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3. A PETROBRAS COMO ATOR ESTRATÉGICO

3.6. O Sistema Petrobras

A rigor a marca Petrobras engloba uma rede muito maior de interesses porque também comumente se aplica às subsidiárias que compõem o Sistema Petrobras (Moreira & Sarmento, op.cit.). A Petrobras tem participação acionária em 261 companhias, mas a estatal considera que apenas as sete subsidiárias tratadas aqui compõem o Sistema Petrobras. Estas subsidiárias são nominalmente independentes, com diretorias, estatutos, contabilidade, quadros sociais próprios e com liberdade de fechar contratos de forma independente, porém cuja propriedade e posse quase integral e/ou integral das ações pertence a estatal.

3.6.1. A Construção do Sistema Petrobras

O período 1960/73 foi decisivo para a construção e expansão do Sistema Petrobras possibilitando a integração da companhia tanto em sentido vertical como em sentido horizontal. Favorecida pela expansão econômica verificada no período, essa construção teve como base o petróleo importado porque então o mercado petrolífero externo era atrativo (os preços eram baixos e havia sobre-oferta de petróleo) e porque, a despeito dos esforços, o

67 A Resolução no 652 de 09/12/2003 da ANEEL define as PCH como usinas com potência entre 1 mW e 30 mW, com área de reservatório limitada o que possibilita melhor atendimento às necessidades de carga de pequenos centros urbanos, regiões rurais e unidades industriais, com um menor índice de impacto ambiental. Por sua construção apresentar baixo custo e demandar pouco tempo (cerca de 2 anos) o custo da produção dessas usinas é competitivo com a gerada nas termelétricas a gás.

ritmo de descobertas da Petrobras ficou muito aquém do necessário para acompanhar o crescimento da demanda interna de petróleo (Contreras, 1994).

Assim, além de necessária, a importação de petróleo era menos onerosa que a P&E, o que levou o Governo a incluir a importação de petróleo no monopólio da Petrobras (23/12/1963), seguido de uma mudança gradual na companhia, que passou a se concentrar no refino e dava os primeiros passos em direção a distribuição, mas foi após o golpe de 1964 e em especial com o Decreto-Lei No 200 (que abriu a possibilidade de intervenção do Estado na economia via estatais) que possibilitou a expansão e a integração do Sistema Petrobras. Neste sentido a primeira ação foi feita não em sentido vertical, mas em sentido horizontal, através do Decreto-Lei 61.981 de 28 de dezembro de 1967, que estabeleceu a primeira subsidiária da estatal, a Petrobrás Química SA (Petroquisa), que disponibilizou a tecnologia, mão-de-obra e os capitais necessários para a construção do setor petroquímico.

Na presidência do General Geisel (1969/73), os rumos da estatal foram orientados em direção a integração vertical, reforçando ainda mais sua participação no refino e distribuição. Nesta última atividade, após início modesto em 1962 quando a Petrobras passou a fornecer combustíveis para órgãos do governo, houve a entrada oficial em 8 de novembro de 1971 quando era criada a segunda subsidiária, a Petrobrás Distribuidora SA (BR Distribuidora).

Por sua vez, os resultados desanimadores da exploração do petróleo no Brasil levaram a decisão de criar, sob forte oposição interna, a terceira subsidiária, a Petrobrás Internacional SA (Braspetro) em 5 de abril de 1972. A Braspetro objetivava desenvolver fora do território nacional todas as atividades petrolíferas que, por lei, a Petrobras não podia executar sem autorização do Congresso. Uma medida justificada pela grande dependência do país por petróleo importado, pelas facilidades para E&P em outros países e pelo fato da Petrobras então já contar com equipe de técnicos experimentados em E&P (Minadeo, op. cit.).

Após o choque do petróleo de 1973 a nova redefinição nas estratégias do Brasil incluía a busca da auto-suficiência petrolífera. Assim a Petrobras ampliou as pesquisas em alto-mar e na Amazônia ao mesmo tempo em que, num movimento defensivo, criou outras subsidiárias. Para aproveitar o potencial comercial da estatal em fevereiro de 1976 foi criada a quarta subsidiária da Petrobras, a Petrobrás Comércio Internacional SA (Interbrás)68.

68 O potencial resultava do fato da Petrobras ser a maior compradora individual de petróleo do mundo até 1979, ano que comprou US$ 11 bilhões de petróleo do exterior, a maior parte do Oriente Médio. A Petrobras criou esta subsidiária a fim de aproveitar os canais de comércio abertos com estes países. Através da Interbrás eram vendidos armamentos (Engesa), automóveis (Volkswagens brasileiros), serviço de engenharia (Mendes Júnior), produtos avícolas, produtos agrícolas e assim por diante.

O impacto dos preços do petróleo na balança de pagamentos coincidiu também com a estratégia de aumentar e diversificar a exportação de produtos agrícolas. Para implementar esta estratégia em novembro de 1974 era aprovado o Programa Nacional de Fertilizantes e Calcários que previa uma ação coordenada entre Governo e iniciativa privada para viabilizar a produção agrícola, porém sua operacionalização foi colocada sob responsabilidade da quinta subsidiária da Petrobras, Petrobrás Fertilizantes SA (Petrofértil), criada em 23 de março de 1976. A Petrofértil controlava a produção nacional de insumos nitrogenados a partir das subsidiárias Nitrofértil (criada pela Petroquisa em 1973) e Ultrafértil (comprada em 1974) e a produção nacional de insumos fostatados a partir das subsidiárias Fosfértil (criada em 1980), ICC (estatal, repassada a Petrofértil em 1978) e Goiasfértil (criada em 1978).

Em 1977 era criada a última subsidiária, consolidando o formato do Sistema Petrobras até 1991: a Petrobrás Mineração SA (Petromisa), que aproveitava o conhecimento geológico acumulado pela estatal do subsolo brasileiro (1,11 milhão de km2) para inicialmente explorar as jazidas de potassa localizadas em Sergipe.

3.6.2. A Lei 9.478/97 e o Sistema Petrobras

Modelo base e mais bem sucedido do “tripé” de desenvolvimento adotado no regime militar, o Sistema Petrobras não é o mesmo que se consolidou no final dos anos 70. A necessidade de adaptar a Petrobras as novas exigências estruturais da indústria petrolífera, às novas tecnologias de informática e a nova estrutura brasileira de mercado determinado pela Lei 9.478/97 modificou substancialmente também o perfil do Sistema Petrobras. Nesta nova reestruturação a Petroquisa foi reconfigurada, a BR Distribuidora foi mantida sem alterações significativas, a Braspetro foi extinta (a exemplo do que já ocorrera com a Interbrás e a Petromisa, mas por razões diferentes) e a Petrofértil foi transformada em outra subsidiária (a Gaspetro). Afinal, foram criadas novas subsidiárias e houve a compra de uma companhia estrangeira (a Pérez Compac SA) que se transformou em subsidiária.

Observa-se que esta reestruturação enfatizou três objetivos: 1) reforçar a atividade central da estatal, o petróleo; 2) reforçar os setores diretamente vinculados e complementares a logística da linha vertical, como o transporte e distribuição; e 3) ampliar os negócios vinculados à energia, como gás natural e energia elétrica, em que a Petrobras é novata. Neste novo arranjo enquanto a Petrobras opera diretamente no exterior, as subsidiárias operam (quase exclusivamente) no país, complementando o fluxo produtivo da estatal.

Atualmente o Sistema Petrobras é formado pelas seguintes companhias (no segundo parênteses está porcentagem da participação acionária da Petrobras):

- Petrobrás Química SA (Petroquisa) (100,00%): mais antiga subsidiária do Sistema Petrobras e ainda braço químico da estatal e que praticamente sozinha, a partir do planejamento estatal realizado pelo Geiquim (Grupo Executivo da Indústria Petroquímica) iniciados em 1965 implantou os três pólos petroquímicos brasileiros:

1. Em 1968, o I Pólo Petroquímico, em São Paulo, com a Petroquímica União S.A. (PQU), como central de matérias-primas;

2. Em 1970, o II Pólo Petroquímico, na Bahia, com a Petroquímica do Nordeste S.A. (Copene, hoje Braskem69), como central de matérias-primas;

3. Em 1975, o III Pólo Petroquímico, no Rio Grande do Sul, com a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul), como central de matérias-primas.

Na formação desses três pólos petroquímicos, a central de matérias-primas era controlada pela Petroquisa e as empresas de segunda geração seguiam o chamado "modelo tripartite" em que o controle de cada empresa era detido por três sócios, cada um com aproximadamente 1/3 do capital: a Petroquisa, como representante da participação estatal, um acionista privado brasileiro e um acionista estrangeiro licenciador de tecnologia. Antes da privatização do sistema Petroquisa em 1992 ela controlava 4 subsidiárias70 e tinha participação acionária em 23 coligadas diretas e 43 coligadas indiretas (empresas associadas), que juntas respondiam por 80% do setor petroquímico brasileiro (Contreras, 1994).

A Petroquisa possui ações ordinárias em 12 companhias (no parêntese sua participação em 31/12/2006): Braskem SA (9,80%), Citepe (40,00%), Copesul (15,63%), Deten Química SA (28,60%), FCC SA (50,00%), Metanor SA (49,50%), Nitroclor Ltda (38,80%), Petroquímica Paulínia SA (40,00%), Petroquímica Triunfo SA (70,50%), Petrocoque SA (40,00%); PQU (17,44%) e Rio Polímeros SA (16,67%).

- Petrobrás Distribuidora SA (BR Distribuidora) (100,00%): subsidiária criada em 8 de novembro de 1971. Distribuí derivados de petróleo e gás natural em todo o território nacional. - Petrobras International Finance Company (PIFCO) (100,00%): subsidiária criada em 1997 com fim de intermediar as operações de compra e venda de petróleo e derivados entre

69 Formada em 2001 fusão da Copene, Odebrecht e Mariani a Braskem é a maior petroquímica da América Latina, apresentando um faturamento anual superior a US$ 4 bilhões.

70 A Companhia Nacional de Álcalis, a Copesul, a Petroflex (unidade produtora de borracha sintética localizada em Duque de Caxias/RJ) e a PQU.

Petrobras e terceiros. Possui três subsidiárias: Petrobras Finance Ltd (PFL); Petrobras Europe Ltd (PEL) e Petrobras Netherlands BV (PNBV).

- Petrobrás Transporte SA (Transpetro) (100,00%): subsidiária criada em 12 de junho de 1998 em atendimento ao Art. 65 da Lei no 9.478/97 e absorveu a Fronape (Frota Nacional de Petroleiros, que desde 1949 fazia o transporte de petróleo). A Transpetro também presta serviços a distribuidoras e à indústria petroquímica. Junto com a PIFCO é a única subsidiária que opera no exterior por intermédio da subsidiária Fronape International Company.

Principal empresa do setor de logística e transporte do país, a Transpetro opera uma frota de 120 navios (51 petroleiros), 44 terminais terrestres e aquaviários e 30.318 quilômetros de malha dutoviária (gasodutos, oleodutos e polidutos), bem como instalações para armazenagem de granéis, gás natural, petróleo e seus derivados, unindo as áreas de produção, refino e distribuição da Petrobras. Em 1 de janeiro de 2002 assumiu a estrutura atual quando seus negócios foram divididos em três áreas (Oleodutos, Gasodutos e Terminais Aquaviários) com independência para fechar acordos comerciais.

- Petrobrás Gás SA (Gaspetro) (99,94%): subsidiária criada em maio de 1998 em substituição a Petrofértil. A Gaspetro responde por todas as atividades nacionais referentes ao gás natural: estrutura de transporte, comercialização, fornecimento, armazenamento, operação das plantas de liquefação, recebimento e revaporização. Dois são os principais clientes da Gaspetro: a indústria (produção de aço, cerâmica, cimento, fertilizantes, petroquímicos, vidro, etc.) e as termelétricas (programa PPT).

- Petrobras Energia Participaciones SA (Pepsa) (58,62%): ex-Perez Compac SA, subsidiária adquirida em 22 de julho de 2002. Controladora da Petrobras Energía SA (Pesa), empresa integrada de energia sediada em Buenos Aires, que veremos no capítulo seguinte. - Downstream Participações SA (99,99%): criada em 27 de novembro de 2000 tem com o objetivo facilitar a permuta de ativos entre a Petrobras e a Repsol-YPF.