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CAPÍTULO 1. LUKÁCS E MAKARENKO: VIDA E OBRA

1.3 MAKARENKO: DA LUTA PELA EMANCIPAÇÃO HUMANA À

1.3.13 Revolução: Primeiro Tempo em Fevereiro, Vitória em Outubro

determinantes da particularidade russo-soviética, no período de fevereiro 1917 a 1920, oferece uma rica discussão historiográfica. Todavia, aqui, não se pretende comunicar tais elementos, mas, sim, destacar o conteúdo histórico-social suficiente à explicitação de elementos que seriam, conforme defesa de Lukács (1971, 1999, p. 147), referentes ao processo de “como (humanamente como) resultou da vida esta

direção de pensamento, este modo de pensar (este comportamento) para com a vida”.

121 Laisser faire, laisser passer: Expressão francesa cujo conteúdo traduz-se por “deixe fazer, deixe

Posto isto, de Luedemann (2002, p.93), destaca-se o registro sobre o ano de 1917, como período de aguda contradição sociopolítica, em específico, o mês de fevereiro, com a derrubada da autocracia tsarista e a instauração do “duplo poder” burguês- proletário. A referida autora destaca que,

[...] depois da vitória sobre os monarquistas, os operários, soldados e marinheiros, armados, sob a direção bolchevique, levaram até o fim a tarefa da revolução socialista, derrubando o Governo Provisório, em outubro, e instaurando o Governo Operário.

Mas, na Ucrânia, a história foi diferente. Para que a revolução socialista fosse vitoriosa teria de enfrentar as tropas alemãs e o lumpesinato aliado da burguesia. Os ucranianos sempre viveram uma história de invasões e lutas de independência [...] a Ucrânia resultou em uma terra de trabalhadores maltratados e temperados pelas guerras. Os maiores exemplos são as excepcionais rebeliões camponesas lideradas por [...] anarquistas como Nestor Makhno, em Gulyai-Polye, cidade de uma das regiões mais ricas, e com uma grande comunidade judia, em Zaporozhye, ao Sul da Ucrânia.

Chama-se à atenção o quadro revolucionário no qual Makarenko se encontrou, aos 29 anos de idade e, contraditoriamente, tem-se que o pedagogo viu-se como “estranho e pronto” para enfrentar o acúmulo de sua própria matéria de vida. “Diante do espelho”, Makarenko estranhou-se, questionou-se se, tal como seu primeiro professor, seria ele um filho de operário “transformado” em um intelectual pequeno-burguês?

Como resultado da autocrítica, objetivada na referida questão, Luedemann (2002, p.94-95) destaca que a resposta de Makarenko para si mesmo era “não”, pois, os elementos aparentes podem enganar; a classe de origem, tomada em-si, não se torna garantia da adesão ou rejeição de qualquer tipo de posicionamento sócio- político. Para Makarenko, Marx e Lenin era exemplo evidente disso, ambos eram filhos da pequena burguesia, mas, – contraditoriamente, aos anseios de manutenção do status quo, que se consolidam no modo de pensar e agir da maioria dos indivíduos desta classe –, objetivaram os elementos fundamentais da teoria e prática da revolução comunista. Para Luedemann, mesmo que o decurso histórico tenha mostrado os operários como atuantes principais da revolução, não decorre disso que os filhos de todo e, qualquer, trabalhador tenham se constituído, naturalmente, como

revolucionários. A adesão a esta ou, aquela direção ideo-política se consolida sócio- historicamente.

Como elemento essencial à análise histórico-dialética, em continuidade à discussão do tema exposto no parágrafo anterior, desdobra-se a pontuação de Makarenko acerca da não-primazia da natureza sobre o processo histórico-social do ser humano. A esse elemento se reitera, porquanto seja central, à perspectiva sócio- histórica, o pressuposto da historicidade no movimento de desenvolvimento de qualquer que seja o processo tipicamente humano, em contraposição a qualquer tipo de afirmação a priori a respeito do modo como os seres humanos sentem, pensam e agem. Em análogo, ratifica-se o posicionamento de Makarenko, pela afirmação de que, tal como as antigas gerações egípcias não legaram, geneticamente, aos seus filhos, as habilidades necessárias à projeção e à construção de pirâmides, os filhos dos revolucionários proletários russos não nasciam herdeiros de uma matriz genética revolucionária. Portanto, explícita está a importância nuclear que se deve à luta pela afirmação da concepção histórico-dialética sobre o processo de desenvolvimento histórico-social do ser humano e, por conseguinte, à luta pela superação da argumentação teórico-metodológica, cujo fundamento seja a argumentação em favor da primazia da força a natureza na explicação de fenômenos histórico-sociais.

Luedemann (2002, p. 95) também explicita que Makarenko, no ano de 1917, em seu processo de consolidação como indivíduo atuante na história de transformações sociais da particularidade russo-soviética, recorre a exemplos tais como, o de Nestor Makhno 122”, líder e organizador dos sovietes ucranianos e de

“uma poderosa força guerrilheira contra o Exército Branco” e o de

[...] Lev Davidovitch Bronstein, revolucionário conhecido como Leon Trotski123 [...] mesmo sem formação militar organizou e

dirigiu o poderoso Exército Vermelho [...].

Makarenko nunca esteve entre os militantes das ações inssurrecionais. Para ele, sua batalha era travada no campo da

122 Néstor Ivánovich Makhnó (1888-1934), líder anarco-comunista, constituiu o Exército Insurgente

Makhovista, foi um dos principais ativistas da Revolução Ucraniana, resistiu aos bolcheviques, mas eventualmente consolidou aliança com os mesmos, combater as “forças brancas” que ameaçavam invadir a Ucrânia durante a Guerra Civil Russa.

123 Lev Davidovitch Bronstein, judeu camponês e revolucionário, conhecido como Leon Trotski,

organizador do Exército Vermelho, figura mais importante na vitória bolchevique na Guerra Civil Russa (1918-1920), foi expulso do Partido Comunista, deportado da União Soviética e assassinado sob ordens de Stalin.

educação, no difícil dia-a-dia que confunde o velho e o novo. [...]

No fogo cruzado dos anos de 1918 e 1919, Makarenko penetrou mais profundamente na vida de seu coletivo operário. O que deveria ser revisto na educação operária?

Enquanto os guerrilheiros de Makhno lutavam corajosamente contra os exércitos inimigos, Makarenko lutava contra o espontaneísmo. [acréscimo em itálico e, entre colchetes, meu]. O pedagogo tinha plena certeza de que sua atuação intelectual deveria se constituir como “ação política na frente cultural”. Em síntese, a tarefa principal a qual se propôs era a de consolidar “uma nova educação”, fundamentada em nos princípios socialistas.