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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

C

IÊNCIAS DA

R

ELIGIÃO

A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social

no ABC paulista:

aspectos de sua tradição e transmissão religiosa - a instituição e os sujeitos

Norbert Hans Christoph Foerster

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

C

IÊNCIAS DA

R

ELIGIÃO

A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social

no ABC paulista:

aspectos de sua tradição e transmissão religiosa - a instituição e os sujeitos

Norbert Hans Christoph Foerster

Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Doutor.

Orientador:

Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera

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FICHA CATALOGRÁFICA

F761c Foerster, Nobert Hans Christoph

A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social no ABC paulista : aspectos de sua tradição e transmissão religiosa – a instituição e os sujeitos / Nobert Hans Christoph Foerster-- São Bernardo do Campo, 2009.

298fl.

Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo Bibliografia

Orientação de: Dario Paulo Barrera Rivera

1. Congregação Cristã no Brasil – História 2. Região do Grande ABC (SP) 3. Redes de relações sociais I. Título

(5)

A tese de doutorado sob o título “A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL NUMA ÁREA DE VULNERABILIDADE SOCIAL NO ABC PAULISTA: ASPECTOS DE

SUA TRADIÇÃO E TRANSMISSÃO RELIGIOSA - A INSTITUIÇÃO E OS

SUJEITOS”, elaborada por NORBERT HANS CHRISTOPH FOERSTER foi

defendida e aprovada em 18 de março de 2010, perante banca examinadora

composta por Dario Paulo Barrera Rivera (Presidente/UMESP), Magali Cunha do

Nascimento (Titular/UMESP), Wania Belchior Mesquita (Titular/UENF), Lauri

Emilio Wirth (Titular/UMESP), Edin Sued Abumanssur (Titular/PUC-SP).

__________________________________________

Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________

Prof. Dr. Jung Mo Sung

Coordenador/Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração:Ciências Sociais e Religião

(6)

RESUMO

Esta tese estuda a tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no Brasil, numa área de maior vulnerabilidade social, a partir da instituição e dos sujeitos. A reprodução religiosa, na modernidade contemporânea, é dificultada pela capacidade diminuída das instituições religiosas de regular as crenças dos seus fiéis, e esta capacidade é analisada no caso da Congregação Cristã no Brasil, num bairro de alta vulnerabilidade social, na fronteira entre São Bernardo do Campo e Diadema. São estudadas as dimensões sociais da Congregação Cristã no Brasil, a partir de um olhar estatístico do campo pentecostal brasileiro. É analisada a realidade social local e elaborada a situação periférica específica do bairro estudado. Uma etnografia do culto da Congregação Cristã fornece os dados para análise dos atores no culto, do processo ritual, e da função do culto para a articulação da identidade religiosa. Finalmente é elaborada, a partir de entrevistas em profundidade e detida observação de campo, uma etnografia dos sujeitos membros da Congregação Cristã, homens e mulheres, em situações diferenciadas de vulnerabilidade. Analisa-se quais redes sociais, internas na Congregação Cristã no Brasil e externas, estes membros criam e até onde as doutrinas e práticas da Congregação, transmitidas no rito, dispositivo de reprodução institucional por excelência, conseguem formar a subjetividade dos seus fiéis, entendida como complexo conjunto de percepção, afeto, pensamento, desejo e medo.

Palavras chave: Congregação Cristã no Brasil; memória religiosa; tradição religiosa; transmissão religiosa; identidade religiosa; subjetividade; vulnerabilidade; redes sociais; estrutura de oportunidades.

(7)

ABSTRACT

The present thesis is a study of the religious tradition and transmission of the Christian Congregation in Brazil in an area of deep social vulnerability. The study is carried out in the light of the institution and its members. Religious reproduction in the contemporary scene of modernity is difficult due to the diminishing capacity of religious institutions to regular the beliefs of its faithful. It is exactly this capacity of the Christian Congregation in Brazil that is analyzed in a situation of social vulnerability in the front region of São Bernardo do Campo and Diadema. The social dimensions of the Christian Congregation in Brazil are studied in the light of a statistical overview of Brazilian pentecostalism. The social reality of the location is carefully analyzed as well as the specific peripheric situation of the area under study. An ethnography of the worship of the Christian Congregation offers the data to analyze the cultic performers, the ritual process and the function of cultic worship that help to articulate religious identity. Finally, in the light of detailed interviews and field observation the thesis presents an ethnography of its members both men and women, in situations of differentiated vulnerability. The thesis studies both the internal and external social network the members create. The thesis takes a close look to see how doctrines and the practice of the Congregation as transmitted in ritual (ritual as a privileged source of institutional reproduction) succeed in forming the subjectivity of its faithful, understood as the complex set of perception, affect, thought, desire and fear.

Keywords: Christian Congregation in Brazil; religious memory; religious tradition; religious transmission; religious identity; subjectivity; vulnerability; social networks; structure of opportunity.

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RESUMEN

Esta tesis estudia la tradición y transmisión religiosa de la Congregación Cristiana en Brasil en una área de mayor vulnerabilidad social, a partir de la institución y de los sujetos. La reproducción religiosa en la modernidad contemporânea es dificultada por la capacidad disminuida de las intituciones religiosas de regular las creencias de sus fieles, y esta capacidad es analisada, para el caso de la Congregación Cristiana en Brasil, en un barrio de alta vulnerabilidad social en la frontera entre São Bernardo do Campo y Diadema. Son estudiadas las dimensiones sociales de la congregación cristiana en Brasil, a partir de una mirada estadística en el campo pentecostal brasileño. Es analisada la realidad local y elaborada la situación periférica específica del barrio estudiado. Una etnografia del culto de la congregación cristiana entrega los datos para un análisis de los actores en el culto, del proceso ritual y de la función del culto para la articulación de la identidad religiosa. Finalmente es elaborada, a partir de entrevistas en profundidad y detenida observación de campo, una etnografia de los sujetos miembros de la congregación cristiana, hombres y mujeres, en situaciones de vulnerabilidad diferenciada. Se analizan qué redes sociales, internas en la congregación cristiana en Brasil y externas, estes miembros crean y hasta dónde las doctrinas y prácticas de la congregación, transmitidas en el rito, dispositivo de reproducción institucional por excelencia, consigen formar la subjetividad de sus fieles, entendida como un complejo conjunto de percepción, afecto, pensamiento, deseo y miedo.

Palabras clave: Congregación Cristiana en Brasil; memoria religiosa; tradición religiosa; transmisión religiosa; identidad religiosa; subjetividad; vulnerabilidad; redes sociales; estructura de oportunidades.

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Agradecimentos

Quero agradecer a todas as pessoas que me apoiaram no decorrer desta pesquisa, muitas das quais não vou citar expressamente.

À Casa de Oração da Congregação Cristã no Brasil do Pq. Jandaia, que me acolheu e permitiu minha pesquisa.

Às pessoas membros desta irmandade e aos outros, inclusive anciãos, que se dispuseram a conversar ou fazer a entrevista, e dos quais algumas se tornaram pessoas amigas.

Às e aos estudantes das Ciências da Religião, especialmente àqueles e àquelas com que formamos um grupo livre de estudos – coisa rara mas tão instigadora.

Às e aos professores da pós-graduação em Ciências da Religião, que muito contribuíram para minha formação; destes, também alguns se tornaram amigos. Mais ainda ao Prof. Leonildo Silveira Campos e à Prof. Sandra Duarte de Souza, da área das Ciências Sociais, com os quais tive mais convivência e que me apoiaram.

Ao meu orientador Prof. Dario Paulo Barrera Rivera, pela paciência que teve comigo, e por seu jeito de me orientar: deixando muito espaço para a liberdade acadêmica, mas mostrando firmeza e competência na hora que necessitava. Além da orientação, pelas partilhas de pesquisa, e pelo grupo de pesquisa REPAL.

Aos professores Décio Passos e Ronaldo Almeida, que nas bancas de qualificação deram importantes sugestões e contribuições.

A tantos outros professores e estudantes, com os quais tive somente momentos de encontros, mas que me deram intuições e luzes.

À Universidade Metodista que me acolheu e deu oportunidade de me formar.

Ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, pelo apoio financeiro ecumênico na hora que precisava.

À CAPES cujo apoio financeiro possibilitou este estudo, reconhecendo a importância do estudo da religião para a sociedade brasileira, e dando-lhe condições de se tornar acadêmico.

À minha Congregação religiosa do Verbo Divino, especialmente ao irmão Nelson que não se cansou de corrigir o meu português, e aos paroquianos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida. Eles tinham de conviver com ausências e uma disposição limitada durante os longos seis anos que este estudo, do início do mestrado ao final do doutorado, demorou.

A Deus, que nos dá os dons, entre os quais também, espero, dons acadêmicos, para conseguir fazer uma leitura inteligente e apaixonada da realidade, e colocá-los a serviço do Reino de Deus no esforço de lutar por um mundo.

(10)

SUMÁRIO

Créditos dos gráficos, tabelas, mapas e fotos ... 12

Lista das tabelas ... 15

Lista dos mapas... 15

Lista dos gráficos ... 16

Lista dos quadros ... 17

Lista das fotos... 18

Lista das abreviaturas e siglas ... 19

Introdução ... 20

Problematização e delimitação do tema ... 25

Hipóteses e questões que guiam o estudo... 28

Objetivos gerais e específicos ... 32

Metodologia e percurso da pesquisa... 33

Apresentação dos capítulos ... 36

1 Capítulo I: Reprodução religiosa na modernidade contemporânea: aspectos conceituais ... 38

1.1 A religião como instituição: Aspectos da sua reprodução ... 39

1.1.1 A tradição diante do desafio da modernidade... 43

1.1.1.1 A periferia da modernidade urbana do Brasil ... 43

1.1.1.2 Os efeitos da modernidade na tradição religiosa... 47

1.1.2 O rito como dispositivo de reprodução institucional por excelência ... 55

1.2 A religião como associativismo voluntário: aspectos da escolha dos sujeitos ... 57

1.2.1 As comunidades religiosas da periferia versus o reinado do individualismo ... 61

1.3 Conceitos de uma antropologia e sociologia relacionais... 64

1.3.1 Vulnerabilidade social... 66

(11)

1.3.3 Capital social ... 71

1.3.4 Associativismo religioso ... 75

2 Capítulo II: Dimensões Sociais da Congregação Cristã. Um olhar estatístico do campo pentecostal brasileiro... 78

2.1 Análise dos dados do Censo 2000: Brasil e Estado de São Paulo... 79

2.2 A Congregação Cristã no Brasil em São Bernardo do Campo: Indicadores sociais ... 82

2.2.1 A distribuição de cor ... 83

2.2.2 Os anos de estudo... 84

2.2.3 Os rendimentos pelo trabalho ... 85

2.2.4 A questão da migração ... 86

2.2.5 Breve Conclusão ... 89

2.3 A localização das casas de oração da Congregação Cristã em São Bernardo do Campo (bairros urbanos), conforme a classificação das áreas de vulnerabilidade social do SEADE ... 89

2.3.1 Breve Comentário ... 91

2.4 Padrões de migração entre os pentecostalismos mais antigos no Brasil... 92

2.4.1 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70: semelhanças e diferenças... 93

2.4.2 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70: padrões de migração... 96

2.4.3 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 90: padrões de migração... 98

2.4.4 Os não migrantes: Quem sempre morou no município... 98

2.4.5 Quem dos migrantes nasceu no município e no Estado de SP ... 99

2.4.6 A origem dos que não nasceram em SP ... 100

2.4.7 A última residência ... 101

2.4.8 Moradia dos migrantes já nascidos em 1995... 102

2.4.9 Comparação dos dados dos fins dos anos 70 e 90 ... 102

2.4.10 Discussão da presença da Assembleia de Deus e Congregação Cristã nos municípios, estratificados por tamanho ... 103

(12)

2.4.10.2A eficácia da tradição na vida social dos membros da Congregação

Cristã... 109

2.4.11 Conclusão ... 110

3 Capítulo III: A Congregação Cristã em São Bernardo do Campo e na Vila Moraes: ... 112

3.1 Dados do município de São Bernardo do Campo ... 113

3.2 Ambiguidades na literatura a respeito da atribuição municipal da região 116 3.2.1 Comentário a respeito da ambiguidade dos mapas ... 118

3.3 O mapa de vulnerabilidade social nos arredores da Casa de Oração ... 119

3.4 A situação social da população local e dos membros da Congregação moradores da região, conforme dados do Censo 2000 ... 123

3.4.1 A situação social dos membros da Congregação Cristã no Brasil nos municípios de Diadema e São Bernardo do Campo ... 123

3.4.2 Indicadores da vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação vizinhas da Casa de Oração no município de São Bernardo do Campo... 124

3.4.2.1 A cor dos membros da Congregação Cristã... 125

3.4.2.2 Anos de estudo ... 126

3.4.2.3 Total de rendimentos em salários mínimos ... 127

3.4.2.4 Pouca desigualdade na renda: cor (membros da CCB nas APs) ... 128

3.4.2.5 Pouca desigualdade na renda: cor (população nas APs)... 129

3.4.2.6 Muita desigualdade na renda: gênero ... 130

3.4.2.7 A questão da migração... 131

3.4.2.7.1A origem dos migrantes ... 132

3.5 Mulheres responsáveis pelo domicílio da CCB: indicadores sociais ... 135

3.5.1 O estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio ... 135

3.5.2 Anos de estudo e rendimentos das mulheres responsáveis pelo domicílio... 137

3.6 A realidade social do local: observação do dia a dia do bairro e conversas informais no barracão da Sociedade de amigos da Vila Moraes141 3.7 A situação periférica específica da Vila Moraes ... 150

3.8 A realidade social da Vila Moraes na ótica de moradores participantes da Congregação Cristã... 152

(13)

3.9 Observações a respeito da população local no culto na casa de oração.... 157

3.10 Discussão dos dados e conclusão... 158

4 Capítulo IV: O culto da Congregação Cristã: etnografia e análise ... 161

4.1 O espaço do culto e seus usos ... 162

4.2 O tempo do culto ... 167

4.3 Análise do culto ... 176

4.3.1 Os atores no culto... 176

4.3.2 O processo ritual ... 182

4.3.3 O culto e a articulação da identidade religiosa ... 200

4.3.3.1 As duas correntes da memória na Congregação Cristã ... 200

4.3.3.2 O culto e os quatro lados da identidade religiosa na Congregação Cristã... 204

4.4 Conclusão... 205

5 Capítulo V: Os sujeitos membros da Congregação Cristã, homens e mulheres, em situações diferenciadas de vulnerabilidade ... 207

5.1 Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa... 211

5.2 Moradores de áreas de vulnerabilidade média... 233

5.3 Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta ... 240

5.4 Discussão dos dados e Conclusão... 258

Conclusão ... 269

Referências bibliográficas... 279

Documentos e Escritos da CCB ... 279

Publicações, papers, monografias, dissertações e teses a respeito da CCB... 279

Bibliografia geral... 280

Anexos ... 291

Roteiro da observação do culto da Congregação Cristã ... 291

Roteiro da observação da Reunião de Jovens e Menores da Congregação Cristã... 291

Roteiro da Entrevista... 292

(14)

Estatísticas das observações de culto ... 297

Temas dos testemunhos, por gênero ... 297

Temas das pregações ... 297

Tempo dos testemunhos, por gênero ... 298

Tempo das orações, por gênero ... 298

Frequência de chamar hinos, por gênero ... 298

Cor das testemunhas ... 298

Idade das testemunhas... 298

Média de participantes do culto: total e por gênero... 298

Porcentagem dos músicos no total dos homens ... 298

Observação de culto (em CD)... 300

Entrevistas (em CD) ... 405

Entrevista com Ricardo... 405

Entrevista com Jaqueline... 428

Entrevista com Dorivaldo ... 445

Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni... 471

Entrevista com Odair ... 520

Entrevista com Eduarda ... 551

Entrevista com Lúcio ... 568

Entrevista com Laércio ... 583

Entrevista com Neide... 620

Entrevista com Noemi... 635

(15)

Créditos dos gráficos, tabelas, mapas e fotos

Todos os GRÁFICOS dos dados do Censo 2000 são da minha autoria e foram elaborados com o programa da StatSoft, Inc. (2007). STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. www.statsoft.com a partir dos Microdados do Censo 2000, publicados pelo IBGE.

Todas as TABELAS dos dados do Censo 2000 são da minha autoria e foram calculados com os programas da StatSoft, Inc. (2007). STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. www.statsoft.com e o Microsoft Excel a partir dos Microdados do Censo 2000, publicados pelo IBGE.

MAPAS

Mapa 2.1: Copiado de PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO DO CAMPO. Compêndio Estatístico 2005. São Bernardo do Campo: 2006 (= detalhe do mapa da página 6) e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.1: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações por Setor Censitário. Diadema. Modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.2: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações por Setor Censitário. São Bernardo do Campo.

Mapa 3.3: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações por Setor Censitário. Diadema e São Bernardo do Campo. Modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.4: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup. asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.5: Copiado de MARQUES, Eduardo (coord.) et al. Assentamentos precários no Brasil urbano. São Paulo: CEM/CEBRAP, 2008, p.220 (=Mapa 75) e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.6: Baixado da Internet pelo site www.seade.gov.br/produtos/ipvs/mapas/municipio/sã o_bernardo_do_campo.pdf.e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2. Mapa 3.7: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações

(16)

Mapa 3.8: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações por Setor Censitário. Diadema e São Bernardo do Campo. Modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.9: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup. asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Mapa 3.10: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup. asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

FOTOS

Foto 3.1: Baixado da internet pelo programa Google Maps e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.

Fotos 3.2, 3.3, 3.7-3.15: minha autoria.

Fotos 3.4., 3.5 e 3.6: Cortesia e publicação autorizada pela Sociedade de Amigos da Vila Moraes.

(17)

Lista das tabelas

Tabela 1: Taxas de crescimento da CCB ... 22

Tabela 2.1: A CCB nos municípios mais evangélicos de SP ... 82

Tabela 2.2: Os níveis do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social ... 91

Tabela 2.3: Volume e taxa média anual de imigração ... 106

Tabela 3.1: Índice de estudo por gênero e grupo religioso ... 137

Tabela 3.2: Índices: Total de rendimentos por gênero e grupo religioso... 139

Lista dos mapas Mapa 2.1: A localização das Casas de Oração no município de SBC... 90

Mapa 3.1: Mapa dos setores censitários Diadema (IBGE) ... 117

Mapa 3.2: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE)... 117

Mapa 3.3: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE) corrigido... 118

Mapa 3.4: Mapa município SBC – detalhe. A linha preta marca o limite do município... 119

Mapa 3.5: Mapa do CEM/CEBRAP... 120

Mapa 3.6: Mapa do IPVS Diadema e SBC (SEADE) ... 122

Mapa 3.7: Áreas de Ponderação estudadas ... 124

Mapa 3.8: Áreas de Ponderação estudadas (seta vermelha)... 124

Mapa 3.9: Detalhe do mapa do município de SBC, com casa de oração do Jandaia e Vila Moraes... 142

(18)

Lista dos gráficos

Gráfico 1.1: As quatro dimensões da identificação religiosa... 54

Gráfico 1.2: Os seis eixos de identificação religiosa ... 55

Gráfico 2.1: A CCB e a população geral nos Estados do Brasil. ... 79

Gráfico 2.2: A CCB e a população geral nos municípios até 100 mil habitantes (porcentagem) ... 80

Gráfico 2.3: Grupos religiosos e população geral nos municípios de até 100 mil habitantes (porcentagem)... 81

Gráfico 2.4: Presença da CCB e da AD nos municípios agrupados por tamanho ... 81

Gráfico 2.5: Distribuição de cor nos grupos religiosos pesquisados ... 83

Gráfico 2.6: Anos de Estudo em SBC ... 84

Gráfico 2.7: Total de rendimentos do trabalho em SBC (em R$) ... 85

Gráfico 2.8: A questão da migração – Lugar de nascimento ou última residência em outro Estado... 87

Gráfico 2.9: A questão da migração: Região de nascimento ou última residência em outro Estado – Nordestinos e Sulistas/Sudestinos... 88

Gráfico 2.10: Distribuição de cor dos membros da CCB em várias escalas... 92

Gráfico 2.11: Padrões de migração na 1ª e 2ª geração – AD e CCB... 97

Gráfico 2.12: Tempo de morada no município – AD e CCB... 99

Gráfico 2.13: Quem nasceu no Estado de SP – AD e CCB ... 100

Gráfico 2.14: Região de nascimento – AD e CCB ... 101

Gráfico 2.15: Última residência – AD e CCB... 101

Gráfico 2.16: Moradia dos migrantes em 1995 – AD e CCB ... 102

Gráfico 2.17: Origem dos migrantes diferenciado por sua origem, por tamanho de município ... 104

Gráfico 2.18: Origem dos migrantes (nascimento), por tamanho de município . 104 Gráfico 2.19: Migrantes da AD, CCB e população geral por origem nasc., por tamanho de município ... 105

Gráfico 3.1: Cor... 125

Gráfico 3.2: Anos de Estudo ... 126

Gráfico 3.3: Total de rendimentos em salários mínimos ... 127

(19)

Gráfico 3.5: Total de todos os rendimentos por cor nas APs estudadas ... 129 Gráfico 3.6: Total de todos os rendimentos por gênero nas APs estudadas –

membros CCB... 130 Gráfico 3.7: Migrantes que nasceram fora do Estado: CCB em SP,

em SBC e grupos pesquisados nas APs... 131 Gráfico 3.8: Migrantes que tiveram sua última residência fora do Estado:

CCB em SP, em SBC e grupos pesquisados nas APs ... 132 Gráfico 3.9: Migrantes por lugar de origem (nascimento): CCB em SP,

em SBC e grupos pesquisados nas APs ... 133 Gráfico 3.10: Migrantes por lugar de origem (última residência): CCB em SP,

em SBC e grupos pesquisados nas APs... 134 Gráfico 3.11: Estado civil das mulheres – AP Alvarenga e arredores... 135 Gráfico 3.12: Estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio – AP

Alvarenga e arredores... 136 Gráfico 3.13: Anos de Estudo de membros da CCB responsáveis pelo

domicílio por gênero em áreas nobres de SBC. ... 140 Gráfico 3.14: Total de rendimentos de membros da CCB responsáveis pelo

domicílio por gênero em áreas nobres de SBC. ... 141 Gráfico 4.1: A casa de oração do Parque Jandaia... 165

Lista dos quadros

Quadro 1.1: Dois modelos opostos de sociabilidade ... 59 Quadro 1.2: Dois conjuntos diferenciados de narrativas de conversão ... 61 Quadro 1.3: Quatro modelos de validação do crer ... 63 Quadro 5.1: Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa. Os

personagens ... 211 Quadro 5.2: Moradores de áreas de média vulnerabilidade. Os personagens... 233 Quadro 5.3: Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta. Os personagens

(20)

Lista das fotos

Foto 3.1: A igreja da Congregação Cristã (círculo vermelho menor) e a Vila

Moraes (círculo vermelho maior). ... 141

Foto 3.2 Rua na Vila Moraes e barraco de madeira e madeirite. Não existe asfalto, o esgoto está ao céu aberto... 142

Foto 3.3: Rua na Vila Moraes e barraco de madeira e madeirite. A maioria das casas é de madeira ou madeirite... 142

Foto 3.4: Na falta de água encanada, os moradores captam água da chuva como água potável ... 143

Foto 3.5 Não há eletricidade instalada na rede elétrica; moradores fizeram “gatos”... 143

Foto 3.6: Não há eletricidade instalada na rede elétrica; moradores fizeram “gatos”... 143

Foto 3.7: Mãe com filhos no quintal da sua casa. Na maioria das casas, moram cinco ou mais pessoas ... 144

Foto 3.8: O condomínio do Parque Jandaia em frente da Vila Moraes: com ruas asfaltadas, eletricidade, água encanada e amplas áreas de lazer. ... 145

Foto 3.9 A Assembleia de Deus “Ponto Certo” ao lado da Estrada: frente ... 145

Foto 3.10: A Assembleia de Deus “Ponto Certo” ao lado da Estrada: fundo ... 145

Foto 3.11: Assembleia de Deus “Missão Internacional”. ... 146

Foto 3.12 Igreja Católica... 146

Foto 3.13: Igreja Católica. Somente a pedra na sua frente com o nome “S. Juan Diego” indica que é uma igreja católica... 146

Foto 3.14 População da Vila Moraes se mobiliza para participar da plenária sobre a Lei dos mananciais... 148

Foto 3.15: Parcela da população volta para casa decepcionado com a falta do transporte prometido (à dir.) ... 148

Foto 4.1: Frente da casa de oração “Parque Jandaia” da Congregação Cristã .... 161

Foto 4.2 Do lado esquerdo da casa de oração, uma ampla área arborizada, formando um parque ... 161

(21)

Lista das abreviaturas e siglas

AD Assembleia de Deus

APs Áreas de Ponderação

AREAP Área de Ponderação

CCB Congregação Cristã no Brasil

CEBRAP Centro Brasileiro de Análise e Planejamento CEM Centro de Estudos da Metrópole

EUA Estados Unidos da América

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPDA Igreja Pentecostal Deus é Amor

IPVS Índice Paulista de Vulnerabilidade Social IURD Igreja Universal do Reino de Deus

NE Nordeste

Pop População

Popul. População

REPAL Religião e Periferia na América Latina RMSP Região Metropolitana de São Paulo

SBC São Bernardo do Campo

SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SemRel sem religião

SM Salãrio Mínimo

SP São Paulo, no sentido do Estado de São Paulo SSE Sul/Sudeste

TAC Termo de Ajustamento de Conduta

(22)

Introdução

Este estudo tem como objeto a Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social, especificamente aspectos de sua tradição e transmissão religiosa, que se pretende analisar a partir da instituição e dos sujeitos.

A tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã acontecem, de maneira quase exclusiva, oralmente, uma vez que seus textos são extremamente esparsos e poucos. Sua tradição não se petrifica em textos, com exceção do hinário cujos hinos são os mesmos desde a quarta edição em 1965, mas apenas se fixa no rito, motivo pelo qual a observação densa do culto ocupa um lugar central no presente estudo. A Congregação Cristã, que nasceu como “Igreja dos italianos” e se abriu à língua portuguesa e a membros brasileiros somente nos anos 30 do século passado, se opõe às dinâmicas da modernização, tanto no uso dos meios de comunicação social que está em voga entre quase todos os outros grupos pentecostais no Brasil, como na subordinação da mulher ao homem. Ela tem claros traços e elementos que costumam estar presentes numa sociedade tradicional - sua hierarquia é construída como gerontocracia, a legitimação da autoridade é mais tradicional que carismática, sua propagação acontece pelas redes de parentesco, vizinhança e amizade, e sua estrutura é segmentária, sem governo central e preservando certa independência entre as várias unidades -, mas seu contexto é de uma sociedade moderna, mesmo se os benefícios da modernidade muitas vezes não chegam às áreas de alta vulnerabilidade. O estudo pretende pesquisar, a partir de entrevistas em profundidade com membros da CCB, se nestas áreas, a corrente de memória da Congregação Cristã está enfraquecendo ou se transmutando, o que não impediria necessariamente que seus fiéis possuam uma identidade religiosa mais forte que quase todos os outros grupos pentecostais.

Ofereço, em seguida, informação básica do surgimento da Congregação Cristã no Brasil, a partir de textos publicados pela mesma e informações de Yuasa (2001). O início da Congregação Cristã no Brasil remonta a 1910, ano no qual chega ao Brasil o emigrante italiano, Louis Francescon. Nascido em 29 de março de 1866, em Cavasso Nuovo, região de Friuli, província de Údine, no norte da Itália, ele aprende na Itália a profissão de mosaicista e é católico nominal. Com 24 anos, ele deixa sua região, empobrecida e devastada por sucessiva ocupação de vários exércitos e pelas guerras constantes, e emigra para os Estados Unidos (Chicago), onde os italianos formam um dos grupos menos letrados de imigrantes.

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Nos EUA, os últimos trinta anos do século XIX, até a Primeira Guerra Mundial, são anos de profundas mudanças e choques. Neste período, este país se transforma de uma nação isolada e rural numa potência mundial urbana, industrial e multicultural. São os anos da invenção do telefone, carro, avião, rádio e cinema, mas também de desastres como o “Fogo de Chicago” de 1871, que destrói boa parte da cidade, do “dilúvio de Johnstown”, no dia 31 de maio de 1889, e do terremoto de São Francisco, no dia 18 de abril de 1906. O último é visto como o berço do pentecostalismo (cf. CAMPOS 1996 e BURGESS e McGEE 1993). Em todo caso, também o protestantismo dos EUA está passando, naquele período, por profundas transformações, como o surgimento do movimento Holiness, de reavivamento wesleyano, que ganha força e espalha inúmeras igrejas independentes e missões a partir de 1880. A ele o movimento pentecostal deve sua inspiração e formação.

No mesmo ano de sua chegada aos EUA, Francescon conhece a pregação de um missionário livre, Miguel Nardi. Ele se converte e participa durante vários anos da Primeira Igreja Presbiteriana Italiana, chegando a ser ancião. Nestes anos, ele vive dois momentos decisivos de sua vida: Ele afirma ter recebido uma revelação divina durante um ato de devoção (leitura bíblica individual), e ele casa com sua esposa Rosina. Francescon percebe que a Igreja Presbiteriana Italiana faz pouco caso do Batismo e de sua identidade confessional, mas suas ideias reformadoras são rejeitadas pela Igreja local; ele mesmo já tem receio de alguns procedimentos nela e se decepcionou com o pastor. Assim ele, junto com um grupo de insatisfeitos, rompe, nove anos mais tarde, com a Igreja presbiteriana.

O grupo dos dissidentes começa a se encontrar nas casas, em vários lugares, “pela necessidade dos que não sabiam ler”, lembra Francescon destes anos nos EUA. (CCB 2002:37) Na primeira reunião, ele é eleito ancião. Em 1907, Francescon conhece em Los Angeles o pastor pentecostal W. H. Durham, cujos cultos o grupo começa a frequentar. Mulheres são seladas no Espírito Santo e falam em línguas; somente um mês depois, afirma Francescon, também ele foi selado. Já antes, porém, o pastor Durham lhe afirmou “que Ele me havia chamado e preparado para levar Sua mensagem à colônia italiana; após, fui eu mesmo também confirmado por Deus” (ibidem).

Forma-se a Igreja Pentecostal Italiana. O grupo aumenta. Começam as viagens missionárias. Rosina, em outubro de 1907, viaja sozinha (!) para Los Angeles. O próprio Francescon inicia sua missão na América Latina, junto com G. Lombardi, em Buenos Aires. Uma segunda viagem missionária os traz ao Brasil, em 1910. Na Estação da Luz, eles evangelizam um italiano que os convida para sua casa, em Santo Antônio da Platina, no Paraná. Enquanto Lombardi segue para Buenos Aires, Francescon, numa difícil viagem, vai

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para o Paraná. Em Santo Antônio da Platina, ele é perseguido pelos católicos, mas mesmo assim batiza onze pessoas “confirmados com sinais do Altíssimo. Estas foram as primícias da grande Obra de Deus naquele país.”1 (CCB 2002:46)

De volta a São Paulo, ele visita uma Igreja Presbiteriana, na Rua Alfândega, no Brás, bairro de maior concentração de operários italianos e então periferia da cidade. Ele é expulso da Igreja após sua pregação, mas um grupo de vinte, consistindo de presbiterianos, metodistas e alguns católicos, sai com ele: é o início da Congregação Cristã do Brasil, em São Paulo.- Conforme Read (1967), a Congregação cresce rapidamente, como movimento de italianos. Meio ano mais tarde, Luis Francescon volta aos Estados Unidos, mas vai regularmente visitar o Brasil e a CCB por ele fundada: no total, são dez visitas; oito delas demoram mais que dez meses. Dos primeiros anos “italianos” da CCB, até 1935, ano em que ela inicia a produção do primeiro material estatístico, sabe-se muito pouco. Somente nas duas últimas passagens de Francescon pelo Brasil, o perfil da CCB é fixado por escrito (Resumo da convenção, de 1936, e Reuniões e ensinamentos, de 1948), sucessivamente impressos até hoje.-

A partir dos anos 30, a CCB começa a introduzir a língua portuguesa no hinário e nos cultos. A “explosão” numérica2 da CCB (considero a expressão “explosão” exagerada, como mostra a tabela de números a seguir) ocorre nos anos 50, com a chegada dos nordestinos a São Paulo. A seguinte tabela mostra isso, calculando a partir de dados de Léonard, que se apoia em dados da CCB, e do relatório anual da CCB:

Anos Adesões (média)

1936-1940 3.175 1941-1948 6.114 1952-1960 15.301 1961-1970 30.704 1971-1980 49.463 1981-1990 71.036 1991-2000 107.693 2001-2007 108.624

Tabela 1: Taxas de crescimento da CCB (Fontes: LÉONARD 1988:79 e CCB 2009:12)

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Após o início do protestantismo de imigração (luteranos alemães em 1824) e de missão (presbiterianos em 1859), com dificuldades de penetração, seria Santo Antônio da Platina o lugar do início do pentecostalismo no Brasil. Leónard (1988) cita como seus antecessores o ex-padre católico e primeiro pastor ordenado na América Latina (1865), José Manuel da Conceição, Miguel Vieira Ferreira e a “Igreja Evangélica Brasileira” por ele fundada, e o movimento messiânico e milenarista dos mucker (1873 e 1874). As raízes afro do pentecostalismo, destacadas por Hollenweger (1999), encontrariam no Brasil um campo fértil por causa da herança indígena, afro e portuguesa popular do catolicismo popular brasileiro. Elas não deveriam, porém, ter muita influência no pentecostalismo italiano da CCB.

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Assim Mendonça (1985:49): “Inicialmente Igreja de imigrantes italianos e crescendo pouco nas primeiras décadas, ‘explodiu’ na década de 1950, quando os nordestinos passaram a ocupar o lugar dos italianos no Brás.” Logo depois, adverte com cautela que “não é possível saber exatamente quantos são os membros da Congregação.”

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A transição do movimento italiano para comunidade brasileira parece ter ocorrido sem traumas, mas a ausência de registros e documentos históricos dificulta um aprofundamento desta época e não é objetivo desta pesquisa. Não encontrei indícios de que esta transição tenha causado mudanças bruscas na estrutura, nas tradições e costumes, e na transmissão religiosa da Congregação Cristã. Pode-se dizer, portanto, que não haveria nenhuma “explosão” numérica da Congregação Cristã sem exatamente o abandono do carisma do fundador (levar a mensagem até a colônia italiana).

Estudando os primeiros relatórios sobre o culto da Congregação Cristã (LÉONARD 1988, original: 1952) e observando o culto da CCB hoje, não se percebem maiores mudanças. Após a saudação inicial, cantam-se três hinos, escolhidos por integrantes da assembleia e cuja escolha é confirmada pelo ancião ou dirigente do culto. Segue o momento da oração, em que o êxtase, a emoção e a palavra são liberados; há pessoas que oram em línguas (glossolalia), e no fim deste momento, uma voz se levanta e se impõe sobre as outras. Encerra-se este momento com um hino, e o dirigente anuncia que as pessoas têm a liberdade de dar o seu testemunho, louvando e dando glórias a Deus pelas maravilhas que Deus operou em suas vidas. O dirigente dá os avisos, e chama-se mais um hino: é o momento do recebimento da palavra, destacado pelo dirigente e talvez o mais festivo de todo o culto. O dirigente ou uma pessoa convidada faz a leitura da Bíblia e em seguida o discurso. Canta-se mais um hino e segue o agradecimento final, outro momento de liberação da emoção, do êxtase e da palavra. O culto termina com a saudação final, uma espécie de bênção, após a qual os fiéis são convidados de saudar com o Ósculo Santo os fiéis, seguindo a regra de que homem só beija homem e mulher só beija mulher.

Canta-se do hinário, que é o mesmo em todas as congregações. Nele, foram acrescentados hinos ao longo do tempo, mas o estilo musical, sereno e clássico, é o mesmo como há 50 anos atrás. Também as letras são as antigas ainda; não se percebe nenhuma influência de múscia religiosa contemporânea tocada por banda ou outras inovações de moda.3 O hinário e a Bíblia são os únicos utensílios indispensáveis para os fiéis (acrescentando, para as mulheres, o véu e, para os homens, o terno).

Não se percebem mudanças também na estratégia de conversão. Como nos primeiros dias até hoje, fazem-se novos conversos no círculo dos amigos e dos familiares. Uma

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Parece haver um certo descontentamento com este imobilismo hinodal, porém. Em frente da Igreja do Brás vendedores ambulantes oferecem CDs com todos os hinos da CCB, acompanhados por teclado e instrumentos de múscia religiosa contemporânea tocada por banda em vez de orquestra tradicional. Na internet, conheço dois sítios recentes nos quais jovens que se dizem membros da CCB colocam hinos que eles mesmos compuseram – todos eles em melhor estilo gospel.

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entrevistada nos afirmou que só se conversa sobre a fé e se convida pessoas a participar da Congregação Cristã quando estas dão a impressão de uma predisposição religiosa e espiritual. A CCB não faz uso de panfletos ou qualquer outro material de propaganda escrito, e muito menos dos meios de comunicação social. Nem tenta reunir multidões nas praças para convertê-las.

Igualmente, em termos de arquitetura, parece haver poucas mudanças desde os dias primordiais até hoje. Com exceção da matriz, no Brás, que pode ser chamada de arquitetonicamente ousada, todas as Igrejas da Congregação Cristã seguem o mesmo padrão arquitetônico e têm a mesma cor cinza. Nos últimos anos, porém, algumas construções deixam de ser as modestas Casas de Oração e assumem uma certa suntuosidade.

Tendo nascido como um movimento pentecostal de migrantes italianos, a Congregação Cristã começa como pentecostalismo de brancos, e apesar de hoje brasileiros serem a ampla maioria e, na periferia de São Paulo, não se sentir qualquer herança italiana à primeira vista, ela continua sendo até hoje a denominação pentecostal menos negra, como mostram os dados do Censo 2000.

Resumindo, podemos dizer que a CCB nasce e continua como um pentecostalismo sui generis, por causa da legitimação da autoridade (gerontocracia), da combinação de elementos extremamente racionais (predestinação calvinista) com elementos emocionais-iluministas4 (presença sensível do Espírito Santo), de uma forte herança do protestantismo, da música orquestrada de estilo clássico, da obliteração das diferenças entre clero e laicato, e da sua independência financeira do exterior. Sob esse último aspecto, a CCB é até considerada a mais indígena das Igrejas brasileiras. A Congregação Cristã no Brasil pode ser chamada de uma instituição religiosa tradicional e de longa duração, por existir há quase cem anos: ela é a Igreja protestante pentecostal mais antiga no Brasil. Sua transmissão religiosa acontece praticamente só via oral. Sua estrutura é gerontocrática, porque são os anciãos e os que eles convidam que lideram a transmissão religiosa. A Congregação Cristã, durante décadas, rejeitou a modernidade, especialmente no que diz respeito aos meios de comunicação (rádio, TV, internet; há pouquíssima escrita), e fiéis idosos seguem este costume até hoje. Ela também parece se posicionar contra a emancipação da mulher (GOUVEIA:1986). Hollenweger avalia a prática das mulheres usarem o véu na CCB como “um protesto inconsciente contra a independência crescente das mulheres, apesar das mulheres serem compensadas indiretamente nas Igrejas pentecostais pelo exercício de uma influência muito

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Entendo a palavra “iluminista” aqui no sentido que Léonard (1988) lhe dá: de iluminismo religioso, misticismo, captação direta das revelações divinas.

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considerável” (1971:404); as próprias mulheres da Congregação Cristã, porém, nas minhas entrevistas se orgulham de poder vestir o véu como sinal de respeito na presença de Deus (e não tanto de “empoderamento” como afirma literatura norte-americana (p. ex. CUCCHIARI 1990 e MARTIN 1998). Religião protestante pentecostal que cresceu na cidade de São Paulo, “cidade que não pode parar” e assim expressão máxima da modernidade, ela dá a impressão de uma tradição imutável. Estes fatores tornam necessário um estudo aprofundado da tradição religiosa da Congregação Cristã. Pergunta-se da possibilidade e da chance de uma religião que se pretende imutável cadeia de memória oral numa sociedade que já não é mais uma sociedade de memória.

Problematização e delimitação do tema

Esta tese pretende estudar como se constitui a tradição e como se realiza a transmissão religiosa na Congregação Cristã no Brasil, sob o aspecto tanto da instituição como dos sujeitos, numa área de alta vulnerabilidade social.

É a instituição religiosa que regula o crer e a tradição e (re)estabelece o equilíbrio sempre precário entre os polos comunitário, ético, cultural e emocional (RIVERA 2001:214; cf. HERVIEU-LÉGER 2000). Tarefa da instituição é articular a identidade religiosa, e para isso, ela impõe normas e regula práticas. Para ser reconhecida, ela tem de legitimar sua autoridade e dominação. Seguindo a classificação de Weber (1991), que distingue três tipos puros de legitimação da autoridade: a tradicional, a carismática, e a burocrática, considero a autoridade da CCB tradicional com traços também carismáticos.- Com esta legitimidade, a instituição articula sua identidade religiosa, utilizando-se de estratégias de propagação da sua mensagem. Magnani (2000:38-46) distingue as estratégias de trajeto, mancha e pedaço. No caso da estratégia do pedaço, penetra-se sempre mais num bairro, por redes de parentesco, vizinhos ou amigos. Acredito que esta seja a estratégia que a CCB está usando.

Os dispositivos de regulamentar o crer que as instituições religiosas têm, foram enfraquecidos na modernidade. À desregulação institucional corresponde o enfraquecimento da tradição regulada. Os sujeitos reconstroem identidades religiosas temporais e parciais a partir de sua experiência religiosa. São os sujeitos crentes que constroem seu regime de verdade. (RIVERA 2001:215s) Nesta dinâmica, os testemunhos – ocasiões nas quais os fiéis contam episódios em que sentiram a presença de Deus na sua vida, muitas vezes de forma milagrosa - parecem ter mais autoridade que as tradições. Por isso, este estudo analisa até onde a Congregação Cristã consegue formar a subjetividade dos seus fiéis, examinando o caso

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específico de participantes de uma Casa de Oração situada numa área de vulnerabilidade social muito alta.

A Congregação Cristã no Brasil constrói a sua hierarquia, de maneira bem específica, como gerontocracia. Na gerontocracia, o sistema político está nas mãos dos membros mais velhos da comunidade. A sua liderança se apóia no fato de serem os mais velhos, seja de idade, seja de tradição. Isso quer dizer que o ancião não será necessariamente o mais velho, mas pode ser aquele que iniciou a tradição e evangelização no local. Ele é eleito pela assembleia dos anciãos e somente por ela, após muita oração. Afirma-se que a assembleia dos anciãos não elege de livre vontade, mas ora para descobrir quem é que Deus predestinou para ser ancião.- Por isso, reduzem-se muito conflitos ou brigas pelo poder. A liderança carismática sempre é ameaçada, porque se apoia no carisma pessoal, e sempre pode surgir um líder mais poderoso com um carisma mais forte ainda que ameaça “destronar” o líder carismático existente. Diferente disso, na CCB, o ancião é líder porque é o mais velho, e por isso, o mais apto como guardião da tradição, e sobre isso não há discussão. Em segundo lugar, sim, ele deve ter também um certo carisma e uma condução de vida condizente com as normas da Congregação.- Assim como a autoridade na Congregação Cristã não é carismática, ela também não é burocrática. Não é o diploma que determina quem será o líder, porque não há diplomas. Não há estudo e diploma de teologia na Congregação Cristã. Também não há clero. Todos são leigos; e jovens entrevistadas falam com muito carinho dos anciãos que “são igual à gente, são simples e humildes”, com a diferença que conhecem melhor a tradição. Igualmente, não existem funcionários na Congregação Cristã, porque ninguém é pago pelo serviço que faz ou pelo cargo que ocupa. Os anciãos são excluídos do controle do dinheiro.- De maneira semelhante, não há dízimo. Neste sentido, a Congregação Cristã parece opor-se à mentalidade e estrutura do sistema capitalista; ela forma seu ambiente, mantendo um clima de gratuidade e doação.

A Congregação Cristã no Brasil possui uma tradição quase exclusivamente oral; suas escritas e seus textos são extremamente esparsos. Na tradição da Congregação Cristã, esta praticamente não se petrifica em textos, portanto; apenas se fixa, de certa maneira, no rito. É o esquecimento que possibilita a recriação fecunda: a tradição, especialmente a oral no ato da performance da recitação, é aberta e permite mudança e transformação, “entre o que mantém a tradição e o que ela preferiu esquecer”. (ZUMTHOR 1997:21) A tradição é um continuum de transmissão de experiências e conhecimentos de uma cultura, numa dada sociedade. Zumthor lembra que a memória vai em ondulações, “como uma peregrinação iniciática: um exílio no múltiplo e no descontínuo, rumo a um centro unificador”, (1997:24) “totalmente

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orientada para a emoção e a alegria coletivas” (1997:29). Assim, a fala do ancião transmite a tradição oral da Congregação Cristã, entendida como um continuum de transmissão de experiências e conhecimentos desta religião. Mas também os testemunhos se colocam dentro desta tradição, a reelaboram e enriquecem; é visível, à primeira vista, como a memória narrada nos testemunhos é “totalmente orientada para a emoção e a alegria coletivas” - já Léonard observava e registrava isso. Halbwachs elabora esta diferença, distinguindo a corrente “dogmática” da corrente “mística” da memória religiosa, como será discutido adiante. Articular estas duas correntes de memória e criar um equilíbrio entre elas é o ofício da instituição religiosa. Por isso, minha análise de culto examina dissonâncias e ênfases diferenciadas entre a fala “dogmática” do ministro na hora da palavra e a fala “mística” dos fiéis na hora dos testemunhos, e a questão até onde o culto consegue formar a subjetividade dos fiéis será retomada na análise das entrevistas.

Não irei me deter longamente na problematização da questão do rito e do culto aqui, porque um capítulo é dedicado a ele. Quero, no entanto, destacar aqui que a Congregação Cristã resolve dois problemas crônicos do protestantismo brasileiro de maneira diferenciada de outros grupos protestantes: a precariedade do pastor protestante e a crise do culto protestante no Brasil. Na Congregação Cristã, a ausência de clero contorna a questão da precariedade do pastor protestante, elaborada por Willaime (1992), precariedade esta que se faz sentir também no culto protestante e é um dos motivos de sua crise; outro motivo da crise do culto protestante já foi apontada por Léonard (1963) e é retomado por Mendonça (1985): enquanto, “na Europa, a suprema finalidade da Igreja é a de 'culto' (ou seus equivalentes); no Brasil é 'trabalho'“ (MENDONÇA 1985:43 citando LÉONARD 1963:241): é a diferença entre 'adorar e orar' e 'aprender e trabalhar'. Finalidade declarada do culto da Congregação Cristã é o 'adorar e orar', tanto que no tempo em que Léonard fazia suas pesquisas a CCB era chamada de “os glórias”. Da mesma maneira, para Corrêa (1989), o culto da Congregação Cristã não é pedagogia, que visa o conhecimento, mas ele procura o mistério. Outra questão a ser levada em conta e ser pesquisada é a dos hinos. “Passou décadas sem nenhuma revisão, e as letras de seus hinos se cristalizaram nas mentes dos protestantes brasileiros como verdadeiro sistema teológico de base”, diz Mendonça sobre o Salmos e hinos de Robert e Sarah Kelly, e acrescenta ainda: “Na sua essência, continua sendo um hinário dos 'revivals'.” (1985:46) Acredito que o mesmo possa se dizer do hinário da Congregação Cristã.

Considero difícil, porém, falar do culto da Congregação Cristã no singular, como se ele, monolítico, fosse sempre o mesmo. Será que suas feições são as mesmas na periferia, nas áreas de alta vulnerabilidade social? A presente pesquisa se propõe justamente estudar o culto

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da Congregação Cristã numa área de vulnerabilidade social muito alta de São Bernardo do Campo na fronteira com Diadema, inserindo breves comparações com cultos a que assisti, numa área nobre próxima ao bairro Rudge Ramos, no mesmo município.

Este estudo nasceu no e se entende como contribuição para o grupo de pesquisa “Religião e periferia na América Latina -REPAL”, que indica o seu horizonte: limito o estudo da tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no Brasil a uma área de vulnerabilidade social muito alta, na periferia em São Bernardo do Campo. Este município é localizado numa região que é o maior polo de riqueza nacional e era durante décadas a locomotiva da industrialização do país, mas está passando por um processo de desconcentração industrial que implica agravamento de desigualdades sociais que se expressam na piora do município em vários índices sociais nos últimos anos. A população que vive na periferia do município, nas áreas de vulnerabilidade social alta e muito alta, convive com a ausência de equipamentos públicos de saúde, transporte, educação e cultura, uma falta quase completa de infraestrutura, precariedade de trabalho, e é frequentemente exposta à vulnerabilidade civil, que se refere “à integridade física das pessoas, ou seja, ao fato de vastos segmentos da população estarem desprotegidos da violência praticada por bandidos e pela polícia.” (KOWARICK 2009:19). Sujeita a estas condições de vida, a população destas áreas cria relações sociais e redes sociais particulares, associa-se, inventa modos de sobrevivência, constrói sua casa em autoconstrução, e dá significado aos processo que está vivendo: é o lado subjetivo dos atores sociais. Neste emaranhado de redes sociais e significados, grupos religiosos e também a Congregação Cristã se fazem presentes. O presente estudo pesquisa como a Congregação Cristã faz a tradição e transmissão religiosa nestas áreas, e qual impacto ela tem na subjetividade dos seus fiéis moradores destas áreas.

Hipóteses e questões que guiam o estudo

Em vez de colocar somente hipóteses, prefiro colocar aqui tanto hipóteses como questões que guiam este estudo. Penso que a falta de dados e pesquisas a respeito da tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã em áreas de alta vulnerabilidade social não permite colocar hipóteses para todas as questões estudadas de antemão; considero minha pesquisa um estudo explorativo cujos resultados obtidos podem ser colocados como hipóteses de trabalho cuja validade mais geral deve ser testada por futuros estudos. Isso colocado, vamos às hipóteses:

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A Congregação Cristã parece-se com rocha firme num mar em agitação. Ela parece não participar de muitas dinâmicas e transformações culturais, sociais e religiosas da sociedade atual e se manter firme aos princípios dos seus primórdios. Por isso, a primeira hipótese deste estudo é: Mutações na tradição da Congregação Cristã são bem camufladas, mas existem.

Enquanto muitos outros grupos religiosos pressupõem o desencantamento do mundo como fato consumado e se especializam em promover um reencantamento do culto, no caso da Congregação Cristã não é só o culto que é reencantado. Os sujeitos religiosos utilizam as representações que a Congregação Cristã transmite, para fazer a leitura de acontecimentos do cotidiano, especialmente dos acontecimentos hostis e caóticos. Mesmo jovens vão à casa de oração antes de tomar decisões importantes, esperando “a confirmação pela palavra”. Por isso, a segunda hipótese é: Os membros da CCB têm uma identidade religiosa forte diante de uma identidade religiosa muitas vezes precária de outros grupos pentecostais brasileiros. A Congregação Cristã consegue, ao contrário de outros grupos religiosos, especialmente pentecostais, moldar a subjetividade dos seus fiéis, criando neles habitus, tradição sedimentada e internalizada, mas admite-se que esta tendência possa ser bastante enfraquecida em regiões de alta vulnerabilidade social, onde as redes de contatos e amizades constituem um capital social considerável, e onde a insistência numa identidade diferenciada pode levar ao isolamento, tornando mais difícil a sobrevivência e o sucesso na vida profissional e social.

Hervieu-Léger (1999) considera, a partir de dados de pesquisa da França, que o indivíduo religioso moderno é marcado por duas características principais: a valorização do mundo e a autonomia do sujeito crente. Estas considerações têm, ao meu ver, um valor limitado para o caso da América Latina e especificamente quando se trata da Congregação Cristã no Brasil. Considero que os sujeitos não se associam à Congregação Cristã como indivíduos solitários, mas por constrangimento social e por relações carregadas de afeto com as pessoas que os convidam ao culto. Por isso, a terceira hipótese é: A densidade da rede de relações pessoais (de parentesco e amizade) dentro da Congregação Cristã é decisiva para a pertença e intensidade de participação do sujeito religioso neste grupo religioso, e a tradição e transmissão religiosa nela passam em boa parte pelos meandros das relações pessoais, e não só pelo culto. Quer-se dizer com isso que a escolha de fazer parte da CCB não é somente racional, mas tem uma forte conotação afetiva.

Ligada a estas hipóteses se pretende estudar a seguinte questão-guia: Qual é o alcance e quais são os limites das dinâmicas societárias religiosas como via de inclusão social numa

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área de alta vulnerabilidade social para o caso do associativismo religioso da Congregação Cristã no Brasil?

A Congregação Cristã tem como estratégia criar laços fortes internos, entre seus membros, e restringir laços com o ambiente, fortalecendo assim a própria rede religiosa. Já há trinta e cinco anos Granovetter (1973) alertou que esta não é uma estratégia boa para pessoas em situação de vulnerabilidade, porque os laços fortes acabam restringindo a circulação de informações e benefícios (p. ex. a respeito de oportunidades de trabalho) e impedindo a participação em circuitos mais amplos. A “força dos laços fracos”, porém, é justamente sua abertura a novos contatos e redes sociais que aumentam a possibilidade de acesso a benefícios. Os evangélicos, alertam Almeida e D'Andrea (2004:104), retomando o estudo de Granovetter para o caso das redes sociais em favelas, se mantêm, via de regra, ao mesmo tempo relativamente fechados em sua solidariedade interna e abertos à busca de benefícios. Enquanto a Congregação Cristã não favorece institucionalmente estes contatos dos laços fracos com pessoas que não pertencem a ela, acredita-se que seus membros moradores de áreas de maior vulnerabilidade social – quanto mais os jovens! - os procuram; neste sentido, as estratégias de sobrevivência e a lida com as dificuldades do dia a dia teriam, para eles, mais importância do que a orientação religiosa.

Passo agora a destacar aspectos que demonstram a importância do tema pesquisado.

Enquanto publicações sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) enchem prateleiras, pode-se contar com os dedos os estudos sobre a Congregação Cristã no Brasil. São do meu conhecimento como produções nos últimos 20 anos uma tese de doutorado em teologia e cinco dissertações de mestrado, das quais três em Ciências da Religião: uma de Célia Godeguez da Silva, defendida em 1995 na UMESP, (com uma pesquisa de campo reduzida), outra de Gloecir Bianco com o título Um véu sobre a imigração italiana no Brasil, defendida em 2005 na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e a terceira de Sérgio Araújo Leite, com o título: Entre o culto e o cotidiano: A mulheres da Igreja Congregação Cristã no Brasil da cidade de Carapicuíba, defendida em 2008 na PUC. Em 1996, Nilceu Jacob Deitos defendeu, no curso “História do Brasil” na Universidade Federal de Santa Catarina, a dissertação Representações Pentecostais do Oeste Paranaense (A Congregação Cristã do Brasil em Cascavel - 1970-1995). Valéria Esteves Nascimento Barros apresentou, no ano 2003, ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina, a dissertação Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: o

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pentecostalismo guarani na terra indígena Laranjinha/PR, na qual ela descreve a conversão de uma tribo indígena ao pentecostalismo da Congregação Cristã no local, com uma pesquisa de campo muito interessante. A única tese de doutorado sobre a Congregação Cristã foi defendida por Key Yuasa (com o título Louis Francescon. Uma biografia teológica), no ano de 2001 na Universidade de Genebra; ela trata de aspectos teológicos e históricos da CCB e do seu fundador, Louis Francescon.- Todas as outras pesquisas em nível de pós-graduação sobre a Congregação Cristã foram realizadas há 20 anos ou mais atrás. Entre elas, se encontra a contribuição de R. E. Nelson que estudou a Congregação Cristã a partir da perspectiva da teoria organizacional; parte da sua produção será utilizada no capítulo 2. Estas pesquisas não refletem ainda um possível impacto dos neopentecostais, que deslancharam após o tempo destes estudos. Não há nenhuma pesquisa atualizada, porém, sobre a presença da ainda segunda maior Igreja pentecostal no Brasil, conforme o último censo de 2000, na periferia, em áreas de maior vulnerabilidade social. É este o ângulo de vista que determinará minha pesquisa.

Levando em conta, além deste dado quantitativo, sua qualidade como pentecostalismo sui generis (visto assim desde Léonard (1988) e Willems (1967)), urge uma retomada do estudo desta comunidade religiosa.

A Congregação Cristã no Brasil é a Igreja Pentecostal mais antiga do Brasil. Ela surge pouco após o início do pentecostalismo moderno nos Estados Unidos e nasce, portanto, nos seus primórdios. Hoje, ela possui uma história centenária e continua com força. A pesquisa contribuirá para o conhecimento deste grupo do pentecostalismo primordial, anterior ao boom pentecostal das últimas décadas. Esse pentecostalismo é ainda insuficientemente pesquisado. Limito-me a estudar sua presença na atualidade, numa área de alta vulnerabilidade social de São Bernardo do Campo, na fronteira com Diadema, mencionando aspectos históricos apenas tangencialmente.

Sobre a presença deste pentecostalismo protestante da Congregação Cristã, que pode ser chamado já de histórico, na periferia, com suas dinâmicas populacionais, sociais e culturais e também problemas próprios, não conheço qualquer literatura. É um campo que deve ser explorado. Se o pentecostalismo brasileiro primordial já é pouco pesquisado, menos o é ainda na periferia. Por isso, este trabalho estuda a Congregação Cristã na periferia da metrópole, onde, como já demonstrei, as condições de vida são diferentes das do centro. Proponho-me estudar uma Casa de Oração e seu contexto social no bairro do Alvarenga, bairro de periferia do município de São Bernardo do Campo, com destaque para o bairro de Vila Moraes.

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Acredito que o estudo da tradição e transmissão religiosa na Congregação Cristã possa ser uma valiosa contribuição à temática, pouco estudada, dos evangélicos na periferia, e também à sociologia e antropologia do protestantismo brasileiro, por suas rupturas e continuidades com outros protestantismos brasileiros, e por resolver alguns problemas do protestantismo (p. ex. a precariedade do pastor protestante e a crise do culto protestante) de maneira diferente.

Objetivos gerais e específicos Objetivo geral:

Analisar aspectos da presença, tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social, a partir da instituição e dos sujeitos.

Objetivos específicos:

Desenvolver conceitos para analisar a reprodução religiosa na modernidade contemporânea, discutindo as questões da modernidade, secularização e tradição diante do desafio da modernidade, levando em conta a periferia da modernidade urbana no Brasil e os efeitos da modernidade na tradição religiosa, e apresentando o rito como dispositivo de reprodução institucional por excelência. Além disso, a religião é conceituada como associativismo voluntário, e são elaborados quatro conceitos de uma antropologia relacional: a vulnerabilidade social, as redes sociais, o capital social e o associativismo religioso.

Desenvolver um olhar estatístico sobre o campo pentecostal brasileiro e a Congregação Cristã na atualidade em nível de Brasil, Estado de São Paulo, ABCD e São Bernardo do Campo, para situar minha pesquisa de campo local num quadro mais amplo, analisando as dimensões sociais por indicadores sociais relevantes para a questão da vulnerabilidade social e indicadores de migração, item no qual a Congregação Cristã apresenta um perfil particular, como será demonstrado a partir de uma leitura comparativa do perfil dos pentecostalismos mais antigos no Brasil, Congregação Cristã e Assembleia de Deus.

Analisar as dimensões sociais da Congregação Cristã no local, quer dizer, no município de São Bernardo do Campo e no bairro da Vila Moraes, por um estudo da situação social dos membros da Congregação Cristã e da vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação vizinhas da Casa de Oração estudada, utilizando para isso indicadores sociais, a observação do dia a dia do bairro, e conversas informais com moradores do local e membros da Congregação Cristã do local.

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Elaborar uma etnografia e análise do culto da Congregação Cristã, analisando o espaço do culto e o seu tempo. Entendo que na Congregação Cristã, que quase não petrifica sua tradição em textos escritos, o culto é o meio institucional primordial de tradição e transmissão religiosa, e sua descrição densa merece um lugar de destaque no trabalho.

Elaborar uma etnografia dos sujeitos, membros da Congregação Cristã, homens e mulheres, em situações diferenciadas de vulnerabilidade, utilizando para isso a técnica da entrevista em profundidade e sua análise. As questões de fundo são quais redes sociais, internas na Congregação Cristã no Brasil e externas, estes membros criam, e até onde as doutrinas e práticas da Congregação, transmitidas primordialmente no culto, conseguem formar e constituir a subjetividade, entendida como complexo conjunto de percepção, afeto, pensamento, desejo e medo. Na análise das entrevistas, será situado o associativismo religioso próprio da CCB no contexto de outros associativismos (também não religiosos) que moradores de periferia usam como estratégia para se defender contra a alta vulnerabilidade social à qual são submetidos. Será analisado também a transmissão religiosa de uma geração à outra, que se torna importante na periferia e no contexto da migração, porque mudanças de costumes e tradições não se manifestam tanto na geração dos adultos, mas acontecem na passagem de uma geração a outra.

Metodologia e percurso da pesquisa

Considero esta pesquisa explorativa, articulando dados estatísticos do Censo 2000 disponibilizados pelo IBGE com dados etnográficos da própria pesquisa de campo. Ela traz dados estatísticos (quantitativos) por mim elaborados a respeito de dimensões sociais do campo pentecostal brasileiro para as escalas: Brasil, Estado de São Paulo, ABCD e São Bernardo do Campo, para situar a pesquisa de campo local num quadro mais amplo. Os indicadores sociais escolhidos são a distribuição de cor, os anos de estudo, os rendimentos pelo trabalho, e a questão da migração.

A respeito do perfil social do local, o bairro na periferia pesquisado e seus arredores, também são compilados por mim dados estatísticos a partir dos Microdados do Censo 2000 referentes às Áreas de Ponderação pesquisadas, repetindo o estudo para os mesmos indicadores já citados. Neste estudo, descobriu-se inconsistência nos mapas a respeito da vulnerabilidade social da região, além de uma acentuada desigualdade social entre os gêneros. Estes resultados exigiram que me debruçasse sobre as duas questões. Estes dados quantitativos são completados pelas minhas observações de campo no local e por dados

Referências

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