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4.4 A HISTÓRIA INCA: EXPANSIONISMO E DISSOLUÇÃO

4.4.1 Um início tímido

A história incaica inicia em meados do século XIII, período em que se tem os primeiros indícios da presença dos incas na região de Hurin Cusco após a fundação da civilização por Manco Capac. E, como explicitamos anteriormente, os primórdios do poder Inca se reduziram à posição de um povo de inferior poder militar e administrativo ante os outros grupos, ao passo que, durante os governos da primeira linhagem de Incas, em que se tem presente os Incas Manco Capac, Sinchi Roca, Lloque Yupanqui, Mayta Capac e Capac Yupanqui, os incas tiveram um papel mais restrito e tímido nos Andes, limitados às atividades militares. Sobretudo por habitarem a região de Baixo Cusco, eram vistos como a parte mais fraca da sociedade cusquenha.

Somente com Inca Roca, após a morte de Capac Yupanqui, que Hurin conseguiu se sobressair em relação a Hanan. Em uma campanha liderada por Roca, os incas tomaram o poder de Cusco e aglutinaram a si o poder administrativo. A figura de pedra de Manco Capac foi transposta à Hanan – que se tornou o novo centro do poder Inca – e o culto de Inti, religião do Inca, tornou-se a religião oficial dos incas. Além disso, porém de forma lenta, aconteceram os primeiros movimentos expansionistas do que viria a se tornar o Tawantinsuyu (FAVRE, 2004, p. 16).

A partir de Inca Roca, todos os Incas subsequentes viriam de comunidades que ascenderam ao poder em Alto Cusco, tal como se observa na Tabela 2:

Tabela 2 - Incas de Cusco.

Linhagens dos Incas de

Cusco Panaca de origem Inca

Período governado Primeira linhagem, vinda

de Hurin Cusco

Chima panaca Manco Capac 1200-1230

Auayni panaca Lloque Yupanqui 1260-1290

Usca Mayta panaca Mayta Capac 1290-1320

Apo Mayta Capac panaca Capac Yupanqui 1320-1350

Segunda linhagem, vinda de Hanan Cusco

Uicaquirao panaca Inca Roca 1350-1380

Aucaylli panaca Yahuar Huacac 1380-1400

Socso panaca Wiracocha 1400-1438

Hatun ayllu panaca

Pachacuti Inca

Yupanqui 1438-1471

Capac ayllu panaca Tupac Yupanqui 1471-1493

Tumipampa panaca Huayna Capac 1493-1525

Capac ayllu panaca Huáscar 1525-1532

Hatun ayllu panaca ou

Capac ayllu panaca86 Atahualpa 1532-1533

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bernat, 2020.

Desde então, a anexação de diversas outras etnias e comunidades ao Tawantinsuyu teve um lento início. A estrutura de dominação gerida por Inca Roca não tinha uma base sólida, povos que se encontravam na periferia de Cusco ou os sobreviventes da invasão à Hanan realizaram revoltas múltiplas durante o governo de Yahuar Huacac, imobilizando suas ações, e tornaram seu período no governo dedicado quase que inteiramente a garantir sua permanência com o mascapaycha. (FAVRE, 2004, p. 17).

Por sua vez, o sucessor de Yahuar, Wiracocha, teve um importante papel ao amenizar os conflitos com vitórias militares e estabelecer alianças que garantiam a submissão de certos povos os quais incitavam conflitos na região, assegurando o acesso ao altiplano. No entanto, o movimento ainda era vagaroso. Wiracocha, durante seu período no poder, conquistou uma área menor que 40 quilômetros além de Cusco (FAVRE, 2004, p. 17). Parte da pressão exercida na região dos Andes e em Cusco se dava pela presença dos chanca, povo que havia se formado na época dos governos Regionales Tardios, junto aos incas, após a dissolução dos tiahuanaco-wari, e que se assentou inicialmente na região entre os rios Pampas e Pachachaca (ROSTWOROSKI, 1999, p. 50).

Os chanca foram um povo de tendência expansionista, que teve como sua paqarina próxima à Laguna Choclococha e possuíam uma divisão parecida com a que os incas tiveram quanto à forma com que se estabeleceram no seu território, utilizando a mesma divisão de poder entre hurin e hanan. Foi ao final do governo de Wiracocha que os chanca começaram a

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Posteriormente explicaremos sobre esta confusão e falta de informação quanto à panaca de origem de Atahualpa e também sobre o conflito que se dará com Huáscar.

ter seus primeiros encontros com os incas, enviando seus emissários a Cusco para oferecer uma proposta para que os incas entregassem a cidade aos chanca, caso não quisessem ser exterminados. Wiracocha já estava velho e se atemorizou com a ameaça que vinha do norte, decidindo, por fim, abandonar Cusco junto com seu filho Inca Urco, deixando a cidade entregue à própria sorte (ROSTWOROSKI, 1999, pp. 52-53).

No entanto, um dos filhos de Wiracocha continuou em Cusco, seu nome era Cusi Yupanqui, e mais tarde seria conhecido como Pachacuti Inca Yupanqui. Yupanqui, junto a um grupo de líderes regionais e de seus guerreiros, ficou na cidade para defender Cusco da futura invasão vinda do norte. Em uma campanha de defesa, Yupanqui realizou apelos múltiplos para buscar aliados em outras regiões próximas, mas não obteve quase nenhum apoio, as forças dos chanca eram bem temidas. Porém as histórias contadas narram não apenas sobre a vitória de Cusco contra seus invasores, mas sobre uma reviravolta que mudaria o cenário andino para sempre.

O encontro entre os dois povos se deu nos entornos da cidade, os chanca certos da vitória e de que haveria uma resistência fraca vindo dos incas, foram vítimas se sua própria soberba. Por meio de armadilhas escondidas pelos incas na floresta – como fundos fossos escondidos por folhas que afundaram muitos guerreiros chancas –, ataques em ondas e o ímpeto dos guerreiros de Yupanqui, que antes do conflito havia sido alertado em um sonho pelo Deus Wiracocha que teria êxito em sua campanha de defesa, os chanca foram obrigados a recuar cada vez mais (ROSTWOROSKI, 1999).

Assim, a defesa militar inicial do Inca e dos sete líderes que o seguiram retraíram as forças chanca, em um cenário que acabou por faze os líderes, que até então haviam se omitido do conflito, se juntarem aos esforços heróicos de Cusco. Além disso, como contam as lendas, juntaram-se aos incas os pururauca que ajudaram Yupanqui em sua vitória, além de garantirem às forças incas mais uma dimensão sobre a fonte de seus poderes no cenário andino:

El mito cuenta de la milagrosa intervención de los pururauca en el momento crítico de la lucha, y de cómo esas simples piedras ganaron vida y se transformaron en fieros soldados responsables de la victoria de los incas en el momento más angustioso del encuentro (Santa Cruz Pachacuti 1928; Cobo 1956). La fama de los pururauca alcanzó gran difusión entre los enemigos de los incas, en ciertas ocasiones los curacas se rindieron sólo ante el temor de enfrentar a tan aguerrido ejército.87 (ROSTWOROSKI, 1999, p. 55)

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“O mito fala da milagrosa intervenção dos pururauca no momento crítico da luta, e de como essas simples pedras ganharam vida e se transformaram em ferozes soldados responsáveis pela vitório dos incas no momento de maior agonia (Santa Cruz Pachacuti, 1928; Cobo, 1956). A fama dos pururauca alcançou tão grande difusão