa Machado (2008, p. 283), a liberdade de iniciativa na ordem econômica haverá de visar ao lucro justo e não aquele que traga benefícios somente para o empreendedor. Observa ainda o mesmo autor, com precisão:

O Poder Público deve exigir o emprego de tecnologia disponível – pelo menos no mercado brasileiro – para prevenir a poluição. Esse dever está inserido na Constituição Federal em dois artigos fundamentalmente: no art. 225, caput, quando é afirmado que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, e no art. 170, caput, quando diz: “a ordem econômica... tem por fim assegurar a todos existência digna... observados os seguintes princípios:... VI – defesa do meio ambiente” (...).

Ocorre que, não obstante o conteúdo cogente da DN em referência, em investigação encetada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais a respeito do processo produtivo de cada indústria siderúrgica não-integrada a carvão vegetal situada em Sete Lagoas, constatou-se que a maioria dessas empresas, já no ano de 2007, ainda não haviam atendido integralmente ao previsto na norma.

A investigação foi efetivada no bojo de inquéritos civis instaurados especificamente para esse fim no âmbito da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente da Comarca de Sete Lagoas. Os dados obtidos durante o procedimento investigatório foram compilados de forma sistematizada, permitindo, dessa forma, a visualização do cenário ambiental das empresas do setor siderúrgico não integrado a carvão vegetal em Sete Lagoas no ano de 2006, conforme se observa nas tabelas anexas, elaboradas por Guimarães e Paula (2006). As informações colhidas para essa pesquisa tiveram por base precípua os laudos técnicos elaborados pelo assistente técnico do Ministério Público, Engenheiro Metalurgista Luiz Guilherme Beraldo que, por sua vez, valeu-se de informações e dados obtidos em vistorias realizadas nas plantas industriais.

Para facilitar a análise dos resultados dos laudos periciais, as suas conclusões foram agrupadas em quadros, conforme apresentado no Anexo A, que revelam a síntese para cada

aspecto relevante na avaliação da situação geral e dos aspectos ambientais relativos aos empreendimentos em pauta.

Igualmente, no Anexo B constam quadros-síntese dos aspectos relevantes da avaliação da situação geral e dos aspectos ambientais relativos aos empreendimentos em pauta, assim designados: Quadro B-1: caracterização das siderúrgicas; B-2: aspectos sobre o minério de ferro utilizado; (B-3): aspectos sobre o calcário utilizado como fundente; Quadro B-4: aspectos relativos ao carvão vegetal; Quadro B-5: regulação ambiental nas indústrias siderúrgicas de Sete Lagoas à época das visitas técnicas; Quadros B-6 e B-7: aspectos sobre as emissões atmosféricas; Quadros B-8, B-9 e B-10: aspectos operacionais relativos ao carvão vegetal e do preparo do leito de fusão das indústrias

Sendo um dos objetivos deste trabalho evidenciar os aspectos relacionados ao suprimento e consumo de carvão vegetal, destacou-se dos quadros em anexo citados, as informações referentes ao insumo energético, com as quais preparou-se a Tabela 4.1, na qual pode-se observar o consumo específico de carvão vegetal em cada uma das siderúrgicas, bem como a origem do insumo (mata nativa ou madeira de reflorestamento).

Tabela 4.1 – Suprimento e consumo de carvão vegetal por empresa siderúrgica de Sete Lagoas.

Fonte: Elaborada a partir de dados do Instituto Estadual de Florestas (2005).

EMPRESA CONSUMO TOTAL (MDC) CONSUMO CARVÃO FLORESTA PLANTADA (%) CONSUMO CARVÃO NATIVO (%)

AVG Siderurgia Ltda 284.119 78,75 21,25

Cossisa - Cia. Setelagoana de Siderurgia 121.754 64,4 35,6

Insivi - Indústria Siderúrgica Viana Ltda. 414.855 92,4 7,6

Ironbrás Indústria e Comércio S.A. - Usina II 50.207 - 100

Itasider - Usina Siderúrgica Itaminas S.A. 264.544 75,2 24,8

MGS - Minas Gerais Siderurgia Ltda. 196.626 75,5 28,5

Plantar Siderúrgica S.A. 477.848 97,9 2,1

Sama - Santa Marta Siderurgia Ltda. 33.511 78,5 21,5

Sicafe Produtos Siderúrgicos Ltda. 142.011 74,3 25,7

Siderbrás - Siderúrgica Brasileira Ltda. 92.848 94,2 5,8

Siderlagos Siderurgia Ltda. 99.519 78,8 21,2

Sidermin - Siderúrgica Mineira Ltda. 341.054 93,5 6,5

Siderpa - Siderúrgica Paulino Ltda. 370.283 82,1 17,9

Siderúrgica Bandeirante Ltda. 106.681 21,8 78,2

Siderúrgica Barão de Mauá Ltda. 7.533 67,3 32,7

Siderúrgica Noroeste Ltda. 132.360 70,7 29,3

Tabela 4.2. Consumo de carvão vegetal pelas siderúrgicas não-integradas em Sete Lagoas (2008).

Fonte: Elaborada a partir de dados de Malard (2009).

Extrai-se dos dados compilados que todas as empresas, segundo dados do Instituto Estadual de Florestas, em maior ou menor quantidade, consomem carvão vegetal de mata nativa. Quanto aos dados de Malard (2009), os quais foram obtidos a partir de declarações prestadas pelas próprias consumidoras, apenas a Plantar Siderúrgica S/A utiliza somente

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