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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A DELIMITAÇÃO PARA JUDICIALIZAR A SAÚDE NO BRASIL

JUDICIARIO BRASILEÑO: ¿UN NUEVO ENTENDIMIENTO SOBRE IGUALDAD EN EL ACCESO A LA SALUD?

5. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A DELIMITAÇÃO PARA JUDICIALIZAR A SAÚDE NO BRASIL

Recentes casos de repercussão geral demonstram uma nova postura do Supremo Tribunal Federal (STF), extensiva ao Judiciário como um todo, quanto a judicialização da saúde. Neles, é possível perceber uma delimitação ao que poderá ser requerido via ação judicial perante os entes públicos em matéria de saúde.

O julgamento da medida cautelar da Ação Direita de Inconstitucionali- dade n.º 5501, de 19 de maio de 201663, suspendeu os efeitos da Lei 13.269,

de 2016, que autorizava o uso da fosfoetanolamina sintética para pacientes diagnosticados com neoplasia maligna64. Nisso, ficou estabelecido que o

fornecimento judicial de medicamentos e tecnologias em saúde requerem

62 Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/tecnologia-da-informacao/processo-judicial-

eletronico-pjenoticias/judiciario/82347-projeto-do-es-para-acompanhar-demandas-de- saude-participa-do-innovare>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

63 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteu-

do=317011>. Acesso em: 11 de novembro de 2017.

64 “BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU-

CIONALIDADE. ADI 5501 DF-DISTRITO FEDERAL 0052747-76.2016.1.00.0000. Disponível” em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/adi5501M- MA.pdf>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

comprovada segurança, mediante análise sanitária dos órgãos brasileiros de controle, a fim de resguardar necessária qualidade terapêutica. Isso serviu de limite não só ao Judiciário, mas também ao Legislativo, vedando criação de leis nesse sentido sem prévia participação de órgãos ligados ao Executivo, como o Ministério da Saúde e a Anvisa.

Cabe destacar, também, o Recurso Extraordinário 566471 RN65, sobre o

dever de o Estado, mediante demanda judicial, de fornecer medicamento de alto custo a portador de doença grave que não possui condições financeiras para comprá-lo. Ainda não finalizado, o processo segue com votos que variam entre o não fornecimento de medicamentos presentes nas listagens do SUS, ou, então em vantagem, o fornecimento mediante comprovação de eficácia terapêutica, necessidade da demanda e limitação financeira do demandante.

Nota-se, então, o indicativo de uma nova postura. O próprio Judiciário, mediante o risco que sua atuação pode trazer ao limitado sistema de saúde pública, restringe o alcance de suas decisões e enrijece critérios para sua obten- ção, mitigando o direito à saúde universal de indivíduos judicantes que pos- sam trazer onerações excessivas ao SUS. Prefere, assim, resguardar de modo utilitarista a capacidade coletiva de atendimento desse sistema, enquadrando suporte a situações não previstas e protocoladas como exceções, alcançáveis pelo cumprimento de critérios cada vez mais objetivos e específicos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conjuntura brasileira de abertura democrática, com ampliação do rol de direitos e garantias fundamentais, fez parte de um contexto de crescentes intervenções judiciais cobrando efetivação de políticas públicas. Isso é reflexo de novas configurações sociais e também da ineficácia do Poder Público de cumprir preceitos constitucionais, como o direito à saúde universal.

A crescente judicialização da saúde é custosa à Justiça, trazendo também volumosos e inesperados gastos ao sistema público de saúde, muitas vezes cha- mado a agir fora de seus planejamentos e protocolos, o que pode compro- meter seu funcionamento, que é limitado. Frente a isso, é possível perceber

65 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?nume-

ro=566471&classe=RE-RG&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamen- to=M>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

mudanças estabelecidas pelo próprio Judiciário, no intuito de gerir atuais e novas demandas nessa área, como via comitês estaduais, e, até mesmo, limitar o alcance de suas decisões.

Os julgamentos de repercussão geral indicados demonstram movimenta- ção no Judiciário para a redução do seu protagonismo acerca da judicializa- ção da saúde. Alega-se nesse contexto a impossibilidade de se alcançar saúde igualitária e universal apenas via decisões judiciais, que, ao contrário, podem ser lesivas ao sistema e impedir prestação adequada – e planejada – a uma coletividade. Isso nada mais é que legitimar um entendimento de que, para haver saúde universal, deve ser levada em conta a capacidade e o preparo para atendimento pelo SUS, em nome da continuidade desse sistema.

Esse posicionamento, por mais que pautado em argumentos racionais e objetivos, pode gerar uma preocupação de conformidade do Judiciário perante má gestão ou demais falhas na prestação de serviços públicos de saúde. Deve- -se considerar, porém, que esses novos posicionamentos sobre decisões judi- ciais não eximem este Poder dos seus papeis de cobrança e acompanhamento das políticas públicas feitas pelo Executivo e pelo Legislativo.

É nesse contexto que ganhará ainda mais importância lançar mão de ações diversas às decisões judiciais, como intervenções educativas que incentivem a população em geral a participar diretamente dessas mesmas cobranças, bem como agindo, via ação civil pública perante o Executivo, ou Mandados de Injunção perante omissão legislativa, a fim de que o não cumprimento de um direito fundamental, como a saúde universal, só consiga ser resolvido por ação judicial. Para tanto, é de grande importância envolver Defensoria Pública e Ministério Público.

A experiência da saúde pública brasileira é viável e possui resultados de grande magnitude66, o que deve servir de estímulo pela defesa da saúde pública

igualitária de qualidade, com a afirmação de que não é só por meio de decisões judiciais que pode agir o Judiciário em nome da efetivação de direitos. Muda- -se a postura, mas os deveres se mantém.

66 MACINKO, JAMES; HARRIS, Mathew J. “Brazil’s family health strategy-delivering com-

munity-based primary care in a universal health system”. In: New England Journal of Medi-

7. REFERÊNCIAS

ABBOUD, Georges. “Processo Constitucional Brasileiro”. São Paulo: Editora,

Revista dos Tribunais, 2016.

BARBOSA, Maria da Glória Virginio. “Judicialização do Direito à Saúde: Saúde Suplementar no Brasil”. Correio Forense. 10/08/2016. Disponível em: <http://www. correioforense.com.br/colunas/judicializacao-do-direito-a-saude-saude-suplementar- -no-brasil/#.Wgu0FrpFzIU>. Acesso em 11 de novembro de 2017

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ADI 5501 DF – DISTRITO FEDERAL 0052747-76.2016.1.00.0000”. Disponível em: <htps://stf.jusbrasil.com.br/jurispru- dencia/340294381/acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-5501-df-distrito-fede ral-0052747-7620161000000>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. “RECURSO EXTRAORDINÁ- RIO RE 566471 RN” Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verPro- cessoAndamento.asp?numero=566471&classe=RE-RG&codigoClasse=0&origem=J UR&recurso=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

“Justiça em números 2016”: ano-base 2015/Conselho Nacional de Justiça – Bra- sília: CNJ, 2016. Disponível em http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica- -em-numeros. Acesso em 29 de maio de 2017.

MACINKO, JAMES; HARRIS, Mathew J. “Brazil’s family health strategy-deliv- ering community-based primary care in a universal health system”. In: New England Journal of Medicine. 04 de junho de 2015. Disponível em: <http://www.nejm.org/ doi/full/10.1056/NEJMp1501140#t=article>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

MENDES, Eugênio Vilaça. “25 anos do Sistema Único de Saúde: resultados e desafios”. Estud av. vol. 27, n.º 78, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000200003>. Acesso em 11 de novembro de 2017.

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito

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TEMA II

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