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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS DIREITO ELEITORAL PROFESSOR ALDO SABINO ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA CURSO PREPARATÓRIO

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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA CURSO PREPARATÓRIO

DIREITO ELEITORAL

PROFESSOR ALDO SABINO

Totalmente revista à luz dos novos entendimentos do TSE Atualizada até 05 de novembro de 2011 Incluindo, além de testes, várias indicações pertinentes à Lei 12.034/2009 e à Lei Complementar 135/2010 (“ficha limpa”).

(2)

Currículo do autor

a) Graduação:

Bacharel em direito pela Universidade Católica do Estado de Goiás (conclusão em 1997).

b) Pós-graduação:

Especialista em Direito Civil e em Direito Processual Civil pela Faculdade Anhanguera (conclusão em 2002).

c) Atividade Profissional:

Na área privada, é professor da Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás (Direito Processual Civil e Direito Eleitoral), e professor na pós-graduação da Universo (Direito Processual Civil, concentração na área de Recursos Cíveis e de Execução), bem como na pós-graduação em Direito Processual Civil na Universidade Federal de Goiás e na Uni-Evangélica (Anápolis).

Na área pública, após concurso público, exerceu o cargo de Promotor de Justiça no Estado de Goiás de 1997 a 1999, quando logrou aprovação em certame para ingresso na magistratura do mesmo Estado.

Atualmente, é Juiz de Direito titular do 2o Juizado Especial Cível da Comarca de Anápolis e Presidente da 2ª Turma Recursal Mista da 3ª Região do Estado de Goiás.

Já exerceu por vários anos a função de Promotor Eleitoral e de Juiz Eleitoral nas zonas eleitorais de Formoso-GO, de Minaçu-GO, de Fazenda Nova-GO e de Abadiânia-GO; atualmente é Juiz Eleitoral na 144ª Zona Eleitoral (Anápolis).

d) Obras Jurídicas Publicadas:

É autor das obras jurídicas “Manual de Processo Civil” (AB Editora, 2ª Edição, 2008) e “Direito Processual Penal” (IEPC Editora, 2ª Edição, 2006).

(3)

Sumário breve:

Capítulo I – Introdução...05

Capítulo II – Direitos Políticos...11

Capítulo III – Sufrágio...36

Capítulo IV – Justiça Eleitoral...44

Capítulo V – Organização do Eleitorado...51

Capítulo VI – Registro de Candidaturas e as Ações Eleitorais de Impugnação...55

• Ação de impugnação de pedido de registro de candidatura...61

• Investigação judicial eleitoral...66

• Ação de impugnação de mandato eletivo...72

• Ação de captação de sufrágio...78

• Recurso contra a diplomação...82

• Ação eleitoral inominada (captação e gastos ilícitos)...83

Capítulo VII – Propaganda Política...84

Capítulo VIII – Votação...93

Capítulo IX – Apuração...101

Capítulo X – Diplomação...105

Capítulo XI – Garantias Eleitorais...107

(4)

Capítulo XIII – Crimes Eleitorais...140

Capítulo XIV – Processo Penal Eleitoral...126

Capítulo XV – Recursos Eleitorais e Ações Autônomas de Impugnação...135

(5)

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1. NOÇÕES:

Direito Eleitoral é o ramo do direito público constituído do conjunto de normas que se destinam a regular o exercício dos direitos políticos, entendidos estes como o direito de votar e de ser votado (art. 1o do Código Eleitoral), bem como a distribuição do corpo eleitoral e a organização do sistema eleitoral.1

Para Roberto Moreira de Almeida, o Direito Eleitoral constitui “ramo do Direito Público constituído por normas e princípios disciplinadores do alistamento, do registro de candidatos, da propaganda política, da votação, da apuração e da diplomação dos eleitos, bem como das ações, medidas e demais garantias relacionadas ao exercício do sufrágio popular”.2

O Direito Eleitoral encontra-se regulamentado na Constituição Federal (arts. 14-17, 56, 118-121 etc.); no próprio Código Eleitoral (Lei n. 4.737/1965); na Lei Complementar n. 64/1990 (“Lei de Inelegibilidades”); na Lei 9.096/1995 (“Lei dos Partidos Políticos”), na Lei n. 9.504/1997 (conhecida como “Lei Eleitoral”) entre outras, incluindo as diversas resoluções baixadas com bastante freqüência pelo Tribunal Superior Eleitoral.3

2. O CÓDIGO ELEITORAL (Lei 4.737/1965):

O principal diploma que regula o Direito Eleitoral, ao lado naturalmente da Constituição Federal e da Lei 9.504/1997, é o Código Eleitoral (Lei

4.737/1965), que contém 383 artigos e traz as disposições básicas sobre alistamento, voto,

eleições, apuração, diplomação, crimes eleitorais, procedimento criminal eleitoral etc. Deve-se, todavia, manter atenção permanente em sua interpretação, posto que várias de suas normas estão, hoje, revogadas, expressa ou tacitamente, total ou parcialmente, pela legislação posterior. Cito como exemplos os arts. 5º, inc. I;4 22, inc. I, al. ‘d’;5 25, incisos II e III;6 327 entre outros).

1

(MP/PI, Promotor de Justiça) Assinale a alternativa incorreta. É objeto do Direito Eleitoral: (a) a distribuição do corpo eleitoral (divisão do eleitorado em circunscrição); (b) a organização do sistema eleitoral (sufrágio universal ou restrito); (c) ditar as normas que se devem cumprir quanto à forma (voto secreto ou público, cédula individual ou única), quanto à mecânica de representação proporcional; quanto às regras sobre aquisição e perda da capacidade; (d) o processo eleitoral propriamente dito (conjunto de atos, desde a organização e distribuição de mesas receptoras de votos, a realização e apuração das eleições, até o reconhecimento e diplomação dos eleitos, que se desenvolve perante os Juizados Criminais); (e) a especialização do conjunto normativo pertinente às eleições majoritárias e proporcionais (alternativa “d” é a

incorreta, já que a diplomação dos eleitos se dá perante as Juntas Eleitorais, ao TRE ou ao TSE, conforme o caso, e não diante dos Juizados Criminais).

2

Curso de direito eleitoral, Editora Jus Podium, 2010, p. 37. 3

Resoluções estas que tem força de lei geral, conforme reconheceu o próprio Tribunal Superior Eleitoral no Rec. n. 1.943/RS.

4

O art. 5o, inciso I, prevê a proibição do alistamento do analfabeto, quando se sabe que atualmente o mesmo tem a faculdade de se alistar, ou não, nos termos do art. 14, § 1o, inciso I, alínea ‘a’, da Constituição Federal. 5

Este dispositivo atribui competência originária ao Tribunal Superior Eleitoral para julgamento de infrações penais praticadas por seus membros e pelos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais, mas pela nova disciplina constitucional competirá ao STF o processo e julgamento dos membros de Tribunais Superiores (CF, art. 102, inciso I, alínea ‘c’) e ao STJ o referente aos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais (CF, art. 105, inciso I,’a’) (Almeida, Curso, p. 138).

(6)

Aliás, a própria colheita do voto e a sua apuração pela via eletrônica (regra quase absoluta na atualidade) estão reguladas fora do Código Eleitoral, mais precisamente na Lei 9.504/1997 (“Lei Eleitoral”). O Código Eleitoral apenas cuida da votação e da apuração das eleições pelo chamado “voto manual” (votação tradicional).

O Código Eleitoral, embora editado através de lei ordinária, foi recepcionado pela nova ordem constitucional como lei complementar no que tange à “organização e competência” da Justiça Eleitoral (CF, art. 121, caput).8

Em decorrência disso, “a lei que regulamenta as eleições é ordinária, mas qualquer alteração no Código Eleitoral no rol de competências da Justiça Eleitoral só pode ser feita por lei complementar, a exemplo da Lei Complementar n. 86, de 14.05.1996, que acrescentou a alínea ‘j’ ao inciso I do art. 22, instituindo a ação rescisória no processo eleitoral, como sendo de competência do Tribunal Superior Eleitoral”.9

3. A LEGISLAÇÃO ELEITORAL (como um todo):

Além do Código Eleitoral (comentado rapidamente no tópico anterior), o Direito Eleitoral é previsto e regulado na Constituição Federal, tendo ela reservado a este ramo do direito, dentre outros, os seus arts. 14-17 e 118-121.

Temos também vários outros diplomas de grande relevo e que também são responsáveis pela disciplina dos chamados “direitos eleitorais positivos e negativos”.

Refiro-me aqui mais especificamente (a) à Lei Complementar 64/1990 (“Lei de Inelegibilidades”), (b) à Lei 9.096/1995 (“Lei Orgânica dos Partidos Políticos” ou “Lei dos Partidos Políticos”) e (c) à Lei 9.504/1997 (“Lei Geral das Eleições” ou “Lei Eleitoral”).

Convém lembrar que a edição de normas eleitorais é de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso I), tratando-se, em geral, de normas cogentes (ou seja, de ordem pública), mas que, reiteradamente, necessitam de buscar subsídios em outras leis penais, processuais civis e processuais penais, como ocorre nas situações tratadas nos arts. 20, 287 e 364, todos do Código Eleitoral.

Outrossim, já se deve ter em mente, como aspecto introdutório, que a lei que alterar o processo eleitoral – como aquelas que dispõem sobre convenções, inelegibilidades, incompatibilidades, número de candidatos, registro de candidatos etc – entrará em vigor na data de sua publicação, mas não se aplicará à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência10 (CF, art. 16).11

6

Alude a “Tribunal Federal de Recursos” (inciso II) e a “cidadãos” (inciso III), expressões substituídas por “Tribunal Regional Federal” e “advogados” (CF, art. 120, incisos II e III).

7

Refere-se à proibição, hoje inexistente, de o Juiz Substituto funcionar como Juiz Eleitoral (Lei Complementar 35/1979, art. 22, § 2o).

8

Nesse sentido: Resolução 14.150, de 23.08.1994. 9

Ary Ferreira de Queiroz, Direito eleitoral, p. 36. 10

(MPF, Procurador da República, 17º Concurso) A lei que alterar o processo eleitoral: (a) entrará em vigor na data de sua publicação, retroagindo apenas para beneficiar as candidaturas já registradas na Justiça Eleitoral; (b) terá vigência imediata, valendo para as eleições em curso de forma isonômica para todos os Partidos Políticos; (c) entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até

(7)

Segundo Torquato Jardim, caso haja a edição de lei nova dentro do prazo mencionado terá a mesma vigência, mas não eficácia; sua normatividade ficará “suspensa em razão do interesse público relevante de não se alterarem as regras uma vez iniciado o processo político eleitoral”.12

É certo, todavia, que o Supremo Tribunal Federal pelo menos em duas ocasiões determinou a aplicação imediata de regras editadas no ano eleitoral; refiro-me à interpretação da à Lei 11.300/2006 (aplicada ao pleito de 2006) e à LC 135/2010 (“ficha-limpa”, incidente, em princípio, ao pleito de 2010, com ulterior afastamento da aplicação pelo mesmo tribunal, já no ano de 2011), que serão examinadas com mais profundidade em outro capítulo deste trabalho.

Há ainda várias resoluções do Tribunal Superior Eleitoral e terminam tendo importância no dia-a-dia do operador de Direito Eleitoral. Aliás, são dezenas de resoluções editadas a cada ano eleitoral pelo Tribunal Superior Eleitoral, daí porque a menção a elas será feita apenas quando absolutamente essencial, até porque, em geral, elas se limitam a reiterar e a especificar aquilo que já consta nas leis federais citadas (estas sim, realmente importantes para o estudo voltado aos concursos públicos para a magistratura estadual).

4. O PODER NORMATIVO ELEITORAL:

Como dito no tópico anterior, é comum notarmos em cada ano eleitoral que o TSE exerce um evidente e incomum poder normativo, com vistas a implementar e a possibilitar a realização do chamado processo eleitoral.

Esse poder normativo do TSE é exercido (a) através da expedição de instruções para execução do pleito eleitoral (resoluções gerais), nos termos da autorização contida nos arts. 1º, parágrafo único, e 23, inciso IX, do Código Eleitoral, e (b) através de resposta a consultas que lhe forem formuladas em tese sobre matéria eleitoral, por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político (CE, art. 23, inciso XII).13

Ambas dão ensejo à edição de uma resolução, mas as “resoluções que veiculam instruções têm efeito vinculante para os demais órgãos da Justiça Eleitoral, característica que não têm as instruções decorrentes das consultas”,14 conforme entendeu o próprio STF na ADI n. 1.805-DF (Rel. Min. Gilmar Mendes), ao julgar a mesma improcedente (“Não conhecimento da ação direta de inconstitucionalidade, no que

um ano da data de sua vigência; (d) deverá sempre aprimorar o regime democrático sob pena de inconstitucionalidade moral (a alternativa “c” é a correta no gabarito oficial; CF 16).

11

(MPF, Procurador da República, 19ª Concurso) A lei que alterar o processo eleitoral: (a) terá vigência imediata, aplicando-se às eleições em curso e às que venham a ser realizadas em breve, se já escolhidos os candidatos em convenções partidárias; (b) somente entrará em vigor um ano após sua promulgação; (c) não prejudicará o recurso cabível, segundo a Constituição, para o Tribunal Superior Eleitoral, de decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais que anulem diplomas ou versem sobre inelegibilidade nas eleições municipais; (d) entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência (a alternativa “d” é a correta; sugere-se a releitura do art. 16 da Constituição Federal). 12

Torquato Jardim, Direito eleitoral positivo, p. 115. 13

Ary Ferreira de Queiroz, p. 37. 14

(8)

concerne às Resoluções referidas do TSE, em respostas a consultas, porque não possuem a natureza de atos normativos, nem caráter vinculativo”).

A resolução do TSE, assim, geralmente, tem força de lei ordinária, no que dois problemas surgem (a) o primeiro referente à aplicabilidade ou não do princípio da anterioridade (CF, art. 16) e (b) o segundo alusivo à necessidade de lei complementar para tratar de organização e competência da Justiça Eleitoral (CF, art. 121).

Resolvendo esta questão controvertida, como as resoluções apenas preenchem espaços vazios e esclarecem pontos obscuros (as resoluções não criam regra genérica nova, ao menos essa é a vertente sugerida pelo art. 1º, parágrafo único, do

Código Eleitoral), não há aplicabilidade do art. 16, da Constituição Federal, e nem há

violência ao art. 121, da mesma (as resoluções não criam ou alteram competências da Justiça Eleitoral).

5. A JUSTIÇA ELEITORAL:

A Justiça Eleitoral foi instituída com o advento do Código Eleitoral de 1932,15 mas a primeira Constituição que a previu foi a de 1934 (art. 63). Foi extinta em 1937 e, em seguida, recriada através do Decreto-lei 7.586, de 28 de maio de 1945.

Atualmente, nossa Justiça Eleitoral faz parte da Justiça Federal Especializada, compondo-se (a) de Juntas Eleitorais, (b) de Juízos Eleitorais, (c) de Tribunais Regionais Eleitorais e (d) do Tribunal Superior Eleitoral (CF, art. 118).

6. O EXERCÍCIO DO PODER:

6.1. EXERCÍCIO DIRETO DO PODER:

Sabe-se que o Direito Constitucional Brasileiro consagra a tese segundo a qual a democracia é exercida, em regra, indiretamente (através de representantes eleitos), contudo, existem casos específicos em que o povo exerce diretamente o poder.

Diz-se, então, que a Constituição Federal de 1988 acolheu o sistema de “democracia semidireta” (art. 1º, parágrafo único),16 já que todo poder emana do povo, “que o exerce por meio de representantes eleitos” (exercício indireto do poder) ou diretamente, por meio do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular (exercício

direto do poder).

De conformidade com o que dispõe o art. 14, da Constituição Federal, extrai-se efetivamente que a “soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular”, institutos que têm sua regulamentação infraconstitucional na Lei 9.709/1998.

Em síntese, (a) o plebiscito poderia ser conceituado como uma consulta popular anterior a determinado ato; (b) o referendo, como uma condição posterior de validade de um ato de Estado (uma consulta ulterior ao ato) e (c) a iniciativa

15

Antes do advento do Código Eleitoral de 1932, a apuração de eleições era feita através do chamado “Sistema de Aferição de Poderes”, conduzido e presidido pelo Poder Legislativo.

16

(9)

popular, como o poder de o próprio povo deflagrar o processo legislativo (CF, art. 61, §

2o).

De acordo com o § 1o do art. 2o, da Lei 9.709/1998, (a) o “plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido”.

Já (b) referendo, nos termos do art. 2o, § 2o, da Lei 9.709/1998, “é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição”; pode ele, então, funcionar como condição suspensiva (para conceder eficácia ao ato) ou como condição resolutiva (para retirar-lhe a eficácia).17

Enfim, (c) a “iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles”.

Por serem mais ligados ao Direito Constitucional, esses institutos não serão abordados com profundidade neste trabalho, sugerindo-se ao leitor que busque subsídios nas obras especializadas, como as de Alexandre de Moraes (Direito

constitucional. São Paulo: Atlas) e de José Afonso da Silva (Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros).

6.2. EXERCÍCIO INDIRETO DO PODER:

De outro lado, como dito acima, o exercício indireto do poder (através de representantes eleitos) é a regra geral em nosso sistema, sendo certo que este poder indireto se materializa através do sufrágio (objeto do Direito Eleitoral), que é o modo de escolha dos representantes da sociedade.

7. A NACIONALIDADE:

Nacionalidade é o vínculo de uma pessoa a determinado território pelo nascimento (nacionalidade originária ou primária) ou por naturalização (nacionalidade secundária ou adquirida).

O critério adotado pela Constituição Federal de 1988 para efeito de atribuição de nacionalidade originária foi o do jus soli (critério territorial),18 com algumas mitigações relativas ao jus sanguinis (critério sanguíneo).19

A nacionalidade, sob a ótica do Direito Eleitoral, como se verá, é uma das condições necessárias ao nascimento da capacidade política passiva, ou seja, a capacidade para concorrer a mandatos eletivos (CF, art. 14, § 3º, inc. I), daí a sua abordagem neste tópico introdutório.

17

Alexandre de Moraes, Direito constitucional, 2006, p. 212. 18

CF, art. 12, inciso I, alínea ‘a’ (“os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de países estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país”).

19

CF, art. 12, inciso I, alíneas ‘b’ (“os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil”) e ‘c’ (“os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”).

(10)

8. A CIDADANIA:

Cidadania é atributo político decorrente do direito de participar no governo e de ser ouvido pela representação política, correspondendo ao direito de votar (capacidade política ativa) e de ser votado (capacidade política passiva).

Como se percebe, a cidadania é dotada de duas dimensões (ela é

bidimensional), (a) a ativa, “que se traduz na capacidade pessoal de compartilhar do

exercício do sufrágio”, e (b) a passiva, “que se traduz em ter legítimo acesso a cargos públicos, não significando apenas os cargos de provimento eletivo, expresso no direito de disputar o sufrágio para obtenção de mandatos representativos”.20

Trata-se de atributo exclusivamente obtido através do alistamento eleitoral, somente sendo passível de perda ou suspensão (nunca de cassação) nos casos previstos pela Constituição Federal (art. 15).

São conseqüências da atribuição de cidadania (a) o direito de votar e, conforme o caso, de ser votado, (b) a legitimidade para propor ação popular (Lei n. 4.717/1965), (c) a possibilidade de inscrição em concursos públicos, (d) a participação franqueada em concorrências públicas entre várias outras (art. 7o, § 1o, do Código Eleitoral).

20

(11)

CAPÍTULO II – DIREITOS POLÍTICOS

1. NOÇÕES:

Os denominados “direitos políticos” constituem um conjunto de normas e princípios que regulam a atuação da soberania popular.

Para Alexandre de Moraes os direitos políticos são “direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado, de maneira a conferir atributos da cidadania”.21

Os direitos políticos emanam do parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal,22 pois como assevera José Afonso da Silva, eles “garantem a participação do povo no poder de dominação”.23

Subdividem-se os direitos políticos (a) em positivos, que abrangem o direito de votar, o direito de ser votado (ligado ao preenchimento das condições de elegibilidade) e o de participar na vontade política e (b) negativos, que constituem restrições aos direitos políticos, abrangendo as inalistabilidades, as inelegibilidades e a privação de direitos políticos (ou seja, a suspensão e a perda de direitos políticos), conforme veremos separadamente.

Nos termos da lei eleitoral, as “condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro de candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade” (Lei 9.504/1997, art. 11, § 10).

2. DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS:

Os direitos políticos positivos, como se adiantou, abrangem o direito de votar e de ser votado (capacidade eleitoral ativa e passiva, respectivamente)24 e, ainda, o direito de participar na vontade política da nação (através do plebiscito e do referendo).

Com vistas a assegurar justamente esses direitos políticos positivos existem garantias fundamentais, tais como: (a) o direito de sufrágio, em seus dois aspectos (ativo e passivo), (b) os sistemas eleitorais (conjunto de técnicas que se empregam para organizar a representação do povo no território nacional, através dos critérios majoritário e proporcional) e (c) os procedimentos eleitorais (alistamento, votação e apuração).

2.1. CAPACIDADE POLÍTICA ATIVA:

21

Direito constitucional, 19ª edição, 2006, p. 207. 22

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

23

Curso de direito constitucional positivo, p. 349. 24

(MP-MT, Promotor de Justiça) Ao inscrever-se como candidato a determinado cargo eletivo, o

indivíduo: (a) exerce um direito político ativo; (b) exerce um direito político positivo; (c) ambas alternativas

(12)

A capacidade política ativa, que se materializa na prática pelo nascimento do direito de votar, inicia-se com o alistamento eleitoral, passando, o alistando, a ser titular do status de cidadão.

2.1.1. CAPACIDADE POLÍTICA ATIVA OBRIGATÓRIA:

O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para as pessoas maiores de 18 (dezoito) anos e menores de 70 (setenta) anos de idade, desde que alfabetizadas (CF, art. 14, § 1o, incisos I e II).

Observe-se, por oportuno, que o brasileiro nato deve alistar-se até os 19 (dezenove) anos (como explicaremos abaixo) e o naturalizado no prazo de 1 (um) ano a contar da aquisição da nacionalidade brasileira (CE, art. 8o, caput).

O descumprimento da obrigação indicada – do dever de alistamento nos prazos legais – dará ensejo à aplicação de multa (e demais restrições previstas no art. 7o, § 1o, do Código Eleitoral, comentadas acima), salvo, quanto ao brasileiro nato, se requerer sua inscrição eleitoral antes dos cento e cinqüenta dias

anteriores à eleição subseqüente à data em que completar 19 (dezenove) anos (CE, art.

8º, parágrafo único c/c Lei 9.504/1997, art. 91).

2.1.2. CAPACIDADE POLÍTICA ATIVA FACULTATIVA:

A capacidade política ativa facultativa toca (a) aos analfabetos, (b) aos maiores de setenta anos de idade, (c) aos maiores de dezesseis (na data da eleição) e menores de dezoito anos (CF, art. 14, § 1º, inciso II), (d) aos inválidos e (e) aos que estiverem fora do país (CE, art. 6º, inciso I).

Registre-se que somente se exige os dezesseis anos completos, para efeito de alistamento, na data do pleito, sendo lícita, portanto, a formulação de pedido quando o pretendente encontra-se com quinze anos, desde que faça dezesseis antes do pleito eleitoral (Resolução-TSE 21.538/2003, art. 14, caput); mas o título emitido nessas condições “somente surtirá efeitos com o implemento da idade de 16 anos” (art. 14, § 2º do diploma citado).

Enfim, como se sabe, as pessoas que se encontram em alguma dessas condições (CF, art. 14, § 1º e CE, art. 6º, inciso I) têm a mera faculdade de se

alistar e, se já alistados, também têm o poder de decidir se querem, ou não, exercer o direito de voto, sem que se imponha qualquer sanção por sua omissão.

2.2. CAPACIDADE POLÍTICA PASSIVA:

Para concorrer a qualquer cargo eletivo é mister que o candidato tenha “capacidade política passiva”.

A “capacidade política passiva” exige, para sua implementação, o preenchimento de todos os requisitos previstos na Constituição Federal (e excepcionalmente em Lei Complementar ou em Lei Ordinária).

Esses requisitos, chamados de “condições de elegibilidade”, são estabelecidos, genericamente, no art. 14, § 3º, da Carta Magna.

(13)

São, pois, condições de elegibilidade (a) a nacionalidade brasileira, (b) o pleno exercício dos direitos políticos, (c) o alistamento eleitoral, (d) o domicílio eleitoral na circunscrição, (e) a filiação partidária e (f) a idade mínima, temas que serão analisados a seguir, separadamente.25

Por outra ótica, não possuem capacidade política passiva os inalistáveis (conceito que abrange o estrangeiro e o conscrito, nos termos do art. 14, § 2o, da Carta Magna) e os analfabetos (CF, art. 14, § 4º).

Passemos, então, à análise de cada uma dessas condições para que alguém possa concorrer a um cargo eletivo, lembrando-se que sua aferição de ter por parâmetro o momento da formalização do pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade (Lei 9.504/1997, art. 11, § 10).

2.2.1. NACIONALIDADE BRASILEIRA:

Para se candidatar, segundo a Constituição Federal, a pessoa deve deter a nacionalidade brasileira por nascimento (nacionalidade originária) ou por naturalização (nacionalidade derivada), salvo em se tratando de concorrente aos cargos

de Presidente e Vice-Presidente da República, que somente poderão ser ocupados por brasileiros natos, nos termos do art. 12, § 3o, inciso I, da Magna Carta.26

Admite-se, porém, a candidatura de português com residência permanente no Brasil, desde que tenha adquirido os direitos de brasileiros previstos no “estatuto da igualdade”,27 conforme prescreve o art. 12, § 1º, da Constituição Federal e o Decreto n. 70.391/1972.

Conclui-se, assim, que o português detém um status idêntico ao do brasileiro naturalizado para efeito de exercício de direitos políticos.

Veja-se ainda que o gozo de direitos políticos “por portugueses no Brasil e por brasileiros em Portugal só será reconhecido aos que tiverem cinco anos de residência permanente e dependente de requerimento à autoridade competente” (Ministro

da Justiça, no Brasil); mas a igualdade quanto aos direitos políticos não abrange as

25

(MPF, Procurador da República, 17º Concurso) São condições de elegibilidade: (a) o registro de candidatura, a intensa propaganda eleitoral e a obtenção de votos, (b) o alistamento eleitoral, a filiação partidária e o domicílio eleitoral na circunscrição; (c) aquelas estabelecidas em lê complementar, a fim de proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato; (d) as que, nos termos do Código Eleitoral, são estabelecidas por Resolução do Tribunal Superior Eleitoral (a alternativa “b” é a

correta, nos termos do art. 14, § 3º, da Constituição Federal).

26

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 63) Relativamente à nacionalidade brasileira é

correto afirmar que: (a) Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que houver colaborado com

atividade nociva ao interesse nacional, desde que assim o reconheça sentença judicial; (b) São privativos de brasileiro nato os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, de Presidente da Câmara dos Deputados, de Presidente do Senado Federal, de Ministro do Supremo Tribunal Federal, da carreira diplomática, de oficial das Forças Armadas e do Ministro de Estado da Justiça; (c) São brasileiros natos os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros que estejam a serviço de seu país; (b) Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro, nato ou naturalizado, que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (a alternativa “d” é a

correta, nos termos do art. 12 da Constituição Federal).

27

(14)

pessoas que no Estado da nacionalidade, houverem sido privadas de direitos equivalentes e, além disso, o gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade (Decreto n. 70.391/1972, art. 7º).

2.2.2. PLENO EXERCÍCIO DOS DIREITOS POLÍTICOS:

Naturalmente, estarão excluídos da participação no pleito eleitoral, não podendo concorrer a cargos políticos, aqueles que tiveram seus direitos políticos suspensos ou perdidos na forma do art. 15, da Constituição Federal.28

Desta sorte, o pretendente a um cargo eletivo deverá demonstrar à Justiça Eleitoral estar em pleno gozo de seus direitos políticos, o que será feito através da exibição da certidão de quitação eleitoral e das certidões criminais negativas da Justiça Comum Estadual, da Justiça Comum Federal e da Justiça Eleitoral, nos termos do art. 11, incisos VI e VII, da Lei 9.504/1997.

Este assunto será tratado mais adiante com a merecida profundidade.

2.2.3. ALISTAMENTO ELEITORAL:

O alistamento, que é regulamentado pelo Código Eleitoral (arts. 42 a 50) e por diversas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, consiste no cadastramento da pessoa física, com idade não inferior a 16 (dezesseis) anos, junto aos quadros da Justiça Eleitoral, outorgando-se à mesma o “Título de Eleitor”.

Em outras palavras, trata-se de um “procedimento administrativo, instaurado perante os órgãos competentes da Justiça Eleitoral, visando à verificação do cumprimento dos requisitos constitucionais e das condições legais necessárias à inscrição como eleitor”.29

O alistamento no Direito Eleitoral objetiva, em síntese, inscrever o eleitor num cadastro nacional, qualificá-lo para perfeito conhecimento e, principalmente, controlar do exercício do voto.

O alistamento tem vários efeitos, dentre eles, (a) criar a condição de eleitor (e de cidadão), (b) definir o número de deputados (Lei Complementar 79/1993) (c) estabelecer o marco inicial do domicílio eleitoral para efeito de elegibilidade30 e (d) criar eventual obrigatoriedade de segundo turno em eleição municipal (Lei 9.504/1997, art. 3º).

O alistamento eleitoral deverá ser feito em período anterior a 150 (cento e cinqüenta) dias da respectiva eleição (Lei 9.504/1997, art. 91), sendo certo que

28

“É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II – incapacidade civil absoluta; III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos; IV – recusa a cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º”.

29

Alexandre de Moraes, Direito constitucional, 19ª edição, 2006, p. 209. 30

(15)

durante esse prazo o cadastro eleitoral fica “fechado” até o fim dos trabalhos da junta eleitoral, em data previamente marcada no calendário eleitoral.

2.2.4. DOMICÍLIO ELEITORAL:

O domicílio eleitoral é “o lugar de residência ou moradia” do pretendente, e, verificando ter o mesmo “mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas” (CE, art. 42, parágrafo único).

É fácil constatar, portanto, que o domicílio eleitoral não se confunde necessariamente, nem com o domicílio civil (CC, art. 70) – o domicílio eleitoral pode ser bem mais singelo que este –; nem com o domicílio penal (CP, art. 150, § 4º) – o domicílio eleitoral é um pouco mais exigente que o penal.

O domicílio eleitoral não se confunde mesmo com o domicílio civil (CC, art. 70), porque somente exige o elemento objetivo (residência) – e às vezes até nem isso –, dispensando o subjetivo (ânimo definitivo). Além disso, qualquer vínculo profissional (exs.: manutenção de uma empresa, prestação de serviço de medicina etc.), patrimonial (ex.: propriedade rural ou urbana) ou comunitário (exs.: participação de comunidade religiosa, auxílio em festas populares e folclóricas etc.) do eleitor já é suficiente para caracterização do domicílio eleitoral.31

Fala-se ainda em “domicílio histórico” (sentimental ou afetivo). É que como não existe em Direito Eleitoral transferência obrigatória, será por isso possível (e lícito) que o eleitor altere seu domicílio, mas mantenha seu título eleitoral vinculado ao domicílio anterior, mesmo sem que haja a ligação jurídica mencionada (profissional, patrimonial ou comunitária).32

O domicílio na circunscrição (município ou estado), para efeito de implementação da condição de elegibilidade, é exigido pela norma eleitoral por pelo menos um ano antes do pleito (Lei 9.504/1997, art. 9º).

2.2.5. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA:

Também é exigida, como condição de elegibilidade, a “filiação partidária” do pretenso candidato por pelo menos um ano antes do pleito (Lei 9.096/1995, art. 18 e Lei 9.504/1997, art. 9o, caput), ressalvados os casos dos magistrados, membros do Ministério Público, membros de Tribunais de Contas e militares, que são dispensados de tal dever prévio.33

Não se admite no Brasil, de conseguinte, a chamada “candidatura avulsa”, que é aquela concretizada sem prévia filiação do candidato a um partido político.34

31

TRE-GO, Processo n. 57/2000. 32

Michels, p. 17, citando Tupinambá Nascimento. 33

“Magistrados e membros dos Tribunais de Contas, por estarem submetidos à vedação constitucional de filiação partidária, estão dispensados de cumprir o prazo de filiação fixado em lei ordinária, devendo satisfazer tal condição de elegibilidade até seis meses antes das eleições, prazo de desincompatibilização estabelecido pela Lei Complementar n. 64/90” (TSE, Pleno, Consulta 353-DF, Rel. Min. Costa Leite, DJU 21.10.1997).

34

Releva observar, apenas para efeito histórico, que o art. 84 da antiga Lei 48/1935 (“Código Eleitoral de 1935”) admitia a candidatura a requerimento de eleitores (Queiroz, Direito eleitoral, p. 74).

(16)

Até o ano de 2007 manteve-se no Direito Constitucional e Eleitoral Brasileiro a diretriz segundo a qual a alteração de partido durante o mandato não acarretava a perda do mandato; mas a partir da resposta à Consulta Eleitoral 1.398-DF (TSE, 29.03.2007) e do julgamento de improcedência da ADI 3.999-DF e 4.086-DF, a questão sofreu alteração, vindo o parlamentar que trocar de legenda ser suscetível de perda de seu mandato.35

Esta questão da perda do mandato no caso de troca de partido durante o mandato foi abordada por mim com a merecida atenção no capítulo alusivo aos Partidos Políticos, para onde se remete o leitor mais interessado.

2.2.6. IDADE MÍNIMA:

Não há limite quanto à idade máxima para ser candidato, mas a idade mínima, que será aferida na data da posse (Lei 9.504/1997, art. 11, § 2º),36 será (a) de 35 (trinta e cinco) anos para candidatura a Presidente, Vice-Presidente da República e Senador; (b) de 30 (trinta) anos para Governador e Vice-Governador do Estado ou do Distrito Federal; (c) de 21 (vinte e um) anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de Paz; e (d) 18 (dezoito) anos para Vereador (CF, art. 14, § 3o, inciso VI).37

Para Ary Ferreira de Queiroz, a regra que determina a aferição da

idade para candidatura na data da posse é inconstitucional, pois não se trata de “condição para a posse”, mas “condição de elegibilidade”, ou seja, um pré-requisito constitucional para a candidatura.38 O mesmo posicionamento externa Alexandre de Moraes ao citar a Resolução-TSE 14.371/1994 e o Recurso 3.420-GO de 1970, mas não é esta a posição que predomina na atualidade.39

35

Questão dos infiéis, Justiça precisa resolver problema da fidelidade partidária, Ronaldo Nóbrega Medeiros, Revista Consultor Jurídico, 27 de agosto de 2007.

36

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 74) A respeito do registro de candidatos, é

INCORRETO afirmar que: (a) Os candidatos à Câmara dos Deputados concorrerão com o número do

partido ao qual estiverem filiados, acrescidos de dois algarismos à direita; (b) Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até às dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições; (c) A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo como referência a data da eleição; (d) É facultado ao partido ou coligação, preenchidos os requisitos legais, substituir candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro ou, ainda, tiver seu registro indeferido ou cancelado; (e) Estão sujeitos ao cancelamento do registro os candidatos que, até a data da eleição, forem expulsos do partido, em processo no qual seja assegurada ampla defesa e sejam observadas as normas estatutárias (a alternativa “c” é a

incorreta à luz do art. 11, § 2º da Lei 9.504/1997).

37

(MP-MA, Promotor de Justiça) Acerca da elegibilidade é incorreto afirmar: (a) idade mínima de 35 anos para Presidente da República, Vice-Presidente e Senador; (b) idade mínima de 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e Deputado Federal; (c) idade mínima de 21 anos para Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; (d) Idade mínima de 18 anos para Vereador; (e) é privativo do brasileiro nato o cargo de Presidente da República (a alternativa “b” é a

incorreta, pois a idade mínima para concorrer ao cargo de deputado federal é de 21 anos, e não de 30 anos).

38

Queiroz, Direito eleitoral, p. 75. 39

(Magistratura-GO, 1998) A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de

elegibilidade é verificada tendo por referência: (a) A data da inscrição do candidato na Justiça Eleitoral;

(b) A data da escolha do candidato pelo partido; (c) A data da posse; (d) A data da eleição (no gabarito

(17)

2.2.7. ALFABETIZAÇÃO:

Para se candidatar, é mister também que o pretendente, além de preencher as condições de elegibilidade já examinadas, seja alfabetizado, como exige expressamente o art. 14, § 4º, da Constituição Federal, cuja redação é a seguinte:

“São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos”.40

Embora a Lei 9.504/1997 nada diga a respeito, as resoluções editadas pelo TSE (Resolução 23.221/2010, por exemplo) exigem a exibição do “comprovante de escolaridade” para fins de deferimento do pedido de registro (art. 26, inciso IV); a ausência de apresentação do comprovante de escolaridade, porém, poderá ser suprida por declaração de próprio punho, podendo a exigência de alfabetização do candidato ser aferida por outros meios, desde que individual e reservadamente (Resolução 23.221/2010, art. 26, § 9º).

O grande problema enfrentado no dia-a-dia da Justiça Eleitoral, todavia, consiste nesta aferição sobre se o candidato é, ou não, alfabetizado, sendo muito variáveis os critérios e instrumentos para a investigação dessa circunstância de relevância constitucional.

Muito já se disse e se fez, mas está praticamente pacificado que a aplicação de provas (objetivas e subjetivas) não é o melhor parâmetro,41 tendo o Tribunal Superior Eleitoral rejeitado essa fórmula no pleito eleitoral municipal de 2004.

Prevalece hoje que a aferição intelectual é admissível se não for apresentada prova da escolaridade,42 mas deve ser (a) razoável e proporcional às condições do município e da importância do cargo que se almeja (sendo certo que nos cargos majoritários a aferição deve ser mais rigorosa, e nos proporcionais menos);43 (b) deve se tratar de uma prova elementar, em que saia aprovado aquele que demonstre simples capacidade para “ler e escrever”,44 ainda que rudimentarmente;45 e, enfim, (c) a aferição, se necessária, será individual e reservada.46

Enfim, não se deve esquecer do conteúdo da Súmula 15 do Tribunal Superior Eleitoral, que também nos fornece diretrizes para o estudo do tema, vejamos:

“O exercício de cargo eletivo não é circunstância suficiente para, em recurso especial, determinar-se a reforma da decisão mediante a qual o candidato foi considerado analfabeto”.

3. DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS:

40

Destaque meu. 41

Fávila Ribeiro, Direito eleitoral, p. 285. 42

TSE, REsp 30.131-RN, Rel. Min. Eros Grau. 43

Nesse sentido: Na doutrina, Torquato Jardim, Direito eleitoral positivo, p. 73 e, na jurisprudência, TSE, Acórdão 12.827, Rel. Min. Alckimin, julgado em 27.09.1992.

44

TSE, Acórdão 12.741, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 24.09.1992. 45

TRE-GO, Processo 169.003.2004, Rel. Dr. Antônio Heli de Oliveira. 46

(18)

Os “Direitos Políticos Negativos” são as “determinações constitucionais que, de uma forma ou de outra, importem em privar o cidadão do direito de participação no processo político e nos órgãos governamentais. Diz-se que são negativos precisamente porque consistem no conjunto de regras que negam, ao cidadão, o direito de eleger, ou de ser eleito, ou de exercer atividade político-partidária ou de exercer função pública”.47

Os direitos políticos negativos, como se percebe, abrangem (a) as regras que impedem o alistamento eleitoral (inalistabilidades), bem como (b) as que retiram, temporária ou definitivamente, do indivíduo, o direito de votar e ser votado, para certos e determinados cargos, ou para todo e qualquer cargo (inelegibilidades, suspensão e perda de direitos políticos).

Como vige no ordenamento eleitoral brasileiro o princípio da plenitude dos direitos políticos, é válido que se esclareça desde logo que quaisquer restrições e privações aos mesmos devem ser interpretadas sempre restritivamente, posto que consideradas, de plano, excepcionais.

Em decorrência disso, qualquer interpretação de normas constitucionais ou complementares relativas aos direitos políticos, quando forem restringir ou privar, há que ser feita com respeito aos limites reduzidos de sua literalidade.

Passaremos, a seguir, a estudar as modalidades de direitos políticos negativos (primeiro, as inalistabilidades, depois, as inelegibilidades e, por fim, a

privação de direitos políticos).

3.1. INALISTABILIDADES:

Como se obtemperou, a inalistabilidade é uma das espécies de direitos políticos negativos – leia-se, restrições aos direitos políticos – e que acarreta a exclusão da capacidade política ativa e, obviamente, também da passiva (que não pode

votar, logicamente, não pode ser votado).

Os inalistáveis, assim, não podem votar e, muito menos, ser votados (CF, art. 14, § 3º, inciso III), sendo proibidos inclusive de ingressar no cadastro nacional de eleitores.

São, pois, inalistáveis (a) aqueles que não puderem expressar a língua nacional, nos termos do art. 5o, inciso II, do Código Eleitoral (ex.: índio não integrado); (b) os privados temporária ou definitivamente dos direitos políticos (exs.: deficiente mental, condenado definitivo antes do alistamento), na forma do art. 5o, inciso III, do Código Eleitoral; (c) o estrangeiro (CF, art. 14, § 2o); (d) o conscrito,48 que é o brasileiro que estiver cumprindo o serviço militar obrigatório (CF, art. 14, § 2o) e (e) o menor de 16 (dezesseis) anos de idade.49

47

José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo, p. 382. 48

Para Ary Ferreira de Queiroz, a restrição em tela origina-se no fato de que o conscrito, pela sua situação hierárquica, seria “facilmente influenciável, ou ‘dobrável’ por seus superiores, de modo que poderia viciar o processo eleitoral” (Direito eleitoral, p. 68).

49

Relembre-se que somente se exige os dezesseis anos completos, para efeito de alistamento, na data do pleito, sendo lícita, portanto, a formulação de pedido de inscrição eleitoral quando o pretendente encontrar-se ainda com quinze anos (Resolução-TSE 21.538/2003, art. 14, caput); mas o título emitido nessas condições “somente surtirá efeitos com o implemento da idade de 16 anos” (art. 14, § 2º do diploma citado).

(19)

3.2. INELEGIBILIDADES:

Inelegibilidades são proibições constitucionais ou

infraconstitucionais (previstas em lei complementar)50 que impossibilitam a candidatura para alguns (inelegibilidade relativa) ou para todos os cargos eletivos (inelegibilidade

absoluta).

A inelegibilidade é um dos impedimentos à capacidade política passiva (direito de ser eleito) ou, então, incapacidades políticas passivas.

As inelegibilidades constam na Constituição Federal e em Lei Complementar, especialmente a LC 64/1990 (apelidada de “LI” ou “Lei das Inelegibilidades”).

Já neste tópico preliminar é relevante ressaltar que as “inelegibilidades” não se confundem nem com as conhecidas “condições constitucionais de elegibilidade” (CF, art. 14, § 3º), nem com o instituto também constitucional da “privação de direitos políticos” (CF, art. 15).

Enquanto as citadas inelegibilidades constituem impedimentos à capacidade política passiva, tendo nítido caráter negativo (não podem existir para que a candidatura seja admitida), as condições de elegibilidade são requisitos positivos necessários para se concorrer a cargos políticos (isto é, devem existir para que se possa concorrer no pleito eleitoral).

Como se adiantou, também não há como confundir com as inelegibilidades com a privação de direitos políticos, pois esta (a privação) atinge o direito de votar e de ser votado; a inelegibilidade, diversamente, apenas abrange a capacidade política passiva (direito de ser votado), mas não a ativa (aquele que apenas inelegível, em geral, vota normalmente, mas não pode ser eleito).

3.2.1. ESPÉCIES – ABSOLUTAS E RELATIVAS:

As inelegibilidades, como se viu, podem ser de natureza absoluta ou relativa.

São consideradas “inelegibilidades absolutas” as causas que implicam impedimento eleitoral para concorrer a qualquer cargo eletivo sem distinção, como ocorre com os estrangeiros, conscritos, analfabetos, menores de 18 anos e com aqueles que perdem ou têm suspensos seus direitos políticos (CF, art. 15), os quais ficam efetivamente proibidos de se candidatar em qualquer pleito.

Por outro lado, são “inelegibilidades relativas” as restrições à elegibilidade apenas para determinados cargos, dado ao estado ou situação momentânea que se encontre o indivíduo na época da eleição.

50

(MP-MA, Promotor de Justiça) Com relação à inelegibilidade, no direito brasileiro, é correto afirmar: (a) decorre exclusivamente da Constituição Federal e do Código Eleitoral; (b) decorre exclusivamente da Constituição Federal e de Lei Complementar; (c) decorre exclusivamente da Constituição Federal; (d) decorre exclusivamente de Lei Complementar; (e) decorre exclusivamente do Código Eleitoral (a alternativa

(20)

O cidadão, neste último caso, não deixa de ser titular da elegibilidade, porém, tem o campo elegível restringido a alguns cargos ou funções eletivas, como ocorre nas hipóteses previstas nos §§ 5º, 6º e 7º, do art. 14, da Constituição Federal, e que serão comentadas por mim logo à frente.

3.2.2. INELEGIBILIDADES CONSTITUCIONAIS:

3.2.2.1. PROIBIÇÕES POR MOTIVOS FUNCIONAIS:

De conformidade com o art. 14, § 5o, da Constituição Federal o “Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente”.51

Em sentido diverso, sendo eventualmente reeleitos, esses titulares não poderão novamente se candidatar para mais um período subseqüente (terceiro mandato consecutivo), nos termos do preceito indicado acima.

Como se observa também, nada impede que esse titular reeleito pleiteie um terceiro mandato idêntico, desde que não seja consecutivo. Por exemplo: o candidato é eleito, exerce o mandato majoritário (1º mandato), candidata-se à reeleição e é novamente eleito (2º mandato); para pleitear o terceiro mandato legitimamente deverá aguardar um período fora do cargo e novamente se candidatar. Há, assim, uma possibilidade implícita “de uma pessoa candidatar-se e, eventualmente exercer por mais de três mandatos a Chefia do Executivo Federal, Estadual, Distrital e Municipal, desde que

não sejam sucessivos”.52

Não se admite que o titular do segundo mandato se candidate a vice no terceiro, posto que poderia por via oblíqua violar a inelegibilidade assumindo o cargo principal, nos termos do art. 79 da Constituição Federal.53

De outro lado, para concorrerem a outros cargos (exs.: para Senador, suplente de Senador,54 Deputado Federal, Deputado Estadual etc.), os titulares de cargos executivos “devem renunciar aos respectivos mandato até seis meses antes do pleito” (CF, art. 14, § 6o).55

Quanto ao vice-presidente, ao vice-governador e ao vice-prefeito, poderão normalmente candidatar-se a outros cargos mantendo os seus respectivos mandatos (sem se afastar), desde que não tenham substituído ou sucedido o titular nos seis meses anteriores ao pleito.56

51

Redação atribuída pela Emenda Constitucional 16, de 04.06.1997, com vigor a partir de 05.06.97. 52

Alexandre de Moraes (Direito constitucional, 2006, p. 219-220), autor que também sustenta que esse sistema brasileiro é diferente do norte-americano, em que ninguém poderá ser eleito mais de duas vezes para o cargo de Presidente da República.

53

Nesse sentido: Alexandre de Moraes, Direito constitucional, 2006, p. 221, citando o entendimento esposado pelo TSE na Resolução 21.438, Rel. Min. Carlos Velloso.

54

Nesse sentido: TSE, Consulta 364, Rel. Min. Nilson Naves, 04.03.1998. 55

Redação dada pela Emenda Constitucional 16, de 04.06.1997. 56

(21)

Enfim, quanto aos parlamentares, não há limite de reeleições, havendo em nossa história recente casos de cinco, seis e até sete eleições vitoriosas de uma pessoa para o mesmo mandato de vereador, deputado estadual ou deputado federal.

3.2.2.2. PROIBIÇÕES POR MOTIVO DE PARENTESCO:

São também inelegíveis, “no território do titular o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o 2o grau ou por adoção”, dos chefes de cargos executivos ou de quem os haja substituído dentro dos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Essa é a restrição tratada no art. 14, § 7o da Constituição Federal, que regula a chamada “inelegibilidade reflexa”.

Em síntese, (a) o cônjuge, os parentes e afins até 2º grau do prefeito não poderão candidatar-se a vereador ou a prefeito no mesmo município; (b) o mesmo ocorrerá com os parentes do governador, que não poderão se candidatar a vereador, prefeito (em qualquer município do estado), a deputado estadual, federal, senador e governador; (c) os parentes do presidente não poderão se candidatar a qualquer cargo no país.57

Mas, como se vê, a norma proibitiva (inelegibilidade) contém uma exceção à sua incidência. Trata-se do caso em que o cônjuge, parente ou afim do chefe do executivo já é detentor de mandato eletivo, hipótese em que fica plenamente franqueada a sua candidatura para o mesmo cargo que ocupava (ex.: esposa do governador que já era deputada federal poderá se candidatar à reeleição sem observância de qualquer formalidade).

Alexandre de Moraes esclarece, todavia, que se o cônjuge ou o parente do chefe do executivo seja titular “do mandato de Deputado Federal ou Senador por outro Estado e pretenda, após transferir seu domicílio eleitoral, disputar novamente as eleições à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal pelo Estado onde seu cônjuge, parente ou afim até segundo grau seja Governador do Estado, incidirá a inelegibilidade reflexa (CF, art. 14, § 7º), uma vez que não se tratará de juridicamente de reeleição, mas de uma nova e primeira eleição para o Congresso Nacional por uma nova circunscrição

eleitoral”.58

Exarando uma interpretação extremamente radical do referido § 7º, do art. 14, da Constituição Federal, o Tribunal Superior Eleitoral editou sua Súmula 6 (publicada no DJU de 28, 29 e 30.10.92), a qual mantém a seguinte redação:

“São inelegíveis, para o cargo de Prefeito, o cônjuge e os parentes indicados no § 7º do art. 14 da Constituição, do titular do mandato, ainda que este haja renunciado ao cargo há mais de seis meses do pleito”.

Já em 2001, o mesmo Tribunal Superior Eleitoral, alterando seu posicionamento, estabeleceu que “o cônjuge e os parentes do chefe do Executivo são

57

Nesse sentido: Alexandre de Moraes, 2006, p. 228. 58

(22)

elegíveis para o mesmo cargo do titular, quando este for reelegível e tiver se afastado definitivamente até seis meses antes do pleito”.59

Depois de algum tempo, o Supremo Tribunal Federal apresentou sua posição quanto ao tema e terminou firmando também que os parentes podem concorrer nas eleições, desde que o titular do cargo tenha o direito à reeleição e não concorra na disputa; o raciocínio seguido pelo Excelso Pretório foi o de que, se ao titular do cargo é permitido um mandato a mais, não se poderia vetar a possibilidade dos parentes concorrerem.60

De outro lado, se o chefe do executivo estiver no segundo mandato consecutivo, a “renúncia não terá nenhum efeito para a finalidade de afastar a inelegibilidade reflexa quanto à disputa para a chefia do Executivo”. É que nesta hipótese “se ao próprio chefe do Executivo está vedada a tentativa de perpetuação no cargo por mais de dois mandatos, igualmente, não se permitirá essa continuidade via reflexa”.61

Contudo, o cônjuge e os parentes do chefe do Executivo já reeleito podem se candidatar a cargo diverso (exs.: vereador, deputado estadual, senador etc.), “desde que este se afaste definitivamente até seis meses antes da eleição” (Código eleitoral anotado, 2010, p. 136 e Resolução-TSE 22.599/2007).

Predomina a tese de que “os sujeitos de uma relação estável homossexual, à semelhança do que ocorre com os de relação estável, de concubinato e de casamento, submetem-se à regra de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal” (TSE, Acórdão 24.564/2004).

Enfim, convém registrar o último entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, segundo o qual “a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do art. 14 da Constituição Federal” (STF, SV 18).

Essa súmula vinculante deixou clara sua intenção de obstar as situações de fraude em que cônjuges simulam separações ou divórcios para fugirem da inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal. Nestes casos, as dissoluções são meramente fictícias e, na verdade, a situação conjugal se mantém intacta, daí a proibição peremptória.

3.2.3. A “LEI DE INELEGIBILIDADES”:

A “Lei de Inelegibilidades” (Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990) teve como principal fundamento regulamentar o art. 14, § 9o, da Constituição Federal, que veio editado na carta magna com a redação prospectiva a seguir transcrita:

“Lei complementar estabelecerá outros casos de

inelegibilidades e os prazos de sua cassação, a fim de proteger a probidade

administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida

59

Acórdãos 19.442, de 21.08.2001 e 3.043, de 27.11.2001. 60

RE n. 344.882, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 08.04.2003, ficando vencido o Min. Moreira Alves (extraído do Boletim Informativo do TRE-GO, n. 54).

61

(23)

pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”.62

Ao que se vê, a norma em questão intentou ofertar proteção à normalidade e à legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Objetivou-se com a regulamentação basicamente de dois instrumentos processuais (a ação de impugnação de pedido de registro de candidatura

e a ação de investigação judicial eleitoral), com a previsão de prazos de

desincompatibilização e de causas de inelegibilidades, tutelar o interesse público de lisura eleitoral, tornando-o muito mais isonômico.

Os temas ligados a esta importante lei complementar serão tratados em resumo neste trabalho, mas serão abordados com seriedade e com profundidade em sala de aula.

3.2.3.1. COMPETÊNCIA PARA AFERIÇÃO:

De conformidade com a Lei Complementar 64/1990 (art. 2º, parágrafo único), incumbirá (a) ao Tribunal Superior Eleitoral conhecer e julgar as alegações de inelegibilidade dos candidatos a Presidente ou Vice-presidente da República, (b) aos Tribunais Regionais Eleitorais caberá analisar os pedidos de declaração de inelegibilidade formulados contra os candidatos a Senador, Governador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital e, enfim, (c) aos Juízos Eleitorais tocará a competência para julgar inelegibilidades argüídas contra candidatos a Prefeito, Vice-prefeito e Vereador.

3.2.3.2. CONTEÚDO:

Em breve síntese, a Lei Complementar n. 64/1990, em seu art. 1º, enumera taxativamente os casos de inelegibilidades, fixando também os prazos de desincompatibilização (que na maioria dos casos é de seis meses, mas pode eventualmente ser de quatro ou de três), assunto bastante versado em concursos públicos.63

Em seus arts. 3º a 21, dispõe de modo circunstanciado sobre a já citada “ação de impugnação de pedido de registro de candidatura” (AIPRC), instrumento muito utilizado no dia-a-dia eleitoral para ataque às postulações de deferimento de candidatura.

62

O destaque não consta no texto original. 63

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 71) É de quatro meses o prazo para

desincompatibilização, para candidatarem-se aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, dentre outros, dos que: (a) Estejam ocupando cargo ou função de direção administração ou representação

em entidades representativas de classe, mantidas com recursos arrecadados ou repassados pela Previdência Social; (b) Estejam exercendo as funções de membros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e do Distrito Federal, bem como a de Diretor Geral do Departamento de Polícia Federal; (c) Estejam exercendo os cargos de Presidente, Diretor e Superintendente de Autarquias e Empresas Públicas; (d) Tiverem competência apara aplicar multas relacionadas com as atividades de lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório; (e) Estejam exercendo nos Estados ou no Distrito Federal cargo ou função de nomeação pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia do Senado Federal (a alternativa “a” é a correta, nos termos do art. 1º, inciso II, alínea “g”, da Lei Complementar

(24)

Nos arts. 22 a 24, a Lei Complementar instituiu a chamada “Investigação Judicial Eleitoral” (IJE), que tem por fim a cassação do registro ou do

diploma de candidato e a declaração de inelegibilidade pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou o ato (art. 22, inc. XIV, com redação

outorgada pela LC 135/2010).

3.2.3.3. INELEGIBILIDADE DOS “FICHA SUJA”:

Atendendo a uma ampla campanha da imprensa e da própria AMB, foi finalmente editada a Lei Complementar 135/2010 que acrescentou diversas inelegibilidades novas à Lei Complementar 64/1990, dando enfoque especial à proibição da candidatura dos chamados “ficha-suja”.

Passo diretamente à transcrição do texto, cuja memorização se torna essencial para qualquer concurso público que exija conhecimentos específicos em direito eleitoral.

Art. 2o A Lei Complementar no 64, de 1990, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 1o São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...)

“c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos;

d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes:

1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público;

2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência;

(25)

4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;

5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública;

6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;

7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;

8. de redução à condição análoga à de escravo; 9. contra a vida e a dignidade sexual; e

10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando;

f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos;

g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;

h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

...

j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura;

Referências

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