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Educação, cultura e identidades: narrativas de jovens de Giruá/RS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (UNIJUÍ)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

AGNALDO FELIPE DA SILVA

EDUCAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADES: NARRATIVAS DE JOVENS DE GIRUÁ/RS

Ijuí, 2017

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AGNALDO FELIPE DA SILVA

EDUCAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADES: NARRATIVAS DE JOVENS DE GIRUÁ/RS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências Stricto Sensu da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Noeli Valentina Weschenfelder

IJUÍ, 2017

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AGNALDO FELIPE DA SILVA

EDUCAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADES: NARRATIVAS DE JOVENS DE GIRUÁ/RS

Dissertação de Mestrado submetida a Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado Acadêmico da Universidade Regional Integrada do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí Campus Ijuí como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Banca Examinadora:

____________________________________ Profª. Drª. Noeli Valentina Weschenfelder Orientadora / Presidente da Banca

____________________________________ Profª. Drª. Hedi Maria Luft

Examinadora Interna

____________________________________ Prof. Dr. Walter Frantz

Examinador Interno

____________________________________ Profª. Drª. Sueli Salva

Examinadora Externa

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus “porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas”. À minha amada esposa Aline, companheira fiel e grande incentivadora.

Aos meus filhos Gabrieli e Calebe, por abdicarem de preciosos momentos comigo, em prol do meu trabalho.

A meu amigo Ronaldo Arnold, pela dedicação e ajuda nos momentos de dificuldades.

A minha orientadora Noeli Weschenfelder, pela paciência e colaboração em quesitos teóricos e metodológicos para a consecução desta obra.

Aos professores, colegas e amigos, que direta ou indiretamente contribuíram para o êxito desta etapa acadêmica em minha vida.

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RESUMO

O estudo tem como objetivo investigar os contextos educativos sob a influência da cultura nos grupos sociais a que pertence o sujeito, interpretando os elementos culturais que corroboram para formação identitária do jovem e sua emancipação frente aos desafios da sociedade contemporânea pautada na dialogicidade e na interculturalidade. Através de uma metodologia de pesquisa socioantropológica, utilizou-se como instrumento de produção de dados a história de vida e a autobiografia que foram aplicadas a 8 jovens, sendo eles 6 moças e 2 rapazes na faixa etária de 15 a 21 anos residentes no município de Giruá-RS. Neste meio identificou-se indicadores de práticas e vivências que contemplem elementos culturais presentes que possam contribuir para a construção da identidade dos jovens e os processos emancipatórios e interculturais, em contraposição à perspectiva impositiva em que os sujeitos constantemente são anulados ou ignorados na sua diversidade e contextos, pouco ou nada refletindo sobre as situações que o cercam. Como resultado se percebeu que conhecer o indivíduo em suas relações sociais nos diversos contextos é essencial para a compreensão dos seus atravessamentos e para interpretação da construção de sua identidade

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RESUMEN

El estúdio tiene como objetivo investigar los contextos educativos bajo la influencia de la cultura en los grupos sociales a la cual pertenece el sujeto, interpretando los elementos culturales que ayudan a la formación de la identidad de lo joven emancipacipado frente a los desafíos de la sociedad contemporánea guiadas por el dialogicidad y la interculturalidad. A través de una metodología de investigación socio-antropológica, utilizadondo la historia de vida como la herramienta de recolección de datos y la autobiografia, que se aplicaron a 8 jóvenes, y 6 niñas y 2 niños de entre 15-21 años que viven en la ciudad de Girua-RS. Esto significa que si se identificaron indicadores de prácticas y experiencias que aborden presentes elementos culturales que pueden contribuir a la construcción de la identidad de los jóvenes y de los procesos de emancipación y interculturalidad en oposición a la imposición de la perspectiva en que los sujetos se anulan o se ignoran en su diversidad y contextos, lo que refleja poco o nada acerca de las situaciones que le rodean. Como resultado se dio cuenta de que el conocimiento de la persona en sus relaciones sociales en diferentes contextos es esencial para la comprensión de sus cruces y la interpretación de la construcción de su identidad.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1. EDUCAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13

2. CULTURA, ELEMENTOS CULTURAIS E INTERCULTURALIDADE ... 18

2.1 CULTURAL, IDENTITÁRIO E INTERCULTURAL ... 18

2.2 OS JOVENS E AS JOVENS EM CONTEXTO ... 23

3. CULTURA E EDUCAÇÃO FAMILIAR ... 27

3.1ABRINDO AS PORTAS DA CASA: CONHECENDO AS HISTÓRIAS DOS JOVENS E DAS JOVENS ... 27

3.2 MATRIZ FAMILIAR: UMA IMPRESSÃO NA IDENTIDADE ... 36

3.3 AUTONOMIA OU AUTOSSUFICIÊNCIA? LIMITES NECESSÁRIOS ... 44

4. CULTURA E EDUCAÇÃO ESCOLAR... 50

4.1 MEDIAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO ... 58

4.2 O MUNDO ENTRE QUATRO PAREDES: O QUE O JOVEM NÃO VÊ NA ESCOLA ... 62

4.3 UM “UM ESTRANHO NO NINHO”: O QUE A ESCOLA NÃO VÊ NO JOVEM . 67 5. CULTURA E IDENTIDADE – VIVÊNCIAS EMANCIPATÓRIAS DOS JOVENS .. 70

5.1 O CAMINHO DA EMANCIPAÇÃO: CONTRASTES ENTRE DISCURSO E PRÁTICA ... 70

5.2 AUTONOMIA, ALTERIDADE E SOLIDARIEDADE: EMANCIPAÇÃO COM CONEXÃO ... 77

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INTRODUÇÃO

A centralidade desta pesquisa tem sua gênese em experiências realizadas como docente de música ao longo de dezesseis anos. Destes, 11 anos desenvolvidos em Santo Ângelo, minha cidade natal, atuando em diversas escolas, com jovens e adolescentes que desenvolviam sua musicalidade com excelência e dedicação, ao mesmo tempo em que para, o ensino escolar apresentavam inquietações e desânimo. Tais percepções se cristalizaram também em outros contextos. Além do que, como teólogo, através de assistência espiritual aos jovens e adolescentes por mais de dez anos, foi possível perceber também suas inclinações para atividades religiosas sobrepujando as interações familiares e escolares.

A concretização dessa pesquisa foi tomando forma, quando confirmei uma total desconexão dos adolescentes em sala de aula, fui sentindo o desejo de investigação desta temática, já durante os estágios na graduação em Sociologia, realizado nos anos de 2013 e 2014. Sentia certa aversão dos estudantes ao que se referia no alinhamento da proposta pedagógica docente e a aspiração dos discentes, isso produzia insatisfação com o aprender e com o aprendido, bem como do ensinar e com o ensinado de forma conflitiva e intolerante nas relações sociais e culturais entre ambos. Em cada aula era recebido pelo professor-regente, ouvia expressões como: “ainda bem que você chegou, pegue essa turma de uma vez”. Fato que me provocava muitas inquietações e interrogações que tecem o pano de fundo deste estudo.

As percepções supracitadas sinalizam para questões sociais e culturais, para além do lócus escolar. Advém da ausência e superficialidade na construção básica

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de espaços dialógicos, da negação do outro e suas significações e interações. Tais ausências instauram o caos em diversos contextos sociais pela lacuna das trocas culturais entre os indivíduos e grupos sociais, construtora de um universo emancipatório e intercultural. Essas divergências culturais refletem no espaço escolar, mas devem ser estudados nos diversos contextos, como o escolhido para esta dissertação.

Uma educação que visa a interculturalidade1 e envolve um complexo de proposições que abarcam a relação entre processos identitários socioculturais diferentes, carece propor especificamente a possibilidade de respeito às diferenças e integração das mesmas em unidade de forma que não as anule mutuamente.Uma vez que o jovem em sua diversidade cultural constitui uma riqueza social em sua história de vida, que consiste justamente na multiplicidade de perspectivas que o perfazem identitariamente e em suas relações e, assim precisa ser estudado, significado e interpretado na pluralidade que vivenciam seu entorno. Assim, as análises que se expressam nas teorias adjacentes não podem ser reduzidas por um único código e um único esquema a ser proposto como modelo transferível universalmente devido a sua complexidade.

No ano de 2010 mudei-me para o Município de Giruá, uma cidade pequena do interior do Estado do Rio Grande do Sul com 17.075 habitantes no ano de 2010 (IBGE, 2016) e realizando minha prática profissional pude conviver com centenas de jovens, e neste contexto elaborar conjecturas pertinentes à realidade social destes jovens da contemporaneidade, sendo neste meio possível identificar a existência de diversos grupos sociais distintos, compreendidos em geral como “tribos”, as quais compartilhavam internamente cosmovisões semelhantes.

Estas diferentes tribos contrastavam entre si de maneira copiosa suas visões de mundo, outrossim, as expressões da falta de esperança quanto a educação como colaboradora para a transformação social era compartilhada entre todas essas elas; com esta expressão da identidade destes jovens manifesta em seus discursos, obtive o questionamento: Esta disposição cultural negativamente incorporada nestes sujeitos e coletivamente compartilhada em seus contextos sociais viriam a constituir

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Entendendo por interculturalidade a interiorização e incorporação da heterogeneidade cultural dos grupos de modo idiossincrático por parte dos sujeitos em seus encontros(VIEIRA, 2011).

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um corpus cultural específico, ou se fosse advindo de um contexto sociológico mais amplo.

Diante disso, emergiu a seguinte questão- problema que compõe esta pesquisa:Quais são os elementos culturais importantes na educação para a constituição da identidade do sujeito intercultural e emancipado na contemporaneidade?

Buscando responder a esta interrogação, elegi como objetivo geral de minha pesquisa investigar os contextos educativos sob a influência da cultura nos grupos sociais a que pertence o sujeito, interpretando os elementos culturais que corroboram para formação identitária do jovem e sua emancipação frente aos desafios da sociedade contemporânea pautadas na dialogicidade e na interculturalidade.

Devido à amplitude do objetivo supracitado tornou-se necessário sistematizar a pesquisa em três objetivos específicos, que foram: Verificar os contextos educativos do sujeito e suas significações através de narrativas, histórias de vida e autobiografias; identificar elementos culturais presentes na formação identitária do jovem nos seus grupos sociais de pertença; e ainda, investigar os anseios emancipatórios e as elaborações interculturais presentes ou ausentes na construção identitária do jovem.

Essa proposta de estudo está dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo apresento a abordagem metodológica que foi utilizada para a consecução da pesquisa de campo. No segundo capítulo faço uma abordagem introdutória sobre cultura, identidade e interculturalidade, esboçando breves questões epistemológicas que perfazem o sujeito como ser social nos diversos contextos por qual é atravessado, apresentando os contrapontos culturais evidentes na trajetória humana e social.

O terceiro capítulo traz as histórias de vida que sublimam os diversos contextos de sociabilização e enculturação dos jovens pesquisados, enfatizando sobremodo o lócus familiar e sua cultura como gênese da vivências e construções da identidade primária dos sujeitos onde são tecidas as primeiras interpretações dos relatos coletados na pesquisa.

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No quarto capítulo, abordo o espaço escolar como lócus das vivências humanas dos jovens e suas relações, com uma cultura própria e gestora de um percentual significativo na socialização secundária dos indivíduos. Interpretam-se neste contexto os distanciamentos, as ausências, bem como as interações necessárias para construção identitária de forma intercultural e emancipatória, através da análise das demandas expostas nas histórias de vida dos jovens.

Por fim, no quinto capítulo, ao tratar das experiências de vida dos jovens, busco indicadores de práticas e vivências que contemplem elementos culturais presentes que possam contribuir para a construção da identidade dos mesmos e os e processos emancipatórios e interculturais em contraposição à perspectiva impositiva em que os sujeitos constantemente são anulados ou ignorados na sua diversidade e contextos, pouco ou nada refletindo sobre as situações que o cercam. Para isso, pautei o trabalho em autores como, Ricardo das Neves Vieira, Stuart Hall, Néstor García Canclini, Lev SemenovitchVygotsky, Paulo Freire e outros.

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1. EDUCAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta o caminho metodológico percorrido para a consecução da pesquisa a qual se propõe este trabalho dissertativo. Cabe mencionar que quando se pesquisa, constroem-se significados para as ações, compreendendo processos e adquirindo a clareza de que “é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo” (MINAYO, 2003, p.17). Deste modo, desenvolvi uma pesquisa no campo socioantropológico, com ênfase à constituição identitária dos jovens de Giruá/RS sob o escopo da cultura e da educação. O que remete investigar à necessidade de analisar a trajetória de vida dos sujeitos envolvidos e seu entorno, interpretando suas vivências e desenvolvendo uma escuta sensível para captar nuances dos relatos das histórias de vida.

Amplamente usada no campo das ciências sociais e explorada na educação, a história de vida é uma abordagem metodológica de investigação, de cunho especialmente qualitativo e interpretativo que favorece o estudo dos processos de aprendizagem e constituição identitária dos sujeitos. Embora cada história de vida possua um olhar individual, “a vida humana é uma teia de significados”(GEERTZ, 1978, p. 15), que apresenta informações distintas sobre a sociedade em que o indivíduo está inserido, seus valores, cultura, contexto familiar, contexto econômico, entre outros aspectos. Desta forma, a abordagem de história de vida permite interpretar o sujeito em seus processos de aprendizagem do âmbito individual para o social, e vice-versa promovendo a interpretação e a contextualização com seu entorno.

Para esse fim, utilizo como metodologia a pesquisa de campo, qualitativa, com questões temáticas semiestruturadas, através de dois instrumentos de produção de dados, a saber, histórias de vida e autobiografia, para interpretar a transformação das pessoas e, portanto, as suas metamorfoses e reconstruções identitárias (NÓVOA & FINGER, 1988; SOUZA, 2006). Segundo Lakatos e Marconi (2002) a história de vida permite estudar o impacto da interação social sobre as crenças e decisões do indivíduo, em suas ações e rotinas diárias, bem como seus efeitos ao longo do tempo. Para Queiroz (1988) a história de vida inclui

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depoimentos, entrevistas, biografias e autobiografias, e que em seu escopo abarca um conjunto de depoimentos, e que, embora o pesquisador tenha escolhido o tema ao formulado questões ou roteiro temático. É o narrador que decide o que narrar capitando assim com eficácia o ponto no qual se cruza a vida individual no contexto social.

Como teólogo e sociólogo, durante aulas, observações e aconselhamentos juvenis ao longo dos anos, foi possível atender diversas demandas dos jovens, expressas em aquilo que se poderia considerar o seu currículo oculto2 como características dos excessos e ausências em sua construção identitária. Mas, que não estão ocultos de forma alguma, é uma presença no dia a dia escolar, tornado os processos educativos complexos e paradoxais, o que pode constituir abandono, abusos, discriminação e indiferença, de parte da escola que em um olhar simplista rotula e rechaça as potencialidades do sujeito. Potencialidades essas que não são perceptíveis na exterioridade, e que, por muitas vezes, necessitam ser garimpadas nas vivências, percebidas no entorno, observadas nas relações e interpretadas pela interação, para compreender sua inculturação e construções identitárias.

Para realizar esse olhar, foi necessário lançar-me para além da escola, em contextos educativos no âmbito familiar e social. Para compreender as transformações culturais em decorrência das convergências e divergências ocorridas nos trajetos de vida do sujeito, buscando uma atitude hermenêutica e dialógica em nossa metodologia para compreender esses processos através de narrativas de história de vida e autobiografia, uma vez que “a narrativa autobiográfica produz o sujeito, seu eu, sua identidade” (SALVA, 2008, p. 16). Desta forma, “a narrativa possibilita a reconstrução da experiência, mediante um processo reflexivo com o qual o sujeito constrói significados sobre o vivido” (SALVA, 2008, p. 31).

Por esse viés metodológico socioantropológico, a pesquisa foi desenvolvida com jovens da cidade de Giruá- RS. Reconhecendo o capital cultural do sujeito, advindo dos grupos sociais de pertença, dos relacionamentos interpessoais, das referências culturais e educacionais através das leituras e interpretações de suas

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Segundo Silva (2003), currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial, explicito, contribuem, de forma implícita para aprendizagens sociais relevantes. O que se aprende no currículo oculto são fundamentalmente, atitudes, valores e orientações.

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narrativas, no intuito de identificar os elementos culturais que os constituem identitariamente, bem como a presença ou não de anseios emancipatórios e interculturais em suas subjetividades.

Ao que tange a aspectos amostrais desta pesquisa utilizei as histórias vida de oito jovens entre 14 e 21 anos, composto de ex-alunos, tanto de sociologia, como das bandas de música onde lecionei. O primeiro contato foi via telefone, através dos números disponibilizados pelas redes sociais e lista de celulares que possuo das fichas de cadastro de meus ex-alunos. A escolha foi efetuada conforme disponibilidade e interesse do jovem em participar da pesquisa. Sendo assim, no primeiro contato (via telefone) convidei 16 ex-alunos para participar da pesquisa, sendo oito moças e oito rapazes.

O contato foi realizado em meu local de trabalho, com horários previamente agendados com cada jovem, foi explicado aos jovens como se desenvolveria a pesquisa. A escolha destes foi intencional, pois já os conhecia de minhas aulas de música. Não obstante, a adesão a participar da pesquisa se deu pelo interesse em participar e pela abertura ao diálogo no contato inicial, o que levou a um segundo encontro a estes que consentiram em participar da pesquisa.

No segundo encontro, dirigi-me até a casa dos pesquisados, possibilitando a conversa com os responsáveis de alguns deles, entretanto, nem todos os responsáveis tiveram disponibilidade de tempo de me receber devido aos seus horários de trabalho. Deste modo com alguns deles realizei o contato apenas via telefone, porém todos me enviaram a ficha de autorização devidamente assinada.

Após coletada as devidas autorizações propostas pelo Comitê de Ética3, as coletas das narrativas de história de vida formam feitas no meu local de trabalho, sendo que dois instrumentos de coleta de dados formam utilizados, a autobiografia e a história de vida. A história de vida foi realizada por meio de gravações de áudio, em horários pré-definidos com os jovens; em horário comercial para os menores nos turnos inversos ao escolar, e para os maiores, mediante agendamento especifico conciliando as folgas entre trabalho e estudo. Na mesma ocasião eles entregaram as suas autobiografias, as quais foram antecipadamente redigidas por eles, seguindo um roteiro previamente apresentado a fim de captar-se nuances entre a

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fala e escrita para informações mais detalhadas da pesquisa. Apenas uma jovem não entregou sua autobiografia nos fornecendo apenas o relato oral; e um jovem e duas jovens não concederam as narrativas da história de vida entregando apenas as suas autobiografias.

Nesse processo de seleção houve um considerável grau de desistência, alguns sob a alegação das demandas de estudos, outros pelo trabalho. Dentre os rapazes as desistências foram mais acentuadas, sendo que dos convidados seis não permaneceram até o final da pesquisa. Deixei claro, entretanto, desde o primeiro contato que a participação é voluntária, e as informações sigilosas, e que o participante teria liberdade para a desistência em qualquer momento, sem prejuízo algum. Permaneceram assim oito jovens, sendo seis moças e dois rapazes na até o final da investigação.

Cabe ressaltar que é importante compreender que a história de vida apresenta em sua estrutura avanços e recuos, não de ordem cronológica, mas numa cronologia própria do indivíduo, que envolve fantasia, idealizações, memórias e recordações, podendo o entrevistado usar de seletividade aprofundando determinados assuntos e afastando outros da narrativa (FARIAS, 1994). Sendo assim para análise dos dados, após várias escutas, as gravações foram transcritas, e relidas para compreender as entrelinhas, pois cada leitura apresenta novos conteúdos intrínsecos. Foram estabelecidos os contrapontos entre a autobiografia e as narrativas, buscando a complementariedades nos relatos. Em seguida busco as saturações nos textos para o ordenamento temático. Identificadas as categorias analíticas pertinentes, efetuei recortes e colei reagrupando conforme as ideias consoantes ao tema. Selecionei os recortes da fusão da história de vida e autobiografia, categorizei nos capítulos, interpretando a cultura, elementos culturais e interculturalidade, a cultura familiar, a cultura escolar e a cultura e identidade – diálogos emancipatórios com jovens para atingir os objetivos da pesquisa.

O caráter metodológico da pesquisa não apresentou riscos elevados para seus participantes, ademais ao tratar de aspectos subjetivos, podem ser gerados eventuais desconfortos nos sujeitos, entretanto as histórias de vida, não são inquisições aos sujeitos, pois ao construírem o relato de suas lembranças, o fazem de forma livre, desprovido de cronologia e de relatos minuciosos de lembranças negativas. As percepções dessas experiências se mostram nas entrelinhas dos

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relatos orais, nos gestos, e na fala. Por aspectos éticos, o nome dos pesquisados não são exibidos neste texto, deste modo, para se fazer menção a cada um dos entrevistados foiram atribuídas apenas duas letras iniciais de seus nomes a fim de permitir diferenciar os seus discursos e histórias no decorrer desta produção bibliográfica.

Com este trabalho, busco pesquisar os contextos educativos sob a influência da cultura nos grupos sociais a que pertence o sujeito, interpretando os elementos culturais que corroboram para a formação identitária do jovem e sua emancipação frente aos desafios da sociedade contemporânea pautadas na dialogicidade e na interculturalidade.

Este estudo apresenta como benefício à sociedade e à comunidade acadêmica, uma interpretação do jovem e sua constituição identitária em contextos heterogêneos, nos espaços sociais diversificados, abordando de forma relevante suas individualidades e especificidades culturais em suas vivências. Assim esta perspectiva de análise proporciona a construção de uma proposta educacional não conflitiva, emancipatória e intercultural.

O capítulo que se segue inicia as reflexões propostas para esta dissertação, abordando o referencial teórico que o fundamenta e a análise dos dados coletados na pesquisa de campo.

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2. CULTURA, ELEMENTOS CULTURAIS E INTERCULTURALIDADE

O presente capítulo é divido em dois subcapítulos. O primeiro, Cultural, Identitário e Intercultural, o qual tem por finalidade a exposição básica do conceito sócio-antropológico de cultura, para compreensão das abstrações que constituem, no pensamento das pessoas, os elementos culturais que contemplam conhecimentos, crenças, leis, moral, costumes e hábitos adquiridos no decorrer da vida humana em sociedade. O segundo trato também do aspecto identitário e intercultural através dessas concepções elaboradas pelo sujeito (elementos culturais) que contribuem para interpretação das identidades dos sujeitos, os quais podem ou não promover a aproximação intercultural entre os jovens. Abordo ainda a concepção de jovens, não apenas teoricamente, mas sob a ótica de como o jovem se vê no mundo e a necessidade da aproximação dos seus contextos para auxiliar em sua educação, entender suas demandas na sociedade atual.

No segundo momento do capítulo trato sobre: O Jovem em contexto, e apresento os postulados teóricos de Vieira (2011; 2013), Freitas (2005) e OMP/OPS (1985); também caracterizo os sujeitos da pesquisa e o seu meio social, além de iniciar a apresentação dos dados coletados na pesquisa de campo.

2.1 CULTURAL, IDENTITÁRIO E INTERCULTURAL

A palavra cultura tem sua origem no latim e deriva do verbo colere (cultivar ou instruir) e do substantivo cultus (cultivo, instrução). Sua etimologia está associada ao ambiente agrário, com a prática de trabalhar a terra e prepará-la para que possa desenvolver seus frutos4. A ideia de desenvolvimento advinda do termo é presente ainda hoje, e é utilizado para designar os processos vivenciados da pessoa humana por meio da educação e instrução.

Esta ideia de instrução e acúmulo de conhecimento ainda é o conceito popular de cultura, bem como a classificação simplista de culto ou inculto. Entretanto, não existem grupos humanos sem cultura, nem indivíduos incultos

4 ANDRADAS, Soares, Huck. Identidade Cultural no Brasil. Disponível

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independente do grau de instrução ou acesso letrado, tampouco culturas superiores a outras (MARCONI & PRESSOTTO, 2010).Porém, não há um consenso conceitual entre antropólogos sobre cultura devido a sua complexidade. E de fato não pretendo com esse trabalho estabelecê-lo ou redefinir cultura conceitualmente, mas, entre as definições já existentes, traçar uma linha compreensiva para o estudo das identidades por elas constituídas, como os conceitos apresentados por Canclini (2008), Hall (2003), Laraia (2001), Geertz (1978) e Santos (2000) .

Canclini (2008) definiu cultura como um processo em constante transformação, diferente da concepção tradicional patrimonialista. Para Santos (2000), em sua abordagem multicultural, ela irrompe a hegemonia, sendo necessário transicionar o pensamento colonial de superioridade e inferioridade entre culturas reconhecendo que nenhuma é completa por si só. Hall (2003) contribui com sua concepção de cultura como produção, onde através dos atravessamentos do sujeito por tradições e genealogias, e esse sempre em mutação, a cultura tem capacidade de produzir a nós mesmos de novo, como novos tipos de sujeitos.

Assim, posso dizer que a cultura não é uma herança genética, e sim, numa concepção mais sociológica, o resultado da inserção do ser humano em diversos ou determinados contextos sociais. Laraia (2001) apresenta aspectos importantes da cultura sobre o ser humano, demonstrando sua abrangência e relevância em questões até mesmo biológicas.

Através da cultura o ser humano pode ser capaz de mudar seu próprio

habitat, positiva ou negativamente, e adaptar-se superando situações adversas ou

sucumbindo na apatia. Desta forma, segundo Laraia (2001), é possível definir cultura como algo adquirido, aprendido e acumulado das experiências de várias gerações, não de forma estática, mas dinâmica onde o sujeito pode, em suas interações, sempre criar, inventar e mudar, não sendo apenas receptor, mas também um criador de culturas. Pois, para o autor supracitado, o ser humano não é apenas produto da cultura, mas um produtor de cultura.

Para compreender o entorno social que envolve o jovem, centralidade desta pesquisa, é necessário observar a cultura diante do advento da globalização, ou seja, visualizá-la sob a ótica do jovem contemporâneo e perceber as nuances que configuram suas relações e condutas. Há uma crise de identidade estabelecida devido às mudanças da pós-modernidade, que alteraram as bases que ancoravam o

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indivíduo social de forma sólida, tais como gênero, etnia, sexualidade, raça e nacionalidade (HALL, 2014).

A ideia sociológica clássica de sociedade delimitada e ordenada ao longo do tempo e espaço também sofreu descentramentos pela globalização em diversos segmentos. Neste momento que vivemos, o global é o local sem paredes, portanto é muito importante que se considere que o local deixou de ser exclusivamente local, e se torna necessário fazer essa alteração em nossas concepções e educacionais e políticas (SANTOS, 2003).

A diversidade e acessibilidade de informação também têm ocasionado mudanças na cultura do jovem, e desestabilizado as “certezas” da educação nos diversos espaços por novas aprendizagens. Toda aprendizagem produz transformações. Há uma transformação do eu sempre que se aprendem novos conhecimentos, seja na escola, família, seja nos diversos contextos culturas. Entretanto ninguém aprende no vazio cutural. A aprendizagem opera também transformações culturais e identitárias. Identificações e desidentificações com contextos de aprendizagem bem como aquisições e rejeições culturais (VIEIRA 2009, 2014).

Nesse processo percebo, segundo a citação de Marconi e Pressoto, que, os elementos culturais adquiridos e reproduzidos, ou seja, tudo aquilo que se crê ou se acredita em comum: valores, ou seja, a ideologia moral determinante do que é bom e ruim; as normas que envolvem leis, códigos, costumes e tradições; atitudes ou comportamentos, ou seja, relacionamentos interpessoais no grupo de pertença ou fora dele; abstração do comportamento, que envolve símbolos e compromissos coletivos; as instituições que funcionam como uma espécie de controle do comportamento apresentando valores, normas e crenças; as artes que são habilidades desenvolvidas coletivamente e por fim, Os artefatos, que são os instrumentos e utensílios usados para aperfeiçoar as técnicas e os modos de vida (2010,p. 27-31).

A construção e reconstrução da identidade correspondem sempre à integração do novo no já possuído, donde resulta não numa adição, mas antes uma integração feita um pouco ao modo de cada um (VIEIRA, 2015). Introduzir o novo, sem detrimento do antigo, é uma forma possível de estabelecer a dialogocidade nos espaços sociais. A educação precisa preservar essa novidade e introduzi-la como algo novo em um mundo velho. Esta significação do novo precisa ser permanente, pois por mais revolucionário que hoje possa ser, tende tornar-se obsoleto para

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geração seguinte (ARENDT,1992). Sem essa compreensão, o novo de hoje destruirá o novo de ontem, e ignorará o novo do amanhã, desconstruindo espaços plurais e dialógicos.

O novo permeia a esfera da interculturalidade nos diversos contextos sociais, e carecem de significação e ressignificação constantes em suas aprendizagens para construções identitárias plurais. Entretanto, a estagnação cultural não dialógica será gestora da incompreensão, da intolerância e do conflito em qualquer contexto educacional, seja institucionalizado ou não. O desinteresse do jovem contemporâneo pelo aprendizado do novo e a relação com o já concebido, advém da ausência de mediação entre culturas e saberes diferentes dos mundos diversificados que perfazem suas relações, isentos de relevância entre suas vivências e os diversos contextos educacionais onde se veem inseridos na sociedade.

Para Marconi e Pressotto (2010) a cultura é composta em grande parte pelas ideias, que são as concepções mentais das coisas abstratas ou concretas, pelas abstrações que é a capacidade de traduzir as ideias em sinais e símbolos, e pelo comportamento que corresponde ao modo de agir dos grupos humanos partindo das ideias e abstrações por eles efetuadas. Desta forma, pode-se concluir que a cultura “consiste em uma série de coisas reais que podem ser observáveis, ser examinadas num contexto extra-somático” (MARCONI & PRESSOTTO, 2010, p. 26).

Segundo Vieira (1998), semelhantes trajetórias sob modelos similares de influência podem produzir diferentes identidades, assim ficam descartado determinismos:

Falar de identidade é falar assim de complexidade dialéctica. De construção dinâmica, de constante reestruturação- constante metamorfose - para um novo todo. Mas o todo não é uma mera soma de partes como muito bem frisou Durkheim. O todo - e a identidade é um todo complexo - não pode ser inferido a partir das qualidades das partes. Por isso não há determinismo no comportamento humano. Semelhantes trajectórias e similares modelos de influência podem produzir até diferentes identidades. Podem criar cidadãos com identidades, práticas e representações sociais até antagónicas. Este mistério, esta imprevisibilidade, parece ter origem na forma como se combinam os elementos desse todo. E entre pessoas, isso é parte da subjectividade de cada um que urge, no entanto, estudar para compreender como se forma o ser (1998).

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Nesse aspecto, como menciona Geertz (1978), a cultura é algo para ser percebida e não definida. É uma estrutura simbólica em constante transformação, não é conceitual, mas interpretativa. Segundo Vieira (2013) o lócus cultural para essa observação e interpretação não é composto de objetos, mas sujeitos que acendem a dimensões cognitivas e compreensões de si mesmo e dos outros não passíveis de compreensão isolada, pois essas percepções serão aprendidas como aproximação interativa do pesquisador ao terreno e dentro do contexto de forma dialógica e questionadora. Para Barbosa (2013):

Nós só nos fazemos humanos por estarmos inseridos em uma cultura e, ao mesmo tempo, a cultura só se dá nesse processo de nos tornarmos humanos. O ser humano, justamente por ser cultural, encontra-se em rodeado de valores e sentidos, por meio dos quais pode tomar a realidade e se posicionar, produzindo novos elementos culturais, colocando algo de novo em sua cultura, dinamizando-a e se transformando também nesse movimento, se constituindo enquanto sujeito. Nesse processo dialético, vimos como o ser humano produz cultura ao se posicionar frente à realidade, elaborando os signos culturais que recebe (...). A cultura fornece ao indivíduo, consciente de si, possibilidades de questioná-la e afirma-la. Não somos marionetes, mas atores ativos nesse processo (BARBOSA, 2013, p.26).

Desta forma, a aproximação do professor com o sujeito e seu entorno, bem como a compreensão dos contextos de aprendizagem, são imprescindíveis para interpretar e construção identitária dos mesmos, possibilitando assim a mediação significativa de seus saberes e mundos diversificados:

Para descobrir quem as pessoas pensam que são, o que pensam que estão fazendo e com que finalidade pensam que estão fazendo, é necessário adquirir uma familiaridade operacional com os conjuntos de significado no meio dos quais elas levam suas vidas. Isso [...] Requer aprender como viver com eles, sendo de outro lugar e tendo um mundo próprio diferente (GEERTZ, 2001 apud. VIEIRA, 2013, on-line).

Sendo assim, interpretar os processos culturais vivenciados pelos jovens através de histórias de vida e autobiografias nos ajuda não apenas compreender o sujeito, como também as forma de situar-se em meio a heterogeneidade social que

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vivencia em seu entorno, e entender como acontece a hibridação5, que segundo Canclini (2008) é o processo de interseção e transação que torna possível que a multiculturalidade evite a segregação e se torne em interculturalidade. Vale salientar que nessa dimensão intercultural “[...] o que se comunica não são verdadeiramente identidades grupais de culturas de âmbito nacional ou local, mas antes, as pessoas portadoras de uma identidade pessoal, dinâmica e sempre em gerúndio [...]” (VIEIRA, 2013, p.118), e esse é o viés que buscamos na educação em seus diversos âmbitos, que ela contemple o sujeito em sua heterogeneidade e seja mediadora da construção do eu intercultural e emancipatório do jovem na contemporaneidade.

Tendo em vista o apresentado, o próximo subcapítulo interpela a realidade social visualizada ao contexto no qual o jovem se situa na contemporaneidade, para isso me utilizo de conceitos de Vieira (2011; 2013), Freitas (2005) e OMP/OPS (1985) e dos dados aferidos na pesquisa de campo.

2.2 OS JOVENS E AS JOVENS EM CONTEXTO

Juventude, mocidade, jovem, adolescência, adolescente, puberdade, são os diversos termos e conceitos utilizados para denominar este período da vida. No Brasil é comum o uso simultâneo dos dois termos, jovem e adolescente como que sinônimos da denominação deste período. As diferenças e semelhanças entre os termos nem sempre são abordadas e especificadas, e suas concepções ora são superpostas ora distintas, mas complementares (SILVA & LOPES, 2009). Já o conceito juventude aborda uma categoria essencialmente sociológica, que indica o processo de preparação para os indivíduos assumirem o papel de adulto na sociedade tanto no plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos 15 aos 24 anos (OMS/OPS, 1985).

Segundo Freitas (2005), na designação do período juvenil, em determinados contextos e por usos instrumentais associados, o conceito se amplia para baixo e

5

Termo utilizado por Hall (2003) para caracterizar a contemporaneidade onde sujeito não mais se identifica com o que é preestabelecido socialmente como marca de sua identidade. Os sujeitos interagem com o mundo, e a partir de então constroem novos pontos de vista, novos modos de ver o mundo e o outro, a sociedade. P. 13-21.

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para cima, podendo estender-se entre uma faixa máxima que compreende desde os 12 aos 35 anos. É nesta abordagem de Freitas (2005), de forma mais genérica e com ampla abrangência etária que defino minha amostra denominando “jovens” os sujeitos entre 15 a 21 anos, pois o foco da pesquisa não é classificatório, mas interpretativa e, para preservar a identidade dos entrevistados, uso apenas as iniciais em maiúsculo para identificá-los.

Partindo do pensamento de Bourdieu que diz que “a juventude é só uma palavra” (2003, p. 151), faz-se necessário, portanto, para compreender a juventude, entender o sentido da palavra, o contexto onde está sendo empregada e quem a pronuncia. Sendo assim, o sociólogo português, José Machado Pais, interpreta as trajetórias juvenis caracterizando-as como “trajetórias iô-iô”, argumentando que chegar a vida adulta é um percurso que perde a característica da linearidade:

Nos tempos que correm, os jovens vivem uma condição social em que as setas do tempo linear se cruzam com o enroscamento do tempo cíclico. Temporalidades ziguezagueantes e velozes, próprias de uma sociedade dromo…crática, na qual os tempos fortes se cruzam com os fracos e, em ambos, se vivem os chamados contratempos. São muitos destes contratempos que caracterizam a condição juvenil contemporânea (PAIS, 2006, p. 9)

Sendo assim, ao pensar no jovem no contexto dessa pesquisa reporto-me diretamente as suas identidades, que mesmo em constante construção, exprimem através do relato de suas vivências características do seu entorno e contatos culturais diversificados (VIEIRA, 2011; 2013). Entendo segundo Hudak (1999 apud GARBIN et al., 2006) que identidades não são criações fixas e estáveis, mas sim produções culturais e sociais que fazem parte de sistemas e práticas de significação, nos quais adquirem sentidos.

Meus primeiros contatos quando cheguei a Giruá/RS – mudei de cidade a trabalho – foram realizados na pista de skate na praça central da cidade. Já trabalhava na assistência espiritual de jovens há cinco anos na cidade de Santo Ângelo/RS, onde residia anteriormente, e fui skatista na minha adolescência. Não foi difícil iniciar uma conversa com os jovens naquela pista de skate. Enquanto uns andavam de skate, outros fumavam maconha atrás da rampa, outros apenas observavam.

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Enquanto conversávamos, falamos de música, skate, som, e em poucas palavras, questionei sobre a perspectiva de futuro daquele jovem de 16 anos que desabafou: “odeio essa cidade, odeio estudar, não vejo a hora de fazer 18 anos e sumir dessa cidade.” Ao ser questionado sobre sua família ele mencionou não ter pai. Assim iniciei uma pesquisa informal, pessoal, para compreender os “porquês” dos discursos pessimistas dos jovens da cidade de Giruá/RS.

Identifiquei neste período de cinco anos transcorridos nessa cidade, um alto índice de ausência paterna nas famílias (que refletiu nas histórias de vida dos jovens dessa pesquisa) e uma grande falta de perspectiva profissional e ainda, uma enorme desistência escolar. Essas percepções me desafiaram a olhar a juventude para além da “vista dos outros”, mas a descobrir como o jovem se vê no mundo.

Diante dessas percepções, observar as práticas sociais e culturais nas quais os sujeitos jovens estão inseridos em um determinado contexto se tornou essencial. Entretanto, não com fins de definir ou delimitar uma identidade juvenil contemporânea única. Minha intenção aqui é mostrar os efeitos que os diferentes e múltiplos processos de identificação pelos quais os jovens são atravessados, podem produzir identidades múltiplas e fragmentadas.

Entretanto, minha percepção está além de uma definição classista e geracional, sem ignorar a influência de ambas em seus aspectos sócio demográficos, mas evitando a padronização, bem como, a inserção de conceitos que reforçam a caracterização da juventude como uma etapa essencialmente transitória, vivida entre a infância e a fase adulta, que de forma simplista6 comumente definem juventude. Desejo analisar o fenômeno em si mesmo e não como uma mera passagem para outra etapa no ciclo de vida. Para isso incluiremos as percepções próprias dos jovens, ou seja, um olhar de si mesmo, diferentes do olhar dos outros, para captar o sentido de como o jovem se vê em sua constituição. Os sujeitos entrevistados serão identificados pelas iniciais de seus nomes, para preservar a identidade do jovem no anonimato. Surgiram então as seguintes conceituações:

6

Tendência ou prática que consiste em considerar apenas uma face ou um aspecto das coisas; simplificação exagerada. Disponível em: https://www.significados.com.br/ Acesso 17/01/20017. Defino como simplista abordagem limitada do termo comumente usada em relação a amplitude do conceito de juventude.

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Ser jovem é acreditar em si mesmo e na vida e ter poder para fazer a diferença (G.K.).

Ser jovem pra mim é ter poder para transformar, radicalizar, inovar. Jovem não é apenas uma idade. A juventude pode estar até numa pessoa idosa, desde que ela seja disponível para praticar, não apenas atividades que todos podem fazer de alguma forma, mas a mudança. Ser jovem é querer mudar o mundo, transformar a sociedade e se empenhar nisso (J.L.). Ser jovem é ser indesistível e intenso, é saber tirar algo de belo e bom de todas as coisas, mesmo em meio ao caos (T.M.).

Ser jovem... Eu acho que é ser aquela pessoa que ainda acredita no mundo, em mudar o mundo, começando aqui e agora, é sonhar e lutar mesmo que as coisas sejam difíceis; é ter força. Na verdade eu acho que ser jovem tem a ver com a nossa mentalidade em relação a tudo. Por que existem muitos jovens niilistas7 e muitos idosos que ainda lutam e fazem tudo ao seu alcance para mudar o mundo (G.S.).

Pra mim jovem é o momento da vida onde nós começamos a adquirir experiências e responsabilidades diferentes do que até então tínhamos. Ser jovem é ter espirito de unidade na diversidade e ânimo de vida. Eu vejo que a juventude carrega uma esperança de transformação, para si e para os outros e isso é muito bom. Eu vejo toda a expectativa que as pessoas colocam em nós para transformação da sociedade... Jovem é ser e ter esperança (L.L.).

A voz dos jovens não é escutada e nem levada em consideração. Desta forma, considero que a experiência do jovem e como ele se vê, é um fator propulsor da dinâmica da sociedade. O jovem é o agente de transformação, é o canal das mudanças sociais, pois em suas vivências movimentam novas ideias em seu meio.

Assim, falas dos jovens descritas acima, não tratam de meros relatos conceituais, mas da reflexão pessoal de suas próprias existências, isto é, parte da construção significativa da identidade pessoal, do seu autorretrato, pois segundo Butler (apud Vieira, 1998, on-line): “A obra de cada homem, seja de literatura, de música, de pintura, de arquitetura, ou seja, do que for, é sempre um retrato dele mesmo.” E então, partindo das reflexões iniciadas no próximo capítulo irei observar a cultura e a educação sob o contexto familiar, adentrando nas histórias de vida dos sujeitos, interpretando-as através das suas próprias percepções, “abrindo a porta de suas casas.”

7

Niilismo é uma doutrina filosófica que indica um pessimismo e ceticismo extremos perante qualquer situação ou realidade possível. Consiste na negação de todos os princípios religiosos, políticos e sociais. Disponível em: https://www.significados.com.br/ Acesso 17/01/20017

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3. CULTURA E EDUCAÇÃO FAMILIAR

Este capítulo é divido em três subcapítulos. O primeiro deles é nomeado de “Abrindo as portas da casa: conhecendo as histórias dos jovens” ele apresenta uma compilação dados coletados na história de vida e na autobiografia dos jovens pesquisados.

No segundo subcapítulo, intitulado de “Matriz familiar: uma impressão na identidade” apresento conceitos pertinentes a compreensão da identidade, no contexto estudado nesta pesquisa; estabeler-se-á ainda uma relação com os relatos dos entrevistados, além de perceber as implicações desta relação na constituição da identidade deles sob o ponto de vista de Marconi e Pressotto (2010), Hintz (2001). Neto (2016), Oliveira (2009), Brasil (1990; 1998), Lahire (1997), Casarin (2007), Vygotsky (1991) e Bourdieu (1999).

Já o terceiro subcapítulo, de nome “Autonomia ou autossuficiência? limites necessários”, estabelece um diálogo entre os conceitos de autonomia e autossuficiência, identificando a relação de diferenciação existente entre eles.

3.1ABRINDO AS PORTAS DA CASA: CONHECENDO AS HISTÓRIAS DOS JOVENS E DAS JOVENS

Neste subcapítulo, através do relato das histórias de vida dos sujeitos que são expostas, “entrarei em suas casas”, isto é, observo as influências da cultura e educação familiar como uma ‘impressão na identidade’ dos jovens, que de forma direta ou indireta contribuíram para construção do “eu social”, no estabelecimento da sua autonomia bem como dos seus limites em prol do outro.

A compreensão dos processos e contextos de aprendizagem pelo qual o indivíduo é atravessado, principalmente o jovem centro dessa pesquisa, é de suma importância no mundo contemporâneo. Para explorar o sujeito em suas vivências e interpretar fenômenos complexos da vida humana, faz-se necessário usufruir de métodos específicos de investigação, especialmente os qualitativos e interpretativos, que proporcionem percepções multifacetadas, uma visão de diferentes perspectivas

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sob um olhar plural e não reducionista. O uso da história de vida e autobiografia são alternativas viáveis.

Conhecer a história de vida dos entrevistados, sob a ótica interpretativa do pesquisador, não elucida a essência e a riqueza total da entrevista, entretanto, capta nuances importantes para a identificação dos atravessamentos do sujeito no decorrer de sua socialização e educação que teceu sua identidade, mesmo que ainda em construção, até o momento. Para que sejam mais compreensíveis as citações no decorrer do trabalho, apresento de forma sucinta, uma transcrição geral das falas de cada jovem em seus contextos diversificados.

Conhecendo T.M.

T.M., é uma jovem de 19 anos, nascida em 18 de junho de 1996 em Giruá/RS. Filha de R.F.S e O.M, atualmente ela trabalha como operadora de caixa em um supermercado local. TM. Possui dois irmãos, uma irmã mais velha chamada C.M., ela tem 27 anos e já constituiu família, mora com seu marido e filha de 3 anos. Seu irmão caçula, T.M., possui 15 anos e está cursando o primeiro ano do ensino médio; T.M. (irmão) mora junto com T.M. sua mãe e padrasto. Segue sua narrativa de vida:

Desde muito nova minha mãe começou a trabalhar como empregada doméstica, em vezes, deixava de ir à escola para trabalhar, fator esse, que se instaurou de vez quando ela ficou grávida da minha irmã aos seus 16 anos. Conseguiu retornar os estudos com 38 anos, cursando então, o ensino médio completo. Entretanto continua trabalhando como empregada doméstica até hoje.

Quando tinha sete anos de idade meus pais se separaram, devido à “incompatibilidade” de ambos e os vícios do meu pai, que mesmo com sua graduação em matemática e grande influência em muitas empresas e cidades, conseguiu desperdiçar tudo pelo álcool. Ele foi morar em outra cidade com meus avós e nós ficamos com a minha mãe. Pouco mais de um ano depois da separação, minha mãe começou um relacionamento com o meu padrasto, que atualmente trabalha em uma oficina mecânica

O divórcio dos meus pais nunca foi visto com bons olhos por minha família materna, e as coisas pioraram quando a mãe e seu namorado assumiram relacionamento, principalmente por eles ser dez anos mais novo que ela mais ou menos. O fato é que houve certa exclusão da parte de ambos – familiares e minha mãe- deixando meu irmão e eu no meio do fogo cruzado. Em casa as coisas também não são muito diferentes, principalmente da parte do meu irmão. Quando ele era menor as coisas eram mais pacificas entre ele e o namorado da minha mãe, mas depois que meu irmão começou

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a crescer, certo ciúme ela minha mãe começou a brotar, junto com a disputa de ambos pelo cargo de “homem da casa”. Na maioria das vezes tudo termina com minha mãe saindo em defesa do meu irmão, e desde então, esse “duelo” não tem fim, muito menos uma previsão para o seu término. Lembro-me das brigas frequentes e fervorosas de meus pais quando ainda viviam juntos, da saudade que sentia quando ele foi embora, das vezes que minha mãe, sendo mãe e pai, se virando em dois pra que não faltasse mantimento na nossa casa. Nesses dias sentia que estávamos sozinhos, apenas nós três, e eu tinha que fazer alguma coisa. Foi aí que assumi o papel de mãe do meu irmão e dona de casa, para que a mamãe pudesse trabalhar mais, uma vez que, minha irmã mais velha morava desde pequena com meus avós (T.M. Autobiografia).

Conhecendo G.S.

G.S. é uma jovem dezoito anos, nascida no dia 20 de março de 1998, em Giruá, filha de W.R e de M.M.S.; está cursando o 3º semestre de engenharia elétrica na URI em Santo Ângelo e mora em Giruá com sua irmã mais velha.

Minha família é composta de 6 pessoas , meu pai , minha mãe, e suas quatro filhas, das quais eu sou a mais nova. Meu pai terminou o fundamental quando era novo , mas há alguns anos ele conseguiu o certificado de conclusão do ensino médio ; e minha mãe terminou o ensino médio técnico em administração ainda nova; eles estão juntos a 28 anos, e há mais de um ano eles foram morar em Viamão serem caseiros em um sítio de orgânicos , trabalho que já tem bastante experiência.

Das minhas irmãs mais velhas, a mais nova tem 24 anos , mora com seu noivo e 2 filhos em Passo do Sobrado trabalhando no cultivo de fumo, ela não terminou o ensino médio por ter engravidado e ido embora quando estava no último ano, em 2009. A irmão do meio, foi embora pra POA em 2007, logo após ter ser formado no ensino médio, para ajudar minha tia no cuidado dos nossos avós paternos, ela se formou em pedagogia na UFRGS e começou a pós- graduação , e agora trabalha na assembleia legislativa em POA. A mais velha , que hoje tem 27 anos, largou os estudos há 10 anos quando engravidou, mas há alguns anos terminou o ensino médio e fez um técnico em vendas; hoje ela trabalha em uma padaria aqui em Giruá, e todo dia ela vai ver a filha dela, que não mora com a gente (G.S. Autobiografia).

Os pais de G.S. não são naturais de Giruá, mas vieram para o interior para trabalhar em granjas. G.S. cresceu morando no interior. Devido ao trabalho intenso, G.S. foi criada por suas irmãs mais velhas. G.S. relata que sua casa, na maior parte da sua infância só possuía um quarto, em uma pequena casa de madeira, e as condições financeiras dos pais eram apenas para subsistência.

Dos momentos ruins, acho que o pior tenha sido uma noite em que o pai e a mãe brigaram (eles sempre brigavam, porque bebiam muito sempre) e o pai pendurou uma corda em uma árvore perto do meu pé de limão e ia se enforcar, a minha mãe apoiava, e ninguém conseguia convencer ele que não, mas algo deu errado ele desistiu; depois dentro de casa ele sentou comigo dizendo o quanto ele se preocupava comigo e eu só fiquei sem

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entender o porque ele fazia aquilo, porque ele queria se machucar, eu não queria que ele se machucasse. A minha lembrança boa daquele dia é a minha ursinha de pelúcia, em que eu passei todo tempo abraçada, enquanto era plateia de tudo aquilo; minha família nunca foi muito amorosa, e ainda agora morando longe, a minha ursa continua sendo minha companhia e meu abraço certo (G.S. Autobiografia).

As minhas relações familiares é algo meio complicado, assim talvez, eu já vi as pessoas falarem disso, mas assim eu não aprendi a ter uma relação próxima assim sabe um carinho, a minha família é meio frieza assim, não tem um abraço muito próximo, não é algo que eu ame as pessoas assim... É uma coisa bem complicada, porque as pessoas são meio distantes, assim é algo que eu não consigo me sentir assim confortável quando une minha família assim, os de casa até que vai , mais ou menos assim, com familiares...minha avó, mas é algo que eu não consigo me sentir confortável no meu meio familiar, por que nem com a minha família eu consigo ter uma conversa próxima assim, imagina com as pessoas que são só , tipo tios, primos assim essas coisas. Da minha família em casa assim é algo bem difícil, é algo que eu não consigo ter próximo assim aquela coisa do carinho, do abraço é, eu não sei explicar... Mas é algo que não consigo me sentir confortável, por mais que eu me esforço, com as pessoas pra estar junto... mas não consigo criar um assunto, que me sinta confortável porque não me acostumei ter, eu não sou acostumada a ter, assim convivência com a família(G.S. História de vida).

A minha família a partir dos meus sete anos nunca moraram juntos assim, nunca foi assim todo mundo morando junto, pois foi sempre uma coisa meio separada assim, sempre uma pessoa a menos, e eu não gosto disso também, talvez isso seja algo não legal na experiência de relações porque da ultima vez que se reuniu o meu pai e minhas irmãs juntos acho que foi 2008 então faz um tempo e eu me sinto muito frustrada com isso, eu... Sinto saudades deles, mas relacionamento, a gente não tem um relacionamento próximo é tipo, bem complicado, bem complicado, eu não sei... Mas agente não foi criado com aquele amor, tipo de abraço, de cuidado sabe, de esta junto, e eu ainda mais, pois esses tempos estavam as minhas outras irmãs aqui e daí elas tem um assunto em comum, pois elas foram criadas juntas e eu fui criada por elas, um negócio meio assim, junto com os pais, mas assim eu não tenho um relacionamento legal, não me relaciono com a minha família, eu não vejo minha família, agente não se fala por muito, muito tempo, é complicado (G.S. História de vida)

Conhecendo A. M.

A.M. é uma adolescente de 16 anos, natural de Giruá, nascida no dia 26/05/1999. Filha de S.M. que é dona de casa e de W.M. que é gerente de vendas numa empresa local.

Moro com Minha mãe e meu pai, tenho duas irmã, uma mora em Giruá e a outra mora em Santa Catarina tenho também um irmão que mora em Giruá, todos são casados, se relacionamos muito bem, brigamos também mas sempre respeitando um ao outro, Minha mãe é braba, mas muito querida nós somos bem amigas meu pai não é brabo mas me ensina muito sobre coisas que poderei usar no futuro. Meus irmãos tenho um relacionamento muito amoroso com eles, sempre se ajudando e respeitando.

Meu pai terminou o ensino médio e fez faculdade de matemática, hoje não atua na área, minha mãe terminou o ensino médio também e fez técnico em

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contabilidade. Minhas duas irmãs são professoras e meu irmão tem empresa própria (A.M. Autobiografia)

A minha infância sempre foi assim muito normal, eu não tinha muitos amigos assim, de pequena, eu era mais sozinha assim, eu só tinha a mãe o pai e os irmãos. Eu também tinha uma babá e era ela que sempre me cuidava, e sempre andava comigo pela cidade, eu lembro que ali na rodoviária que é nova, ale era um vazio e tinha um murinho, eu ficava sentada ali eu e ela, aí agente brincava das cores dos carros que passavam e eu era uma pessoa feliz assim como eu disse eu não tinha primos assim da minha idade pra brincar, porque hoje os meus sobrinhos por exemplo eles tem com quem brincar, e eu não(A.M. História de vida).

Acho que um ponto positivo na infância teve muito... O cuidado que eles tiveram comigo, de eles mima assim bastante e de eles faze tudo pra mim, porque eles faziam de tudo mesmo, o que eu precisasse eles iam lá e faziam, e eu queria uma coisa eles iam lá e compravam, sempre isso, claro que não tudo né, dependia , tudo as coisas eles não compravam, mas sempre tentavam fazer o melhor né pra mim, e a gente sempre foi bem unido também, todos nós apesar do que aconteceu assim, tem acontecido algumas coisas na família...

Eu acho que o que faltou assim, porque o amor deles eu sempre tive, mas eu acho que faltou eu acho , porque eu lembro que as vezes por exemplo no dia dos pais, ele nunca queria nada , ele sempre dava um jeito de não ir nos dias dos pais da escola, isso é a única coisa assim de ausência assim que eu lembro, que ele não gostava, não é que ele não gostava, ele não ia muito...(A.M. História de vida).

Conhecendo J.L.

J. L. é um jovem de 19 anos, nascido em 16/10/1996. Naturalidade Giruaensse, Mãe J. L Dona de casa, Pai V.L Construtor.

Bom, moro com meus pais e com mais dois irmãos, um de 17 anos e outro de 6 anos. Em nossa casa nos relacionamos bem, cada um tem seus deveres e o respeito como base de tudo. Meu pai tem como formação escolar a terceira série , e minha mãe o ensino médio. Minha mãe é dona de casa, faz os seus deveres e cuida do meu irmão menor. Meu pai é construtor, tem seus empregados e fica na função dele correndo pra lá e pra cá em obras.

Minha infância não foi boa. Meus pais me tiveram muito novos e sem preparo algum, sem estrutura familiar, nem mesmo de avós para auxiliar, pois meus avós paternos morreram quando meu pai tinha apenas 11 anos, e por parte de mãe tenho apenas a avó. A família minha mãe é muito rígida, minha mãe, por exemplo, ganhou uma surra quando completou quinze anos por não ter feito algo que lhe mandaram.

Da minha infância em casa... Eu brincava muito sozinho. Uma coisa que me marcou foi ter engolido um prego de bitola 12X12, eu quase morri. Outra coisa que eu não achava legar foi ter ido muito cedo para creche, mas acabei me acostumando com o tempo e fazendo amizades com os colegas. Tive uma professora que eu amava muito, pois me deu carinho e atenção. Tivemos muita dificuldade financeira na família, nunca faltou alimento na mesa, mas comemos muita batata, e ovo com mandioca... Acho que isso me ensinou dar valor a cada refeição, acho que um ponto positivo. Como negativo... a ausência do meu pai, e o fato de ter passado minha infância em creche, pois sofri muito com isso, principalmente quando seu irmão mais novo nasceu e minha mãe parou de trabalhar para cuidar dele. Isso me marcou negativamente, pois mesmo com a mãe em casa ela não me dava a

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atenção que eu precisava, cuidado somente do meu irmão mais novo (Autobiografia J.L).

Conhecendo G.K

G.K é uma adolescente de 17 anos, filha única. Nascida em 07/09/1999. Giruaense. Filha de S. R. K. e R. P. Estudante.

Minha família são meu pai e minha mãe, moro somente com a minha mãe por que eles são separados e nossa relação não é das melhores, há brigas entre eles e muitas vezes é por que a pensão não é paga, o relacionamento deles comigo é razoável, digo isso por que poderia sim ser muito melhor. A parte difícil de só se ter mãe em casa é que eu não me sinto segura, em um sentido emocional. Minha mãe trabalha com técnica em enfermagem e meu pai é desempregado.

Quando eu era criança eu vivia na rua brincando com meus vizinhos, jogava vôlei, brincava de ser cantora, nos verões eu e meus primos fazíamos guerra de bexigas com água, subíamos em árvores e as pernas eram sempre cheia de arranhões. Eu não era desobediente, mas sempre fui uma criança sincera e sonhadora, foi o que aprendi no curto tempo com meu pai (ele foi embora quando eu tinha 6 anos) e minha mãe sempre me ensinou a ter educação com as pessoas.

Eu me relacionava bem com alguns dos meus colegas quando pequena, mas alguns pareciam não gostar de mim, ou talvez fosse implicância, mas me chamavam de feia e diziam que meu cabelo era feio, isso gerou em mim algo muito negativo em relação a mim mesma eu passei a me odiar por não ter cabelo liso igual as outras meninas, por não ter olhos azuis como os outros, eu não gostava de mim mesma. Foi uma época muito difícil pra mim, por que até minha família demonstrava isso, quando eu ia para casa de minha vó antes de ir para aula, eu ia me arrumar no banheiro e ela dizia que pentearia meu cabelos, mas eu só me lembro da dor dos puxões não de penteados bonitos.

Minha adolescência no início foi uma fase marcante na minha vida por que eu estava descobrindo quem eu era eu queria abraçar o mundo, eu sonhava, mas no fundo não acreditava que eu pudesse conseguir realizações na vida. Foi uma época de rebeldia, mas eu não chegava a desobedecer ordens, era mais dentro de mim que havia confronto. Minha infância e parte da adolescência foi marcada por idas e vindas aos psicólogos. Foi nessa parte da vida que fiz melhores amigas, com quem eu passava quase todos os dias.

Eu sou uma pessoa que se dedica quando quer alguma coisa, eu sou perfeccionista e isso contribui para que para mim as coisas sempre estejam no lugar. Mas uma coisa que provavelmente é meu “ponto fraco” é quando algo acontece na minha família, quando coisas ruins acontecem eu fico péssima (G.K. Autobiografia).

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R.C. é um jovem de 17 anos, nascido em 13/03/1999, na cidade de Giruá, onde reside atualmente, mas morou na zona rural até seus cinco anos. R.C. mora com seus pais J.R.R.C e E.R.L.C e sua irmã mais velha R.L.C.Seu pai sempre foi trabalhador, em toda sua vida trabalhou em serviço pesado, pois não teve estudo, hoje ele é aposentado por invalidez. Sua mãe é aposentada como Técnica em Enfermagem trabalhou 35 anos no Hospital de Giruá onde fez toda sua carreira profissional, e atualmente atua como costureira num atelier da cidade. Sua irmã está cursando Ciências Contábeis, e trabalha como auxiliar administrativa numa empresa local.

Sempre morei com meus pais e minha irmã, sou o mais novo da casa, tenho relações muito boas com meus pais e minha irmã, gosto de me divertir com eles, sou muito risonho então estou sempre fazendo eles rirem de qualquer coisa, meu pai é mais bruto, já a mãe é muito brincalhona, minha irmã é muito estressada, e eu como já disse sou risonho todo o dia, então já imagina como é o dia a dia dentro da minha casa.

Minha infância foi muito cheia de descobertas que marcaram minha vida positivamente e negativamente. Sempre gostei muito de jogar bola com meus primos, mas sempre arrumava confusão, me machucava muito sempre batia a cabeça, pois eu era muito diferente, praticamente foi muita confusa minha infância, pois era tudo confuso eu não entendia nada. Mas literalmente minha infância foi marcada por uma frase que meu pai me disse. Eu tinha 6 anos de idade quando meus pais estavam passando por uma grave crise financeira, nesse mesmo período, meu pai me pegou no e colo e disse pra mim “Filho não quero que você seja igual ao pai, burro que não sabe ler e nem escrever, quero que você tenha estudo e seja um homem muito inteligente” – isso me marcou para sempre. Aprendi muito com pai, em ter respeito em tratar as pessoas com dignidade.

Meus pais não foram muito presentes nos primeiros anos escolares, minha mãe sempre chegava atrasada e às vezes nem ia às homenagens que a escola preparava para o dia das mães. Meu pai nem se quer ia. Isso me magoava, pois meus amigos tinham seus pais juntos nesse momento e eu estava quase sempre sozinho. Eu admirava meu tio, que era presente na vida dos meus primos e o tomava por referência (R.C. Autobiografia).

Conhecendo C.M.

C. M., é uma Jovem de 19 anos, nascida no dia 23 de março de 1997 na cidade de Três de Maio. Sua mãe se chama M.D., e seu pai se chama O.M.. Atualmente ela trabalha em uma loja de roupas e bazar exercendo funções gerais, localizada no centro de Giruá; C.M. começou a trabalhar por volta dos 13 anos como babá, em lancherias e pizzarias em épocas festivas. Seus pais são separados desde os seus 9 anos de idade.

Referências

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