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3 ACCOUTABILITY : MAIS QUE OBRIGAÇÃO

3.2 Transparência no setor público

Como já demonstrado, a transparência no setor público representa um dos pilares da accountability. Sua aplicação em nosso país é garantida por meio do princípio constitucional da publicidade, que segundo Mello (2006, p. 102) refere-se ao dever do gestor público de manter plena transparência em seus procedimentos administrativos, uma vez que para o autor não pode haver em uma sociedade democrática, onde o poder reside no povo, ocultação aos administrados de temas e assuntos que a todos interessam.

Por conseguinte, a CF em seu art. 5º, inciso XXXIII impõe que,

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (BRASIL, 1988).

A disponibilidade de tais informações depende primordialmente de sua correta gestão. Nesse sentido, a CF estabeleceu, no § 2º do art. 216, que “cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem” (BRASIL, 1988).

Estas garantias constitucionais objetivam fomentar o controle social sobre a atuação estatal, visto que o inciso II do § 3º do art. 37 da CF garante que “a lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: [...] o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo” (BRASIL, 1988).

O esboço legal apresentado deixa claro que o cidadão precisa solicitar à administração pública as informações de que necessita, evidenciando uma condição reativa do Estado. Nessas situações tem-se a transparência passiva, que de acordo com Silva (2017, p.

38), citando Yagizi (1999), refere-se “à obrigação que o Estado tem de atender as solicitações dos cidadãos no que diz respeito ao acesso às informações que estão em poder dos órgãos públicos, exceto as raras situações que exigem a sigilo como, por exemplo, questões que envolvam a segurança nacional”.

Nessa perspectiva, Figueiredo e Santos (2014, p. 75) defendem que os cidadãos devem participar no acompanhamento e controle da gestão pública, uma vez que são os principais interessados na correta utilização dos recursos públicos, que de forma pragmática foram provenientes do seu esforço laboral. Desse modo, interagindo com o governo podem solicitar deste, a qualquer momento, informações de seu interesse, exercendo assim o controle social.

Do mesmo modo, Zorzal e Rodrigues (2015, p. 117) entendem que “a transparência poderá ajudar a promover uma administração pública mais aberta à participação social e a colaborar na transição da cultura do segredo para a cultura de acesso à informação, com disponibilização proativa de dados e informações”.

Por disponibilização ativa, depreende-se que a transparência pública não pode ser limitada pela passividade, antes precisa ser ativa, pois conforme argumenta os autores, “a informação sob a tutela do Estado é um bem público e sua evidenciação deve ser por iniciativa da administração pública, de forma espontânea, proativa, independente de qualquer solicitação, ou seja, transparência ativa, como definido em lei” (ZORZAL E RODRIGUES, 2015, p. 116).

Segundo Silva (2017, p. 37), a transparência ativa “trata-se da disponibilização de informações concernentes ao desempenho do Estado ou das organizações sem que haja uma demanda por parte do cidadão, órgão de controle, ou qualquer outra instituição nacional ou internacional”. Ainda para a autora a disponibilidade das informações pode ocorrer de forma voluntária ou por determinação legal.

Para além da transparência ativa, o Guia de Transparência Ativa para os órgãos do Poder Executivo Federal (2019), traz a ideia da transparência proativa. Desse modo, quando o órgão estatal divulga informações de seus atos a sociedade por iniciativa própria, de forma espontânea, independentemente de qualquer solicitação ou determinação legal ele está praticando a transparência proativa.

Entre os marcos legais que tratam da transparência ativa e proativa em nosso país destaca-se a Lei nº 12.527/2011, mais conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), que dispõe sobre os procedimentos a serem adotados pela União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, a fim de garantir o acesso às informações públicas conforme previsto no texto constitucional.

A LAI para Zorzal e Rodrigues (2015, p. 117) representa “um instrumento a mais que promove a cultura do disclosure, da transparência, da abertura, da accountability, que são princípios fundamentais nas organizações públicas, além de auxiliar na luta contra a corrupção”. Porém, Platt Neto et al. (2007, p. 76) ponderam que é preciso compreender a transparência como um conceito mais amplo que a publicidade, isso porque uma informação pode ser pública, mas não ser relevante, confiável, tempestiva e compreensível.

Dessa forma, não basta publicizar as informações, seja de modo voluntário ou para cumprir o que determina a lei. Pelo contrário, as informações disponibilizadas devem possuir aspectos agregadores de qualidade à informação, que segundo Paim, Nehmy e Guimarães (1996), são representados por atributos intrínsecos (validade, confiabilidade, precisão, completeza, novidade, atualidade, e abrangência), e propriedades contingenciais ou práticas, cujo enfoque está no usuário da informação (valor percebido, eficácia, relevância e redundância). O quadro 14, a seguir, descreve cada um desses aspectos.

Quadro 14: Aspectos que incorporam qualidade à informação

Dimensão Aspectos Descrição

In

tr

ín

se

ca

Validade Pressupõe integridade da fonte de informação e forma de registro fiel ao fato que representa. Confiabilidade

Relaciona-se com a ideia de autoridade cognitiva - prestígio, respeito, reputação da fonte, autor ou instituição. Assemelha-se a uma espécie de fé.

Precisão Tem o sentido aproximado de exatidão, correção, o que remete à forma de registro fiel ao fato representado. Completeza Implica a inclusão de todos os dados necessários relativo a um

determinado problema. Novidade Representa o novo, o recente.

Atualidade Implica consonância com o ritmo de produção da informação, opondo- se à obsolescência.

Abrangência Diz respeito ao volume de dados necessários para que a informação se torne eficaz.

C on ti n ge nc ia l Valor percebido

Refere-se à compreensão do sujeito a respeito do valor da informação. Está ligado ao significado subjetivo atribuído à informação.

Eficácia

A eficácia decorre do uso da informação. A informação é eficaz se contribui para algum resultado positivo para o sujeito da ação, como por exemplo, tomada de decisão adequada.

Relevância É a medida do contato eficaz entre uma fonte e um destinatário. Redundância

É a repetição de dados, tomando-se como parâmetro um determinado usuário. O que pode se apresentar como redundante para um tipo de usuário pode não o ser para outro.

Para Aguiar (2012, p. 393), tais atributos estão relacionados à governança informacional, que segundo Ribeiro (2003, p. 62) “pode ser compreendida como a capacidade do Estado de estabelecer uma política e gestão da informação voltadas para a accountability e para a transparência”. Em outras palavras, é a competência estatal de formular e implementar políticas públicas, visando a consecução de metas coletivas, utilizando-se de mecanismos que incrementem a participação dos cidadãos em seu processo decisório.

Portanto, a gestão da informação nas instituições públicas deve prover informações de qualidade que resultem em serviços que atendam às necessidades dos cidadãos, conquistem a confiança pública e a credibilidade, aumentem a produtividade, e reduzam os custos da administração pública (MIRANDA, 2010).

Dentre as ferramentas tecnológicas que podem contribuir para a efetivação de uma política pública voltada à accountability e à transparência, e que ao mesmo tempo fomente a participação dos cidadãos nas decisões governamentais, merece destaque a rede mundial de computadores (internet), instrumento que se bem utilizado pode melhorar a relação entre administrados e gestores públicos.

Desse modo, conforme defendem Zorzal e Rodrigues (2015), cabe às organizações públicas identificarem aquilo que é mais demandado pela sociedade (transparência proativa), antecipando-se para disponibilizá-lo proativamente na Internet e/ou outros meios, a fim de facilitar que seus stakeholders encontrem essa informação.

Nesse sentido, Moreira, Valentim e Sant’Ana (2018) concordam que a internet pode ser utilizada para esse fim, visto que possibilita o compartilhamento de dados de um modo dialógico, desde que as ações observem requisitos que propiciem adaptar os dados e suas formas de acesso, aos veículos, públicos e contextos.

Diante disso, infere-se que no contexto público, as ações de transparência pública, controle social e acesso à informação podem ser efetivadas por meio da gestão informacional, conjugada com o uso das TIC. Logo, a Gestão da Informação tem a capacidade de contribuir para que a UFRN aprimore os atuais fluxos informacionais das ações de monitoramento, visando além de melhorias no processo, a disponibilidade, de forma pró-ativa, das informações concernentes aos resultados alcançados pelos projetos acadêmicos, aprimorando assim a transparência ativa da instituição.

Após a apresentação dos fundamentos teóricos necessários para compreensão do objeto desta pesquisa, serão expostos a seguir os procedimentos metodológicos que possibilitaram ao estudo, analisar as contribuições que a Gestão da Informação pode proporcionar ao processo de fiscalização dos projetos acadêmicos desenvolvidos na UFRN.