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Capítulo 5 – M ETODOLOGIA DE I NVESTIGAÇÃO

5.3 Determinantes da metodologia adotada

5.3.2 Tratamento e análise de dados

O primeiro procedimento para o tratamento dos dados recolhidos foi a transcrição das entrevistas cujas gravações foram autorizadas. Apenas em duas empresas não foi autorizada a gravação e, para esses casos, tentou-se reproduzir o mais rápida e fielmente possível toda a informação fornecida durante a entrevista.

A fase seguinte à execução do registo escrito das entrevistas foi a análise dos dados recolhidos. Esta, segundo Eisenhardt (1989), é a etapa mais difícil e a menos codificada de todo o processo que envolve a análise de dados obtidos a partir da metodologia de estudos de caso. No entanto, e ainda de acordo com a mesma autora, podem identificar-se duas etapas fundamentais na análise de estudos de caso: within-case analysis e cross-case analysis. A primeira etapa, within-case analysis, consiste essencialmente numa análise detalhada de cada um dos estudos de caso e é uma etapa muito importante da investigação, uma vez que ajuda o investigador a lidar e a organizar um volume, por vezes substancial, de informação. Além disso, com esta primeira etapa pretende-se que o investigador adquira um conhecimento pormenorizado de cada um dos casos e do fenómeno em estudo. No geral, o objetivo do within-case analysis é permitir evidenciar as particularidades de cada caso (Eisenhardt, 1989).

A segunda etapa, cross-case analysis, procura identificar padrões comuns entre os diferentes estudos de caso. Nesta segunda fase é feita uma comparação entre os múltiplos estudos de caso, cujo objetivo é ajudar a compreender as ligações entre fatores e que estão subjacentes a um fenómeno específico. Além disso, utilizar o cross-case analysis é fundamental para reforçar a

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validade interna do estudo, bem como para melhorar e aumentar a confiança nas eventuais generalizações produzidas a partir da investigação efetuada (Eisenhardt, 1989; Voss et al, 2002).

No presente estudo, e no que diz respeito à primeira etapa da análise de dados, a opção foi efetuar inicialmente uma análise de conteúdo para sistematizar a informação recolhida, seguida de uma descrição detalhada de cada um dos casos com base nessa análise de conteúdo. Segundo Bardin (1977, p. 42), a análise de conteúdo pode ser definida como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens”. Ainda de acordo com o sugerido por Bardin (1977), a análise de conteúdo deve ser operacionalizada partindo de uma grelha que permitirá compreender as mensagens que se pretendem transmitir, a partir das entrevistas realizadas, podendo daí fazer-se uma interpretação. Também Elo e Kyngäs (2007) são de opinião que a análise de conteúdo pode ser usada para potenciar a compreensão do significado da comunicação e para identificar os processos críticos.

A grelha que servirá de base para a análise de conteúdo deve ser constituída por (Bardin, 1977):

Categorias, onde se inserem os temas que rodearam a entrevista e que poderão seguir o

mesmo padrão do guião da entrevista;

Subcategorias, que especificam e diluem os temas que são explicitados nas categorias, e

que tornam a análise da entrevista mais fácil de perceber;

Unidades de registo, que dão a conhecer as ideias apresentadas pelos entrevistados com

mais pormenor, de modo a que se possa perceber o que foi dito na entrevista, sem ter que a ler na íntegra;

Unidades de contexto, que são os excertos da entrevista que comprovam as unidades de

registo.

Na figura 5.2 apresenta-se a grelha que serviu de base para a análise de conteúdo do presente trabalho de investigação. A grelha foi desenvolvida tendo como referência as questões de investigação e, simultaneamente, estabelece uma ligação direta com o guião da entrevista. Com efeito, com a definição das categorias e subcategorias procurou-se sintetizar e sistematizar a informação recolhida (fundamentalmente) durante as entrevistas. A completar a grelha, apresentam-se as unidades de registo e de contexto, com as quais se procurou interpretar e comprovar, respetivamente, a informação fornecida pelos entrevistados. De acordo com o

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sugerido por Voss et al (2002) e de modo a comprovar a veracidade da informação compilada e sintetizada através da análise de conteúdo, esta foi enviada aos entrevistados para que estes pudessem validar a interpretação feita a partir das entrevistas. Em resultado deste procedimento, apenas em casos pontuais foram feitas pequenas correções que foram prontamente incluídas nas análises de conteúdo feitas inicialmente.

TEMAS CATEGORIAS SUB CATEGORIAS UNIDADES DE

REGISTO UNIDADES DE CONTEXTO EMPRESA CARACTERIZAÇÃO CONFIGURAÇÃO DIMENSÃO MERCADO SECTOR DE ATIVIDADE DESCRIÇÃO TIPODEPRODUÇÃO

COMPRAS MATURIDADEEMRELAÇÃOAOIP REPRESENTATIVIDADEDOIP Como é que é desencadeado o international purchasing nas empresas industriais? FATORES INFLUENCIADORES PRODUTOCOMPRADO INFLUÊNCIADASC/CLIENTE CARACTERÍSTICASDOMERCADO OUTRASMOTIVAÇÕES Relação entre as questões organizacionais /estruturais e os processos de compra nos mercados internacionais ORGANIZAÇÃO DO DEP COMPRAS CONFIGURAÇÃO AUTONOMIA PROCESSOS RECURSOSHUMANOS QUALIFICAÇÕES/PERFIL FORNECEDORES SELEÇÃO/AVALIAÇÃO FORMASDECOMUNICAÇÃO CARACTERIZAÇÃODASRELAÇÕES MATURIDADEDASRELAÇÕES LOGÍSTICA

ORGANIZAÇÃO

GESTÃODOSSERVIÇOSLOGÍSTICOS

Contributo (como e de que forma) do international purchasing na competitividade das empresas PRIORIDADES COMPETITIVAS DEFINIÇÃO OBJETIVOS DEFINIÇÃO(S/N)

BASETEMPORAL/CONTROLO DESCRIÇÃO

CONTRIBUTO DO DEP DE COMPRAS

MEDIÇÃO

PERFORMANCEDAEMPRESA

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Após a análise de conteúdo procedeu-se, a partir desta, a uma descrição mais detalhada de cada um dos estudos de caso. Assim, a análise individual feita a cada um dos casos respeitou a ordem sugerida pelas questões de investigação e foi apresentada de acordo com a sequência que a seguir se apresenta:

i) O desencadeamento do IP;

ii) A estrutura organizacional e os processos de compra (no mercado internacional); iii) O IP e a competitividade da empresa.

A completar a análise de dados, procedeu-se ao cross-case analysis, ou análise comparativa dos casos, que consistiu precisamente numa comparação entre os diversos casos, ou empresas, e obedeceu à seguinte ordem de apresentação:

i) Análise comparativa entre as empresas portuguesas; ii) Análise comparativa entre as empresas internacionais;

iii) Análise comparativa das práticas de IP entre aquelas duas tipologias de empresas.

A análise comparativa entre os diversos casos teve como objetivo fundamental consolidar os resultados extraídos dos estudos de caso individuais, ao mesmo tempo que permitiu evidenciar as similaridades e/ou diferenças entre os diversos casos.

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5.4 Resumo do capítulo

Neste capítulo 5 foi apresentada e justificada a metodologia de investigação utilizada no presente trabalho. Foram igualmente descritos os métodos de recolha, tratamento e análise de dados. Na tabela 5.6 está sumariado todo o processo de recolha e análise de dados descrito neste capítulo.

Tabela 5.6 – Resumo dos procedimentos para a recolha e análise de dados

ATIVIDADE PROCEDIMENTOS

RECOLHA DE DADOS

1. Desenvolvimento da entrevista

 Partindo das questões de investigação e fazendo a ligação ao modelo teórico proposto;

 Formato: semiestruturada.

2. Seleção das empresas

 Definição de critérios;

 Contacto com as empresas;

 Envio prévio do guião da entrevista.

3. Condução da entrevista

 Conduzida sem rigidez e orientada;

 Efetuada com o Diretor de compras da empresa;

 Gravada, sempre que autorizado.

4. Recolha de outra informação

 Visita às instalações fabris em algumas empresas;

Consulta de websites;

 Consulta de relatórios;

 Consulta de publicações internas.

ANÁLISE DE DADOS

1. Registo das entrevistas  Transcrição das entrevistas gravadas;

Registo pormenorizado das entrevistas não gravadas.

2. Análise detalhada dos casos

(Within-case analysis)

 Desenvolvimento da grelha para análise de conteúdo;

 Elaboração da análise de conteúdo;

 Descrição detalhada de cada um dos casos.

3. Análise comparativa

(Cross-case analysis)

 Análise comparativa entre as empresas portuguesas;

 Análise comparativa entre as empresas internacionais;

 Análise comparativa entre aquelas duas tipologias de empresas.

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OS CASOS