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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.4 Técnicas de análise dos dados

Uma vez que os dados foram coletados, o passo seguinte, segundo Marconi e Lakatus (2003), traduz-se em sua análise e interpretação. As autoras entendem que ambas constituem o núcleo central da pesquisa, pois “a importância dos dados está não em si mesmos, mas em proporcionarem respostas às investigações” (MARCONI; LAKATUS, 2003, p. 167). Ainda segundo as autoras, a análise e interpretação são duas atividades distintas, mas estreitamente relacionadas.

A análise qualitativa elaborada em cinco fases foi a principal técnica utilizada para analisar e interpretar os dados da pesquisa. De forma complementar empregou-se a triangulação de dados, uma vez que essa técnica, segundo Flick (2013), permite a combinação de dados coletados em diferentes fontes, métodos de coleta ou pessoas, e possibilita que diferentes pontos de vistas teóricos sejam confrontados, visando maximizar a validade dos esforços de campo, colocando frente a frente os fenômenos práticos e teóricos.

A análise qualitativa, conforme postulada por Yin (2016), compreende as fases de compilação, decomposição, recomposição, interpretação e conclusão. Segue um esboço conceitual dessas etapas, contendo suas principais características:

 Compilar: Classificação das notas de campo reunidas durante o trabalho de campo, e de outras coletas de dados, organizando-os na ordem em que foram criados/coletados a fim de formar uma base de dados;

 Decompor: Decomposição dos dados compilados em fragmentos ou elementos menores, atribuindo-os rótulos ou códigos, podendo ser repetido muitas vezes como parte de um processo de tentativa e erro;

 Recompor: Utilização de temas substantivos para reorganizar os fragmentos ou elementos em agrupamentos e sequências (categorias) diferentes das que poderiam estar presentes nos dados originais;

 Interpretar: Utilização do material recomposto para criação de uma nova narrativa, com tabelas e gráficos quando pertinente, que se tornarão a parte analítica fundamental para escrita do relatório de pesquisa;

 Concluir: Representa a extração de conclusões de toda a pesquisa, que devem estar relacionadas à interpretação ocorrida na quarta fase, e por meio dela, a todas as fases anteriores.

Por meio da figura 10 é possível observar a disposição das cinco fases, assim como suas respectivas interações.

Figura 10: Cinco fases de análise e suas interações

Fonte: Yin (2016, p. 159).

Nota-se nesta configuração que a análise dos dados pode ocorrer de uma maneira não linear, permitindo que o pesquisador retorne as etapas anteriores sempre que necessário, conforme demonstram as setas bidirecionais da figura.

Na etapa de compilação, estruturou-se a base de dados da pesquisa, que foi constituída pelos seguintes elementos: a) transcrição das entrevistas dos coordenadores e fiscais; b) Relatórios de Fiscalização; e c) legislação, manuais e guias operacionais aplicáveis à prestação de contas técnica.

As etapas de decomposição e recomposição foram realizadas simultaneamente, tendo por parâmetros o referencial teórico da pesquisa, seus objetivos específicos e as falas dos entrevistados. Assim, foi possível identificar as três categorias principais que sustentaram a análise e discussão dos resultados: 1) processo de gestão da informação; 2) fluxo e qualidade da informação; e 3) produtos e serviços informacionais.

Desse modo, para conhecer como coordenadores e fiscais executam as etapas do processo de gestão da informação no contexto das fiscalizações, os fragmentos textuais decompostos das entrevistas realizadas foram recompostos em oito subcategorias, que representam os estágios do processo de gestão da informação (MCGEE; PRUSAK, 1994; DAVENPORT, 1998; CHOO, 2003; BEAL, 2004). Assim, foi possível observar as práticas informacionais dos sujeitos que atuam no processo, distribuídas em cada uma das etapas do ciclo de vida da informação.

Para o mapeamento dos fluxos informacionais das fiscalizações foi realizada a modelagem do processo por meio do Bizagi Modeler®, software gratuito de notação e modelagem de processo de negócios (PBMN), que oferece simplicidade na elaboração e desenvolvimento de fluxogramas processuais. Adicionalmente, os fragmentos textuais decompostos das entrevistas somaram-se aos dos Relatórios de Fiscalização (1ª pesquisa documental), sendo recompostos em quatro subcategorias relativas à caracterização dos fluxos informacionais em internos ou externos (LESCA; ALMEIDA, 1994), e formais ou informais (VALENTIM, 2010).

As ocorrências relevantes que influenciam o curso das informações e a qualidade dos documentos comprobatórios apresentados foram identificadas mediante a recomposição dos fragmentos textuais das entrevistas e dos relatórios de fiscalizações em 11 subcategorias. Destas, quatro são pertinentes aos aspectos que influenciam o fluxo das informações processuais (INOMATA; ARAÚJO; VARVAKIS, 2015), e sete estão relacionadas aos atributos que incorporam qualidade à informação (PAIM; NEHMY; GUIMARÃES, 1996). Estes foram selecionados com base nas similaridades dos aspectos apresentados no quadro 14 (p. 59).

Para o aprimoramento dos atuais e criação dos novos produtos e serviços de informação, os fragmentos textuais decompostos das entrevistas, dos Relatórios de Fiscalização (1ª pesquisa documental) e dos documentos da 2ª pesquisa documental, foram recompostos em nove subcategorias, representadas pelos mencionados produtos e serviços informacionais.

A definição de tais produtos e serviços fundamentou-se na articulação entre as falas dos entrevistados, que relataram não só dificuldades e problemas enfrentados, mas soluções e avanços já implantados no âmbito do processo, e as ocorrências relevantes que influenciam o fluxo informacional do processo e a qualidade dos documentos comprobatórios apresentados.

A seguir, o quadro 18 demonstra as categorias e subcategorias de recomposição dos dados, vinculado-as aos objetivos específicos da pesquisa. Como já evidenciado, elas foram concebidas com base no referencial teórico do estudo e nos produtos e serviços informacionais propostos.

Quadro 18: Categorias e subcategorias de recomposição dos dados da pesquisa

Categorias Subcategorias Objetivos

Processo de gestão da informação 1. Identificação de necessidades e requisitos 2. Obtenção 3. Classificação e armazenamento 4. Tratamento e apresentação 5. Desenvolvimento de produtos e serviços 6. Distribuição 7. Análise e uso 8. Descarte 1º Objetivo específico Fluxo e qualidade da informação

Mapeamento (fluxo) Ocorrências (qualidade)

2º Objetivo específico 1. Interno 2. Externo 3. Formal 4. Informal 1. Validade 2. Completeza 3. Abrangência 4. Atualidade 5. Valor percebido 6. Eficácia 7. Redundância Ocorrências (fluxo) 1. Barreiras

2. Escolha e uso da informação 3. Necessidades informacionais 4. Velocidade Produtos e serviços de informação Aprimorados Novos 3º Objetivo específico 1. Relatório de Fiscalização 2. Manual de Fiscalização de projetos acadêmicos 3. Redesenho do processo de fiscalização

4. Modelos documentais para resultados sem formatação acadêmica específica

5. Relatório de Execução Físico- Financeira

6. Especificações para uso de ambiente virtual

7. Guia de boas práticas para as coordenações dos projetos 8. Tabela de temporalidade para documentos comprobatórios 9. Requisitos para o novo sistema integrado de gestão de projetos Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

Como visto, para consecução do 2º e do 3º objetivos específicos foram utilizadas mais de uma fonte de dados (entrevistas e pesquisas documentais), possibilitando que a triangulação de dados fosse aplicada em conjunto com a análise qualitativa conforme postulada por Yin (2016), contribuindo assim para a confiabilidade dos resultados apresentados por esta investigação.

Em virtude da quantidade de dados coletados e do número de subcategorias criadas durante as fases de decomposição e recomposição, 32 ao todo; percebeu-se a necessidade da utilização de uma ferramenta tecnológica que auxiliasse o pesquisador na análise e interpretação dos dados compilados. Optou-se pelo QSR Nvivo®, versão 11 para Windows, software que trabalha predominantemente com análises de dados qualitativos.

Segundo Lage (2011), o Nvivo® funciona com os conceitos de projetos, fontes e nós. Um projeto pode representar a pesquisa como um todo. As fontes referem-se a todos os documentos, baixados de fontes externas ou criados no próprio programa, a serem utilizados pela pesquisa, operando como seu banco de dados. Os nós, que podem ser do tipo Free Node

(um nó isolado) ou Tree Node (árvore de nós), representam as estruturas (categorias) para o armazenamento de informações codificadas (unidades de análise) e pode assumir diversos significados, dependendo da abordagem metodológica do estudo.

No presente estudo, nas fases de decomposição e recomposição dos dados, todo o material coletado foi importado para o Nvivo® nos formatos Microsoft Word® e Portable Document Format (PDF). Em seguida, os fragmentos textuais (unidades de análise), foram selecionados e inseridos em nós e subnós, identificados pelas categorias e subcategorias de recomposição dos dados, expostas no quadro 18.

A inserção dos fragmentos textuais, em cada um dos nós e subnós, ocorreu a partir de correspondências teóricas e da interpretação favorável do pesquisador. Tal disposição constituiu uma estrutura de árvore de nós, observada por meio da figura 11.

Figura 11: Representação dos nós e subnós no Nvivo®

Fonte: Elaborada pelo autor com uso do software QSR Nvivo®, versão 11 para Windows (2020).

Na fase de interpretação dos dados, o material recomposto foi utilizado para criação das narrativas responsáveis pela consecução dos objetivos específicos da pesquisa, e por meio destes do objetivo geral. De modo simultâneo, aplicou-se o referencial teórico do estudo, visando confrontar a teoria com a realidade observada, e assim obter insights e inferências concernentes ao problema investigado.

A interação ocorrida entre os dados oriundos das entrevistas e das pesquisas documentais, possibilitada pelo Nvivo®, apontou os elementos necessários para formulação da proposta de intervenção, que no presente estudo foi assimilada como a fase de conclusão, última etapa do método de análise utilizado.

Visando a evolução das ações de controle e monitoramento dos projetos acadêmicos desenvolvidos na UFRN, tal proposta possui como núcleo mudanças estruturais nas etapas do processo de gestão da informação das fiscalizações, por meio da aplicação dos produtos e serviços informacionais desenvolvidos pela pesquisa, uma vez que se mostraram indispensáveis à mitigação ou promoção de práticas informacionais e de ocorrências relevantes que influenciam o fluxo informacional do processo e a qualidade dos documentos comprobatórios apresentados.