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SER MESTRA SER MULHER SER NEGRA SER POBRE: OS ELOS QUE AS

As narrativas apresentadas anteriormente são uma pequena mostra do universo de experiências e conhecimentos que estas Mestras foram adquirindo o longo do tempo no âmbito da cultura popular paraense. Algumas há mais tempo, como Mestra Iracema, Mestra Izabel, Mestra Laurene, Mestra Iraci e Mestra Eliete que têm vivenciado as tradições populares desde a infância como brincantes. E aquelas com menos tempo de “estrada”, mas que já apresentam uma contribuição valiosa à cultura popular por meios das atividades dos seus grupos que têm como objetivo a difusão da tradição paraense. Conforme eu apresentei trechos de suas narrativas algumas situações de enfrentamento são comuns a estas Mestras no que se refere às dificuldades em manter seus grupos ativos, tais como a falta de recursos financeiros, falta de maior incentivo governamental, ausência de informação da sociedade em geral, desinteresse das pessoas em se tornarem brincantes, ausência de divulgação nos

veículos de comunicação e indisponibilidade de mais espaços para apresentações. È claro que algumas destas dificuldades se acentuam mais do que outras, dependo de cada situação como você pôde constatar nos relatos. A partir do ponto de vista das Mestras sobre as atividades dos seus grupos eu destaquei as questões relacionadas ao gênero, raça e classe destas narrativas. Tais temáticas nem sempre evidentes, mas subentendidas ao longo das falas.

Quanto à abordagem sobre gênero eu me senti mais à vontade e me pareceu mais “fácil” apresentar o tema às Mestras a partir da pergunta: quais dificuldades encontradas no campo da cultura popular sendo mulher e se esta condição implicava na manutenção das atividades de seus grupos. A facilidade encontrada nesta abordagem decorre da clareza da questão para estas Mestras que ao longo de suas vidas tiveram sua condição de mulher alinhada ao padrão do “papel feminino” este aprendido no convívio de sua família, na escola, igreja e demais espaços sociais onde convivem. Estes padrões são reforçados e reconhecidos pelas pessoas como algo dado, natural, embora não seja assim, como nos explica à educadora Guacira Louro:

Através do aprendizado de papéis, cada um/uma deveria conhecer o que é considerado adequado (ou inadequado) para um homem ou uma mulher em determinada sociedade, e responder a essas expectativas. Ainda que utilizada por muitos/as, essa concepção pode se mostrar redutora e simplista. (LOURO, 2003, p.24)

A autora ainda afirma que ao adotarmos estes papéis como algo naturalizado esta atitude impossibilitaria a discussão sobre as desigualdades entre as pessoas e também a falta de análise sobre as diversas formas de se demonstrar as feminilidades e masculinidades e o que eu considero mais grave, a falta de questionamento sobre as instituições de poder que hierarquizam a desigualdade entre os gêneros e que tornam a vida de muitas mulheres, em especial as aqui abordadas, uma constante luta e enfretamento contra estes padrões estabelecidos. È claro que associados às desigualdades de gênero estão, as de classe, raça, geração, etnia, sexualidade, todos estes marcadores que irão contribuir na complexidade identitária de cada individuo fazendo com que análise das relações sociais não se limite a uma “categoria central” que até algum tempo era considerada a panaceia e resposta a todos os males, a classe social.

A este “papel da mulher”, nós mulheres somos educadas por nossas famílias e principalmente pela escola, espaço privilegiado para inculcar tais padrões nas mentes e nos corpos de meninas e meninos desde a infância até a juventude de forma sistemática e sutil. Mas, apesar de todo o esforço escolar em dominar estes corpos e mentes, nem todo mundo

reage da mesma maneira cada um e cada uma vai receber passivamente, negar ou até mesmo contestar aos padrões de comportamento. Um exemplo desta contestação é o caso de Mestra Iracema que foi escolarizada ainda num regime em que havia divisão de escola e currículo para meninos e meninas, sendo para estas últimas oferecidas aulas que desenvolvessem suas habilidades domésticas para se tornarem mulheres prendadas. Mas no caso de Iracema foi possível uma brecha na norma conforme seu relato: Na verdade eu fui criada no colégio

religioso né? E então todo final de semana uma das meninas ia pra cozinha, quando chegava na minha vez ela (madre superiora) não deixava eu ir. Porque ela dizia que eu... porque desde menina sempre tomei conta da parte recreativa do colégio eu que organizava as festas, desde menina eu sempre tive essa queda né?. Iracema me disse que gostava de ficar em grupo com

as demais alunas, mas gerenciando festas organizando eventos realizando um papel mais ativo e de destaque e não assumindo uma função de bastidores, como lhe foi ensinada. E para isso ela contou com a sensibilidade da madre superiora que observou que “o dom” de Iracema era outro e possibilitou a ela desenvolvê-lo. Apesar de não gostar, quando necessário ela cozinha, varre um chão, lava uma roupa, mas não sou assim abnegada. Dona de casa mesmo!. Sua fala demonstra que sua dedicação não está voltada para as tarefas domésticas.

Durante as entrevistas todas as Mestras demonstraram adequação ao seu “papel de mulher” principalmente no que se refere às tarefas domésticas e seu “papel de mãe” no cuidado com sua prole e até mesmo com a/os brincantes. Ouvindo suas narrativas de vida eu pude perceber que a adequação a tais papéis se deu também em função da necessidade do dia- a-dia já que as condições socioeconômicas destas mulheres nunca possibilitou a terceirização dos serviços domésticos, tendo elas mesmas que assumir a multi jornada de trabalho para dar conta de tudo. A esta lida do cotidiano como mulheres, esposas e mães elas se adequaram de tal forma, que quando eu perguntei sobre as dificuldades impostas ao dito “papel da mulher”, todas elas me disseram que não se deram conta deste empecilho, pois sempre se encontraram nesta condição de labuta e luta pela sobrevivência. E que para elas, a mulher tem uma maneira especial em lidar com as tarefas, a exemplo do que Mestra Valderez me falou: Toda mulher

dá jeito para dar conta do serviço né? Toda mulher dá... uma mulher que se dispõe a ser dona de uma casa, a ser o pai, a mãe fazendo os dois papéis, meu marido faleceu em 2000, mas eu já era separada desde 89, quer dizer eu criei meus filhos sozinha, lutando.[...]Quer dizer a mulher dá conta. A mulher sabe dá conta do serviço dela pode ter 1001 utilidades, mas ela dá conta. É complicado, é cansativo de noite não consegue nem dormir de tão

cansada.[...]A mulher é bem mais versátil do que o próprio homem, o homem se atrapalha muito.Mas a mulher não.

Ainda associada à lida das tarefas domésticas está à luta pela sobrevivência, condição esta mais evidenciada nas entrevistas das Mestras que tiveram que criar suas proles sozinhas, sem a presença dos pais. Para estas mulheres a jornada de trabalho é excessiva e a luta do cotidiano mais intenso, um exemplo desta condição foi a de Mestra Ângela que me relatou neste trecho: Eu tive três filho, e esse meu marido a gente vive junto há 16 anos nenhum,

então nenhum filho e dele eu sempre fui mãe solteira, sabe? A única pessoa que me ajudava era meu pai. Mas eu sempre falo assim, eu não tenho medo de desafio, eu tenho medo de não ter desafio, entendeu? Mas eu sempre trabalhei em casa dos outros, eu eu trabalhava apanhando açaí, vendendo chope, sempre trabalhei pra ter meu dinheiro. A fala de Ângela é

revelador da luta pela sua sobrevivência e de sua prole, condição de enfretamento de muitas mães na cidade de Belém que na ausência dos pais ou companheiros contam com sua habilidade em conseguir o dinheiro para as despesas do dia-a-dia. Ao longo das entrevistas ficou claro que a acomodação ao “papel da mulher e mãe” foi uma resposta prática as dificuldades cotidianas destas Mestras, não quer dizer que elas não questionem o status quo deste padrão, reconhecendo o preconceito e o sexismo que tiveram que enfrentar justamente por serem mulheres, como me esclareceu a Mestra Laurene: A gente tem muita dificuldade

por ser mulher, muita mesmo porque há o machismo né? Há um machismo muito exacerbado... os homens por serem homens já se acham os machos né? E as mulheres por serem mulheres são as frágeis, as fragilizadas. A minha mãe era machista, eu digo assim, ela achava que os homens poderiam fazer tudo e as mulheres tinha que ficar de cabeça baixa. Eu não aceitava isso nunca, eu nunca aceitei isso, eu não aceitei viver com o pai dos meus filhos por conta de (interrompeu o que ia dizer). Mestra Laurene separou-se do seu marido devido à

violência doméstica, embora ela tenha me pedido pra não gravar, ela não disse o que realmente aconteceu, mas pelo seu relato ficou subentendido esta situação de abuso, da qual ela saiu por meio da separação e decidiu criar seu filho e filha sozinha, afinal como me confessou: Eu me amo, se não me amar mana, quem vai me amar? Estes relatos demonstram que as diversas formas de encarar a experiência de ser mulher por estas Mestras que ao longo da vida foram desenvolvendo táticas de sobrevivência para si e seus/suas filho/as. E desta experiência de enfrentamento sua luta também se estendeu para o campo da cultura popular como estratégia de manutenção das manifestações tradicionais paraenses.

Outra questão implicada na vida destas mulheres, além da de gênero e classe que já abordei brevemente acima, foi a questão racial que eu confesso ter encontrado dificuldades em perguntar diretamente, objetivamente. Eu não sei se por vergonha em causar algum tipo de embaraço ou falta de compreensão, eu preferi não perguntar qual a identidade étnica racial destas mulheres. Isto demonstra a dificuldade subjacente em falar sobre a identidade étnica racial das pessoas em Belém, onde mais da metade da população se autodeclara parda126 demonstrando um sentimento de negação tanto da sua herança negra quanto indígena e reforçando o construto ideológico e histórico da identidade mestiça que ainda hoje paira na sociedade brasileira como símbolo de nossa “feliz união”. Apesar do número crescente da população negra no estado do Pará conforme dados do censo de 2010, em Belém se observa um número menor, apesar da mobilização de entidades da sociedade civil e movimentos sociais negros que trazem ao debate o tema do preconceito e racismo. Devido ao pouco tempo de convivência com estas mulheres e sem condições de retorno as nossas conversas, eu decidi observar as implicações raciais por meio de situações que surgiram nas conversas de maneira espontânea, posto que estas sempre apareçam como marcadores de experiências num país racista como o nosso. E considerando minha condição de mulher negra eu consegui reconhecer algumas destas situações. E no compartilhamento destas vivências que a ausência da pergunta sobre a identidade racial das Mestras não ficou “sem resposta alguma” e para mim representa uma tentativa de reparar este “erro metodológico” na pesquisa. Considerando minha convivência com grupos de cultura popular tradicional, já relatado no capítulo 1 desta tese, eu pude identificar certo perfil das pessoas que coordenam e participam dos grupos formados por pessoas moradoras de bairros de baixo status social (GARCIA, 2006) e de pela escura, sejam de ascendência indígena ou negra ou a junção de ambas que na região amazônica tem nas categorias afro-indígena e cabocla também um marcador social. Mas como já discutimos no capítulo 2, as pessoas não se identificam como cabocla dada à carga pejorativa que este termo carrega, mas compartilham do mesmo status social das pessoas negras, sofrendo também com o racismo e tendo suas práticas culturais subvalorizadas.

Nos grupos de cultura popular também pude perceber a quantidade expressiva de mulheres participando como brincantes, costureiras, cozinheiras, organizadoras e agora nesta pesquisa também como coordenadoras. É claro que fora as atividades nos grupos de cultura popular estas mulheres exercem outras atividades relacionados aos afazeres domésticos e geração de renda para sua sobrevivência e da sua família realizada por meio de serviços como

lavar e passar roupas, fazer faxina como diaristas, venda de alimentos em feiras, preparação e venda de alimentos em suas casas ou nas ruas, administração de tendinhas, enfim trabalhos exaustivos alguns insalubres e que ainda são divididos com suas responsabilidades domésticas (CONRADO & REBELO, 2012). Para muitas jovens negras e pobres o trabalho como empregada doméstica é uma experiência que conhecem desde cedo, como prática comum na cidade de Belém no sentido de “ajudar a menina a estudar” em troca das responsabilidades domésticas em casas de famílias de classe média. Experiência semelhante viveu a Mestra Izabel como cuidadora de crianças e pessoas idosas desde quando tinha treze anos. Foi solicitado ao seu pai que a deixassem trabalhar em casa de famílias de maior poder aquisitivo como oportunidade de uma vida melhor. Ela trabalhou com várias famílias fora de Belém pôde conhecer outras cidades por ocasião de seu trabalho e pelo relato que ouvi tem boas lembranças deste período de sua vida, apesar da saudade de sua família e o desejo de voltar pra casa, demonstrando que não estava plenamente satisfeita.

Outra informação interessante que Mestra Izabel me relatou foi sobre sua condição de

solteirona, graças a Deus, das Mestras entrevistadas ela foi única que não casou, nem teve

filha/os e mora sozinha desde o falecimento de sua mãe e depois seu pai. Mestra Izabel ficou mais debilitada depois de ser acometida por uma doença, já há dois anos tem realizado apresentações com seu grupo, mas com grandes dificuldades. A atual condição de Izabel é considerada lamentável por parte das Mestras, pois ela está adoentada, idosa e sozinha sem poder contar com ajuda de outras pessoas. Izabel é uma mulher negra com traços bem marcados de sua negritude, sempre elogiada por seus/suas pares pela sua inteligência, criatividade e capacidade artística, mas que não conseguiu estabelecer um relacionamento afetivo estável, não procriou e sempre foi preterida pelos vários namorados que teve, conforme ela me disse Tive vários namorados, mas não davam certo. [...]Eu não tenho sorte

pra homem não!Porque eles querem uma coisa a gente quer outra né? Esta conclusão de

Izabel demonstra a dificuldade em estabelecer um relacionamento fixo, posto a disparidade de interesses entre ela e os namorados, esta situação particular é ilustrativa do tema pesquisado pela cientista social Ana Cláudia Pacheco sobre as dinâmicas das relações afetivas e da solitude vivenciadas por mulheres negras na Bahia e Brasil. Para ela, as representações sociais do corpo feminino negro são estereótipos que implicam na vida destas mulheres e que para além deles:

[....] há uma representação social baseada na raça e no gênero, a qual regula as escolhas afetivas das mulheres negras. A mulher negra e mestiça estariam fora do “mercado afetivo” e naturalizada no “mercado do sexo”, da

erotização, do trabalho doméstico, feminilizado e “escravizado”; em contraposição, as mulheres brancas seriam, nessas elaborações, pertencentes “à cultura do afetivo”, do casamento, da união estável (PACHECO, 2013, p. 26)

Ainda de acordo com a fala de Mestra Izabel depois de vários anos de relacionamentos frustrados ela disse Ahhh, vou cuidar da minha vida! Esta decisão deu a Izabel outro estímulo para buscar outras experiências principalmente no que concerne ao seu veio artístico atuando em grupos de teatro, depois coordenado grupos de cultura popular, compondo músicas e peças para seu grupo de Pássaro Junino, além de buscar melhorias profissionais. A figura da mulher “solteirona”, “encalhada”, “infeliz”, não se adéqua a Izabel que no seu protagonismo no campo da arte e cultura popular, como artista e Mestra enfrentou o racismo e sexismo, apesar das desilusões, tristezas e aborrecimentos à busca por um relacionamento se tornou um enfado da qual ela só lamenta atualmente. O caso de Mestra Izabel é ilustrativo da dificuldade enfrentada por muitas mulheres negras em estabelecer um relacionamento estável por diversos motivos incluindo os aspectos raciais, que Izabel não revelou, mas acredito ter sido uma possibilidade, além da divergência de interesses em comum com os possíveis companheiros, como ela atestou. Já as demais Mestras, mesmo solteiras se sentem penalizadas com Izabel por estar “sozinha” sem ninguém para ampará-la, revelando o quão importante é ter uma família do que necessariamente um companheiro ou marido. E este sentimento, embora seja de carinho por Izabel revela também uma ideia calcada na representação social da mulher que não casou, nem teve filha/os como incompleta, apesar de todas as conquistas que adquiriu.

E relacionada às conquistas profissionais e pessoais almejadas por estas mulheres, eu pude perceber que o reconhecimento da comunidade em que vivem e as atividades dos seus grupos de cultura popular são aspectos importantes da conquista destas Mestras. Embora, nem todas reconheçam este título como cabível para si conforme eu descobri quando realizei a pergunta: você se considera uma Mestra da cultura popular? Cujas respostas foram diversas devido as diferentes interpretações dadas ao termo pelas entrevistadas que levaram em consideração desde a experiência com a cultura popular até a capacidade de elaboração de projetos para editais de fomento. No caso de Gilda ela não se considera uma Mestra porque ainda tem muita coisa a aprender. É o mesmo que ser um estudo né?Cada ano a gente

aprende uma coisa né? Cada tempo né? Mesmo com toda sua experiência de quarenta anos

coordenando grupo de Cordão de Pássaro, Pastorinha e Folia de Reis, ela acredita que ainda tem muito que aprender e tem como exemplo Iracema Oliveira, que é uma Mestra por ser conhecedora da tradição e incentivadora de outros grupos. Já Bernadete ela se considera uma

Mestra, conforme me afirmou: Eu considero né? Porque tudo aqui eu faço né? A esta conclusão Bernadete chegou quando um instrutor foi realizar uma oficina com a/os brincantes e observou que ela fazia tudo no grupo e ainda era a proprietária do mesmo, enfim uma Mestra! Para Iara, o mestre ele já tem todo o conhecimento que tu imagina, não tem mais

nada pra aprender. Quando ele se chama mestre ele não tem mais nada pra aprender e eu ainda tô na fase de conhecimento. Eu gosto muito de aprender eu gosto muito de correr atrás de aprendizado, ainda mais sobre Pássaro, eu adoro estudar sobre Pássaro. Iara também

aponta o reconhecimento público por meio de um prêmio ou certificação dada a uma pessoa que a qualifica como Mestre ou Mestra, como é o caso de Laurene que recebeu um prêmio de Mestra de cultura popular. E Ângela cujo reconhecimento sobre quem deve ser considerado um/a Mestre/a está relacionado ao fazer na comunidade, como ilustrado neste trecho: eu não

posso me considerar hoje como uma mestra, mas se eu não for uma mestra quem é o mestre da história? Se eu não for quem será? Se eu não for considerada hoje uma pessoa que faz a cultura dentro do Pará dentro da minha comunidade quem faz? Quem faz é só quem tem um lindo computador lá bateno escreveno (bate os dedos na mesa como se estivesse digitando) e jogando em Face jogando na internet fazendo um bafafá. Porque se for isso eu não sou!Se for essa... esse mérito eu não ganho.[...]Mas eu tenho trabalho, eu canto, eu bordo, eu ensaio, eu ensino os menino a bater tambor, eu levo as criança, eu faço de tudo um pouquinho, de tudo, porque aqui não tem quem venha me ensinar. Para Ângela, a pessoa saber somente escrever

projetos para editais, conhecer as ferramentas das mídias sociais na rede, postar fotos e vídeos não qualifica uma pessoa como Mestra, mas sim a prática e o dia-a-dia da comunidade com seu grupo.

Estes trechos dos relatos demonstram que o termo Mestra é compreendido e aceito por estas mulheres de diversas formas, mas que convergem a um entendimento comum que é o conhecimento e a prática de uma tradição ao longo dos anos que vai habilitando uma pessoa a ser reconhecida como tal dentro e fora de sua comunidade, sendo esta última mais importante.