j
OSVALDO GORDILHO
OS TRANSPORTES NO BRASIL
Coteçõo MAUÁ
MINISTÉRIODA VIAÇÃOEOBRASPÚBLICAS SERVIÇO DEDOCUMENTAÇÃO
1956
/ÍÇ-6 31
”
A GUISA DE ESCLARECIMENTO
O
presente trabalhofoi apresentado peloDoutor
Osvaldo Gordilho, sob o título “Definição deuma
PolíticaNacional dos Transportes”,
com
opseudônimo
de “Ferroviário”, aoInstitutoBrasileiro de Educação, Ciênciae Cultura,IBECC —
ComisssãoBrasileirada
Organização Educacional Científica e Cultural das
Nações
Unidas Unesco,com
sedeno
Palácio Itama- rati,—
para concorrer ao prêmio “Sul América”,rea- lizadosob o patrocínio daquele Instituto.Com
os resultados apurados, verificou-sea colo- cação destacadadesta tese,cuja apreciação peloilus- tre economista daFundação
Getúlio Vargas,Doutor Alexandre
Kafka, após incluir amonografia entre as cincomelhores, acentuouque
“ é mais fácil perceber a qualidade superior dessascincoteses,em
relação às demais (16), doque
apontar dentreas cinco citadas a melhor”, opinando “deforma
elogiosa à referida monografia”,na
expressãodo
eminenteDoutor
The- mistoclesBrandão
Cavalcanti, Presidentedo IBECC.
Ainda
recentemente, nas “Impressões deLeitura”,no
trabalho deEdgard
Fróis da Fonseca, intitulado“Uma
Política Nacional dos Transportes”, o insigne Professore ex-MinistroMaurício Joppert daSilvaes- creveu, referindo-se às monografias apresentadas aoIBECC,
daseguintemaneira— “A
leitura dêssestra- balhos foiuma
revelação, pois mostravaum
grandenúmero
de estudiosos perfeitamente versadosem ma-
téria detão alta especialização,
compreendendo
a fun-do
a complexidade do problema brasileiro, relativo a ela, suas necessidades e defeitos atuais e a solução mais. conveniente dos interesses nacionaisE
prossegue aquele eminenteProfessor:— “Como
sói acontecer,cada autor deixava transparecer osfun-
damentos
de suaformação cultural e,às vezes,apre- ferência porum
determinadomeio
de transporte,mas
foipossível destacar,
sem
dúvida,uma meia
dúziade trabalhos verdadeiramente brilhantes”.
Assim, à guisa de esclarecimento,o trabalho do
Doutor Oswaldo
Gordilhorepresenta,em
verdade,uma
excelente contribuição para maiores estudose inves- tigações sobre a matériae
uma
preciosa advertência às gerações novas do Brasil, paraque
sintam as in- gentes responsabilidades decorrentes de tão grandes problemas,como
os suscitados pelos Transportes.Deixamos
de apreciar a pessoa do autor,como
professor, ferroviário, administrador, legislador, cujas observações neste trabalho tantorefletem a seriedade de seus estudos e investigações,dado
o conhecimento geralde suapersonalidade,em
nossaterra.O
presente trabalho, sôbre ser brilhante,como
o definiu o insigne Professor Maurício Joppert, éme-
recedordo
melhor acolhimento porparte dosestudio- sos da matéria.Setembro, 1956
FRANCISCO DUARTE BURITY
ÍNDICE
I
— A
Técnicacomo
fatorde civilizaçãoPg. 9 II— A Economia
nos transportes ... ” 17 III— O
Brasil— Expansão
Territorial—
Evoluçãopolítica e
Econômica —
Co- municações—
Transportes ” 25IV — Os
Transportes esua influênciana
Economia
Brasileira, Sistemas de transportes e sua implantaçãono
Brasil ” 42
V — Mauá
” 71VI — O problema
dos transportes e sua repercussãona
vida nacional ” 79 VTI—
Plano Nacional de Transportes.An-
tecedentes Históricos ” 113
Vüi —
Situação dos Transportesna
AtualRealidadeBrasileira ”145
IX —
Definição deuma
Política Nacionalde Transportes ” 203
A) Política da planificação ” 204
B)
A
Política das Construções de Es- tradaseInstalaçõesdosPortos e deNavegação ” 205
—
.7C)
A
Políticada Conservação ” 231 D)A
Política de expansão dos Trans-portes
”241
E)
A
PolíticadoCapitalnos Transportes ” 255F
)A
Políticadomaterialnos Transportes ” 267 G)A
PolíticadoPessoalnos Transportes ”277 H)A
PolíticadasTarifasnos Transportes ” 281I)
A
PolíticadaCoordenação dos Trans-portes
”291
J)
A
PolíticadaLegislaçãosôbreTrans-portes ” 297
K)
A
Política da Administração dosTransportes ”302
L)Definição de
uma
Política Nacionalde Transportes ” 309
ÍNDICE
deautores 313A TÉCNICA COMO FATOR
DE CIVILIZAÇÃO Encarando-se oproblemadostransportes,noseuaspecto deorigem,seusfundamentos, suasdiferentesmodalidadesde execução, é óbvio que, a tudo isso, está ligada a questão datécnicasôbre a qual teremosdefalar, nesteprimeiro ca- pítulo.A
técnica,o"modusfaciendi",quemuitotempreocupadofilósofos,economistas,sociólogos,
bem
poderásera concre- tizaçãodaqueleprincípio,lembradoporWinwood
Reade,de que "háuma
emprêsagrandiosanaqual sempreos homens andaram inconscientemente empenhados, mas que êles tim- bramem
realizar-com método, comouma
ciência ouuma
artee que, nem
bem
lhe tenham alcançadoa culminância, adotam devotamente como fé religiosa. É a conquista do planetaem
quevivemos,adestruiçãooudominaçãodasfor- ças selvagens quenos atormentam e escravizam". (O Mar-tíriodo Homem).
Evidentemente, o
homem
sempreviveuem
ação, pois,é—
9certoquea vidanãoé a contemplação,opensamento,pode- ríamos dizermelhor, a vida nãoéteoria, tanto mais-que o homem,
em
sualuta paradominara natureza,foiencontrar na técnicauma
dinâmica para a satisfaçãode suas neces- sidades.Devemosreconhecer queé com a técnica quecomeça o homem.
Com
atécnicaohomem
modificaoambientequeocer- ca,para adaptá-lo asimesmo, nasatisfaçãodesuasneces- sidades.Equaissãoas necessidadesdo
homem?
Não
constituirão as necessidades primárias dohomem
aalimentação e a bebida (água)?Não
écertoquepara se alimentartem êle,o homem, decolher ofruto ou caçaro animalouirauma
fonteem
buscada água quelhemitigue asêde?E para atender a tais necessidades, que faz? Movi- menta-se, desloca-sede
um
ponto aoutro,sái desua natu- reza,cria, inventa, executa,fazo fogo, constróiuma
casa, cultiva o campo, produz o transporte... esurge, então, a técnica.
Eis porqueos sociólogosconsideram atécnicacomo
um
problemasocial e, como tal,um
problema decultura. E é Tylor,em
sua "Antropology", queconsidera "comopossível queoindivíduo, nas éras mais remotasda história humana, agisse, aprincípio, sem grandecoerção social e osseusin- 10—
ventos,aqueeramovidopelas necessidades,tivessem caráter acentuadamenteindividualista".
"Mas, ulteriormente, continua Tylor, as circunstâncias foram modificando a mentalidade, forçando o
homem
auma
agregação mais íntima,de onde iriam surgirosclãs, as tri-bosprimitivas.
O
queé inegável,na vida do homem,quer do pré-histórico, quer da antiguidade clássica, querdo mo- derno, équeo aparelhamento constituídode instrumentose utensílios e depois ode máquinas movidas avapor ou ele- tricidade representam a base fundamental de sua própria vida.O homem
é,àsvezes,chamadoo animalqueusauten- sílios (tool-using animal) para distinguí-lo dosanimais infe- riores.Entretanto, muitastribosde macacos, sem nunca terem sidoensinadas pelo homem, sabem defender-se por si mes- mas,compedras epedaçosdemadeira. Eisporque,depre- ferência, sedefine o
homem
para distinguí-losdos animais, como fazedordeinstrumentos, (tool-maker)e nãooqueusa instrumentos (tool-user)".,Daí a conclusão deCiro dePádua: "para o,
homem
a técnica deveráserconsideradacomoum
veículoquelhe fa- cilita a viver melhor".Em
verdade,é a técnica quevai ofereceraohomem
o melhor instrumental para a sua luta contra a natureza, lutaque nãocessanunca,poisé aluta dasobrevivência, lutado
instinto, luta pela sua própriavida.
£ precisamente neste ponto
em
que vamosencontraro—
11revoltadoSpengler quando prevê acatastrófica decadência do Ocidente, isto porque "aofinalizar oséculo passado, a cegavontade-de-podercomeçou acometer seusêrros.
Em
vez demanterem
segrêdo o conhecimentotécnicoqueconstituía oseu maiortesouro, os povos brancos (como denomina êle aos ocidentais) ofereceram-no complacentemente a todo o mundo,em
tôdas asescolas superiores, verbalmente ou por escrito, aceitando com delícia a embasbacadahomenagem
dosindúse dos japoneses".EacondenaçãoviolentadeSpengler àtécnicaaocon- siderá-la como tendo fugido da Europa para outros conti- nentes,deixando os "animaisderapina" (comotrataaosho- mens) na impossibilidadedecontinuarodomínio, à vontade e indiscriminadamente, dos povosdadoscomoinferiores,como
classificaospovosdaÁfrica, daÁsia,da Oceaniae
mesmo
osda Américado
Sul.
E, assim,com a "desseminação da indústria", ao invés
"da exportação dos produtos acabados, são exportados os segredos, processos, métodos, engenheiros, organizadores", dando lugaraque"osnativos", após penetrarem os nossos segredos,os utilizemplenamente.
"No
espaçodetrintaanos, dizSpengler, os japonesessetransformaramem
técnicos de primeira água eem
sua guerra contra a Rússia revelaramuma
superioridadetécnicaacima da queseus professores lhes haviam ensinado".Maisirritadoainda, escreveuque "osin- substituíveisprivilégiosdas raçaS brancas foram jogadasfora, gastos e atraiçoados", concluindo, cheio depessimismo, que 12—
"para as raçasdecôr (entreasquaisincluiaRússia),aocon- trário,atécnica nãoé maisque
uma
armana luta contraa civilizaçãofáustica. Essa técnica maquinista acabará coma civilizaçãofáustica e,um
dia,cairá porterra,em
pedaços, esquecida, nossas estradasdeferroevapores tão mortoscomo os caminhosdeRoma
ecomoa muralhadaChina; nascida- des os arranha-céus gigantescosfeitosruinascomoasantigas Menfis e Babilônia.A
história desta técnica está chegando ràpidamente aseu final.Quando
edeque maneira acaba- rá?Não
sabemos".(OHomem
eaTécnica).E é para acreditar-se
em
taisdevaneiosda visão cere- bral deSpengler?Como
não compreender a técnica comouma
arma decompetição?Como
nãoseconcluirde suas van- tagens, de seus efeitos, desuas utilidades, mais comouma
criação provocada pelas necessidades humanas?No
instintodeviver,desua própriasobrevivência,nãoencontra nelao
homem
o meiodeseudomínio sôbre a natureza?Será que não representa a técnica, na expressão de Dagnino, "um desejo de reconstrução sôbre novas bases"?
Seráquenãonos"devemoscolocaranteofatode que o
mundo
está atravessandouma
crisequeé essencialmente técnólógica eparaa qualnenhumasolução épossívelsenão fôrconcebidadeum
pontodevistatécnológico",comoquer HowardScott?Emverdade, naépocaanteriorà descobertadamáqui- na a vapor,domotor,daeletricidade,etc.,asfontesdeener-
gia eram constituídas fundamentalmente pelo trabalho hu-
mano
coadjuvado pelos animais domésticos.É a história quenos aponta aqueles marcos milenários concretizados nas obras deAlexandre, Augusto, Guilherme, o Conquistador, Luiz XIV, Pedro, o Grande etantos outros a adotarem, a
mesma
máquina utilizada na construção das pirâmidesdo Egito, dosjardinssuspensos da Babilônia,das estradasromanas,do paláciodeVersalhesetc.Esta máquina é definida por Arkright, a "que tem a capacidade de
um
décimode cavaloa vapor,que pesade 150 a 200 libras, extremamente econômica no consumode combustível,máquina quetrabalha sob pressão constante e queinforma imediatamentequandoo combustível seesgota.Tem perto de 250articulações. Apesar desuaeficiência e de sua durabilidade, está atualmente se tornando inútil e milhões de exemplares estão abandonados. Esta máquina chama-se
Homem".
(The A.B.C. of Technocracy).
A
evolução,oprogresso,a dinâmicada vida,têm pro- porcionado aspectos novos quetornam a máquina o eixoem
tôrnodoqualgiraomundo
moderno.Eestamáquina quevaialterarahistóriaeconômica,lan- çando novas e múltiplas bases econômicas e determinando novasinfluênciasna vida dos povos,quelutampor sua sobre- vivência.
"Losverdaderoshéroisdela historiaeconómicason los
hombres de ciência, los inventores y los exploradores. La transformación real de lavida social sedebe aellos. Car- 14
—
lyle cometió un solo error; suposo que podia atribuirse el
cambiohistoricoalos esfuerzosdeun númeromuyreduzido de hombres excepcionalmente dotados.
No
se dió cuenta de quelos processoshistóricosensu integridad comprenden nosoloa lospocosqueseencontran ensituaciones estrate- gicamenteimportantes, sinotambién a muchos escuros inno- vadores desconocidos, cujos esfuerzos fueron esenciales, si biendeunmodo
imediatonotanimportantesoconspícuos”, escreveu AbbotUsherem
"Historia delas InvencionesMecâ- nicas".Leonardo da Vinci, multiforme no seu engenho e arte, legou à históriadas invenções"uma influência queseper- cebe durante
um
séculointeiro". (AbbotUscher).Princípios e aparelhamentos hidráulicos, manifestações sôbreengenhariamilitar,mecânica
em
geral, instrumentosde precisão,fôrça motriz,elementos einstrumentostêxteis, uten- sílios mecânicos vários, tais e tantas expansões inventivas"marcam oscomeços da ciênciada máquina"... na expres- sãodeReuleaux. ^
E, assim,é que, de progresso
em
progresso, "el desa- rrollode lamáquinaatmosférica ydelamaquina de vapor, proporcionouna base para lageneralizaciónde empleo delafuerzamotrizen laindustria".
Não
énecessário, nem éde nosso programa, escrever aquia história detalhada das invenções.Cabe, porém, destacar-se a invenção.da turbina,, que.
—
15ainda hoje, revela possibilidades insuperáveis; a eletrici- dade; o motor de combustão a gasolina, de Daimler; o motora óleode RudolfDiesel; taisetantas invenções que, por sua vez estimulamoutras inovações decorrentesdealtas investigações atômicas,
em
perspectivas de surpreender omundo
de hoje antea descoberta deum
novomundo
de amanhã.il
A ECONOMIA DOS TRANSPORTES
Reconhecem os economistas queas bases fundamentais eessenciaisdavidaeconômicasão:aproduçãoe o consumo, istoé,o
homem
produz paraconsumir.Em verdade, tentando-se observar a atividade econô- mica, deduz-sequeoconsumoconstituiofime a produção o meio.
Em estudando a vida econômica, compreendendo os fatores que concorrem para a sua atividade, iremos en- contraros fatores permanentesda produção,comosejam:a natureza, através das matérias fornecidas pela terra, pelo mar, pela atmosfera, e o trabalho
—
êstedecorrenteda ação humana.
A
tais fatores costumamos economistas aditar umter- ceiroelementoconstituído docapital.Entretanto, quem observar a evolução da vida econô- mica, conhecer a sua história, pesquisar as suas múltiplas manifestações, investigar o seu aperfeiçoamento, perceberá
—
17que, nestes últimosduzentosanos, surgiu
um
elemento novo que, de maneiradecisiva, tem concorrido para a eficiência demaior e melhor produção: é progressotécnico.O
progressotécnico,atravésdeseusmúltiplosprocessos e manifestações desenvolve,sem cessar,as matériasnaturaisutilisáveise osefeitosdotrabalhohumano.
Equeéo progressotécnico?
Não
seráoprogressocientíficoencaradonosfatoseco- nômicos? Atravésdo progresso técnico,ohomem
vai domi- nando as dificuldades. Derivado, como é,duma
atividade científica experimental,vai representaruma
capacidade de ação maiseficaz adquirida pelohomem
graças ao esfôrço intelectualsôbre os elementosmateriais.Perguntar-se-á:
—
se o progressotécnico não surgisse, nãointerviessenavidados povos, manifestar-se-iam os fenô- menos econômicos contemporâneos? Apresentar-se-iam nos seus efeitose nas suas reações,comoseapresentam,em
be- nefícioda humanidade?A
produçãoteriasidotão crescente?Quem,certamente,no exame de taisdetalhes, na pes- quisa detaisetantas circunstâncias,procura sentireobser- varovalordo progressotécnicocomofatordeterminanteda evoluçãoeconômica contemporânea, há-deconcluirque não
existirianenhum fenômenoeconômico esocialda épocapre- sente senãoocorresseo progressotécnico,queprovocou
uma
produção semprecrescente,e, consequentemente,um
consu- mo,deigual sorte,sempreascencionalEnquanto constituem fatoresda produçãoa naturezae 18
—
o trabalho humano,
em
relaçãoao consumoos fatores con- correntes paraa suaconstituição são precisamente a produ- ção e as necessidades humanas. Eé issoclaro, pois,que ohomem
não poderá consumir oqueêlenãoproduz,e,inver- samente,não poderáêleproduzirutilidadequenãoconsome.A
análise de tudo leva-nos ao estudo do rendimento, comodecorrênciadaprecisãoe rapidezda açãohumanaem
dominar asdificuldades.Na
investigaçãodetaisrendimentos iremosconcluirquanto à sua origem,que provêmdaprópria natureza e constituem expressãodotrabalho humano.Não
há mais dúvida dequeo progressotécnicotrouxe melhoria de rendimentoem
cada hectare de terra, como, também se pode crêrque o progresso técnico levou aum
maior rendimentoo trabalhohumano. Écertoquehojenão seprocurainvestigar sefoiutilisadamatéria prima,masqual a quantidade absorvidanumahoradetrabalho.Considerando queo progresso do rendimento da natu- reza nãoé proporcional aodorendimentodotrabalho,per- gunta-se: qual dêles constituifator mais importante para o
homem?
Certamente, através da análise dos fatos econômicos irerrtos deduzirda maiorvalia
em
relaçãoaorendimentodo trabalho "humano,cuja medida irá determinaraquelas apre- ciações queAndré Siegfried exprimiu numasíntese da evo- lução humana: "Je m'imagine que, lorsque les homens, de chasseurs etnômadequ'ilsetaint,sontdevenus,auneolitique, agriculteurs et sedentaires, une crise de pareille magnitude—
19a duseproduire. Lechangementd'âge humainauquel nous assistons actuellement
me
parait d'aussigrande porteé: peut être dira-t-onplus tard,en enparlant, quec'estl'âgede la machine,comme
nous parlonsde l'âge paleolithiqueou neo- lithique".
Éo"século técnico",de quenosfalaSombart, que,atra- vésdeordens de progressos técnicos, tanto veiu refletir no aumentogeraldo mundo, no incrementode sua população, com a diminuiçãodemortalidade: "por
uma
parte,acrescen- taSombart, pelo aperfeiçoamento da higiene,dos meiosde lutacontra as endemias,edatécnicamédiaem
geral;e,por outra,pelo aperfeiçoamentodatécnicaprodutiva,edostrans- portes, que,aseu turno, abriram apossibilidadedeassegu- rarasubsistênciaa tôda a população". (ElBurguês).Vivêndo o
homem
permanentementenodesejodesatis- fazer as suas necessidades, esta atividade que poderiamos chamar deatividadeeconômica,leva-oa tomar contactocom omundo
exteriorea atuar sôbreêle. Daí considerarmosque tôda modificaçãodanatureza, provocada pelo trabalhohu- mano, conduz à produção, e, consequentemente, provoca o transporte.
Tôda invenção técnica põe constantemente o
homem
econômicoem
contacto comarealidade, sustentaVierkandt, eêste domíniodohomem
sôbre a natureza criaasformas com que semanifestaa vidaeconômica, através dosmodos e sistemasda produção, adistribuição, asorganizaçõesde tôdaíndole.20
—
Eis porque se deve considerar a real importância dos transportes na vida econômica: com seu valor financeiroe técnico,constituem, sem dúvida,
um
dos grandes problemas daépoca. Suaorganização,comreflexona produção, éde enormesignificado prático.Indiscutivelmente,a naturezadafunçãodaprópriaorga- nização dostransportesdeve constituir
um
marco da econo- miageral.Diz-nos Bonaviaquea"Humanidadeestáatarefada,es- timulandoa natureza e aajudandoa transformar a semente
em
fruto,o mineralem
metal.A
matéria é maisdesejávelem um
determinadolugarqueem
outro,em uma
época do ano queem
outra,e, assim, sedesenvolveotransporte,adistri- buição,e todoo mecanismocomercial".A
função dostrans- portes, continua Bonavia, é levaras mercadorias depontos nos quais sua utilidadeé relativamente,baixa para aqueles outrosnosquaisé relativamentealta".Claroestáqueos serviçosdetransportesconstituem
uma
partevitaldacorrentedeutilidadesque comprendeosistema econômico.Emverdade,subsistena produçãoaatividadepelaqual ohomem,procura novos meios para satisfazersuas necessi- dades, transformando a matériatomada à natureza e pon- do-a
em
condiçõesdeserutilizada. Eaproduçãouma
"cria- çãodeutilidades",na expressãode Zamora,paraquemtais utilidades podemconsistir: a) notransportedecoisasdeum
sítio
em
quenãosãoúteis,aolugarem
queserãoutilizadas.—
21criando, dest'arte, a utilidade espacial; b) na conservação das coisas por longo tempo, para usá-lasquando,
em
ver- dade, forem úteis, constituindo a utilidade temporal; c) na transformação das matérias primas,como propósitode lhes daruma
formaadequada aofimaquesedestinamcriando, dêste modo,a utilidadeformal.
Eiremos melhor observar osreflexosdovalordostrans- portes se fizermos rápido apanhado da evolução humana, através de evolução do processo econômico. Verificaremos que tôdas as sociedades que antecederam ao capitalismo, desde oclã primitivo,composto porváriasdezenas de pes- soas,atéà sociedadefeudal, integradapor milharesdeindi- víduos,foram organismos fechados, que, quase inteiramente, se bastavam asi mesmos, sem necessidade de trocas. Era certoque,
em
taissociedades, seobservava, dealguma ma- neira, a divisão dotrabalho, masos benseram produzidos exclusivamente para o consumodireto da comunidade pro- dutora, entre cujosmembros eramdistribuidos.Com
o surgimentodo capitalismo, coma utilização da riqueza, novas formas e fórmulas se manifestaram, levando a modificações no regime econômico,que poderemosdestacar sob alguns dosseguintes aspectos: a)jánãoseproduz para o consumodiretodosprodutos,mas comoobjetivodetroca;b) ocorre,por assimdizer,
uma
limitaçãodaatividadedapro- duçãoem
relaçãoaum
determinadobem
ou aum
número reduzidodebens, pela unidade produtora;c) a interligação entreuma
unidade produtora e outra para efeito detroca 22—
de bens produzidosconstitui ponto vital de subsistência; d) osefeitos da produção determinaramos recursos quetanto beneficiam aos elementos participantes da própriaatividade de
uma
emprêsa.Com
o aparecimento desta novaera,aqueZamorade- nomina de "era da utilização das riquezas", está evidente queos transportestiveramum
papel muitoparticularem
sua funçãodereduzirao mínimoos efeitos doobstáculodadis- tância."Efetivamente, ladistancia esun obstáculoque laorga- nizacióndelostransportes tienecomofin,ycomoefecto pra- tico, eldereducirlo;enelcumplimientodecomoenesta fun- ción,eltransportistadebe,sinrecurriramedidasarbitrarias, inspirarse amplamiente en lascircunstancias econômicasdei tiempo ydei lugary tender a favorecerel acceso a lasre- giones másalejadas deloscentros de produción". (Paul de Croote).
Considere-se que,comadestruiçãoou reduçãodoobstá- culodadistância, comoseopera a criaçãodenovasutilida- desdolugar,-êste princípioparece decorrentedo fundamento de queo "transportecumpresua verdadeira missãoquando beneficiaaos consumidores,extendendo omercadoe fazendo desaparecer asvantagens quetalvezrepresentem
um
semi- monopólio, queos produtores individuaispodem derivar da situação". (Bonavia).Eis porque o princípio da necessidade do transporte é vitalna vida econômica,cujanecessidadesesitua,
em
síntese,—
23nodespachodemercadoriasoudepessoasde
um
lugarpara outro.
Quantoàs formasquereveste, naprática,esta necessi- dade, são variadas. Para suasatisfaçãoexistemdiversosmo- dosdetransportes, oriundosdetécnicas diversas.
Daíconeiderar-se, de
modo
exclusivo, quetôda organi- zação detransporte constitui fatorpreponderantedaprópria organizaçãoeconômica.24
—
III
O
BRASIL- EXPANSÃO
TERRITORIAL- EVOLUÇÃO
POLÍ- TICA EECONÔMICA - COMUNICAÇÕES -
TRANSPORTES
"Agenesisdas estradasdeferronoBrasilé quasiamesma que adasestradasamericanas:a antarompiatrilhoden- trodomato, oíndio,emseuencalço abria a picada; o por- tuguês,com seuscargueiros,alargáva-a; de raroem raro
umcarrodeboi seguiaocolonoeabria,comsuasrodas cortantes, colossais,doissulcosparalelos aquechamavam
"caminho"; maistardeoprogresso estendeu suasfitasde aço,aolongodos principaiscaminhose,finalmente,nosé- culo XX, o automóvel fezsurgiralgumasestradasdignas destenome"
—
ROY NASH,—
AConquistadoBrasil.Á
históriaeconômicade cada povo temmuitodeexpres- sivo. Revela, nas suas peculiaridades, sobretudo, os fatores desua ascendência e oferece, por issomesmo, múltiplosas- pectosqueofazemdistinguirem
sua evolução.Quanto aoBrasil,a suahistóriaeconômica nosoferece, a cada passo,os mais variados elementosque estabelecem
—
25asdiferentesetapasdoseudesenvolvimento,dealtoreflexo
em
suaevoluçãopolítica.Desdeo entusiasmodeDeroVaz Caminha, aodescrever a terra descoberta, diantedaquelabaía,onde asnaus an- coraram, "tãograndee tão formosa e tão segura,que
podem
jazer dentra nela maisde duzentosnavios"... a vislumbrar, o primeiro marco do desenvolvimento da terra encontrada, fixado no comérciomarítimo,atéaoprogresso dotransporte aéreo,cuja acentuadaevolução tantotem refletidono nosso desenvolvimento econômico, iremos encontrar, pois, diferen- tesetapasdenossaevoluçãoeconômica.
Estuda aeconomia o processo que relaciona os indiví- duos na sua atividade criadora dos bens eserviçosnecessá- rios à viçla humana, através da produção, e como social- mente serealiza adistribuição dasutilidades entreos com- ponentesdogruppsocial pela circulaçãoeconsumo.
Para melhor observarmosoreflexodacirculaçãonoter- ritóriobrasileirodesdea descoberta, o estudo dostransportes, nasdiferentesetapasde nossaevolução econômica, poderia enquadrar-se no seguinte esquema:
fMatéria prima fProdução {Trabalho
lCapital Economia -j
Circulação
^Consumo
Quem
querqueapreciea nossaformaçãohistórica,há- 26—
de; porcerto, reconhecer asdiversasetapas porque passou a nossaterra,atravésdasvárias faseseconômicasquerefle- tem aspeculiaridadesmaisevidentesda produçãobrasileira.
Inicialmente,éaeconomia de"PauBrasil", constituindo oprimeiroensaio. Existindo
em
estadonativo,naterra des- coberta a sua extraçãonãoexigiaa aplicaçãode capital.Absorvido como estava Portugal nos problemas para a fundaçãodoimpériodasíndias ,deinício,tornou-seaterra descoberta, porassim dizer,esquecidada açãooficial,levan- doaqueemprêsasparticulareseaventureirosdevárias na- ções procurassem tirar proveitos das riquezas naturaisfácil-
menteexploráveis.Eisporqueconstituiu o PauBrasilo maior comércio, cujo produtosetornou de grande valor nos mer- cados da Europa precisamente pelo real interesse que, na época,representavamasplantas eas substânciastintoriais.
Tala repercussãodocomérciodoPau Brasilqueimpor- tou
em
sériasprovidências da parte de D.Manoel conside- rando, delogo, a sua exploração monopólio daCorôa.O
seu nome, pelo uso contínuoentreos comerciantes, levou a que, pouco a pouco,se fosseesquecendo a antiga denomi- nação daterra descoberta,para adotar-seonome de Brasil,
comoprotestodohistoriógrafoBarrosparaquemfoia"mu- dançainspirada pelo demônio,poisavil madeiraquetinge opano devermelhonãovaleo sanguevertidopara a nossa salvação".
A
história registraas diversasetapasda evoluçãopolí- ticaeadministrativa da terradescoberta, paracuja implan-—
27raçãotantas lutastravou o govêrno português, para a fixa- ção doseudomínio.
Era precisamente êsteproduto do então economia das terrasdoBrasilqueiriadeterminar as maissériasprovidências de partedo govêrno português ante as constantes incursões deespeculadoresdetôda natureza edeváriasnacionalida- des, principalmente francêses, que organizavam serviços de tráfico permanente,animadospelo abandono
em
queseen- contravaa imensacosta."A política seguida por D. João III, escreveu Roberto Simonsen, dediplomacia, suborno e violência,com respeito àsincursõesfrancêsas àscostas brasileiras,pareceu perigosa a Mestre Diogode Gouvêa, que,
em
cartasaEl-Rei,aconse- lhava: "Seteaoito povoações seriam bastantes para defen- deraterraque não vendamoBrasila ninguémenão oven- dendoasnausnão hão dequereraliirpara voltaremvazias".Estavam
em
jôgoem
taloportunidadeafôrçadanave- gação portuguêsa eo prestígio do seu império colonial e isso exigia providência e decisõesdas cortes portuguêsas.Assim ocorreuoestabelecimentodas capitanias donatárias.
EraaeconomiadoPauBrasilafixarnormas deconduta para aimplantação dodomínio português nasterras desco- bertas.
Enquanto isso,oespaçodecirculaçãoera ooceano.
Surge,
em
seguida,aecohomia doaçúcar,cujos efeitos ahistória registracomparticulardestaque.28
—
Oraéaexpansãoterritorialque,atravésdaexploração doaçúcar, importou
em
maior conhecimento do interior da terradescoberta;ora éa projeçãodacolônianomundo,ain- damaispronunciadaqueaotempo da economia doPauBra- sil, despertando a cobiça de ambicionados elementos que,em
determinada época, chegaram a implantarum
govêrno colonialem
terrasdo Brasil;ora oaumentoconsiderávelda população, arespeitodo que RobertoSimonsen nosfalacom muitapropriedade:"foino impériodoaçúcarquePortugal se apoiounoséculo XVII, constituindoa baseeconômicadaim- plantaçãodoeuropeu noBrasil”.Jánesta faseda economia doaçúcar novos aspectossur-
gem
relativamente àcirculação."Emtal período,a civilizaçãose alargou paraosul e norte,acompanhando sempreafímbria costeira; para ointe- rioresbarrariacomazona semi-árida dosertãonordestino"
(CaioPradoJunior), istoporque eramos"engenhos movidos poráguaeporbois,servidosporcarrosebarcos; situadosà beira mar, ou a beira rio, mais afastados,não muito, por- queas dificuldadesde comunicações só permitiram arcosde limitados raios"(CapistranodeAbreu, na Introdução aos"Diá- logosdasGrandezas do Brasil",deBrandonio).
Pela localização, pois,detaisengenhos,quetanto trou- xeram, pela sua produção, maior incremento àterrae maior expansão quanto à sua exploração, operou-se a circulação atravésdas comunicações dosriose dasviasdeacessocria- das pelo carro deboi constituindo os célebres"caminhos'.
—
29"A condução da cana,diz-nos Antonil, por terrafaz-se noscarros, e para
bem
cada fazenda há-deterdois,-e,se fôrgrande, ainda mais. Pormar vemnas barcas semvela, com quatrovaras, queservemem
lugarderemos nas mãos deoutros tantos marinheiros,e oarraes,quevaiao leme,e para issohá mistérduas barcas capazes,como asquecha-mam
rodeiras.O
lavradortemobrigaçãodecortaracana e dea conduzir à suacustaatéaoponto,ondeo barcodose- nhor a recebe, elevadegraça atéamoendapor mar:pon- do-a nodito barco os escravosdo lavrador, earrumando-a no barco os marinheiros.Mas
se fôr engenho pela terra a dentro, tôda a condução por terra até a moenda cor- repor contado dono da cana, querseja livrementedada, quer obrigada ao engenho. Conduzir acana porterraem
tempodtechuvas e lamas, é querer matar muitosbois,parti- cularmentesevieramdeoutra partemagros, efracos,extra- nhandoo pastonovo e o trabalho.O
quemuito maisse há deadvertir na condução das caixas, como se diráem
seu lugar. Por issoosbois que vêmdo sertãocansados, e mal- tratadosno caminho, parabem
nãosehão de pôrnocarro, senão depoisdeestarem pelomenosum
anoe meio no pasto novo, edeseacostumarem poucoapouco notrabalho mais leve, começando pelo tempo de verão, e não de inverno, deoutra sorte,sucederáver, começandopelotempo deve- rão,enão de inverno,deoque se viuem um
dêstesanos passadosem
que morreram sóem um
engenhoduzentos e onze bois, parte nas lamas/parte na moenda, parte nos pastos".30
—
Com
estaexposição,Antonil nos ofereceoníveleosis-temadacirculaçãonesta faseda economia doaçúcar a qual nãodeixoudecontribuirparaqueaCorôaPortuguêsaviesse buscar
em
terrasdoBrasil os"seus principais proventos",na palavra de Simonsen, riqueza que, porduzentos anos, iria proporcionar saldos à Metrópole portuguêsa.Da economia doaçúcar,âeconomia doouro.
Aos portuguêses colonizadoresnunca os metais precio- sosdeixaramdepreocupardesde oiníciodacolonização.As notíciasdasgrandes descobertas castelhanas noMéxico eno Perucriavamna imaginação sonhosderiquezas.Somenteno final doséculo XVIIé quesurgiram asprimeirasdescobertas positivasdeouro
em
terrasdas minasgerais. Desseperíodoem
diante surgeuma
nova era. Entretanto,oouro,pelo seu vulto epela sua importância,veio exigir, para a Metrópole, aimplantaçãodesistemasdecontrolesfiscais,quese altera- vam àmedida que os mineradores criavam modalidadesde dissimulaçãoparafugirà declaraçãodomontantedaprodu- ção;depois surgiram asCasasdeFundição,ondedeveriaser fundidotodo o ouro extraídoe,depois deduzido oquintoe reduzido ã barrasmarcadas com oseloreal,era devolvido aoproprietário.Quais os efeitos decorrentes do período da economia doOuro?
A
atraçãodoouro importou no afluxoda popula- ção para as minas, fazendo-se povoarum
território imenso—
31até então desconhecido. Astransformaçõesprovocadas pela mineração deram lugar a que se deslocasse oeixo econô- mico de até então da colônia, espraiado queera nos cen- trosaçucareirosdonordeste. Jáosetorcentro-sul vai consti- tuindo maior atração, provocando
uma
nova vida, através dos caminhos e roteiros, quetanto preocuparam ao Conse- lhoUltramarino deLisboa, quandoemitiu aquela Resolução:"Quanto aos caminhos lhe parecem que será conveniente- mente proibí-los todos excepto os que S. Magestade tenha concedido por mercê particular, a alguns povos do Brasil,
porque quanto mais caminhos haverá, não só dos quintos mas do
mesmo
ouro,-etambém
sendo por alguma naçãoin- vadidas as Minas, serãonecessários socorrosdemuitaspartes epontos".Êo surgimento dociclo povoadorque, com as bandei- ras paulistas,provoca
uma
novafasedeexpansionismo."Aos Paulistas estava reservado, como escreveu Simonsen, como desbravadores dos nossossertões,o estabelecimentodos gran- des caminhos eroteiros".Em
verdade,seguiram as bandeiras porcaminhosjáatravessados pelos índios, ligandoPiratinin- gaàs grandes baciasdo interiorebem
assim o planalto às costasmarítimas, ondeos sambaquis, nos extremos deseus caminhos, assinalavam as periódicas estações de beira mar, feitas pelostribos de nossa hinterlândia".
Com
o adventodo ciclopovoador criaram-secorrentes comerciaiscomosnovos núcleosconstituídos.32
—
Abertastantas estradas,passou a preponderar a tropa muar,como principal veículo detransporte.
"GastãocomumenteospaulistasdesdeaviladeS. Pau- loatéas Minas Gerais,dosCataguáspelo menos, doismê- ses:porque não marcharão desol asol masatéo meiodia;
equandomuitoaté
uma
ou duas horasdatarde:assimpara se arrancharem, como para terem tempo de descansar, e de buscaralguma caça, ou peixe,aonde ohá,mel de pau eoutroqualquermantimento. Edestasorteatuarãocomtão grandetrabalho".(Antonil).Era
uma
nova epopéia lançada na história de nossa terra,atravésdas bandeirascomoespírito aventureirodesta gente,estabelecendonovosmarcosdefatoreseconômicosque iriamsobrepujar-senotempo."Quando seconhece por experiência quantas fadigas, privações e perigos perseguem ainda-hoje o viajante que percorreesseslongínquos países,e setem lido
em
detalhes as excursõesintermináveisdosantigos paulistas, sente-seuma
espéciedeestupefação e comoseé obrigado a reconhecer que êstes homens pertenciam auma
nação de gigantes", (Saint-Hilaire).‘Enquanto tais aspectos eramobservados no hinterland das terras do Brasil, não menores eram as deficiências e
"opressões"quesofriamaquelesquehabitavam aCapitalde então, caracterizadascom notável precisão porAntonio Ro- driguesde Brito aoresponderao Conde da Ponte, queor- denadoporS.A.R. para informar sôbre"várioseassás im-
—
33portantes objetos relativosaos interesses presentese futuros desta Capitaniae,comespecialidade,às vantagens destaCa- pital",consultava "sereconhece aestaCidadealgumacoisa opressiva contra a lavoura; qualseja esta causa e o meio delase evitaresea
mesma
lavouratem recebido progressivo aumento,devquetantodependea prosperidadedoComércio".Ao
notável espíritode Rodriguesde Britonãofaltaraa justeza de apreciações que iriam focalisar o desleixo e o abandonodas gentesque habitavam a Capital de então e asterras da Capitania. Precisamente sôbre os transportes, estabelecendo as causas provenientesdafaltadefacilidades, escreveu que "assim comotodos os encargosque aumentam asdespesas doComércio,recaemsôbre a Lavouraem
dimi- nuiçãod<?preço dos gêneros nasprimeirasmãos, igualmente pelosmesmosprincípiostôdas as horas e instituiçõesquedi-minuemessasdespesas,facilitando as comunicaçõesmercan-
tis,redundam
em
benefícioda lavoura,aumentandoomesmo
preço nas ditas primeiras mãos, e por consequência o pro- duto líquido, e interêsses dos lavradores.A
primeira com queoGovêrno dequalquerpaísadevefavorecer, é acons- truçãoe conservaçãodas pontes e barcas para a passagem dosrios,estradas, canais, estivas,etc.,paraotransportedos frutos,eobjetosdo consumo dolavrador, portos, caisedocas para o seuembarqueedesembarque. Estasobras,nos faltam absolutamente e estamos reduzidos àquelas facilidades que a natureza porsimesma
nosfornece,ou aindústriasd'alguns particulares,quemesmo
às suascustasasfazemmuitasvezes.34
—
quando algum privilegiado exclusivo os não impede, como acontecenoriodeJoanes,que nãotem ponte por causado monopólio concedido acerto Padrepara passarosgadosa nadoe oshomens
em
jangada.Que
lástima!Que
vergonha!aqui mesmonas vizinhanças desta populosa Cidade!
Não
só oGovernofalta aodeverde estabelecerbarcas ou pontes, mas opõeobstáculosaoseuestabelecimento".Ecom maior precisão aindafocaliza a "opressão" e os vexamesporque passavamtodosaquêlesquesededicavam à exploração do açúcar. Através dessas apreciações iremos perceber a realidadeda épocanoquediz respeitoaostrans- portes,à sua evolução,detãovivo reflexo na própria eco- nomia.
"Uma
grande parte do anocessam inteiramenteas co- municações porterra,nãosóondeosriosatravessamos ca- minhos,mas no própriocentro do Recôncavo por causa de invadiáveis atoleiros;os quais ainda nãodãotrânsito, ofa- zem sumamentecustoso,perecendo muitosboise cavalos nas conduções, detal sortequemuitos senhoresde engenhosão obrigados a empatarsuassafrasatéo verãoseguintee fa- zê-las então conduzir, precisamente na ocasiãoem
queos cavalos, boise escravos lhessão maisnecessáriospara aco- lheita, condução-emoagem
desuas canas; donde vem que a Lavouraseacha limitadaàsterrasdebeiramar, somente, sendo todo ovalordosfrutos, quepoderiamser produzidos nasdo interior, absorvido pelas despesasdetransporte. As estradasvizinhasdaCidade, porestreitase íngremes,sãoim-—
35praticáveispara oscarros,fazendo-se,porisso,ostransportes àscostasdeescravos muito mais dispendiosamente".
Como
vemos,são aspectosduma
época,doalvorecerdo séculoXIX, e atestaram que, sempre,em
terras do Brasil, o problemadostransportes constituíamatériafundamentalpara sua prosperidade, arefletirnasua economia.* * *
Apósa economia doouro, intercorrentemente, surgiua economia do gado. Devemos reconhecer quea criação do gado constituiu
um
dosfatoreseconômicosquepermitirama ocupação dosertãodasterrasdoBrasil esustentouamanu- tençãodedilatadasregiões.De princípio,forma a retaguardaeconômica detôdaa regiãode engenhoe,posteriormente, apresenta
um
decidido apôio à mineração, que,semdúvida, tantose constituiucomo fixadordo povoamento dointerior.O
reflexo da criaçãodo gado na economiabrasileira, ena sua época, foi dealta importância, já porque repre- sentava o produto básico na alimentação, já porque servia como ogente motor e meiode transporte,em
faseonde a máquinaaindanãosemanifestara.De início, foi precisamente a indústria do açúcar que proporcionou a implantaçãodacriaçãodegado, necessária à sua atividade. Eram os trapiches e engenhos acionados por bois,que, comoé sabido, -faziamgrandedesgaste; "as carretosparaalenha eparao açúcar, exigiamnúmerocon-
36
—
. /sideráveldecabeças",nodizerde Koster. Finalmente,acar- neconstituía alimentação básica para osquese dedicavam aosingentestrabalhosdosengenhos.
Posteriormente,coma proibição estabelecida pela Carta Régia de 1701 quanto àexistência decriação amenos de dez léguasdacosta,foram oscurraispenetrando eocupando os sertões. E nessa marcha depenetração, mais
um
marco é lançado na economiada terra,com o estabelecimentode novoscentros,novasregiões,"e porque as fazendas e oscur- raisdegadosesituamaonde há larguezadecampoeágua sempre manentederiosou lagoas",(Antonil).Na
Bahia eem
Pernambuco, seestendiam asfazendas e os currais na borda do RioSão Francisco,na do Riodas Velhas,na do Riodas Rãs, na do Rio Verde,na do Para- merim,na doRioJacuipe, nadoRio de- Itapicuru,nadoRio Real, na do RioVaza Barrise quantosdum
ladoe doutro do RioSão Francisco tanto se prestavam à exploração da pecuária.Na
região sulina, foi precisamente o ciclo do gado o fator-maispreponderantepara a sua expansão einstituição denossas" lindes .meridionais.Em
conclusão,nesta síntesequeora expusemos,devemos consideraros reflexosda economia dogadoque, provocando oacúmulonocentro-sul brasileirodemassasdegenteede gado, tantocontribuiupara o desenvolvimentodeoutrasati-—
37vidades, sobretudo paraexpansãodacultura cafeeiraepró- prioreerguimentoeconômico detodooterritório.
Já no século XIX, nasérie detransformações operadas
em
terrasdoBrasil,uma
delashá queveiodeterminar verda- deirarevolução nas atividadesprodutivas,criando,por assim dizer,maisuma
novaetapa naeconomiabrasileira:éa eco- nomia docafé.Já nestaoportunidade poder-se-á observar
uma
deca- dência do norte pelo estado de suas lavouras tradicionais, como a cana de açúcar, oalgodão, otabaco, enquanto o centro-sul,jána metade doséculo XIX,irátomar adianteira nasatividadeseconômicasdopaís.Dada
a aclimatação ad- mirávelem
terrasdosulea importânciaque vem deadquirir nosmercadosinternacionais,a lavouradocafémarca naevo- luçãoeconômicadoBrasilum
período perfeitamentecarac- terizado.Sôbre o destaque maiordalavouradocafénaeconomia enavidasocialepolíticabrasileira,diz-nosCaio PradoJu- nior,
em
sua "História Econômicado Brasil: "Social e politi-camentefoi a
mesma
coisa.O
Café deu origem, cronològi- camente, à últimadastrêsgrandesaristocraciasdopaís:de- poisdos senhoresdeengenhoe dos grandes mineradores,os fazendeirosdecafésetornam aelitebrasileira.E,em
conse- auência, napolíticatambém.O
grandepapelque SãoPaulo foiconquistandonocenário pokticodoBrasil,atéchegar sua liderança efetiva, se fez à custa do café; e na vanguarda 38—
deste movimento de ascençõo,e impulsionando-o, marcham os fazendeiros e seus interêsses.Quasetodos os maioresfa- tos econômicos, sociais e políticos do Brasil, desde meiado doséculopassado até oterceirodecêniodoatual, sedesen- rolam, errifunçãoda lavoura cafeeira:foiassim comodes- locamento de populações detôdas as partes do país, mas
em
particulardonortepara osul,especialmente SãoPaulo,- omesmo com a maciça imigração européia e a aboliçãoda escravidão;a própriafederação e repúblicamergulham suas raízes profundas neste solo fecundo, onde vicejou o último soberano,atédata muitorecente,doBrasileconômico: oRei- café, destronador do açúcar, do ouro, dos diamantes, do algodão,que lhe tinham ocupadoo lugarno passado".Quem
sedetiver aoexameprofundo da evolução eco- nômica das terras brasileiras, há-de, por certo, considerar que, apartirda segunda metade doséculo XIX, assinala-se a etapa de maior desenvolvimento e transformação econô- mica na história brasileira. Múltiplos fatores irão concorrer paraestanovafasedenosso desenvolvimento: a emancipa- ção do país da tutela política e econômica da Metrópole portuguêsa,a abolição do tráficoafricano, a nova lavoura docafécoma sua importância adquirida nosmercadosinter- nacionais, o surgimento da estrada deferro,um
incipiente capitalismoarefletirnosseus primeiros passos,o incremento da navegação marítima e fluvial, semcontarcom inúmeros outrosempreendimentosde ordemprivada. Esseseoutros fa-—
39toresprovocam
uma
maior expansãodavida econômicado
pais.
Precisamente, nosetor dostransportes éque iremos en- contrar
um
dos maiores reflexosdestafasedeexpansionismo.Asestradasdeferro,cujomarcoinicialdatade1852, repre- sentavam cêfcade9mil quilômetrosdelinhas
em
tráfegoe outros 1.500seachavamem
construção.A
navegaçãoa va- porseestendera largamenteealémdaslinhasinternacionais, articulavatodoolongolitoralbrasileirodesdeoPará atéao
RioGrande doSul,prolongava-seaindapara osule peloRio da Prata e rios Paraná e Paraguai, ligava Mato Grosso com oresto do país.
No
Amazonastambém
seoperava a navegaçãoavapor até Tabatinga, nafronteira com oPeru, ramificando-se pelos principais afluentes. Eraoqueocorria, igualmente,em
relaçãoa outrosrios distribuídosem
outros Estados, como o Itapicuru, no Maranhão, o Parnaiba noPiauí,o Paraguaçu,naBahia,Itajaí,Santa Catarina, o Guaí- baeoRioPardonoRioGrande doSul,
bem
comoo notável SãoFrancisco,o granderionacional,queseexpandeem
sua açãobenfazejade ligaronorteaosuldo país.Quantoà rêderodoviária,poucas são as manifestações doseudesenvolvimento,quer no quedizrespeitoà criação de novos,quer quanto à melhoria dos deficientescaminhos herdados da colônia. Razões de tôda ordem justificam tal fato:aindanãosealcançaraa qradoautomóvel;os terrenos no país são,
em
geral,grandementeacidentadose otrans- 40—
porte por viaturas de tração animal não constituiasolução satisfatória
.
Mas,
em
verdade, éuma
novafasequesurge e iráser adianteapreciada no curso denossa exposição, a fase deuma
economia moderna no país, consubstanciada nos dois grandessetores:oindustrialeoagrícola,quetanto irãore- clamarum
sistema de transportes,ainda hojesem solução, mas que jáconstituiobjetodum
planogeral,a refletiruma
preocupaçãodos governantes na solução detãograve ein- gente problema.—
41_
IV
OS TRANSPORTES
ESUA
INFLUÊNCIANA ECONOMIA
BRA- SILEIRA,SISTEMAS DETRANSPORTES
ESUA
IMPLANTAÇÃO NO
BRASILJá tivemos oportunidade de mostrar a influência dos transportesna economia
em
geral, poisécertoe reconhecido pela ciência econômica, que o desenvolvimentotécnico dos transportestemum
efeito especialmente importante sôbre o progressoeconômico.Valem ressaltar,aqui asrecentes palavrasdeeminente economista Kenneth Boulding, quando,
em
sua obra "Aná-lisisEconômico",escreveu:"Laamplituddeimercado,es decir, einúmero depersonasque puedenintercambiarentresi,de- pende
em
gran partedelosmétodosdetransporte. Cuando el transporte es escaso,elmercado tienecaraterpuramentelocal;cuandoésbueno,elmercado puedeserhasta universo1 En consequência, los perfeccionamientosdei transporte pue- denhacerposibleelprogressodelosmétodos defabricación y distribuición que, deotra forma, no habriasido factible 42
—
a causa delalimitacióndeimercado. Inclusosin ningundes- cubrimientotécnicoenotras industrias,unamejora eneltrans- porte, alpermitir una mayorespecialización, puededar por resultadounprogresotécnicoen estas indústrias,en eísen- tido de aumentar la produccion por hombre y hora detra- bajo. Eldesarrollo deitransporte influyeespecialmente sobre el crecimientode lasgrandes urbes. Losmédiosdecomuni- cación escasossignifican ciudadespequenas; lasgrandesur- bes de laactualidad deben en gran parte suexistência al progreso y baraturadei "transporte.
No
es hechocasual el quelasgrandes ciudadesesténen lascostasyrios,yelqueeltransporte poraguaseael másbarato".
Aspalavras doeminente economista inglêstão bem se ajustamàeconomiabrasileira,setivermoso cuidadodeapre- ciar as diferentesetapasdesua evolução, atravésdo tempo e doespaço.
Como
nãoé ignorado,ainfluênciadecisivadocomércio português, quetanto se manifestava por intermédio desua aventureiranavegação,foidealtaimportânciaparao desen- volvimento da fasecolonialem
relação àterra descoberta;proporcionouos necessários meios para
uma
exploraçãoda maior parteda costabrasileira,comentrada pelos seusrios navegáveis.
Portugal lembrava a esplêndida Fenícia que,comprimi- da entreo mare a terra, seexpunha à natural tendência expansionista pelavia marítima,eque"para qualquerse lan-
—
43çarpelo
mundo
àfora,requerer-sealgumaindústria ecerta soma demística" (LuciodeAzevedo).Constituiprincípio reconhecidoque"à medida queaci- vilização progride,diminueaestreitadependênciado
homem
aomeio geográfico" (RobertoSimonsen),cujo progressocivi- lizador é estabelecido por AlfredWeber
"comouma
linha de evoluçãoque, organizandoo saber técnico, confere aohomem um
crescentedomínio sôbrea natureza".Eno caso dasterrasdoBrasil nãofoi outraa manifes- tação civilizadora. Foi, precisamente, através dos meiosde transportes que se veioconstituir a marcha decolonização e éincontestávela suainfluêncianaevoluçãodenossa eco- nomia.
•
A
história registraas muitas viagens realizadaspor Por- tugal,duranteoprimeiro séculodadescobertadas novaster- rasdoBrasil. Já nofinaldoséculo XVI,reconhecidos osris- cos da navegação, determinava D. Sebastião, pela lei de 1571, a preferênciados navios portuguêses, nocomércio en- treas colônias de Portugal, que aqueles fossemarmadose viajassemem
comboios,assegurando prêmiospara aconstru- çãodenavios. Eramasguerrasdeconquistas,eram aspira- tariasnascostas d'Áfricaqueimpunhamtaisprecauções.Em
tal oportunidade, fála-nos Severim de Faria
duma
viagem ocorridaem
1611, informando-nosque "doBrasilchegouuma
frotaa salvamento e foidas maiores queêsteanovieram.
Eram 74navios,afora os galeões
em
quevinhaa fazendada 44—
nauqueoanopassadolá foiaportar.Trouxeram 21.000cai- xasdeaçúcar.
Adriano Balbi, atravésdeelementos históricos,focaliza asdiferentes etapasdo desenvolvimento docomércio portu- guês com a sua colônia, o Brasil, fazendo acentuarque a
"balança de comércio entre Portugal e Brasil era quase sempre favorável aêsteúltimo".
Consoantesedepreende, constituiu anavegação opri- meiro sistema, e, consequentemente, o principal sistema de transportesutilisados parao incrementoda economia brasi- leira,desua colonização.
"Narealidade,escreveuJoãoLuciodeAzevedo,aAmé- ricoeranãosómanancial perenederecursospara otesouro régio, senãotambém o centro
em
tôrno do qual gravitava a vidaeconômicadetôda a monarquia. Delávinham o ouro e osdiamantes; pau brasil, monopóliodo Estado,-o tabaco quejáem
1716 produzia o quinto das rendasdosoberano,- o açúcar e a courama,quenessa épocaconcorriamparaas receitas do Estado com maisde 200contos.Soma
a que acresciam os direitos de fazendas estrangeiras exportadas para acolônia. Para o Brasil iam os produtos de Portugal europeu edas ilhasdo Atlântico;os queseimportavam da índiaeosescravos deque Angola se sustentava.Daescra- vatura edotráfego para a Américasemantinha a navega- ção". (Aspectosde Portugal Econômico).Não
ésem justa razãoque a nossa história registra a importânciado acontecimento políticoda transplantaçãoda 45FamíliaReal paraoBrasil,o que iria"proporcionar aos bra- sileiros
uma
nova fase de maior autonomia política, jáem
harmoniacom oseupoderioeconômico".Além da poderosa influência exercida pela navegação portuguêsa,
em
tal oportunidade, muito veiorefletira Carta Régia de28 deJaneiro de 1808, do Condeda Ponte, que, abrindo os portos do Brasil ao comércio livre das nações amigas, admitiu que "não só aos Vassalos do Reino, mastambém
os sobreditos Estrangeiros,possamexportarpara os Portosquebem
lhes parecera benefíciodoComércio, eda Agricultura, quetanto Desejo promover, todos e quaisquer gêneros e produções coloniais".Calógeras,
em
"La Politique Monetaire du Brésil", faz ressaltara importânciaquerepresentou "olivrecomérciodas nações amigas", informando-nos que,em
1816, entraramno Rio398naviosdelongo curso,sendo181 portuguêses e217 estrangeirosecomotempofoise acentuandoo número de naviosdeorigemestrangeira,enquantoanavegação deca- botagemficariaconcentradaem
poder dos portuguêses.Na
Bahia, o Arsenal Real da Marinha da Bahia,em
1811, lançava ao mardiversasembarcaçõesaliconstruídas, comofragata,escunas,bergantimdeguerra eváriasmenores.Em
1818, oMarquez de Barbacena utilizando-sedemo- tor e aparelhos adquiridos à Inglaterra, montou a primeira embarcaçãoa vapor noBrasil,realizandouma
viagem inau- ral a Cachoeira,naBahia, pelorio Paraguassu. Eraa nave- gação a motor, novomarco queseestabelecia,oriundodas 46—
_
realizaçõesdeFulton, naInglaterra,equeiriater
uma
gran- deinfluênciano Brasil,considerada a sua longa costamarí- tima,cuja exploraçãoatéhoje,constituium
sérioproblema.No
exame detodo o possível documentário das reali- zações portuguêsas noBrasil,sabe-sequea administraçãodo ReinodePortugalnãodeixoude demonstrar as suas grandes preocupaçõesem
dotar o território brasileiro deum
certo planodeviação,queadmitissea exploraçãode tôdas as suas regiões,em
relaçãoacujoplanotantos óbices surgiram,difi- cultandouma
açãoeficiente. Ascondições geo-topográficas, aculturasem maior expansão derendas, a inexistência de populaçãosatisfatóriaecapaz,a ausênciadecapital dispo- nível, os sistemas de transportes e meios de comunicações, tudoistoinfluiu poderosamenteparaum
estadodeestagna- ção,derendimentoínfimo.Induzirama exploração agrícolae a exploraçãoextra- tiva da colônia dereal proveitocom o aproveitamento dos atalhosseguidospelosbandeirantes,por ocasiãodacaça aos índios,aquesucedeu a construçãodecaminhosquecondu- zissem àszonasde mineração. Em tão vastoterritório,era acentuada a pobreza dosistemadeviaçãoterrestre.
O
trá- fegose processava,em
todo o período, através dastropas.Antonil traça,
em
sua obra, as muitas estradas que deman- davam osertão brasileiro, muitoespecialmente na fase da buscadoouro,configuradasaoscélebresroteiros,destacando odo caminho dacidadedaBahia paraasminasdoriodas Velhas,considerado "muito melhorqueodo Rio deJaneiro—
47eda ViladeS. Paulo:porque pôstoquemais comprido,me- nos dificultoso, por ser mais aberto para as boiadas, mais abundantepara osustentoe maisacomodadopara ascaval- gadurase para as cargas".
Como
se vê,a tropa era o meio detransporte,geral- menteadotado noBrasil.A
rêdede"trilhos"quecriava,em
sua passagem, nodizer de RoyNash, constituia o sistema venoso porondecirculavao sangue econômicodopaís,man- tendo a unidadedoImpério. Essascomunicaçõeseram boas, más, ou péssimasem
função direta da clemência ou incle- mênciadanatureza, nazona quecortavam.O homem
não sesentiamais responsável pelaconservação desses caminhos.Peiacomposição químicada atmosfera, atravésda matavir-
gem,na zona das grandes chuvas,as viasde comunicação doBrasiligualavam,
em
precariedade, àspiores do mundo.O
cascodasalimáriasiatransformando a superfícieinstável doscaminhosem
terrívellamaçal.Caía mais chuva eolama- çal setransformavaem
pântano.Em
certoslugares, com a lamapela barriga,o animal carregadocom cento evinte quilosou mais, tinha quedis- pender, acada passo,uma
energia tremenda. Havia a"es- cada", buracosequidistantes, cavadosa casco no caminho, onde asbestas de carga tinham que ir enfiando as patas para depois, avançando penosamente por sôbre os barran- cosdepermeio, metê-lasdenovoem um
poçodelama, logo à frente. Fora do mato, felizmente, existiam grandes áreas onde, paraa aberturadum bom
"trilho",nadamais erane- 48—
cessárioqueorastrodos animais.
Uma
delaseraazonados pampase a outra onordeste,durantea sêca.Mesmo,porém, no árido Ceará, havia épocasdoano,durante a estação das águas,em
que se tornava quase impossível transitaruma
tropa pelointerior".Os viajantes que percorriam êstes caminhos nunca ti-
nham
pressa.Cardner,
em
seulivro "Viagens pelointerior doBrasil", refere-se aos "comerciantes deAreias,em
Goiás,querece- biammercadoriasdoRiodeJaneirocadadoisoutrêsanos,porque aviagemlevavadeseisanove mêses".
Vê-se, pois, quãodifíceise morosaseram as comunica- çõesnaqueles tempos, porviaterrestre!
Além dessascomunicações através deestradas e cami- nhos tãodeficientes