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Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação

No documento DSM V português (páginas 118-120)

Critérios Diagnósticos

315.4 (F82)

A. A aquisição e a execução de habilidades motoras coordenadas estão substancialmente abaixo do esperado considerando-se a idade cronológica do indivíduo e a oportunidade de aprender e usar a habilidade. As dificuldades manifestam-se por falta de jeito (p. ex., derrubar ou bater em objetos), bem como por lentidão e imprecisão no desempenho de habilidades motoras (p. ex., apanhar um objeto, usar tesouras ou facas, escrever a mão, andar de bicicleta ou praticar esportes).

B. O déficit nas habilidades motoras do Critério A interfere, significativa e persistentemente, nas atividades cotidianas apropriadas à idade cronológica (p. ex., autocuidado e automanutenção), causando impacto na produtividade acadêmica/escolar, em atividades pré-profissionais e pro- fissionais, no lazer e nas brincadeiras.

C. O início dos sintomas ocorre precocemente no período do desenvolvimento.

D. Os déficits nas habilidades motoras não são mais bem explicados por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por deficiência visual e não são atribuíveis a algu- ma condição neurológica que afete os movimentos (p. ex., paralisia cerebral, distrofia muscular, doença degenerativa).

Características Diagnósticas

O diagnóstico de transtorno do desenvolvimento da coordenação é feito por meio de uma sín- tese clínica da história (de desenvolvimento e médica), do exame físico, de relatórios escolares ou profissionais e da avaliação individual utilizando-se testes padronizados, psicometricamente adequados e culturalmente apropriados. A manifestação de habilidades prejudicadas que exigem coordenação motora (Critério A) varia com a idade. Crianças menores podem apresentar atraso para atingir marcos motores (i.e., sentar, engatinhar, andar), embora muitas alcancem os marcos motores típicos. Elas também podem apresentar atraso no desenvolvimento de habilidades como subir escadas, pedalar, abotoar camisas, completar quebra-cabeças e usar fechos. Mesmo quando a habilidade é dominada, a execução do movimento pode parecer estranha, lenta ou menos preci- sa que a dos pares. Crianças maiores e adultos podem apresentar menor velocidade ou imprecisão em aspectos motores de atividades como montar quebra-cabeças, construir modelos, jogar bola (especialmente, em equipes), escrever a mão, digitar, dirigir ou executar tarefas de autocuidado.

O transtorno do desenvolvimento da coordenação é diagnosticado apenas se o prejuízo nas habilidades motoras interferir significativamente no desempenho ou na participação nas ativi- dades diárias da vida familiar, social, escolar ou comunitária (Critério B). Exemplos de tais ativi- dades incluem vestir-se, fazer as refeições com utensílios adequados à idade e sem sujeira, envol- ver-se em jogos físicos com outros, usar materiais específicos em aula, como réguas e tesouras, e participar de atividades físicas em equipe na escola. Não somente há prejuízo na capacidade de desempenhar essas ações; é comum, ainda, lentidão acentuada na execução. A competência para escrever a mão está frequentemente afetada, com repercussão na legibilidade e/ou velocidade da produção escrita e afetando o desempenho acadêmico (o impacto é diferente da dificuldade específica da aprendizagem devido à ênfase no componente motor das habilidades de produção escrita). Nos adultos, as habilidades cotidianas na educação e no trabalho, especialmente as que exigem velocidade e exatidão, são afetadas por problemas de coordenação.

O Critério C informa que o início dos sintomas do transtorno do desenvolvimento da coor- denação deve se dar precocemente no período do desenvolvimento. O transtorno, entretanto, não costuma ser diagnosticado antes dos 5 anos, já que há grande variação de idade na aquisição de muitas habilidades motoras, ou falta de estabilidade de mensuração na primeira infância (p. ex., algumas crianças se recuperam), ou porque outras causas de atraso motor podem não ter-se manifestado plenamente.

O Critério D especifica que o diagnóstico de transtorno do desenvolvimento da coordenação é feito se as dificuldades de coordenação não são mais bem explicadas por deficiência visual ou não são atribuíveis a alguma condição neurológica. Assim, exame da função visual e exame neurológico devem ser incluídos na avaliação diagnóstica. Se deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) estiver presente, as dificuldades motoras excedem as esperadas para a idade mental; entretanto, não há especificação de ponto de corte ou critério de discrepân- cia de QI.

O transtorno do desenvolvimento da coordenação não tem subtipos distintos; entretanto, os indivíduos podem estar predominantemente prejudicados em habilidades motoras grossas ou finas, incluindo habilidades de escrita manual.

Outros termos usados para descrever o transtorno do desenvolvimento da coordenação in- cluem dispraxia da infância, transtorno do desenvolvimento específico da função motora e síndrome da criança desajeitada.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Algumas crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação mostram atividade mo- tora adicional (comumente suprimida), como movimentos coreiformes de membros sem apoio ou movimentos espelhados. Esses movimentos “excessivos” são mais conhecidos como imaturi- dades do neurodesenvolvimento ou sinais neurológicos leves do que como anormalidades neurológi- cas. Tanto na literatura atual quanto na prática clínica seu papel no diagnóstico ainda não está claro, exigindo estudos adicionais.

Prevalência

A prevalência do transtorno do desenvolvimento da coordenação em crianças com 5 a 11 anos de idade fica entre 5 e 6% (em crianças com 7 anos, 1,8% têm diagnóstico de transtorno do desen- volvimento da coordenação grave, e 3% apresentam provável transtorno do desenvolvimento da coordenação). Indivíduos do sexo masculino são mais frequentemente afetados do que os do sexo feminino, com uma proporção de 2:1 e 7:1.

Desenvolvimento e Curso

O curso do transtorno do desenvolvimento da coordenação é variável, embora estável, pelo me- nos até o primeiro ano de acompanhamento. Embora possa ocorrer melhora no longo prazo, problemas com movimentos coordenados continuam durante a adolescência em 50 a 70% das crianças. O início ocorre na primeira infância. Atrasos em marcos motores podem ser o primeiro sinal, ou o transtorno é identificado pela primeira vez quando a criança tenta tarefas como segu- rar faca e garfo, abotoar roupas ou jogar bola. Na infância intermediária, há dificuldades com as- pectos motores em montar quebra-cabeças, construir modelos, jogar bola e escrever a mão, bem como com a organização de pertences, quando a coordenação e sequenciamento motores são necessários. No começo da vida adulta, há dificuldade continuada para aprender tarefas novas que envolvam habilidades motoras complexas/automáticas, incluindo dirigir e usar ferramen- tas. Incapacidade de fazer anotações e de escrever a mão com rapidez pode afetar o desempenho profissional. A comorbidade com outros transtornos (ver a seção “Comorbidade” para esse trans- torno) causa impacto adicional na apresentação, no curso e no desfecho.

Fatores de Risco e Prognóstico

Ambientais. O transtorno do desenvolvimento da coordenação é mais comum após exposição

pré-natal ao álcool e em crianças pré-termo e com baixo peso ao nascer.

Genéticos e fisiológicos. Prejuízos em processos subjacentes do neurodesenvolvimento – em

especial habilidades visuomotoras, tanto na percepção visuomotora quanto na mentalização es- pacial – foram identificados e afetam a capacidade de fazer ajustes motores rápidos conforme aumenta a complexidade dos movimentos exigidos. Uma disfunção cerebelar foi proposta, mas a base neural do transtorno do desenvolvimento da coordenação permanece indefinida. Devido à comorbidade do transtorno do desenvolvimento da coordenação com transtorno TDAH, trans- torno específico da aprendizagem e transtorno do espectro autista, um efeito genético comparti- lhado foi proposto. No entanto, uma ocorrência concomitante e consistente em gêmeos aparece apenas nos casos graves.

Modificadores do curso. Indivíduos com TDAH e com transtorno do desenvolvimento da

coordenação demonstram mais prejuízos do que aqueles com TDAH sem transtorno do desen- volvimento da coordenação.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

O transtorno do desenvolvimento da coordenação ocorre em culturas, raças e condições socioe- conômicas variadas. Por definição, “atividades da vida diária” implicam diferenças culturais que devem ser consideradas no contexto em que cada criança está vivendo, bem como se a criança tem oportunidades apropriadas para aprender e praticar tais atividades.

Consequências Funcionais do Transtorno do

No documento DSM V português (páginas 118-120)