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Capítulo 5 – M ETODOLOGIA DE I NVESTIGAÇÃO

5.2 Paradigma e metodologia

5.2.1 Triangulação e rigor da investigação

A triangulação consiste, segundo Mangan et al (2004), no uso de diferentes abordagens de investigação, métodos e técnicas no mesmo estudo e pode ser muito útil na superação de potenciais parcialidades que podem ocorrer quando se utiliza um único método. Também segundo Mentzer e Flint (1997), a utilização de múltiplos métodos aumenta o rigor e a qualidade da investigação, dois aspetos extremamente importantes na construção do conhecimento.

De acordo com Easterby-Smith et al (2002 apud Mangan et al, 2004), podem ser identificados quatro tipos de triangulação:

 Triangulação de dados – em que os dados são recolhidos em momentos diferentes ou através de fontes diferentes;

 Triangulação do investigador – quando diferentes investigadores recolhem dados de forma independente e que se reveste, normalmente, de grande complexidade;

 Triangulação metodológica – quando são usadas numa mesma investigação técnicas quantitativas e qualitativas;

 Triangulação de teorias – quando uma teoria referente a uma dada disciplina é usada para explicar um fenómeno noutra disciplina.

A triangulação metodológica será talvez aquela que é mais utilizada e, segundo Mentzer and Flint (1997), com o uso deste tipo de triangulação consegue-se um nível de rigor equivalente ao conseguido noutras áreas de estudo tradicionalmente mais exatas. Também Yang et al (2006) defende que a combinação de vários métodos de recolha de dados (quantitativos e qualitativos) tende a diminuir o enviesamento na análise dos dados recolhidos, e consequentemente, tende a aumentar a fiabilidade e validade da investigação.

Também a triangulação de dados é muito frequente na investigação qualitativa pois, ao efetuar-se a recolha de dados a partir de várias fontes de informação, isso permitirá uma compreensão mais ampla e profunda do fenómeno em questão.

Assegurar o rigor numa investigação é extremamente importante especialmente quando essa investigação é de natureza empírica. O rigor não implica necessariamente o uso de metodologias

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complexas; ao invés, conseguir rigor implica cuidado em evitar que, inadvertidamente, se tirem conclusões que efetivamente não resultaram da investigação feita (Mentzer and Flint, 1997). O grau de rigor e qualidade de uma investigação está intimamente ligado aos conceitos de validade e fiabilidade. Estes termos, embora sejam usados com frequência em contextos diversos, têm, no entanto, um significado específico quando aplicados no contexto de um trabalho de investigação.

De uma forma geral, conforme Mentzer and Flint (1997), demonstrar a validade de uma investigação consiste em levar a cabo uma série de procedimentos de modo a assegurar que as conclusões que advieram dessa investigação podem ser tiradas com confiança (isto é, as conclusões são válidas).

A validade de uma investigação assume três dimensões distintas (Yin, 2009; Voss et al, 2002): (1) validade de construção, (2) validade interna e (3) validade externa. Na validade de construção, a questão fundamental que se coloca é: como é que se pode ter a certeza de que o fenómeno teórico em estudo foi definido e avaliado/verificado corretamente? Pode dizer-se, portanto, que a validade na construção é a medida em que se identificam e estabelecem as medidas operacionais corretas para os conceitos em estudo (Yin, 2009; Voss et al, 2002). No decurso de uma investigação, e de acordo com Voss et al (2002), aquela dimensão da validade pode ser testada de diversas maneiras, nomeadamente:

 Observando se as previsões feitas acerca das relações com outras variáveis se confirmam ou não;

 Recorrendo a diversas fontes de evidência para testar um modelo (resultados similares são evidência da existência de validade convergente);

 Verificando se diferentes modelos, testados e medidos diferenciadamente, podem ser distinguidos uns dos outros;

 Recorrendo à triangulação de modo a fortalecer a validade de construção.

No que diz respeito à validade interna, esta fornece evidência da existência de uma relação causal entre duas variáveis em estudo, ou dois fenómenos. Não faz sentido aplicar esta dimensão da validade se o estudo for unicamente descritivo, isto porque, nestes casos, o investigador não está preocupado com aquele tipo de relação causal. Para a verificação da validade interna, os estudos de caso são particularmente importantes; enquanto os estudos de base estatística indicam simplesmente a existência de uma relação entre duas variáveis, através dos estudos de caso consegue-se perceber se essa relação é, ou não, causal (Mentzer and Flint, 1997).

Em relação à validade externa, esta está intimamente relacionada com o conceito de indução, ou seja, em que medida ou até que ponto é possível extrapolar (ou generalizar) os resultados da

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investigação para uma população mais vasta (Mentzer and Flint, 1997)? No caso concreto de uma metodologia quantitativa em que a base da investigação sejam inquéritos, a extrapolação de resultados é um processo que está dependente de vários aspetos, como sejam a dimensão da amostra estudada, a aleatoriedade da amostra e taxas de resposta conseguida – está-se perante uma generalização estatística. Já no caso de metodologias de investigação qualitativas, em que os estudos de caso são um exemplo, é necessário um cuidado acrescido quando se trata de extrapolar as conclusões de um estudo; neste caso fala-se em generalização analítica, em que o investigador pretende generalizar um conjunto particular de resultados a uma teoria de âmbito mais alargado. Esta generalização, no entanto, não é automática; os resultados obtidos a partir de um estudo particular necessitam ser replicados, ou seja, é necessário proceder a um segundo ou mesmo terceiro estudo, com características similares, e verificar se as conclusões obtidas são as mesmas. Deste modo, através da replicação de resultados, pode afirmar-se, com segurança, que estes constituem um suporte sólido para uma determinada teoria (Yin, 2009), fortalecendo, assim, a validade externa da investigação.

Demonstrar a validade, nas suas várias dimensões, é, como se depreende do que foi dito atrás, fundamental para assegurar a qualidade de um trabalho de investigação; não é, no entanto, suficiente. Efetivamente, de pouco vale demonstrar a validade se esta não for complementada com a verificação da fiabilidade. Este é um conceito que pode ser definido da seguinte forma: trata-se da medida em que os procedimentos usados numa investigação podem ser repetidos, com a garantia de que os resultados alcançados serão os mesmos (Yin, 2009). Por outras palavras, se dois, ou mais, investigadores levarem a cabo o mesmo estudo (em momentos diferentes), seguirem os mesmos procedimentos, e chegarem às mesmas conclusões, então pode dizer-se que esse trabalho de investigação é fiável. O grande objetivo da fiabilidade é minimizar os erros e o enviesamento numa investigação, especialmente se for de carácter empírico. Como facilmente se percebe, para garantir a fiabilidade e, de um modo geral, a qualidade de uma investigação de natureza empírica, um pré-requisito muito importante é documentar convenientemente e de forma rigorosa todo o processo de pesquisa (Yin, 2009). Também Seuring (2008) é da mesma opinião já que, segundo este autor, para assegurar a validade e fiabilidade de uma investigação, é fundamental apresentar (ou descrever) detalhadamente e de forma estruturada todo o processo de pesquisa.

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