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Tratamento da imparcialidade nas instituições arbitrais

No documento Imparcialidade dos árbitros (páginas 59-63)

1.3. Tentativas de padronização da imparcialidade do árbitro

1.3.5. Tratamento da imparcialidade nas instituições arbitrais

As instituições empenhadas na prestação de serviços ligados à solução de controvérsias pelo método arbitral, conhecidas como “câmaras arbitrais” ou “centros de arbitragem”, com interesse em aumentar a eficiência dos seus serviços (e assim evitar aumento dos

http://www.expertguides.com/default.asp?Page=10&GuideID=150&CountryID=117; consulta em 21.02.2014.

189 R

AMON MULLERAT. Arbitrator’s conflicts of interest revisited: a contribution to the revision of the excellent IBA Guidelines of Conflicts of Interest in International Arbitration, in Spain arbitration review, v. 14, 2012, p. 66.

190 J

AMES HCARTER. Reaching consensus on arbitrator conflicts: the way forward, in Dispute resolution international, v. 6, 2012, p. 27.

191 R

AMON MULLERAT. Arbitrator’s… op. cit., pp. 7. 192

RAMON MULLERAT. Arbitrator’s… op. cit., pp. 6-7. 193 Nesse sentido, a direta crítica de C

ARLOS ALBERTO CARMONA. Em torno do árbitro, in Revista de arbitragem e mediação, v. 28, 2011, p. 57.

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custos e desperdício de tempo com impugnações de árbitros, bem como manter um padrão de qualidade com a redução da possibilidade de ataques judiciais às sentenças arbitrais proferidas nos processos nelas conduzidos), também dispõem de regras e mecanismos para a promoção da imparcialidade do árbitro.

No âmbito internacional, o Regulamento de Arbitragem da Câmara de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI) demanda, em seu art. 11(1) que o árbitro seja e permaneça imparcial e independente frente às partes envolvidas na arbitragem. O árbitro deve, antes da sua nomeação pelo Secretário Geral ou pela Corte194 (art. 13.2), declarar por escrito sua independência, conforme art. 11(2). A falta de imparcialidade ou independência habilita a impugnação do árbitro, conforme art. 14(1), a ser decidida pela Corte, conforme art. 14(3). Além desses dispositivos, o art. 22(4) impõe ao tribunal arbitral a obrigação de conduzir o processo de modo justo e imparcial.

Ocupada em tornar mais claras as causas de impugnação dos árbitros, auxiliando na interpretação das disposições do seu Regulamento de Arbitragem, a CCI publicou, no ano de 2008, o extrato de decisões da Corte a respeito do tema195. Autor que se dedicou ao levantamento estatístico apontou que, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2009, 345 impugnações a árbitros foram decididas pela Corte, em um total de 217 arbitragens. As impugnações atacaram 3,43% do total de árbitros confirmados pela Corte (total de 10.061)196.

Outra instituição que administra processos arbitrais com renome internacional, a London

Court of International Arbitration (LCIA), possui Regulamento de Arbitragem197 cujo art.

194 A Corte é formada por mais de 100 profissionais dedicados à arbitragem internacional, oriundos de mais de 90 países, eleitos para mandato de 3 anos. Organização, funções e lista de membros podem ser consultadas no endereço eletrônico http://www.iccwbo.org/About-ICC/Organization/Dispute-Resolution-Services/ICC- International-Court-of-Arbitration/; consulta em 21.02.2014.

195 A

NNE MARIE WHITESELL. Independence in ICC arbitration: ICC Court practice concerning the appointment, comfirmation, challenge and replacement of arbitrators, in International Court of Arbitration Bulletin: 2007 Special Supplement - Independence of Arbitrators. Paris: ICC Publishing, 2008, pp. 7-40. 196

KAREL DAELE. Challenge and disqualification of arbitrators in international arbitration. Netherlands: Kluwer Law International, 2012, p. 67. O autor tributa o baixo número de impugnações à técnica adotada no Regulamento da CCI, na qual, antes da confirmação pela Corte, as partes podem objetar a indicação de árbitro feita parte adversária, permitindo que o árbitro recuse a indicação ou que a Corte não confirme a sua nomeação, tudo sem iniciar o procedimento de impugnação.

197 LCIA Arbitration Rules, disponível no endereço eletrônico http://www.lcia.org/Dispute_Resolution_Services/LCIA_Arbitration_Rules.aspx; consulta em 21.02.2014.

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5.2 determina que o árbitro deve ser e permanecer imparcial e independente frente às partes, agregando que o árbitro não deve agir como advogado de qualquer delas. Referido Regulamento também prescreve, ao lado de outros motivos para o afastamento do árbitro (não atuar de modo justo e imparcial frente às partes ou não conduzir ou participar do processo com a razoável diligência; art. 10.2), que o árbitro pode ser impugnado por qualquer das partes se houver circunstâncias que levantem dúvidas justificadas sobre sua imparcialidade ou independência; a parte pode até mesmo impugnar o árbitro que havia nomeado se tomar conhecimento dessas razões após ter realizado a indicação (art. 10.3)198. As impugnações são decididas pela Corte199.

Assim como a CCI, a LCIA tornou públicos extratos de decisões a respeito da impugnação de árbitros em 2011200. Entre janeiro de 2006 e dezembro de 2010, 30 impugnações foram apresentadas frente a um total de 986 casos iniciados no mesmo período201.

Em termos de publicidade, notórias são as decisões proferidas nas arbitragens de investimento reguladas pela Convenção para a Resolução de Disputas Relativas a Investimentos Entre Estados e Nacionais de Outros Estados (ICSID)202, tanto no que diz respeito à impugnação e afastamento de árbitros (arts. 57 e 58) quanto no que diz respeito à anulação das sentenças, cuja decisão é dada por uma comissão ad hoc formada por árbitros escolhidos pelo Presidente do Banco Mundial com apoio no respectivo secretariado da instituição (ICSID) entre os integrantes de uma lista fornecida pelos países signatários da convenção (arts. 50 a 52)203. A divulgação dessas decisões permite a análise do

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No original: “An arbitrator may also be challenged by any party if circumstances exist that give rise to justifiable doubts as to his impartiality or independence. A party may challenge an arbitrator it has nominated, or in whose appointment it has participated, only for reasons of which it becomes aware after the appointment has been made.”

199 A Corte é formada por 35 arbitralistas oriundos das maiores áreas comerciais do mundo, dos quais não mais que 6 podem ser nacionais do Reino Unido. Maiores informações sobre a composição da instituição podem ser obtidas no endereço eletrônico http://www.lcia.org/LCIA/Organisation.aspx; consulta em 21.02.2014.

200

RUTH TEITELBAUM; THOMAS W.WALSH. The LCIA Court decisions on challenges to arbitrators: an introduction, in Arbitration international, v. 27, pp. 283-313.

201 K

AREL DAELE. Challenge… op. cit., p. 67.

202 Disponível no endereço eletrônico https://icsid.worldbank.org/ICSID/StaticFiles/basicdoc/CRR_English- final.pdf; consulta em 21.02.2014.

203 Comentários sobre o sistema de anulação e críticas ao “movimento pendular” de evolução das decisões anulatórias são feito por JOSÉ MIGUEL JÚDICE;TIAGO DUARTE. A anulação de sentenças ICSID: corrigir as sentenças ou corrigir as tendências?, in SELMA FERREIRA LEMES;INEZ BALBINO (Ed.). Arbitragem: temas contemporâneos. São Paulo: Quartier Latin, 2012, pp. 327-357.

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entendimento a respeito do requisito trazido pelo art. 14(1), que impõe que o árbitro inspire confiança sobre sua imparcialidade. Interessante notar que, na versão em língua inglesa da Convenção, o texto descreve que o árbitro “may be relied upon to exercise independent

judgment”, ao passo que a versão em língua espanhola descreve que ele deve “inspirar plena confianza en su imparcialidad de juicio”, enquanto a versão em língua francesa, que

ele deve “offrir toute garantie d'indépendance dans l'exercice de leurs fonctions”. Não importando a expressão utilizada, o que se verá no presente estudo204 é que a análise das impugnações e pedidos de anulação de sentença, nos casos ICSID, sempre envolve a imparcialidade dos árbitros.

No Brasil, as principais câmaras e centros de arbitragem também possuem dispositivos regulamentares voltados à proteção da imparcialidade dos árbitros. É o que ocorre no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC), cujo Regulamento prevê as causas pelas quais o árbitro não pode ser nomeado ou possa ser impugnado, em artigo que reproduz as hipóteses previstas no Código de Processo Civil sobre impedimento e suspeição do juiz, além de estabelecer outras205. O CAM-CCBC possui, ainda, um Código de Ética para os árbitros, que impõe ao árbitro o dever de ser e permanecer independente e imparcial, além do dever de revelação de qualquer fato ou circunstância que possa dar origem a dúvidas quanto à sua imparcialidade e independência, não apenas no seu sentir, mas também segundo os olhos das partes206. Modelo sutilmente diferente é o adotado pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem Ciesp/Fiesp (CCMA-CIESP/FIESP), cujo Regulamento prevê, no seu art. 7.3, a possibilidade de serem arguídos o impedimento ou a suspeição do árbitro, bem como impõe que, no desempenho de sua função, o árbitro se mantenha independente e imparcial207. A CCMA-CIESP/FIESP também possui Código de Ética, o qual impõe ao árbitro o dever de manter-se imparcial e independente, sendo expresso que, para conservar-se imparcial, o árbitro deve atuar

204

A análise de casos é feita no capítulo 4.2 do presente estudo.

205 Entre elas, as previstas nas letras “k” e “l” do art. 5.2, que dispõem, respectivamente, as hipóteses de o árbitro “ter atuado como mediador ou conciliador, na controvérsia, antes da instituição da arbitragem, salvo expressa concordância das partes” e “tenha interesse econômico relacionado com qualquer das partes ou seus advogados, salvo por expressa concordância das mesmas.” Íntegra do regulamento está disponível no endereço eletrônico http://www.ccbc.org.br/default.asp?categoria=2&subcategoria=Regulamento 2012#5; consulta em 21.02.2014.

206 Disponível no endereço eletrônico

http://www.ccbc.org.br/default.asp?categoria=2&subcategoria=codigodeetica; consulta em 21.02.2014. 207 Disponível no endereço eletrônico http://www.camaradearbitragemsp.com.br/index.php/pt- BR/regulamento/4-principal/principal/127-regulamento-de-arbitragem-2013; consulta em 21.02.2014.

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“formando sua livre convicção com base na prova produzida no processo” e que, para conservar a independência “o árbitro não deve manter vínculo com quaisquer das

partes”208. O Centro de Arbitragem da Câmara Americana de Comércio (CA-AMCHAM) que, diferentemente das instituições anteriores, não possui uma lista de árbitros, tem Regulamento cujo art. 3.2 prevê o dever de independência e imparcialidade do árbitro, detalhando que será considerada fundada a suspeição de parcialidade do árbitro em cinco hipóteses expressas, inspiradas nas hipóteses de suspeição dos juízes, “entre outras”209

. Também o Regulamento da Câmara de Arbitragem Empresarial-Brasil (CAMARB) estabelece, no seu art. 4.3, sete hipóteses de impugnação do árbitro, sendo a mais ampla a que permite a impugnação caso o árbitro “não tenha independência, imparcialidade para

conduzir a arbitragem ou julgar o litígio”210. O Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA) possui regulamento que impõe, no seu art. 5.3, que o árbitro “deverá

ser e permanecer independente e imparcial”, prevendo a possibilidade de sua recusa pela

parte em razão da ausência dessas qualidades, consoante art. 7.1, sem se deter em mais detalhes ou hipóteses que configurariam a falta de imparcialidade ou de independência. O item VII.3 do Código de Ética da instituição comanda ao árbitro “[d]ecidir com

imparcialidade e independência”, bem como, no item V.4 “[r]evelar qualquer interesse ou relacionamento que provavelmente afete a independência ou que possa criar uma aparência de parcialidade ou tendência”211.

1.4. Disposições sobre imparcialidade do árbitro na lei e a doutrina brasileira:

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