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4 Apresentação dos dados e Análise dos resultados

4.2.3 Modelo avaliativo praticado na IES

4.2.3.1 Tipos de avaliação

Mediante observação realizada no AVA do curso e pela a análise do Plano de trabalho dos módulos construídos pelos professores, constatou-se que foram propostas diversas atividades avaliativas, exercícios, trabalhos alem de provas online e presencial e que esses instrumentos avaliativos receberam pesos diferentes e foram utilizados para gerar notas que, somadas, permitiriam ao professor aprovar ou reprovar o aluno ou indicá-lo para recuperação ao final de cada módulo.

Observou-se que houve orientação do professor e atenção às dúvidas e questionamentos dos alunos ao longo do curso nos seus variados módulos. Em diversos momentos, alguns professores demonstraram estar acompanhando o processo de

aprendizagem incentivando os alunos, respondendo suas dúvidas, como se pode ver no trecho abaixo:

Pelo contrário, sempre que alguém posta uma pergunta básica no fórum há mais uns 20 que agradecem silenciosamente por terem uma dúvida semelhante mas talvez não ainda o desprendimento necessário para explicitá- la. Na base do aprendizado, certamente um pouco de desprendimento e de humildade são fatores de sucesso imprescindíveis. Conte sempre conosco e com os colegas. As perguntas mais básicas em geral são as mais importantes, pois focam em conceitos fundamentais que servirão de base para as demais reflexões e considerações mais avançadas. PROFESSORALAFA03.

Contudo, esse acompanhamento se deu essencialmente durante os fóruns e chats de dúvidas. Não se observou a utilização dos resultados advindos dos instrumentos avaliativos, sendo utilizados, por exemplo, no acompanhamento do aluno e nem na reorientação da sua aprendizagem. Sendo assim, por mais que tenham existidos momentos de troca, ou variação dos instrumentos e propostas avaliativas por meios de atividades, trabalhos, exercícios, constatou-se que o processo avaliativo teve como objetivo principal o controle e a certificação.

Como já mencionado, quando se identificaram os proponentes do processo avaliativo na IES, em diversos trechos das normas internas da IESALFA foram encontradas evidências do tipo de avaliação praticado na IES:

A verificação do aproveitamento do aluno deve ser feita ao longo do curso, mediante avaliação única ou em partes, compreendendo notas de acordo com a determinação de cada projeto. (RESOLUÇAO INTERNA da IESALFA)

Na análise desse trecho das resoluções que normatizam o processo avaliativo na IES, percebeu-se a utilização do termo “ao longo do curso”. Este seria um indicador de uma mudança de perspectiva em favor de uma avaliação formativa. Contudo, termos tais como “verificação do aproveitamento”, “avaliação única ou em partes compreendendo notas”, seriam indícios de um tipo de avaliação mais tradicional, cuja ênfase recairia nos resultados, na obtenção de notas, próprios de um modelo de avaliação somativo. Acredita-se que ao

propor uma avaliação “única”, está-se propondo uma avaliação pontual, provavelmente realizada ao final do curso e que, portanto, não serviria para regular a aprendizagem do aluno, apenas classificá-lo. Ao propor uma avaliação “em partes” com somatório de notas ao final da unidade, módulo ou curso como critério de aprovação ou reprovação do aluno, se está fazendo, na verdade, uma avaliação somativa. Nessa perspectiva, a avaliação desempenharia a função de certificação cujo objetivo seria satisfazer as necessidades classificatórias validadas pela instituição, ocorridas em momentos presenciais obrigatórios

determinados oficialmente pelas agências certificadoras que impõem um momento presencial formal para que se realizem provas isoladas e descontextualizadas do restante dos momentos de ensino e aprendizagem (KENSKI, 2006)”.

A respeito do uso de diversos instrumentos com propósitos avaliativos, concorda-se com Arredondo e Diago (2003, pg. 377) quando defendem que “avaliação contínua formativa não significa exame contínuo. Os instrumentos são tão variados e versáteis que permitem colher continuamente dados sobre a aprendizagem dos alunos, sem a necessidade de nenhuma prova”.

Diante do exposto acredita-se que o tipo de avaliação praticado na IESALFA, apesar de conter elementos próprios de uma avaliação formativa, é na verdade um tipo de avaliação somativo mais voltado para a classificação. Contudo, não se quer dizer que a avaliação somativa não teria seu valor como diz Arredondo e Diago (2003, 475).

Não faz sentido negar o valor da avaliação somativa querendo contrapô-lo a formativa. Os resultados pessoais e acadêmicos que uma avaliação final somativa avaliza revalidam os progressos e conquistas da avaliação formativa, dão-lhes credibilidade e vice-versa. A historia do processo – avaliação formativa – dá valor aos dados dos resultados – avaliação final somativa.

A questão está em utilizar apenas um tipo de avaliação em virtude de regras e normas institucionais e subutilizar as possibilidades de implementação de outros tipos que também podem ser enriquecedores para o processo de ensino e de aprendizagem.

4.2.3.2 Agentes da avaliação

Essa categoria diz respeito aos possíveis atores do processo avaliativo que podem ser tanto o professor (heteroavaliaçao), quanto o aluno, ao avaliar-se (auto-avaliação), como também os alunos ao avaliarem uns aos outros (coavaliaçao). Tais propostas poderiam levar o aluno a ter maior responsabilidade sobre sua própria aprendizagem. Tradicionalmente, fica relegada apenas ao professor a tarefa de avaliar a aprendizagem dos seus alunos, contudo, a proposição de atividades nas quais o próprio aluno se avalia ou os alunos se avaliam traria ganhos para o processo (SARDELICH, 2006). No sentido de identificar a atuação dos diversos atores no processo avaliativo, buscou-se observar tais indícios tanto no AVA do curso, quanto por intermédio do guia de entrevista online.

As propostas avaliativas do curso, de acordo com a Coordenação, são de responsabilidade do professor mediante orientação da equipe multidisciplinar. Em discussão com a equipe, o professor selecionaria os instrumentos a serem utilizados, os momentos nos quais seriam utilizados, as ferramentas de comunicação, os critérios e os pesos de cada atividade. Evidenciou-se a participação da equipe multidisciplinar nesse processo no enunciado da Coordenação: “A prova presencial é feita em conjunto com a coordenação. Cada professor do módulo manda um conjunto de questões, elas são compiladas pela coordenação”.

Mediante observação, constatou-se que o professor foi o agente principal da avaliação. A equipe técnica e a coordenação funcionaram como controladores ou orientadores do processo, mas não como agentes avaliadores. Entende-se que é, de fato, do professor a tarefa

principal de avaliar seus alunos uma vez que é ele quem está em contato direto com os alunos durante todo o processo de construção do conhecimento. Mesmo que o processo tenha sido decidido em conjunto com a coordenação e os designers instrucionais, seria o professor o responsável pela escolha e modificação dos instrumentos e atividades avaliativos (MATTAR, 2009).

Apesar de ser agente principal da avaliação, percebeu-se que o desenho didático do curso prevê alguns momentos nos quais o aluno é convidado a se autoavaliar, mesmo que informalmente, durante os pequenos testes programados no material didático. Nesses testes, o aluno teria a oportunidade de refletir sobre seu aprendizado em relação ao conteúdo e utilizar essa reflexão em outros momentos junto ao professor e ou aos colegas. Contudo, acredita-se que apenas isso não seja o bastante, afinal, colocar o aluno como corresponsável pela sua trajetória dentro do curso, é algo que vai além de apenas responder a algumas perguntas sobre o conteúdo disponibilizado. Como ilustração, apresenta-se a resposta do PROFESSORIESALFA01 a pergunta sobre a dificuldade de se avaliar o aluno online :

(...) quando se pede resumos, trabalhos escritos sobre um assunto, atualmente nos deparamos com uma série de cópias de textos da internet. A dificuldade neste caso, não está em avaliar no AVA como muitos consideram, mas sim como o trabalho foi elaborado. Sabe-se que a urgência no modelo e o fato das pessoas acharem que a modalidade é "fácil" tendem a realizar os trabalhos de qualquer maneira. Neste sentido, penso que está dificuldade sobrepõe qualquer outra quando se fala em EAD. Porém, é importante lembrar que a elaboração da atividade pode reduzir esse tipo de atitude do aluno (...) PROFESSORIESALFA01.

Percebe-se, no enunciado do professor, a preocupação com a questão da confiabilidade dos trabalhos realizados pelos alunos. O professor informa que a dificuldade de avaliar teria origem na elaboração das atividades realizadas pelos alunos e na garantia de que estes realmente fizeram o próprio trabalho e se o fizeram com qualidade uma vez que acreditam que o aprendizado online é mais fácil que o presencial. E ao final do enunciado, o professor diz que a elaboração da atividade seria uma solução para mudar essa cultura avaliativa no aluno. Apesar do trecho não mencionar a questão da auto avaliação, pretende-se sugerir com

ele que talvez essa postura do aluno tenha relação com o formato consagrado de avaliação: o professor propõe as atividades, estipula um prazo de entrega, o aluno, em muitos casos o entrega em cima da hora, o professor corrige, coloca a nota e termina o processo. Diante disso, pergunta-se, será que a proposição de momentos nos quais o aluno venha a se autorregular, ou ser convidado a refletir sobre sua trajetória no curso, incluindo-se aí as atividades que realiza, não seriam alternativas úteis na busca para a solução das dificuldades apontadas pelo professor? Acredita-se que ao colocar o aluno como agente da própria avaliação, por meio de propostas com critérios e objetivos bem definidos, se estaria abrindo possibilidades para a mudança de atitude em favor de uma aprendizagem com mais participação e responsabilidade o que talvez viesse ajudar a reduzir os problemas de qualidade e confiança apontados pelo professor.

Observou-se que ao longo de todo o curso, muitas das propostas avaliativas utilizaram-se de trabalhos escritos, individuais ou em grupo que eram entregues ao professor, apenas para a sua apreciação, como se vê no trecho abaixo:

Ler e estudar o texto: “uma empresa de TI (...)”. Durante a leitura, procure relacionar os conceitos referentes ao Gerenciamento de Recursos (...). Responda individualmente as questões apresentadas ao final do arquivo. PROPOSTAVALIATIVA01

Trabalho: Elabore, individualmente, ou em grupo de até 6 alunos, um plano de *** para um projeto de qualquer área de atuação. Recomendo que seja utilizado como base o mesmo projeto que escolheram para o Módulo *** com o professor ***. Assim, será possível aproveitar o trabalho que já foi desenvolvido como base para o desenvolvimento do Plano ***. O objetivo deste trabalho é a aplicação prática dos conceitos aprendidos sobre o planejamento dos recursos humanos em ***. Atenção, caso o trabalho seja em grupo, os integrantes devem eleger um colega para entregar o trabalho em nome do grupo, e neste caso, a copia do trabalho deve conter o nome de todos os integrantes do grupo. PROPOSTAAVALIATIVA03.

No caso da PROPOSTAVALIATIVA01, pede-se que o trabalho seja realizado individualmente e enviado para a correção pelo professor. No segundo caso, PROPOSTAVALIATIVA03, pede-se que o aluno realize o trabalho em grupo ou

individualmente e envie ou enviem o trabalho para o professor. São exemplos de atividades que tem o professor como único agente da avalição. Em ambos os casos, acredita-se, haveria oportunidade de enriquecer as propostas avaliativas e oportunizar alternativas para a heteroavaliação. Acredita-se que ao fazê-lo se estaria contribuindo para que o aluno fosse levado a indagações sobre o processo de realização da atividade, sua qualidade, as estratégias criadas, as relações entre os conteúdos, os autores e as fontes estudadas, as contribuições realizadas (NUNES; VILARINHO, 2006). Sabe-se, contudo, que para que sejam implementadas atividades nesses moldes, seria necessária uma mudança de postura tanto do professor quanto dos alunos o que implica que ambos deveriam ser preparados de forma satisfatória para que essas funções de agentes avaliativos fossem desempenhadas e com qualidade (NUNES; VILARINHO, 2006).