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Sereia do Mar e os significados de docência e professor

5.2 CONCEITOS PRÉVIOS DE PROFESSOR E DOCÊNCIA

5.2.4 Sereia do Mar e os significados de docência e professor

Em relação à docência, Sereia do Mar se expressou da seguinte forma:

Sereia do Mar – A docência é a atividade profissional do professor no ambiente da sala de aula com propósito de mediar, colaborar nas aprendizagens. (Conceito prévio de docência elaborado por Sereia do Mar em 12 de março de 2009).

Considerando as peculiaridades do estágio de conceituação, podemos afirmar que essa partícipe se situa no referido estágio à medida que inclui no enunciado de docência atributos como “atividade” e “aprendizagens”. O seu significado de docência expressa as propriedades essenciais e necessárias que distinguem a docência das demais profissões, pois o seu cerne

está na atividade do professor, que medeia a aprendizagem do aluno. O seu conceito demonstra o movimento dialético das relações entre o geral, o particular e o singular.

O geral se expressa no atributo “atividade”, comum à categoria trabalho, atuação principal dos seres humanos adultos resultante das relações estabelecidas com o mundo material que corresponde às necessidades sociais e particulares de cada ser singular.

A atividade responde à ordem das relações que são mantidas pelo indivíduo em sociedade, assim, fora delas, não existe nenhuma atividade humana.

Leontiev (2001, p. 68) diz: “Por atividade, designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo a que o processo, como um todo, se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é, o motivo”.

O particular está implícito no atributo ensino, objeto da atividade de quem ensina; e o singular, no mediar aprendizagem, objetivo para o qual se dirige o processo.

O seu significado de docência, ao fazer referência ao atributo “atividade”, revela a essência desse conceito, além de fazer diferença na prática docente dos professores que a concebem dessa forma.

No aspecto histórico do conceito, observamos, na elaboração do conceito de docência, uma proximidade com as concepções mais atuais do final do século XX e início do século XXI, quando a docência é constituída como trabalho e profissão do professor, exigindo desse profissional conhecimento específico para exercer essa atividade.

Veiga (2006, p. 468-469) ressalta:

No sentido formal, docência é o trabalho dos professores [...]. Assim, uma das características fundamentais gira em torno da docência como profissão e isto se opõe à visão não profissional [...]. Outra característica da docência está ligada à inovação quando rompe com a forma conservadora de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar; reconfigura saberes, procurando superar as dicotomias entre conhecimento científico e senso comum, ciência e cultura, educação e trabalho, teoria e prática [...].

Sereia do Mar, no bojo de seu enunciado, elenca os atributos mediar e colaborar nas aprendizagens, os quais nos reportam a certa similaridade com o conceito apresentado por Ibiapina (2007, p. 40), quando se refere à docência como profissão do professor, por considerar que “essa atividade exige reflexão crítica e tem a finalidade de mediar aprendizagens e garantir a educação escolar dos estudantes”.

A compreensão de que a docência é a atividade do professor nos faz perceber a importância da imagem que tem de si como profissional, enquanto ensina, “[...] está em

relação directa com aquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino”. (NÓVOA, 2006, p. 36).

O conceito prévio de Sereia do Mar dialoga com o significado de docência de Imbernón (2006), quando se refere à docência como profissão. Segundo o autor, mediante o seu exercício, o professor deve abordar os conhecimentos de tal forma que promova mudanças nos alunos. Quando ela expressa no seu enunciado “propósito de mediar, colaborar nas aprendizagens”, deduz-se que o conhecimento é trabalhado tendo como base a mediação com o aprendiz, a qual, por sua vez, provoca rupturas, mudanças, colaborando nas aprendizagens. Referindo-se à educação atual, Imbernón (2000, p. 89) mostra: “O novo papel dos professores, e de toda pessoa que se dedique a qualquer atividade educativa, enfocado nem tanto como fornecedor de saber, mas como gestor e mediador de aprendizagem”.

É nesses pontos que seu enunciado mantém certa relação com o referido autor, pois o seu conceito, ao incluir os atributos “mediar e colaborar nas aprendizagens”, enquadra-se no objetivo da educação de tornar os cidadãos autônomos e menos dependentes social e economicamente. Nesse sentido, Imbernón (2006, p. 28) diz: “[...] É ajudar a tornar as pessoas mais livres, menos dependentes do poder econômico, político e social”. A docência, na medida em que é exercida com essa finalidade, estará cumprindo com esse objetivo.

No que se refere ao significado de professor, Sereia do Mar emitiu o seguinte enunciado:

Sereia do Mar – Professor é um profissional do ensino com conhecimentos, habilidades, valores e saberes que na sua ação docente deve colaborar e mediar aprendizagens em seus múltiplos aspectos: cognitivo, afetivo, psicomotor e histórico-social. (Conceito prévio de professor elaborado por Sereia do Mar em 12 de março de 2009).

Assim como Alga Marinha e Estrela do Mar, Sereia do Mar inclui no seu enunciado do conceito de professor o atributo profissional como propriedade geral que nomeia qualquer categoria de trabalhadores. Apesar de esse atributo ser essencial para dizer que os professores pertencem a essa categoria de profissionais, não é distintivo para conceituar o professor na lógica dialética de elaboração de conceitos. Essa referência constitui apenas um elemento que faz parte desse percurso de elaboração conceitual.

Quanto ao processo de análise conceitual, os atributos presentes no conceito prévio de professor não são suficientes para significá-lo. Em virtude do que foi destacado, identificamos seu enunciado como caracterização. Embora se refira textualmente que o professor é um profissional, atributo considerado essencial, este, contudo, não é distintivo só da categoria de professores. Apesar de elencar outras propriedades como “conhecimento”, “mediar nas

aprendizagens”, mais específicas e de natureza interna, julgamos que o seu enunciado não atingiu o estágio de elaboração científica em termos de conceituação. Ele é considerado caracterização porque não apresenta os nexos e relações com os atributos que expressam a unidade dialética geral/particular/singular.

Considerando a evolução histórica do conceito de professor, observamos que o significado elaborado por essa partícipe apresenta elementos que se coadunam com as discussões efetivadas na atualidade, quando afirma que a ação docente é mediadora das aprendizagens em seus múltiplos aspectos, corroborando o que explica Charlot (2005, p. 85): “O problema é que ensinar não é somente transmitir, nem fazer se aprender saberes. É, por meio dos saberes, humanizar, socializar, ajudar um sujeito singular acontecer”.

Como forma de visualizar a classificação de nossos conceitos prévios sobre professor e docência no que se refere à sua dimensão lógica, apresentamos o Quadro 5:

QUADRO 5 – Estágios de elaboração dos conceitos prévios de professor e docência

Pseudônimos Conceitos prévios – professor

e docência Estágios

Água Viva

Professor: É o ser que se

apropria e transmite conhecimentos, interagindo e instruindo na formação de cidadãos desde a mais tenra idade.

Caracterização

– Associa o significado de docência como transmissão de conhecimentos, instrução.

– Mestre da sociedade antiga. (MANACORDA, 1989).

– O conteúdo revelado expressa apenas os atributos/propriedades mais gerais, porém não são distintivos da categoria de professores sem, contudo, esgotar as suas propriedades, seus nexos e suas relações.

Docência: Ato de ensinar.

Buscar através de estudos e da pesquisa novos conhecimentos e conceitos e aplicá-los

Caracterização

– Contém atributos do conceito (conhecimento, pesquisa), porém insuficiente p/ conceituação.

– Não apresenta atributos q/ expressem a relação g/p/s própria dos conceitos. – Concepção clássica de docência como transmissão. (CAMBI, 1999).

– Concepção associada ao professor mestre da antiguidade (HIRSCHHORN

apud FERNANDES, 1998) e da

atualidade (NUÑEZ; GAUTHIER, 2004).

Alga Marinha

Professor: É o profissional

responsável pelo processo ensino e aprendizagem no ambiente escolar ou fora dele. É o mediador da aprendizagem do aluno quanto aos conteúdos curriculares, transversais, valores, princípios, éticos, morais, religiosos, etc. É quem conduz a mediação de forma a despertar no educando o gosto pelo estudo, pela busca do saber; é quem indica meios para que o educando elabore/crie suas metas, construa seu

próprio caminho de

aprendizagem. Professor é alguém com competências e habilidades para construir aprendizagens.

Caracterização

– Na mesma categoria, pois não foi capaz de estabelecer as relações de generalidades entre conceitos.

– Reúne muitos atributos que poderiam ter sido sintetizados.

– Contém atributos de concepções relativas à docência na idade média (CAMBI, 1999) e da atualidade. (ALTET, 2001; IBIAPINA, 2007). – Inclui características similares às de autores como Tardif (2002), Altet (2001) e Silva (2005), que consideram o professor profissional.

– Mestre profissional da modernidade.

Docência: A docência é o

conjunto de competências e habilidades que permeiam o fazer pedagógico de um professor. É um conceito mais amplo que intermedeia professor-aluno-escola-ensino- aprendizagem.

Caracterização

– Enumera alguns atributos que são essenciais (ensino e aprendizagem) e abstrai propriedades distintivas, mas não suficientes para elaborar uma conceituação.

– Apresenta atributos referentes ao conteúdo do conceito (singu.), restrições quanto às relações de gen/part/sing. – Não contém o conj/ de atrib/ e relações q/ disting/ o conc/ de outras modalidades de conhecimento.

– Docência como atividade. (ALTET, 2001).

Estrela do Mar

Professor: é o profissional que

transmite o conhecimento acumulado pela humanidade e tem como missão mediar, analisar, questionar e investigar proporcionando

desenvolvimento do

pensamento humano para que o educando compreenda o passado e possa interferir na construção do futuro.

Caracterização

– Atributo “profissional” (geral) e uma característica considerada essencial, embora não distintiva, da categoria dos professores. Não contém os nexos relacionais do estágio conceitual (sin/part/univers.).

– Apresenta algumas características das discussões atuais nos atributos (mediar, questionar, investigar).

– É uma caracterização, uma vez que seu enunciado apresenta alguns dos atributos que compõem o conjunto constitutivo do conceito referência.

– Concepção associada ao paradigma do magíster (antiguidade), perfil de professor missionário, modelo recusado pelo sindicalismo docente a partir do século XIX.

Docência: Docência é ato de

ensinar. É exercício da profissão de professor.

Definição

– Ao restringir apenas uma das propriedades singulares (ensinar), a enumeração somente desse atributo não permite, em grau de generalidade e singularidade, assumir a condição de conceito. Há restrições quanto ao conteúdo e ao volume.

– Docência como transmissão de conhecimento na antiguidade (CAMBI, 1999) e assemelhando-se ao significado etimológico (VEIGA, 2006).

Sereia do Mar

Professor: É um profissional

do ensino com conhecimentos, habilidades, valores e saberes que na sua ação docente deve

colaborar e mediar

aprendizagens em seus múltiplos aspectos: cognitivo, afetivo, psicomotor e histórico- social.

Caracterização

– Os atributos presentes são insuficientes para conceituá-lo (conhecimento, mediar nas aprendizagens), são de natureza interna. Não apresentam os nexos e as relações com os atributos que expressam

a unidade dialética

geral/particular/singular.

– O atributo (profissional) não é distintivo só da categoria dos professores.

– Alguns atributos contidos nas discussões da atualidade. (CHARLOT, 2005).

Docência: É a atividade

profissional do professor no ambiente da sala de aula com propósito de mediar, colaborar nas aprendizagens.

Conceituação

– Ao incluir os atributos (atividade, aprendizagens), expressa as propriedades essenciais e necessárias entre o g/p/s. – Geral (atividade).

– O particular implícito no atributo (ensino), objeto da atividade de quem ensina; o singular, no mediar aprendizagem, objetivo para o qual se dirige o processo.

– Concepção atual de docência como atividade. (IBIAPINA, 2007; NÓVOA, 2007; IMBERNÓN, 2006).

Fazendo uma leitura sintética do quadro supramencionado, percebemos que, na elaboração dos conceitos prévios predomina o estágio da caracterização, reduzindo o conteúdo e volume do conceito a alguns dos seus atributos. Contudo, constatamos estágios diferenciados quando se trata tanto do conceito de professor quanto do conceito de docência.

Quanto ao conceito de docência, apresentamos, além da caracterização, significações no estágio da definição e da conceituação, enquanto no conceito de professor predominam enunciados em termos de caracterização.

A análise evidencia estágios diferenciados em uma mesma partícipe. Estrela do Mar, por exemplo, elabora significado tanto no estágio da definição (conceito de docência) quanto de caracterização (conceito de professor).

Situação semelhante é apresentada por Sereia do Mar, que se situa no estágio da conceituação quando se trata do conceito de docência. No entanto, quando elabora o significado de professor, o faz no estágio de caracterização.

Sereia do Mar apresenta avanços em relação às outras partícipes na medida em que o seu enunciado possibilita estabelecer as relações próprias do conhecimento conceitual. Esse fato é evidenciado pela presença dos atributos essenciais e necessários para distinguir a docência das demais atividades, destacando a relação dialética entre o geral, o particular e o singular.

Historicamente, o conceito de docência ligado apenas ao ensino é tão antigo quanto atual. Segundo Tardif e Lessard (2008, p. 36), “durante muito tempo, ensinar foi sinônimo de obedecer e fazer obedecer (Vicent, 1980). Em diversos países, a docência ainda está vinculada a isso”. As partícipes Água Viva e Estrela do Mar também consideram a docência como “ato de ensinar”. A docência não se restringe somente a aplicar os conhecimentos científicos comprovados em pesquisas, como significou Água Viva. Ainda, reconhecer a docência como profissão, conforme fez Estrela do Mar, não é suficiente para diferenciá-la de outras profissões. Por isso, esses atributos elencados pelas duas partícipes não contemplam a totalidade, a essência, com seus nexos e relações que atribuam à docência um significado científico, no estágio de conceituação.

No que diz respeito à elaboração do conceito de professor, apenas Água Viva não fez alusão ao atributo “profissional”, as demais partícipes mencionaram esse atributo. É uma característica geral da categoria trabalho, específica, neste estudo, dos trabalhadores em educação (professores).

Esses resultados evidenciam a natureza processual do ato de conceituar. A elaboração conceitual é um processo que requer dos sujeitos individuais a capacidade e o domínio das condições psíquicas por ele exigidas.

De modo geral, a formação por nós vivenciada não propiciou conhecimentos suficientes para que elaborássemos, ainda, os conceitos em conformidade com as estruturas e propriedades dos conceitos científicos.

Como elucida Vigotsky (2009, p. 350):

O desenvolvimento dos conceitos científicos começa no campo da consciência e da arbitrariedade e continua adiante, crescendo de cima para baixo no campo da experiência pessoal e da concretude. O desenvolvimento dos conceitos científicos começa no campo da concretude e do empirismo e se movimenta no sentido das propriedades superiores dos conceitos: da consciência e da arbitrariedade. O vínculo entre o desenvolvimento dessas duas linhas diametralmente opostas revela indiscutivelmente a sua verdadeira natureza: é o vínculo da zona de desenvolvimento imediato e do nível atual de desenvolvimento.

Isso significa que, para avançarmos nesse processo, precisamos entender que os conceitos surgem da atividade prática e histórico-social do homem. Mais especificamente, o processo de elaboração conceitual deve ser um trabalho organizado, realizado consciente e volitivamente. Ferreira (2007, p. 66) destaca:

Seu domínio se efetiva pela superação contínua da incompletude entre o fenômeno e os significados que são atribuídos e sua efetivação ocorre à medida que se apreende as inter-relações e seus nexos com outros conceitos, estruturando-se uma rede de significados que integram as várias áreas das ciências.

Por conseguinte, os conceitos são construções históricas que orientam os seres humanos na realização e no desenvolvimento de suas atividades profissionais.

Nossos processos formativos não propiciaram a oportunidade para elaborarmos conceitos tão essenciais ao exercício da nossa profissão como os significados de professor e de docência, como também não nos possibilitaram desenvolver a capacidade de conceituar, o que se evidencia em alguns trechos da história de nossa formação.

Para Estrela do Mar, o ponto marcante para sua formação não foi o curso de Pedagogia, e sim as experiências vivenciadas nos movimentos sociais que se iniciaram em

prol da retomada da democracia e fim da ditadura militar, como relatado na sua autobiografia profissional.

Estrela do Mar – Durante a minha participação no D.A de pedagogia viajei para Bahia na delegação do Rio Grande do Norte pra receber Paulo Freire que voltava do exílio pra o Brasil com direito de expor suas ideias sem repressão. Lembro-me que no curso de Pedagogia não se falava de Paulo freire, pois era proibido pela ditadura militar, e eu consegui comprar um exemplar do livro Pedagogia do

Oprimido para discutir com os colegas e entender os motivos que levou ao exílio e quanto mais lia,

mais descobria o prazer de ser educadora e quanto eu podia contribuir na minha profissão para as transformações sociais. A cada momento eu tinha mais certeza da importância que era ser professora nesta sociedade. (Extrait da Autobiografia de Formação elaborado em 09 de outubro de 2008).

Alga Marinha também destaca a sua participação nos movimentos sociais como o lócus de aprendizagem mais significativa.

Alga Marinha – [...] Consegui um emprego na entidade ligada à igreja, chamada Movimento de Educação de Base – MEB, entre os anos de 1982 a 1985. Essa entidade foi espaço de aprendizagem de grande valor para minha formação profissional. Lá, pude conhecer as ideias de nosso querido Paulo Freire. Pude fazer cursos de conjuntura nacional, encontros com pessoas de outros estados ligados ao MEB (Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Brasília). Tive experiências com as comunidades ribeirinhas. Foram anos de muita riqueza na formação intelectual e cultural e na tomada de consciência crítica diante da problemática brasileira. (Extrait da Autobiografia de Formação elaborado em 09 de outubro de 2008).

A experiência vivenciada por Sereia do Mar, tanto na academia quanto na sua vida profissional, não evidenciou a existência de um momento em que fosse dado espaço para estudo sobre o processo de formação e elaboração de conceitos, conforme o relato deste trecho de sua autobiografia profissional:

Sereia do Mar – Ao terminar o curso, como eu já estava trabalhando como professora, eu fui convidada para ser supervisora de ensino em uma creche. Aceitei de imediato, aqui desenvolvi um trabalho diferente, pois coordenava um grupo de professores acerca dos planejamentos e das atividades escolares. Nós trabalhávamos em equipe, pois a creche tinha o psicólogo, a pedagoga, que era eu, a nutricionista, a assistente social e o médico. Todas as atividades a serem desenvolvidas eram discutidas por todos. (Extrait da Autobiografia de Formação elaborado em 09 de outubro de 2008).

A partícipe educadora física Água Viva situa as experiências vivenciadas na base de pesquisa de docentes como as mais significativas. Assim, acrescenta:

Água Viva – [...] Fiz o vestibular e passei, optando assim pela universidade e pelo curso de Licenciatura em Educação Física, que outrora escolhi como minha profissão. [...] Durante o curso, já mencionado, participei da base de pesquisa Corporeidade e Educação, pois pesquisar, descobrir e redescobrir sempre foram alvos que busquei nos meus anos acadêmicos [...]. (Extrait da Autobiografia de Formação elaborado em 09 de outubro de 2008).

Desse modo, são compreensíveis os resultados evidenciados nesta pesquisa, considerando que os fatos por nós constatados não são específicos das nossas singularidades.

Outros pesquisadores têm demonstrado resultados semelhantes. Coelho (2008), ao realizar estudo com professores de Arte focalizando, entre outros conceitos, o de professor de arte e prática docente em arte, constatou que a maioria deles, mesmo com anos de experiência no Ensino Superior e Ensino Fundamental, não atingiu o estágio de elaboração conceitual em sua forma científica. No entanto, ao vivenciarem sistematicamente esse processo em situação mediada para tal finalidade, avançaram em suas elaborações.

Nesse sentido, o estudo de Ibiapina (2007), realizado com professores universitários para a elaboração do conceito de docência, demonstra que eles apresentaram dificuldades de significar esse conceito no estágio da conceituação. Em suas significações, não constam atributos essenciais e necessários do conceito em foco, pois partem de experiências empíricas em vez de elaborações teóricas. Isso significou que a formação acadêmica vivenciada não contribuiu para que eles adquirissem as condições para atingir o estágio mais avançado da elaboração conceitual. Esse processo não é simples como se imagina, pois exige, dentre outros fatores, estudo sistematizado direcionado para essa finalidade.

Essas evidências justificam investimento em processo formativo para aprimorar os conceitos prévios internalizados na perspectiva da formação e desenvolvimento de conceitos em grau mais abrangente de elaborações.

Nessa direção, para (re)elaboração dos nossos conceitos prévios, desencadeamos um processo de formação e estudo que privilegiasse aprendizagens não comuns nas escolas, como o processo de elaboração conceitual. Considerando que não é qualquer formação que possibilita a passagem de um estágio para o outro, em termos qualitativos, o desafio foi posto e será apresentado no capítulo seguinte.

6 O PROCESSO DE (RE)SIGNIFICAÇÃO DOS SABERES

[...] os conceitos se formam via um processo reflexivo, através do qual se descobre a essência dos fenômenos, ou seja, suas propriedades internas, seus nexos e suas relações, explicitando, como já reiterado algumas vezes, a unidade dialética entre opostos – unidade entre o geral, o particular e o singular [...]. (FERREIRA, 2009, p.

134).

A (re)elaboração de conhecimento implica lento e gradual trabalho do pensamento no sentido de produzir nova compreensão e significação dos fenômenos que se pretende conhecer e explicar. É um trabalho que requer a interlocução com o conhecimento socialmente produzido, o qual, partindo dessa referência, contribui para sua ampliação.