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Por que as uulheres nmo podeu ver as flautas sagradas? Por que os houens nmo podeu sentir o calor que veu do sangue feuinino? Anote isso

Dizia o tradutor:

2.4 Por que as uulheres nmo podeu ver as flautas sagradas? Por que os houens nmo podeu sentir o calor que veu do sangue feuinino? Anote isso

eu outra folha93

Retomando finalmente o quarto e último dos documentos orientados por Mandu na mesma manhã e ainda com foco no manejo da alma tuyuka, ao cabo ele me explica algo que permeia tudo o que antes já dissera, mas que deveria ser colocado em outro documento, enquanto algo que aconteceu depois.

Ouvindo aqueles episódios das transformações ancestrais (¢rimo, menino caapi, jurupari) propus o seguinte rumo a nossa conversa. Conforme indicara anteriormente, caapi e flautas sagradas seriam igualmente manifestações vitais do ancestral, compondo o corpo e saberes do baya. Se ali, caapi e flautas sagradas tinham sentidos convergentes, pedi que ele me explicasse como, então, diferenciavam-se, ao ponto de nenhuma mulher poder ver ou falar das flautas sagradas, enquanto podem ver e algumas até tomar, o caapi (como as mulheres benzidas como baya). Viu-se que as mulheres conhecedoras, respondedoras y¡go, ingerem as mesmas substâncias rituais que os homens conhecedores, durante as festas. Por sua vez, não podem ver nem mesmo ouvir falar das flautas sagradas. Uma jovem que me ajudava nas traduções destas falas de Mandu certa feita, ficou amedrontada por ter escutado palavras tão perigosas. Mandu dizia:

Flora, isso é uma coisa: ser benzido com caapi é ser benzido como dançador ou baya, ter seu poder de baya com flauta sagrada.

Mas isso, de mulheres não poderem ver flauta sagrada, isso é outra coisa, aconteceu em outro momento...

Esclarece então a origem de tal perigo: a origem da menstruação das mulheres e da reprodução humana, que corresponde ao episódio do roubo das flautas sagradas pelas mulheres, e posterior recuperação das mesmas pelos homens, compondo uma parte central do entendimento dos perigos envolvidos no manejo de niromakañe, na correlação entre poderes de pensamento e poderes de fertilidade.

Embora central, deveria ser dito ou mostrado por último, e nem seria citado caso não se insistisse. Indica aspectos do perigo que a menstruação de uns (homens e mulheres) exerce sobre corpos-almas-pensamentos dos outros. Se a composição de

93 Eu sempre hesitei entre apresentar esse documento na sequência mais direta dos três primeiros, ou incluí-la aqui, após termos discorrido sobre as potencias e perigos que envolvem o conhecedor, assim como sobre algumas distinções importantes na fabricação do corpo do conhecedor maior, e da pessoa comum. Achei interessante incluí-la aqui porque temos agora mais elementos para distinguir perspectivas ou origens de perigos: de waimasã, ancestrais e de inimigos. Ao que se acresce agora os perigos entre os próprios conhecedores, homens e mulheres, em suas diferenciadas capacidades reprodutivas.

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saberes masculinos e feminos se dá enquanto fonte de poder uns dos outros (o que já se falava); agora se mostrariam enquanto fontes de perigos recíprocos.

Uma senhora tuyuka hoje com mais de setenta anos me fez esse relato sobre os conselhos maternos e proteções paternas no cotidiano e na Casa em Festa, durante sua primeira menstruação. Ela dizia coisas que, a seu modo, Mandu já dissera no âmbito da iniciação masculina: das explicações, conselhos e condutas rituais compondo a vida da pessoa. Grandes benzedores e líderes dançadores e entoadores exultando ou nomeando dançadores antepassados e ao mesmo tempo compondo a alma de seus filhos, indicando- lhes comportamentos apropriados; no caso, à filha, respondedora de cantos ou y¡go. O que Catarina Borges acrescenta é certa ênfase na produtividade entre saberes e fertilidades, masculinos e femininos, da perspectiva da moça inicianda:

Quando nós, mulheres, estamos na primeira menstruação, então o pai e a mãe nos acompanham.

Nossa mãe nos diz:

- É assim mesmo, você está se sentindo mal assim, porque você é mulher. - Gente-peixe te atacou, diziam, já nos mandando resguardar.

Cuidando da gente, a mãe nos aconselhava para ficarmos quietas sem andar por aí.

- Cuide-se e previna-se! - Tenham medo! - diziam. Ouvindo isso, tínhamos medo. O pai também nos protegia:

ia benzendo os alimentos e nos mandando resguardar. Depois de todo o tempo de resguardo,

mandava alguém tirar mandioca para um caxiri. Avisava que ia nos banhar e como faria:

- Essa moça não é filha de um qualquer, ela é minha filha. Assim, mandava que fizessem caxiri,

e rezava uma cuia de carajuru. No entardecer da véspera do caxiri ele já estará benzendo na maloca.

Intercalando benzimentos e entoações (wederige hire), entregará o carajuru benzido.

Na maloca, o benzedor fala para a mãe da moça:

- Essa moça é neta de líderes e grandes bayaroa dessa Casa; - Grandes bayaroa como meus antepassados.

Dizendo isso entrega o benzimento [um pedaço de carajuru benzido] para minhã mãe e para mim também.

E ainda rezava longamente,

Intercalando bem com as entoações.

Ao que ele falava bem, os outros escutavam bem Nesse dia tinha caxiri para mim.

Enquanto um velho benzia, outros estavam dançando em minha honra, apresentando para mim.

Eles me untaram com jenipapo (we) no meio de tanta gente, no meio da noite;

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era para ter a voz mais clara, para aguentar a noite toda cantando. Diziam que os velhos e também a mulher entoadora

não comiam refeição de final do dia,

já que na madrugara seguinte iriam vomitar para purificar o estômago; o caxiri tinha que ser tomado em jejum: só podia comer ipadu e manicuera. No outro dia amanheci exausta e faminta.

Minha mãe dizia:

- Fazem para você, filha.

- Esses meus parentes, meus tios, fazem isso para você.

- Escute bem, saiba disso minha filha (t¡omasiña)... Falando isso, minha mãe chorava muito.

- Faça tudo como eles dizem, disse minha mãe (k¡ã hiro birora tiya).

E os outros homens ainda colocaram outros diálogos cerimoniais (wederige hire) pela minha vida

- Nós buscamos a vida dela, buscamos vida para ela, diziam.

Conhecimentos do homem e da mulher são produtivos uns aos outros. O homem não despreza a mulher com seus saberes, ao contrário, a respeita e valoriza. Como conhecedor, a protege. A fertilidade da mulher como mãe dos alimentos, e mãe de seus filhos, compõe-se também como fonte de poder dos homens.

Assim amanhecíamos bem, e eles partiam.

Meu pai era capitão para mim, sempre foi baya e assim eu o considerava. Ele dizia tudo que tinha que abster, para nunca comer sem ter rezado. Nunca mandava comer sem ter rezado, cada coisa.

Nas menstruações seguintes, como na primeira, resguardávamos dois dias; depois disso ele rezava o frasco de rapé dele e nos dava para aspirar benzido. Então nos mandava banhar, aconselhando-nos de amassar folha de abíu pra vomitar, limpar seu estômago (¡soti haña m¡ patirire).

Avisáva-nos (marire hi wedemiwara k¡ã):

- Os homens não são como nós (¡m¡ tiro biro biria m¡a kã).

- Vocês têm um coração, alma, sentimento, de constituição diferente (mera

yeripona tira nia m¡a kã).

Caso um dia tenha peixe para nós, ele pede que aguarde para ele ser rezado, mastiga o peixe rezado, mastiga pimenta guardada,

sopra e espalha nas pernas.

Senta ainda, só no outro dia vão à roça. As pernas doem, o corpo dói

Espíritos surram os outros [outros apanham, contraem maldade], vocês não contraem [doença assim, caso se resguardem]. Eles dizem aconselhando para nós, por isso a gente tem medo

Conforme ele falou com a gente, a gente se unta com carajuru e resguarda. Dois dias depois, que ele autorizou de ir, ia com corpo com carajuru.

Vá, ele dizia, arranque mandioca, faça caxiri como pagamento de nosso benzimento.

Quando o caxiri está pronto, ele diz:

- Venha, eu quero beber (atiya, sinig¡d¡tia).

- A roça é o seu poder, suas mãos são seu poder, os dedos de suas mãos são nosso poder.

- A roça e a mandioca são poder das mulheres.

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Do fato delas terem corpos diferentes, poder e alma de outras substâncias, vida de seus trabalhos como vida diferente, deduz-se tambem o perigo entre seus respectivos poderes. Segundo Lasmar, “isso tudo faz parte do nexo simbólico entre identidade feminina, menstruação e trabalho na roça” (2005: 116).

Por vezes, destaca-se sua produtividade. O trabalho dos homens é o de proteger as pessoas e o mundo com benzimentos. Protegendo também as mulheres. O trabalho das mulheres é de produzir e cuidar das crianças, assim como dos alimentos das roças. Lasmar (2005: 124) comenta que, por sua capacidade de trabalho e alto grau de especialização e investimento nas roças e com filhos - de que dependem a produção e reproducção da comunidade -, as mulheres incrementam sua autonomia a partir do casamento. A mulher teria na roça, no casamento e nos filhos sua fonte de prazer e auto- estima (idem: 119). Homens e mulheres não realizariam as mesmas atividades produtivas, nem experimentariam os mesmos sentimentos diante da vida.

Perigos consecutivos dizem respeito à inveja que waimasã têm da fertilidade humana. Mas o que se tratava agora era de destrinchar certas correlações antes evitadas, entre o manejo do pensamento e o manejo da fertilidade. Os sentidos associados à menstruação das mulheres (jurupari de mulher, segundo os makuna) e à visão das flautas sagradas (sua iniciação ou menstruação). Os perigos.

Segundo Mandu:

As mulheres roubaram as flautas num momento de descuido e preguiça dos homens. Eles deixaram as flautas no porto à noite, chegando da coleta das frutas para o dabucuri, e deveriam retirá-las dali antes do horário do banho das mulheres, de madrugada. No entanto, elas desceram primeiro ao porto, e pegaram as flautas.

As moças passaram então a fazer seus dabucuris com flautas, mas elas não estavam certas, faziam dabucuri de qualquer jeito. Como elas bagunçavam com isso, os homens não queiram que elas ficassem com as flautas. Faziam como se fosse brincadeira; nem iam buscar frutas do mato, faziam a festa oferecendo frutinhas que estavam por perto de casa, dos seus quintais ao redor da casa. As mulheres tocavam as flautas enquanto homens faziam trabalhos femininos, na roça e no preparo da mandioca.

Do ponto de vista do pai das moças elas não estavam fazendo direito, estavam fazendo à toa, de qualquer jeito (b¡ri tiamahaya). Por isso eles decidiram recuperar as flautas.

Há toda uma tramitação e um plano para recuperá-las. Até que, ao cabo, realizam seu plano e recuperam as flautas.

Quando os homens foram recuperar as flautas, as mulheres, no susto, deixaram- nas cair. Mas de tanto sovinar, não querer largar, uma delas enfiou a flauta pela vagina e originou seu próprio útero (nisope niku ko numiore). Por causa dessa mulher é que nesses dias começa a sair sangue (na menstruação da mulher). E

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nós homens temos vergonha das mulheres, por causa disso tudo que aconteceu. Impregnados de vergonha depois disso (bobosãra), não querem mais mostrar para as mulheres como as flautas são feitas. Até então as mulheres não podiam ter filhos.

Essa é a origem da menstruação das mulheres, da geração das crianças no útero, e da forma como nascem hoje os filhos. Segundo Mandu, os homens viram o sangue e, com vergonha desse episódio, nunca mais mostraram as flautas às mulheres. É proibido mostrar, é proibido para elas verem. Elas também tiveram vergonha, por isso não querem mostrar como é feito...

Segundo Mandu, o roubo das flautas sagradas pelas mulheres, depois recuperadas pelos homens, impregnou homens e mulheres, reciprocamente, de vergonha (bobosãre). Essa vergonha envolve a visão do sangue, quando elas furaram a própria vagina originando esse modo de procriação, o útero e o canal de nascimento da criança. Antes disso, as mulheres não tinham como ter filhos. Quando as moças perguntam às mães a respeito das flautas, dizem que é muito ruim e que não é para sequer perguntarem a respeito disso. Como fizeram isso, vocês não podem ver, e as mulheres têm vergonha.

Segundo Mahecha (2004: 120), quando os homens recuperaram as flautas, as mulheres tiveram que deixar esses pensamentos de jurupari, em particular, com os homens. Desde então, dizem alguns, mulheres teriam até mais pensamento que os homens,94 e precisariam receber mais vezes que eles o benzimento da alma-nome. Manejo

do pensamento associa-se ao manejo da fertilidade, um como fonte do outro. Sejam das mulheres ou dos homens. É a que diria respeito esse quarto documento. Sejam capacidades de procriar filhos e alimentos e manejar seus ciclos menstruais; sejam capacidades de promover a reprodução de todos os seres do cosmos e manejar o jurupari, dos homens. O pai de Guilherme Tenório dizia que enquanto os homens precisavam receber duas vezes, as mulheres precisavam, três vezes na vida, receber o benzimento da alma-nome (yeripona basere).

A menstruação e o jurupari são fontes de pensamento/fertilidade poderosas que fluem nesse mundo. Poderosas, mas perigosas, já que podem tanto dar vida quanto morte, criar e destruir (Cayón 2002:135; C. Hugh-Jones 1979: 155; S. Hugh- Jones 1979: 192 apud Mahecha, 2004, 189). O jurupari de homem associa-se ao pensamento dos homens. O jurupari de mulher, aos pensamentos de mulher. São suas fontes de poder, igualmente daninhas e contaminantes ao outro. Quando bem cuidados na menstruação ou iniciação,

94 Segundo Arturo Makuna, “mujeres que tienen más pensamiento porque, hace su comida, ralla yuca, hace manicuera, hace cazabe, cocinar pescado, arrancar yuca, siembra yuca, deshierba la chagra, ¿qué es lo que no hace la mujer? Mujer es que más piensa, por la mujer es que uno vive, porque sin mujeres, uno no vive... mujeres lo que no piensan, es las oraciones, no piensan hacia el futuro como imaginación, o alguna adivinanza por ahí, y cómo va hacia el futuro, hay mujeres que piensan, también, sí, piensan, pensadoras.” (Mahecha, 2004: 120).

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acrescentam força e vigor a seus próprios corpos e demais. Mas exigem muito zelo, pois podem afetar e danificar pensamentos e capacidades uns dos outros.

O sangue feminino que significa força da mulher, exige que o benzedor que vai tratá- la esteja bem protegido. O sangue e calor femininos aparecem como substâncias contaminantes, assim como plantas e animais também possuem substâncias contaminantes desde a origem do mundo ou as adquirem na cadeia trófica, alvo justamente dos benzimentos de comida, bare keare, “curar comida” (Mahecha, 2004: 118): yarige

base ekare, em tuyuka. O calor do seu corpo pode se impregnar também nos objetos

rituais de um benzedor. Se impregnados, devem ser limpos para não afetar os moradores da maloca. E não se trata apenas de questões rituais, há também uma série de práticas cotidianas voltadas para preparar homens e mulheres nesse sentido e evitações.

Mas os perigos95 e restrições em foco neste documento compõem e se distinguem

daqueles dos documentos anteriores. Ela não pode nem ver a flauta, nem participar de conversas sobre estes saberes, ler a respeito ou pronunciar seus nomes. A mulher menstruada também não pode ser vista por conhecedores, nem se aproximar dos iniciandos, muito menos preparar sua comida, preferencialmente feita por mulheres mais velhas que já não mais menstruam.

Como dizia Maia, “nos contaminamos não só consumindo alimentos mas quebrando outras regras de conduta, ou até simplesmente por penetrar na florestas ou navegar no rio” (2009: 184). O que se tem, acumula e cultiva digamos, é porque sua direção espiritual do pensamento (segundo Goldman) ou intenção está voltada ao exterior e é afetada pelo contato com suas substâncias e capacidades (da alimentação, do corpo feminino). Sendo a aproximação do conhecedor a mulheres menstruadas, vedada em ambientes rituais ou cotidianos; assim como a aproximação das mulheres aos poderes dos conhecedores (especialmente a flauta sagrada).

Mulheres, como mãe da fartura de alimentos e mãe de seus próprios filhos, zelam por suas diferenças produtivas (que se falava no terceiro documento) e para não afetá- los, evitanto aproximação quanto menstruadas, sobretudo na Casa em festa. Do contrário, há grande perigo. Kamowayare ou yawisire96 evidenciam os poderes destrutivos da alimentação e da menstruação, conseqüências destrutivas da quebra de dietas em geral e

95 Ver Paulo Maia (2009: 202) quando cita artigo de Nicolas Journet (2006).

96 Segundo Gire, são sinônimos, significam a mesma coisa. Indica certa sobreposição entre perigos decorrentes da alimentação (ya-wisire) e perigos decorrentes dos poderes reprodutivos (kamo-wayare) masculinos e femininos, a seus respectivos pensamentos.

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de restrições sexuais. São os perigos relativos aos respectivos poderes e capacidades de homem e de mulher. Ainda segundo Catarina Borges:

O corpo, a alma, o poder da mulher é seu trabalho. Por isso as mulheres não poderiam ver masak¡ra. Vendo, morreriam rapidamente.

Antigamente era muito perigoso.

As mulheres já não participavam mais das conversas sobre certos saberes mais importantes,

porque as mulheres não são benzidas com masak¡ra. Elas são diferentes.

Os homens têm poder e alma de masak¡ra. As mulheres têm vida de sua produção.

Têm vida diferente. Benze diferente poder e alma das mulheres.

Na Casa de Festa de iniciação dos homens, as mulheres (que menstruam) estavam ausentes.

A moça nova ou mulher sem menstruação é que prepara a comida aos iniciantes, porque ela não tem aquele pitiú (moãsusure).

Se tivesse, os iniciandos ao comer alimento preparado por ela, adoeceriam da fraqueza wisire (wisiri hirã).

Sangue feminino e flautas sagradas masculinas também existem como forças destrutivas.

Isso é [sobre] iniciação, menstruação, nascimento de filho... O benzedor que benze isso para uma pessoa,

ele também tem que fazer dieta...

O que benze para a moça inicianda (kamo),

Ele, como benzedor, tem que resguardar um pouco...

O próprio benzedor pode benzer para poder tomar banho e comer. Se ele não fizer isso, ele mesmo vai morrer.

Por isso ele mesmo pode benzer ou pode pedir para outro benzedor.

Antigamente tinha dois, um que rezava para a menina, e o outro rezava para o benzedor que estava rezando para a menina.

Eles sempre trabalhavam juntos. Assim que rezava antigamente.

Diz-se que vários saberes mais importantes relacionados tanto aos nomes de benzimento, como aos lugares de origem de conhecimentos e bens mais importantes, deveriam ser mantidos em segredo. A evitação de mencioná-los acontece porque sua invocação potencializaria seu uso tanto para propósitos benéficos quanto maléficos. Uma jovem me disse certa feita que, quando está menstruada, corre grande perigo passando por certos lugares sagrados, ou tomando banho no rio. Se ela contar ao marido que está menstruada, correrá riscos ainda maiores. Se não contar (não mencionar, não falar, nada pronunciar sobre seu estado), então estes seres (agressivos) não são sobreavisados: assim não sabem, não a vêem e não a agridem. Mencionar a menstruação ao marido já serviria de alerta aos agressores. Daí porque muitas moças evitam falar, segundo ela, que

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estão menstruadas. Algumas não evitam aproximação maior aos homens e vulnerabilizam os conhecedores e saberes que portam.