• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 O mosteiro

5. O duplo

5.2 A sombra junguiana e o duplo

Como vimos, o Romantismo interessou-se pelo duplo como personificação do aspecto escuro e misterioso do ser humano. A esta personificação Jung, dentro do seu esquema de personalidade humana, chamou Sombra.

Jung use this term two related but nonetheless different phenomena: the entirety of the unconscious: i.e. everything that we fail to recognize about ourselves; and (2) a specific personification of what a person “has no wish to be” (CW I6, para. 470), “the sum of all those unpleasant qualities” a person likes to hide: CW 7, p. 65n). The shadow is thus a

das personalidades divididas. Como menciona Pérez Cervantes: “De él, declaradamente, Guy de Maupassant, Robert Louis Stevenson, Fiodor Dostoyevsky, Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares y Julio Cortázar tuvieron influencia directa. Y, con ellos, Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, Augusto Monterroso, Juan José Arreola…” Abel Pérez Cervantes, op. cit., pp. 179.

442 “Para dizermos as coisas em termos simples: depois das diversas evidenciações da ideia de inconsciente, tornou-se nos impossível continuarmos a acreditar ingenuamente que podíamos ser, como acreditava Descartes, perfeitamente transparentes para nós próprios. A célebre fórmula de Rimbaud, «Je est un autre», recebeu por parte da psicanálise, mas também do conjunto da filosofia contemporânea, de Nietzsche a Heidegger, um apoio, ou uma confirmação conceptual de uma envergadura sem precedentes. O indivíduo fechado sobre si e senhor de si próprio teve que dar lugar ao sujeito «quebrado», aberto à determinação infinita do inconsciente.” Luc Ferry, “Modernidade e sujeito”, in: M.M. Carrilho (Direcção), Dicionário

do pensamento contemporâneo, Lisboa, Dom Quixote, 1991, p. 235.

443 “The double stands at the start of that cultivation of uncertanity by which the literature of the modern world has come to be distinguished…” K, Miller, op. cit., p. viii.

444 Ver T. E. Apter, op. cit., pp. 49-53 e S. Maris Poggian, El tema del doble en el cine, como manifestación del imaginario audiovisual en el sujeto moderno, Tese de Doutoramento, Barcelona, Universitat Autònoma

de Barcelona, 2002. pp. 31-36. www.tesisenxarxa.net/TESIS_UAB/AVAILABLE/TDX-1127102- 162115//smp1de2.pdf (fonte consultada em Novembro de 2016).

personification of an aspect of one’s personality as it really is. Because the ego tends to repress such aspects of its personality, the shadow often manifests itself compulsively.446

A sombra entra numa relação fundamental com a interpretação do duplo enquanto bifurcação entre uma entidade boa, adaptada e socialmente aceite, e uma outra, demoníaca e malvada, como se mostra no caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde. É importante esclarecer que, embora na sua concepção do arquétipo de sombra Jung não se referisse especificamente ao duplo, as suas ideias sobre aquela reflectem e iluminam o significado deste. Relembremos que Jung a define como uma instância ou personificação onírica ou projectada em outros, na qual se depositam os aspectos negados ou percebidos como negativos da própria personalidade. Para melhor desenvolvimento da personalidade é preciso tornar consciente os conteúdos da sombra. Permanecer inconsciente dela criaria o seu carácter pernicioso e negativo.

the process of individuation could be defined as life lived consciously – not as simple a matter as it sounds. Not only our rational minds, but habits of thought and action contribute to the general unconscious in which life can be lived. For Jung, to be unconscious was perhaps the greatest evil, and the meant “unconscious” inn a specific sense: unconscious of our own unconscious.447

A sombra reflecte a contradição interior do indivíduo, mas esta ambivalência, tal como o duplo, pode derivar numa ajuda ou na perdição. A aparição do duplo, assim como o reconhecimento da sombra, como explica Martín López,

puede considerarse tanto una revelación que ha de interpretarse y explotarse en beneficio propio, como un síntoma de la disolución del yo. El conflicto surgiría, pues, cuando en lugar de conciliación entre el individuo y su sombra se produce una disociación: el doble supondría la manifestación de esta rotura íntima, convirtiéndose en una terrible amenaza.448

A concepção de sombra de Jung, baseada na oposição de princípios, em que, por um lado, se encontra o lado civilizado personificado na consciência, a persona ou máscara que se mostra em sociedade, e, por outro lado, a sombra, o aspecto animalesco e inferior rejeitado pelo sujeito, exemplifica a problemática do duplo na literatura do século XIX.

A presença tanto da sombra como do duplo remete para a pergunta ontológica sobre a própria identidade e a sua configuração dentro do esquema social. A sua existência

446 Polly Young-Eisendrath e Terence Dawson (edit.), The Cambridge Companion to Jung, Cambridge, Cambridge Univesity Press, 1997, pp. 260-261.

447 Polly Young-Eisendrath e Terence Dawson, op. cit., p. 97. 448 Rebeca Martín López, op. cit., p. 34.

evidencia o conflito do indivíduo com a sociedade e “su relación problemática con la realidad en que está inmerso”.449

Juntamente com o conceito de sombra jungiana, o duplo representa a personificação do vazio existente na nossa parte desconhecida. E usamos a palavra vazio como prova da imensidão que o desconhecimento pode representar. Um vazio aterrador de algo que existe, mas não existe, é uma escuridão completa de algo que é o próprio indivíduo, mas que fica fora da consciência, dos limites do eu. Este vazio do desconhecimento de si próprio, representado no duplo, produz medo, terror, a percepção de algo sinistro, ominoso, aterrador. Este medo, como menciona Paul Coates, é medo do auto- conhecimento: “Fear of the double is fear of self-knowledge”.450 Mas, para além desse medo, pode dizer-se que na manifestação do duplo existe a necessidade de se observar a si próprio, de se enfrentar a si próprio enquanto ser, em toda a sua complexidade.