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CAPÍTULO 1. LUKÁCS E MAKARENKO: VIDA E OBRA

1.2 LUKÁCS: DAS OBJETIVAÇÕES DO CAMPO LITERÁRIO À LUTA

1.2.9 Somente Ideólogo

Deste último item do esboço autobiográfico de Lukács (1971-1980, 1999, p. 169-170), destaca-se o registro sobre seu movimento individual submetido à condição de isolamento, bem como, explicita-se a indicação de que, nele – no movimento individual – são entrelaçadas duas linhas de desenvolvimento de críticas: contra o sistema de Rákosi100, traduzido como “antigas tendências de uma “Hungria democrática” e contra ‘todos que buscam a renovação com a introdução de uma democracia burguesa’”. Isto é, “contra ilusões tanto de uma reforma particular e imanente de seu regime, quanto contra tendências reformistas liberal-burguesas”. Com isso, a posição de Lukács, fundamentada pelos princípios do marxismo autêntico de reorganização democrática da produção, se consolida em “ruptura com política interna e externa conduzida de modo (autocrático-) tático.”. Destaca-se, ainda, que o filósofo húngaro, afirmando que a “prioridade stalinista da tática: confunde problemas autênticos, distância da solução: Arábia, Israel101”, a reitera como um tipo de generalização inadequada.

100 Mátyás Rákosi (1892-1971), político comunista. Em 1919 foi vice-comissário da República dos

Conselhos e, em 1925, preso e condenado por atividades ilegais, sendo solto em 1940 e mandado para União Soviética. Em 1945 voltou para Hungria como chefe dos comunistas. De 1945 a 1956 foi secretário geral do PC húngaro e primeiro-ministro, sendo destituído em 1956. Viveu até sua morte na União Soviética.

101 Lukács (1971-1980, 1999, p. 106) desdobra no corpo da entrevista, para a qual seu roteiro

autobigráfico deu base, as questões entre egípcios e israelenses do ponto de vista lógico, demonstrando o erro na conclusão lógica de que os egípcios seriam socialistas.

Como conclusão, em seu conjunto de apontamentos, o filósofo húngaro migra do campo da crítica para o campo da autocrítica, dando destaque ao âmbito que denominou subjetivo e, por todo caráter genérico da síntese realizada por Lukács, afirma-se sua individualidade como constituída na condição de

individualidade para-si. Posto isto, reitera-se seu propósito autobiográfico como objetivação favorável à ampliação do debate sobre como a individualidade humana pode se constituir como objeto de estudo. A seguir, explicita-se a referida síntese pelas palavras do próprio Lukács (1971-1980, 1999, p. 170):

Subjetivamente: tentativas de formular os princípios da ontologia marxiana: para isso, disposição principal (autobiografia, complemento subjetivo, ilustração, fundamento etc.). Na verdade: pressupostos humano-individuais para uma compreensão correta dos problemas ontológicos. Por isso: convergência: generidade do homem como solução do grande problema da época (individualidade como conseqüência da relação social cada vez mais pura do singular com a sociedade. Imanência aparente; efetivamente: generidade). Autobiografia tendências subjetivas (em desenvolvimento) para a efetivação prática da própria generidade (= desdobramento efetivo da individualidade).

Aqui, verdade mais profunda do marxismo: tornar-se homem do homem como conteúdo do processo histórico, que se efetiva – de modo muito variado – em cada vida humana singular. Assim, cada homem – não importa com que grau de consciência – é um fator ativo no processo total, cujo produto ele é ao mesmo tempo: aproximação da generidade na vida individual é a convergência de ambos os caminhos evolutivos reais inseparáveis. Direção e resultado. [Grifos em itálico e conteúdo entre parêntesis, do autor].

No excerto anterior, note-se que Lukacs indica a produção da síntese de sua obra – Ontologia – como movimento consolidado a partir da consideração de pressupostos humano-individuais. Infere-se que, para Lukács, a problemática da síntese entre indivíduo e sociedade está condensada na possibilidade ou, impossibilidade, da convergência daqueles que ele denominou “dois caminhos evolutivos reais”. Então, quais seriam esses dois caminhos? Neste estudo, defende-se que sejam aqueles referentes ao decurso do desenvolvimento histórico-social da humanidade e de cada indivíduo humano, como “um fator ativo no processo total”. Assim sendo, afirma-se que a consolidação da individualidade para-si se efetiva

como processo mediado pela dependência ontológica que se estabelece entre o indivíduo e a generidade, como processo explicitado em diferentes matizes, correspondentes aos diferentes graus de aproximação e convergência entre estas duas esferas.

Por ocasião da finalização da análise sobre a matéria de vida de Lukács, reitera-se que este processo foi mediado, principalmente, pela finalidade de explicitar elementos referentes ao como, com quais meios de ação – um indivíduo, tal qual o filósofo, chegou a si, isto é, como suas capacidades, num desdobramento máximo, resultaram na consolidação da sua individualidade na condição para-si. Acredita-se que, por meio desta análise, tenha sido possível explicitar um conjunto de elementos concernentes aos processos e às formas, por meio dos quais, foi legada, a Lukács, a possibilidade de alcançar sua auto-realização, como ser humano individual e genérico.

Enfim, mediante a elevação dos meios de ação, acumulados num de um roteiro de vida tão rico em efetivos abalos, consolidados entre as esferas da individualidade e da genericidade, afirma-se a matéria autobiográfica de Lukács como objetivação sintética que, no retorno à efetividade, oferece a ratificação da consideração marxiana de que, sempre, “para o homem a raiz é o homem mesmo”. E, nesse “tornar-se homem do homem mesmo”, em diferentes condições, a partir de diferenciadas possibilidades, torna-se patente a consolidação do embate, na particularidade, entre a individualidade e as mediações histórico-universais.

1.3 MAKARENKO: DA LUTA PELA EMANCIPAÇÃO HUMANA À