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Sub-caso Um “Santa Clara-a-Velha – Fruir o Património”

Capítulo Quatro – Projecto: dinâmicas de formação 1 Interacções com instituições e pessoas

4. Sub-casos unidades de trabalho associadas

4.1 Sub-caso Um “Santa Clara-a-Velha – Fruir o Património”

A unidade de trabalho desenvolvida pelo par pedagógico de estagiários, na interacção estreita com uma turma do 2.º Ciclo do E.B. da Escola Eugénio de Castro, sob supervisão da equipa de orientação da prática pedagógica, supervisor institucional e supervisores-cooperantes, teve como contexto patrimonial de referência o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.

4.1.1 Unidade de trabalho - planificação e material de apoio

Na fase inicial do ciclo de supervisão, de natureza pró-activa, o estudo e a preparação da sua acção, configuraram uma planificação, na qual foram definidos o tema, as finalidades, os objectivos, os conteúdos e a estratégia, tendo por referentes as orientações programáticas da disciplina de EVT, o projecto da prática pedagógica, o contexto patrimonial, o âmbito temático e a turma de alunos do 2.º Ciclo do Ensino Básico.

Da análise da planificação da unidade de trabalho referida, e tendo por base os aspectos estruturantes enunciados, destaca-se o seguinte:

1 - Regista-se a adopção do tema “Santa Clara-a-Velha - Fruir o Património”, no decurso da reflexão e posterior decisão dos estagiários e da turma;

2 - Quanto aos campos de abordagem, foram considerados a Comunidade, o Equipamento e o Ambiente;

3 - Relativamente às áreas de exploração, foram estabelecidas o Desenho, a Fotografia, a Construção e Modelações, como abordagens técnicas para a concretização dos vários produtos;

4 - Entre as Finalidades e os Objectivos Gerais referenciados aos pequenos alunos, merecem destaque:

- Desenvolver o sentido social – Apreciar os produtos de expressão e de tecnologia de outras civilizações;

- Desenvolver o sentido crítico – Definir as suas posições perante o mundo e formas de nele intervir, confrontando com ele os seus próprios valores, saberes e objectivos;

- Desenvolver a capacidade de comunicação – Interpretar e executar objectos de comunicação visual, utilizando diferentes sistemas de informação / representação;

- Desenvolver a sensibilidade estética – Analisar as reacções pessoais às qualidades expressivas percepcionadas e analisar a adequação dos meios à ideia ou intenção expressas.

Quanto a estes e a outros componentes presentes na planificação, designadamente, conteúdos e resultados pretendidos, estratégia/actividades, recursos e avaliação, constam integralmente no documento respectivo24.

Na sequência da elaboração da planificação da unidade de trabalho, tida por referência, foram sendo elaborados os vários planos de aula, documentos de regulação flexível da acção dos professores, enquanto orientadores e supervisores deste processo, e dos alunos, enquanto protagonistas da aprendizagem.

Paralelamente à elaboração dos documentos enunciados, foram produzidos vários materiais de apoio didáctico-pedagógico e outros no decurso das várias acções, designadamente:

- Acetatos com texto e imagens de sensibilização, motivação e reflexão sobre o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha;

- Puzzles reproduzindo o monumento, visando a interiorização da sua imagem através do jogo pelos alunos;

- Código de regras a cumprir, aquando da visita de estudo ao monumento;

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- Projecção fotográfica do interior do monumento, para registo da silhueta dos alunos, definida pela sombra daqueles sobre um suporte, que pretendeu materializar a representação da sua interacção com o monumento;

- Selecção de trechos musicais indutores do ambiente monástico na sala de aula, durante várias acções de alunos e estagiários;

- Produção de objectos tridimensionais de carácter escultórico, simulando a coexistência de obras antigas e contemporâneas, como motivação dos alunos para essa possibilidade;

- Cartaz de divulgação da mostra de trabalhos no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha; - Convites aos encarregados de educação para visita à mostra de trabalhos; - Grelhas de auto-avaliação e avaliação dos alunos.

4.1.2 Unidade de trabalho - estrutura sequencial da acção

1 – Visita de estudo ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha;

2 – Leitura do monumento e elaboração de registos gráficos e fotográficos do espaço em estudo;

3 – Audição das explicações de uma guia do IPPAR sobre a história e características do monumento;

4 – Registos escritos e desenhados decorrentes da experiência de contacto com o local – ideias, sentimentos, objectos, etc.;

5 – Elaboração de composições gráficas a partir das recolhas efectuadas, tendo por objectivo a realização de uma peça de vitral de linguagem contemporânea;

6 – Realização de exercício fotográfico e gráfico para exploração de elementos da linguagem visual e posterior produção de fotograma compositivo;

7 – Elaboração de ante-projectos individuais, tendo por objectivo a concepção de objectos tridimensionais de carácter escultórico e linguagem contemporânea, tendo por referência a história e o simbolismo do local;

8 – Materialização das peças escultóricas decorrentes dos ante-projectos realizados;

9 – Inauguração da mostra pública conjunta no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, com a presença de todos os participantes e entidades;

9 – Mostra pública dos trabalhos no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha no âmbito do projecto “Da Escola Cultural à Cidade Patrimonial – gestos e manifestos”;

10 – Mostra pública dos trabalhos na Escola Superior de Educação de Coimbra no âmbito da apresentação do projecto “Da Escola Cultural à Cidade Patrimonial – gestos e manifestos”;

4.1.3 Síntese do processo – Conhecimento em processo de emergência

(leituras e inferências do supervisor institucional)

A unidade de trabalho enquanto processo activo dos estagiários junto dos seus alunos, iniciou-se com uma abordagem genérica à problemática do património, sublinhando as suas vertentes material e imaterial. Na aproximação ao contexto patrimonial específico, referiram-se ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha nas perspectivas, histórica, religiosa e simbólica, numa terminologia específica e adequada ao público ouvinte, referências despojadas de imagens, de forma a gerar-se expectativa relativamente ao monumento a visitar.

A visita, preparada de acordo com os procedimentos, contactos e autorizações prévias obrigatórias, envolveu a participação fundamental dos estagiários, a presença dos supervisores-cooperantes, do supervisor institucional e investigador, a participação de uma Técnica do Instituto do Português do Património Arquitectónico e de uma turma do 2.º Ciclo do Ensino Básico da Escola EB 2,3 Eugénio de Castro de Coimbra25.

O conjunto patrimonial em presença, a acção motivante dos estagiários e da Técnica do IPPAR, e a predisposição dos alunos, deu lugar a um processo de fusão incontável – olharam o sítio, mediram o espaço em golpes de profunda procura, fotografaram para tornar a ver, registaram o detalhe pela palavra e pelo desenho, ouviram a claridade das palavras de quem sabia muito..., das pedras, dos símbolos, das histórias de vida..., ao que os alunos perguntaram, disseram, reflectiram.

O interesse daqueles alunos pelo Mosteiro de Santa Clara-a-Velha tornou-se incontornável - uma simbiose feita de saber e sentir, catapultou aquelas crianças para querer saber mais do seu sentido, do espaço, da luz, mas também da sua justificação. Um processo quase mágico pelas mãos da história, da arquitectura, das lendas, do imaginário do passado, que está e vive connosco na contemporaneidade – essa mensagem passou.

A despedida alongou olhares de uma satisfação indisfarçável na alma dos que, à distância, pressagiaram o sucesso da sua acção.

Do Mosteiro à sala de aula instaurou-se o desafio, o desafio de recuperar o espírito do que aconteceu - música gregoriana, acção dramática, cenários e olhares reverentes, pareciam ter convertido todos eles, professores e alunos a um outro sentido para a educação.

Dissertando muito cirurgicamente sobre o Mosteiro, sobre a importância do património, os estagiários registaram a silhueta dos alunos sobre um cenário representativo do Monumento – no fim, várias crianças, cidadãos, tinham deixado a sua forma, a sua inclusão profundamente simbólica testemunho da sua implicação – a memória há-de avivar-lhes o gozo de aprender assim.

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Objectos didáctico-pedagógicos produzidos pelos futuros professores, povoam gradualmente a sala, gerando um espírito de atelier em que a experimentação e a reflexão constituem uma constância estratégica – imagens do insólito, do mistério, do silêncio, das curvas de água, … .

O desenho, a pintura, a fotografia, a modelação e a construção foram as técnicas que em metal, balsa, parafina, gel acrílico e ytong, entre outros materiais, possibilitaram a produção de objectos de carácter bi e tridimensional, decorrentes de um processo estruturado a partir da metodologia de resolução de problemas - recriaram a possibilidade do vitral segundo a expressão contemporânea, desenharam momentos sobre fotografia, depois fizeram nascer esculturas recorrendo a uma linguagem e plástica inovadoras, em que a carga simbólica parece ter determinado novas formas de fazer e de olhar sobre o património do passado, no século XXI - um processo activo feito de pequenos e grandes passos, rumo a uma solução possível entre muitas, que todos geraram a partir de histórias que recontaram nas suas memórias descritivas, justificando e aprofundando os sentidos que se tecem no enredo dos seus objectos de arte.

Enfim…, da ecologia do Mosteiro para a ecologia da escola, alunos e futuros professores partilharam razões e confidenciaram emoções – fundiram em imagens e objectos abstractos o que a alma lhes balbuciou nas mãos e no olhar26– um processo quase mágico que lhes redefiniu o conceito e o valor do património, da história, da arquitectura, das lendas, dos símbolos…, do imaginário do passado na contemporaneidade.

Regressar ao espaço monumental de Santa Clara-a-Velha, tornou-se desígnio pelo fascínio que o Mosteiro exerceu sobre os seus leitores e fruidores. Havia que regressar com o espólio das suas leituras, reflexões e acções - objectos de arte infantil povoaram o espaço conventual27 , numa

espécie de ritual de gratidão pelo muito que aquele contexto patrimonial acrescentou ao seu saber, enquanto alunos e enquanto cidadãos, a que se associaram orgulhosos os seus professores, que parecem ter pressentido uma formação renovada ao serviço do futuro das sociedades, mediado pelo futuro de uma outra possibilidade educativa e formativa.

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