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3. A PETROBRAS COMO ATOR ESTRATÉGICO

3.5. Um Diferencial Importante: O Cenpes

Qualquer que seja o ambiente físico em que uma companhia opera ela enfrentará limitadores de cunho científico e tecnológico. Com a Petrobras não é diferente, mas a estatal

65 Departamento de Cooperação e Controle das Empresas Estatais órgão que substituiu o CCE e está subordinado à Secretaria Executiva do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O Decreto 3.224 de 28/10/99 definiu como sendo suas funções: 1) coordenar a elaboração do Programa de Dispêndios Globais e da proposta do Orçamento de Investimento das estatais; 2) promover a articulação e a integração das políticas das estatais; 3) acompanhar, avaliar e disponibilizar informações sobre o desempenho econômico das estatais; 4) manifestar-se previamente sobre as propostas das estatais referentes à: alterações do capital social, distribuição de lucros, criação de subsidiárias, alterações acionárias, aprovação e alterações de estatutos, contratação de operações de crédito, e emissão de títulos; 5) coordenar e orientar a atuação dos representantes do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão nos Conselhos de Administração das estatais; 6) promover a articulação e a integração das políticas das estatais; e 7) contribuir para o aumento da eficiência e transparência das estatais.

possui o instrumento capaz de superar este tipo de problema: o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello, conhecido como Cenpes.

Criado em 1966 e instalado (desde 1973) na Ilha do Fundão, junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Cenpes ocupa uma área de 122.000 m2, possui 137 laboratórios e 30 unidades-piloto onde atuam 1.576 cientistas e técnicos66. O Cenpes mantém 900 projetos de P&D, 48 projetos de engenharia básica e 12 programas tecnológicos. Fora dali desenvolve projetos com 76 universidades em 17 Estados. Os mais importantes são desenvolvidos em conjunto com a UFRJ, Unicamp (no Centro de Estudos em Petróleo, Cepetro) e o Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia). Possui também 11 incubadoras tecnológicas espalhadas pelo país. Segundo a Petrobras o Cenpes é o maior centro científico da América Latina, mas as conquistas tecnológicas e a literatura especializada parecem dar razão a estatal. Diga-se que as duas maiores companhias petrolíferas da América Latina, a PDVSA e a Pemex, que ultrapassam a Petrobras em volume de reservas e refino não rivalizam com ela em termos de tecnologia.

O acontecimento chave para redefinição das estratégias da Petrobras foi o choque do petróleo de 1973. É bastante conhecido o impacto negativo que o alto preço do barril do petróleo teve sobre a economia brasileira. Mas o mesmo aumento do preço do barril do petróleo que inviabilizou o “milagre brasileiro” teve um efeito colateral: viabilizou a E&P de áreas antes excessivamente custosas, como a Amazônia e da Plataforma Continental.

De fato, o preço do barril era de US$ 1,80 em 1970, mas em 1973 o preço disparou: começou em US$ 2,90 em fevereiro e chegou a US$ 11,65 em dezembro, viabilizando a exploração offshore (mesmo com tecnologia incipiente) em Campos, onde cada barril custava US$ 20,00. Nos anos 70 enquanto o preço do barril do petróleo subia lentamente prosseguiam as pesquisas em alto-mar, tendência que recebeu um impulso definitivo em 1979, com o segundo choque do petróleo, isto aliado aos avanços tecnológicos, fez o custo do barril extraído de Campos cair para US$ 14,00 em 1983. As descobertas marcaram o início da segunda fase dentro da Petrobras onde o diferencial é a exploração do petróleo em águas profundas (até 300 em lâmina d’água), ultraprofundas (de 1.000 m ou mais de lâmina d’água) e agora hiper-profundas (mais de 3.000 m em lâmina d’água).

66 A Petrobras está ampliando o Cenpes ao lado da cidade universitária da UFRJ. O novo centro terá 337.000 m2 e 227 laboratórios. O centro também terá plantas piloto de processamento de gás e de obtenção de hidrogênio, um posto ecotecnológico para abastecimento de veículos com combustíveis do futuro, salas de visualização em terceira dimensão e dois ambientes imersivos (HoloSpace e Cave – Caverna Digital), com projeção estereoscópica em telas gigantes, de altíssima resolução.

Este avanço é creditado ao programa mais importante da Petrobras, o Programa de Capacitação Tecnológica em Sistemas de Exploração em Águas Profundas (Procap). Segundo Furtado & Freitas (2004) o Procap marca a fase mais avançada na estratégia de substituição de importações, quando se passa de um regime de proteção comercial (barreiras tarifárias, controles qualitativos e de taxa de câmbio) para o que incorpora o protecionismo tecnológico com o intuito de aumentar o domínio local e a geração endógena de tecnologia. O estimulo para a mudança aconteceu em 1984 quando não existia tecnologia disponível no mercado mundial para explorar águas profundas. Três foram os estágios da Procap:

- Procap-1000 (desenvolvido entre 1986/92) que possibilitou a Petrobras dominar a tecnologia para explorar petróleo a 1.000 m (3.281 pés) de lâmina d’água;

- Procap-2000 (desenvolvido entre 1993/00) que possibilitou a Petrobras dominar a tecnologia para explorar petróleo a 2.000 m (6.562 pés) de lâmina d’água. A unidade operacional mais avançada deste estágio entrou em atividade em 2003 no campo de Roncador a uma profundidade de 1.877 m;

- Procap-3.000 (desenvolvido a partir de 2000) que visa o domínio da tecnologia para explorar petróleo a 3.000 m (9.843 pés) de lâmina d’água. Este programa detém o recorde mundial de pesquisa em alto-mar com um poço exploratório a 2.777 m de lâmina d’água.

O Procap exige um investimento maciço em pesquisa e tecnologia. A mais de 300 m de profundidade (limite de resistência do mergulhador) a atividade tem que ser automática, por isto o Cenpes em conjunto com o Coppe/UFRJ desenvolveu todos os equipamentos (robôs, válvulas, cabos, etc.) capazes de operar em condições extremas, bem como as mais avançadas plataformas marítimas do mundo. Atualmente o Cenpes conta com o Laboratório Hiperbárico (inaugurado em 2001, o mais avançado do mundo para pesquisas oceanográficas) para testar equipamentos e novas plataformas já dentro do cronograma do Procap-3.000.

Em paralelo ao Procap a Petrobras também começou a investir em novas tecnologias de perfuração e pesquisas como a sísmica tridimensional 3D (é a única companhia da América Latina a possuir um laboratório destes). Segundo Giuseppe Bacoccoli (engenheiro que chefiou por 30 anos o setor de E&P da Petrobras) a capacitação geofísica da estatal chegou a tal nível nos anos 80 que a Petrobras encontrava petróleo em 50% dos poços perfurados contra os 15% da média mundial (Bococcoli, in: Fernandes, op. cit.).

Outros programas do Cenpes incluem:

- Programa Estratégico de Recuperação Avançada de Petróleo (Provap): que visa a recuperação do petróleo que fica nos poços e a reativação de antigos campos;

- Programa de Desenvolvimento de Tecnologias Estratégicas de Refino (Proter): até os anos 90 a maioria das refinarias da Petrobras possuía tecnologia para operar com óleos leves, como o de Garoupa e dos países do Oriente Médio onde era realizada a maioria das compras. Mas a entrada de óleo pesado no mercado do refino brasileiro, seja através de novos fornecedores (como a Venezuela, onde o óleo é pesado), seja através do seu próprio óleo levou a Petrobras a desenvolver um sistema de refino para petróleos com diferentes teores de impurezas.

- Programa Tecnológico para a Ampliação de Fronteiras Exploratórias (Profex): que busca tecnologias de processamento, filtragem e aquisição sísmica.

- Programa Tecnológico de Energias Renováveis (Proger): pesquisa e desenvolve tecnologias capazes de viabilizar as energias renováveis. Nessa área as atenções da Petrobras estão voltadas para a produção de biocombustíveis (especialmente o biodiesel e etanol), biomassa, célula combustível e geração de energia elétrica, energia eólica, energia solar (modalidade fotovoltaica), e energia hidrelétrica a partir das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH)67.