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SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) NO BRASIL: ORGANIZA ÇÃO E FUNCIONAMENTO

JUDICIARIO BRASILEÑO: ¿UN NUEVO ENTENDIMIENTO SOBRE IGUALDAD EN EL ACCESO A LA SALUD?

2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) NO BRASIL: ORGANIZA ÇÃO E FUNCIONAMENTO

O atual modelo de saúde pública do Brasil resulta de uma conquista demo- crática, advinda com a Constituição Federal de 1988, que consagrou a saúde um direito fundamental46 e social (art. 6.º). Antes de sua promulgação, a ação

do Ministério da Saúde se restringia a políticas preventivas, como campanhas de vacinação, enquanto que os tratamentos ambulatoriais para a população indigente ficavam a cargo de instituições filantrópicas. O sistema de saúde era contributivo e centralizado nas mãos da União, onde era gerenciado pelo INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), extinta autarquia federal47.

Pelo art. 198 da Constituição foi instituído o SUS (Sistema Único de Saúde), em nome da saúde gratuita, integral e universal. A igualdade do acesso à saúde no Brasil já é constituída como dever estatal, com pretensão absoluta desde sua síntese em 1988. Assim, foi criada uma rede descentralizada e regio- nal voltada ao exercício de medidas que vão desde atividades preventivas a procedimentos essenciais.

46 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucio-

nal. 9.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 642.

47 Núcleo de Saúde da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos

Deputados. A saúde no Brasil: História do Sistema Único de Saúde, arcabouço legal, organi- zação, funcionamento, financiamento do SUS e as principais propostas de regulamentação da Emenda Constitucional n.º 29, de 2000. Nota Técnica n.º 10, de 2011 – CONOF/CD. p. 4. 2011. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamento- brasil/estudos/2011/nt10.pdf>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

Baseado no modelo beveridgeano inglês, o SUS representa uma importante política de inclusão social48 no Brasil. No país, também é possível o ofereci-

mento do serviço público de saúde pelo setor privado, uma vez que o artigo 24 da Lei 8.080/90 prevê que: “Quando as suas disponibilidades forem insufi- cientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada”.

O artigo 19-M da lei 8.080/90 se propõe a definir o que seja “assistência terapêutica integral”, na qual o SUS deve pautar seu funcionamento. Ela con- siste na “dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em conformidade com as diretrizes terapêuticas defi- nidas em protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde a ser tratado”.

Faltando protocolo clínico ou diretriz terapêutica, a dispensação será rea- lizada (art. 19-P da mesma Lei) com base nas relações de medicamentos ins- tituídas pelo gestor federal do SUS, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, ou mesmo no âmbito municipal, todos de maneira suplementar.

A atuação do SUS, como se vê, conta com um plano pré-definido, em que somente em situações específicas pode haver direcionamento de recurso para algo que não esteja previsto. A política de fornecimento de medicamentos adotada, por exemplo, é organizada por uma lista que cada ente federativo deve elaborar com base na PNM49 (Política Nacional de Medicamentos). Em

nível federal há o Rename50 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais),

que deve ser constantemente atualizado pelo Ministério da Saúde. Em nível municipal, por exemplo, deve ser elaborada uma relação de medicamentos chamada de REMUME51, que leva em conta o perfil da população local.

48 MENDES, Eugênio Vilaça. 25 anos do Sistema Único de Saúde: resultados e desafios. Estudos

avançados. Vol.27, N.º 78, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000200003>. Acesso em: 11 de novembro de 2017.

49 Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_medicamentos.pdf>.

Acesso em: 11 de novembro de 2017.

50 Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamen-

tos_rename_2017.pdf>. Acesso em: 11 de novembro de 2017.

51 Vide os disponibilizados pelo município de Vitória, ES: <http://www.vitoria.es.gov.br/cida-

A integralidade do sistema passa, em regra, por Protocolos Clínicos e Dire- trizes Terapêuticas (PCDT) para identificação e tratamento de doenças, o que inclui fornecimento de medicamentos52. O PCDT é essencial para que se

mantenha a logística da gestão ao mesmo tempo em que promove a igualdade e a universalização da cobertura, pois todos aqueles que apresentarem os mes- mos quadros clínicos terão o mesmo tratamento.

A isso colabora o princípio da legalidade estrita que rege a administração pública (art. 37 da Constituição Federal), requerendo prévias diretrizes legais para respaldar essa atuação. E claro, o próprio princípio da isonomia, no sen- tido de que padronizar a prestação pública relativa a saúde evita discrimina- ções contra a população que a receberá.

Esse funcionamento ganhou destaque, até em nível internacional, na área de saúde primária e familiar, que agrega atuações interdisciplinares com resul- tados positivos53. Contudo, o SUS apresenta falhas. Isso inclui a ausência de

instrumentos necessários a certos procedimentos presentes em várias unidades de saúde; atraso na incorporação de novos fármacos e restrições ao forneci- mento de materiais para consultas, exames, diagnósticos e intervenções. Tal cenário resulta em marcante problema quanto a Cobertura Universal, já que a realidade do SUS envolve longas filas de espera por atendimentos em consul- tas e cirurgias54, trazendo até mesmo riscos aos pacientes55.

Ante este fato, o Poder Judiciário surge como última alternativa de muitos para obtenção de leitos, medicamentos ou de tratamentos terapêuticos. No

52 Disponível no portal do Ministério da Saúde: < http://portalsaude.saude.gov.br/index.

php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/840-sctie-raiz/daf-raiz/cgceaf-raiz/cgce- af/l3-cgceaf/11646-pcdt>. Acesso em: 11 de novembro de 2017.

53 MACINKO, JAMES; HARRIS, Mathew J. “Brazil’s family health strategy--delivering

community-based primary care in a universal health system”. In: New England Journal of

Medicine. 04 de junho de 2015.

54 Mais de 8 milhões de mulheres deixaram de fazer mamografia. Jornal Nacional, 11 de no-

vembro de 2017. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/11/ mais-de-8-milhoes-de-mulheres-deixaram-de-fazer-mamografia.html. Acesso em 11 de no- vembro de 2017.

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