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Supremacia da Constituição

338 TEIXEIRA, José Horácio Meireles. Curso de Direito Constitucional. Texto Revisto e Atualizado por Maria

Garcia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991, p. 219.

339 Ibidem, p. 219-221.

340 GARCIA, Maria. O que é Constituinte? 16. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 26-27.

341 As normas constitucionais não possuem sua validade em normas superiores, mas são legitimadas

democraticamente pela sua sociedade (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da

A Constituição é dotada de supremacia, qualidade essa acrescida da supralegalidade e da imutabilidade relativa. Trata-se de um princípio maior que rege todo o contexto constitucional.

A supremacia da Constituição decorre de sua origem, por ser proveniente de um poder que institui todos os demais poderes (Poder Constituinte), o que a torna a norma mais importante do ordenamento jurídico342, colocada no ápice do sistema jurídico, conferindo validade às demais normas que são produzidas de acordo com a competência previamente prescrita pelo texto constitucional. Ela confere à Constituição um caráter paradigmático e subordinante de todo o ordenamento jurídico, que deve ser compatível com as normas constitucionais deve estar compatível343.

“A constituição é uma lei dotada de características especiais. Tem um brilho autónomo expresso através da forma, do procedimento de criação e da posição hierárquica das suas normas. Estes elementos permitem distingui-la de outros actos com valor legislativo presentes na ordem jurídica. Em primeiro lugar, caracteriza-se pela sua posição hierárquico-normativa superior relativamente às outras normas do ordenamento jurídico. Ressalvando algumas particularidades do direito comunitário, a superioridade hierárquico-normativa apresenta três expressões: (1) as normas constitucionais constituem uma lex superior que recolhe o fundamento de validade em si própria (autoprimazia normativa); (2) as normas da constituição são normas de normas (normae normarum) afirmando-se como uma fonte de produção jurídica de outras normas (leis, regulamentos, estatutos); (3) a superioridade normativa das normas constitucionais implica o princípio da conformidade de todos os actos dos poderes públicos com a Constituição.”344

Como já esclarecido, a Constituição é a norma responsável por regular a produção de todas as demais normas do ordenamento jurídico. É a norma superior e, como tal, seus mandamentos devem ser observados na produção das demais normas jurídicas, que devem ser compatíveis com ela. Tal fato a dota da supremacia, colocando-a no escalão mais elevado do Direito Positivo, pois ela disciplina a produção de todas as normas jurídicas345, as quais somente serão válidas se tiverem sido editadas pela autoridade competente e tratarem de matéria de sua competência, de acordo com os procedimentos previamente prescritos na Constituição346.

342 “A supremacia da Constituição decorre da sua origem.” (FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de

Direito Constitucional. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 20-21)

343 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. Fundamentos de uma Dogmática

Constitucional Transformadora. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 107.

344 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Livraria

Almedina, 2003, p. 1147.

345 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,

1998, p. 247.

A supremacia da Constituição pode ser analisada sob o aspecto material, que exige que toda a produção normativa ou atividade estatal se coadune com a norma constitucional, ou sob o aspecto formal, que impõe a observação da Constituição que prevê a forma de organização do Estado, da sua estrutura, composição, atribuição e procedimentos dos poderes, constituídos pela Constituição347.

A supralegalidade material reside no fato de a Constituição ser fonte do controle da constitucionalidade, devendo as demais normas jurídicas estar ajustadas às dela. A supralegalidade formal fundamenta-se no fato de a Constituição ser o centro da produção normativa para a criação das demais normas jurídicas do ordenamento. Como se pode observar, a supralegalidade da Constituição advém da sua própria supremacia348.

Importante esclarecer que a supremacia da Constituição não pode ser reconhecida como um simples princípio jurídico. Este é o fundamento e a base do ordenamento jurídico, constitui uma espécie de norma, a ser aplicada, estando sujeita, inclusive, à ponderação, na hipótese de aparente conflito normativo. Por sua vez, a supremacia da Constituição é algo maior, superior, que não se sujeita, por exemplo, à ponderação. Consiste, na verdade, numa norma estrutural do sistema constitucional, razão pela qual pode ser compreendida como uma regra do que como um princípio349.

O sistema constitucional, como o próprio nome diz, deve ser considerado um sistema, ou seja, “uma totalidade ordenada, um conjunto de entes entre os quais existe certa ordem”, no qual a Constituição representa a fonte maior que organiza todas as demais normas que a ela devem obediência e entre elas mantêm certa coerência.350

347 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Estado de Direito e Constituição. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.

86-87.

348 AGRA, Walber de Moura. Fraudes à Constituição: Um atentado ao Poder Reformador. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 2000, p. 55.

349 ÁVILA, Ana Paula. A Modulação de Efeitos Temporais pelo STF no Controle de Constitucionalidade

Ponderação e Regras de Argumentação para a Interpretação Conforme a Constituição do Artigo 27 da Lei nº 9.868/99. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 65-66.

350 BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Trad. Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. 4.

Partindo do pressuposto de que a supremacia da Constituição não possui sua natureza jurídica nas regras nem nos princípios351, deduz que ela significa, na verdade, uma “metanorma”, ou melhor, um postulado normativo352, responsável por estruturar a aplicação de todas as demais normas jurídicas, sendo certo que a Constituição está acima de todo o ordenamento, iluminando a produção das demais normas jurídicas e a supremacia da Constituição apresenta-se, assim, como uma norma lógica capaz de manter a unidade353 e a hierarquia da Constituição354.

Uma ação importante para a manutenção da supremacia da Constituição está no controle de constitucionalidade, que impede a presença de atos inconstitucionais no ordenamento jurídico que vêm em afronta à supremacia constitucional355, mantendo as normas constitucionais no nível mais elevado do sistema jurídico.

Portanto, pode-se concluir que a supremacia da Constituição está no fato dela representar a norma suprema do ordenamento jurídico, constituindo a soberania do Estado, fruto do exercício do Poder Constituinte. Na qualidade de norma suprema, a Constituição revela-se como um fenômeno hierárquico, que impõe a compreensão e a interpretação do sistema jurídico sempre partindo dos mandamentos constitucionais356.

351 Como já esclarecido anteriormente, para diferenciar os princípios das regras, Canotilho apresenta os

seguintes critérios: “a) Grau de abstracção: os princípios são normas com um grau de abstracção relativamente elevado; de modo inverso, as regras possuem uma abstracção relativamente reduzida. b) Grau

de determinalidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, do juiz), enquanto as regras são suceptíveis de aplicação directa. c) Caráter de fundamentalidade no sistema das fontes de direito: os princípios são normas de natureza estruturante ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex.: princípios constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex.: princípio do Estado de Direito). d) Proximidade da idéia de direito: os princípios são ‘standards’ juridicamente vinculantes radicados nas exigências de ‘justiça’ (Dworkin) ou na ‘idéia de direito’ (Larenz); as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional. f) Natureza

normogenética: os princípios são fundamento de regras, isto é, são normas que estão na base ou constituem a

ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética fundamentante.” (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2003, p. 1160-1161)

352 Postulados jurídicos, como normas de segundo grau, que não são princípios nem regras, mas são dirigidos

ao intérprete e aplicador do Direito, orientando-o na aplicação dos próprios princípios e regras (ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 41-42).

353 “Todavia, o importante é que a unidade da Constituição não reside nela mesma, senão na unidade política,

cuja particular forma de existência se fixa mediante o Ato Constituinte. A Constituição não é, pois, coisa absoluta, porquanto não surge de si mesma. A Constituição vale por virtude da vontade política existencial daquela que lhe dá.” (BARRUFINI, José Carlos Toseti. Revolução e Poder Constituinte. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 19)

354 ÁVILA, Ana Paula. A Modulação de Efeitos Temporais pelo STF no Controle de Constitucionalidade

Ponderação e Regras de Argumentação para a Interpretação Conforme a Constituição do Artigo 27 da Lei nº 9.868/99. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 66.

355 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Estado de Direito e Constituição. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.

88.

Diante disso, o Poder Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição, é, nessa qualidade, nota de supremacia357.

A compreensão da supremacia da Constituição é muito importante, inclusive para a análise do papel do Poder Constituinte Derivado Reformador, instituído pelo Poder Constituinte Originário quando da elaboração da Constituição, no exercício do poder de reforma constitucional, tendo em vista que somente ele poderá modificar o texto constitucional, lei suprema do ordenamento358, mantendo-lhe a unidade e a supremacia. Reside aí a característica de imutabilidade relativa do texto constitucional, que somente poderá ser modificado na hipótese de serem observados os mandamentos constitucionais prescritos para tanto.