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Dados do município de São Bernardo do Campo

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Geograficamente, o município de São Bernardo do Campo é localizado no Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo. Esta, com 8.051 km2, corresponde a cerca de 3% do território paulista. Em 45 anos, sua área urbanizada mais do que duplicou, passando de 874 km2 em 1962 a 2.209 km2, em 2007. A região é o maior polo de riqueza nacional, tendo em sua área sedes brasileiras dos mais importantes complexos industriais, comerciais e financeiros, que controlam as atividades econômicas do país.57 Seu PIB corresponde a aproximadamente 15% do total brasileiro. Durante décadas a locomotiva da industrialização do país, a região do ABC, com São Bernardo na sua ponta, está passando por um processo de desconcentração industrial. Além das causas macroestruturais, a razão é que dos 408,45 km² de área que São Bernardo possui - correspondendo a 49,4% da superfície do Grande ABC, 5% da Grande São Paulo e 0,2% do Estado de São Paulo -, 53,7% da área total do município encontram-se na área de proteção aos mananciais. 75,82 km² ou 18,6%, de sua área é ocupada pela Represa Billings. Hoje, 28,9% do município, ou 118,21 km², pertencem à Zona Urbana e 52,5%, ou 214,42 km², à Zona Rural.58 O bairro dos Alvarenga, ao qual o bairro por mim estudado pertence, é com 14,66 km² o maior da área urbana. A baixa densidade da população (menos do que 6 mil habitantes por km²) o faz parecer quase um bairro rural, bem diferente por exemplo do Montanhão, outro bairro urbano de grande extensão (11,94 km²), mas com alta densidade populacional (entre 9 e 12 mil habitantes por km²) e maior crescimento geométrico da população (2 a 3%; Alvarenga: 1 a 2%).

Com respeito à demografia, São Bernardo do Campo, que atrás de São Caetano do Sul e ao lado de Santo André é uma das três cidades mais afluentes do Grande ABC, vai relativamente bem em vários índices, apresentando, porém, pioras e quedas no ranking na última década, e sendo superado por São Caetano do Sul sempre e recentemente por Santo André na maioria das vezes: No Índice de Desenvolvimento Humano Municipal59, o município oscilou entre as posições 37 (1980), 8 (1990) e 25 (2000). No Índice Paulista de

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Estes dados foram extraídos do Compêndio Estatístico 2008, editado pela Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo em 2009 e disponível no seu portal na internet.

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Com 19.616.060 habitantes, a Grande São Paulo (como também é conhecida) figura entre os cinco maiores aglomerados urbanos do mundo.

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Marcondes mostra (1999:134) que, entre 1965 e 1990, em todos os períodos estudados, sempre foi o município de São Bernardo do Campo que mais se urbanizou em todo Grande ABC.

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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) computa o PIB per capita, corrige-o pelo poder de compra da moeda de cada país, e leva em conta dois outros componentes: a longevidade, utilizando números de expectativa de vida ao nascer, e a educação, avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. As três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um.

Responsabilidade Social60, ocupa nos itens riqueza, longevidade e escolaridade as posições 4, 5 e 7 na escala da Região Metropolitana e 14, 208 e 244 na escala do Estado de São Paulo, respectivamente. No Índice do Desenvolvimento Infantil, o município ocupa lugares inferiores (entre 1999 e 2004, da posição 117 para 276 em nível estadual e da posição 146 a 272 em nível nacional). O percentual de pobres teve uma forte alta entre os anos 1991 e 2000 (de 7,85% para 12,25), enquanto em São Caetano do Sul e na Grande São Paulo esta porcentagem caiu. No Índice Paulista de Vulnerabilidade Social61 (em seguida: IPVS), São Bernardo apresenta taxas mais altas tanto na faixa de nenhuma vulnerabilidade como também nas faixas de alta e mais alta vulnerabilidade do que o Grande ABC. Socioeconomicamente, o bairro estudado fica na parte do bairro dos Alvarenga que está na pior faixa (“muito baixa”). A taxa geométrica de crescimento anual do município está caindo, mas se mantém mais alta do que o Estado de São Paulo, a Grande São Paulo e o Grande ABC. Mais do que 50% da população nasceram ou no Nordeste ou no Sudeste; enquanto a taxa dos moradores que nasceram no Sudeste diminuiu de 1991 a 2000 (de 37,59% para 31,78%), a taxa dos que nasceram no Nordeste subiu no mesmo período (de 16,45% para 20,60%). No crescimento da população, a participação dos migrantes, cuja porcentagem caiu durante duas décadas em relação ao crescimento vegetativo, voltou a crescer com vigor entre 1991 e 2000. Enquanto a população branca está diminuindo na mesma década (de 74,01% para 69,56%), a preta e parda cresceu (de 2,29% para 3,44% e de 20,92% para 24,37%, respectivamente).- Com respeito ao índice de envelhecimento, a proporção de pessoas de 60 anos e mais por cem indivíduos de 0 a 14 anos, que sempre estava abaixo da taxa da RMSP, começou a ser superior pela primeira vez nos últimos anos (a RMSP apresentava nos anos 1980, 1991, 2000 e 2008 as porcentagens de 17,13%, 23,11%, 30,63% e 38,13%; SBC no mesmo período: 11,69%, 17,59%, 26,57% e 39,21%). Com respeito à religião, o município é ligeiramente mais católico (69,35%) do que o Grande ABC (68,58%) e menos evangélico (16,46% contra

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O Índice Paulista de Responsabilidade Social leva em conta as três dimensões do IDH e agrupa os municípios em cinco grupos, que resumem a situação dos municípios segundo os três eixos considerados.

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O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) baseia-se em dois pressupostos. Considera-se que as múltiplas dimensões da pobreza precisam ser consideradas em um estudo sobre vulnerabilidade social. Nesse sentido, foi criada uma tipologia de situações de exposição à vulnerabilidade que expressasse tais dimensões, agregando aos indicadores de renda outros referentes à escolaridade e ao ciclo de vida familiar.- Como segundo pressuposto, considera-se a segregação espacial como um fenômeno presente nos centros urbanos paulistas e que contribui decisivamente para a permanência dos padrões de desigualdade social que os caracteriza. Por isso, foi criado um método de identificação de áreas segundo os graus de vulnerabilidade de sua população residente, gerando um instrumento de definição de áreas prioritárias para o direcionamento de políticas públicas, em especial as de combate à pobreza. Entende-se que os resultados precisam ser fortemente detalhados do ponto de vista espacial, de forma a permitir o desenho de ações locais focalizadas, especialmente por parte do poder público municipal.

17,86%) e pentecostal (13,18% contra 14,62%), além de ter uma taxa levemente menor dos sem-religião (7,43%) do que o Grande ABC (7,75%).62

Quanto à economia, considero o processo de desconcentração industrial o mais importante, como já dito acima. A indústria entrou, nas últimas décadas, em plena retração. Os estabelecimentos industriais estão diminuindo no município (de 1997 para 2007 houve um decréscimo de 1.867 para 1.789, redução de 4,2%, enquanto o comércio aumenta na mesma década 28,8% e a prestação de serviços 51,8%). De todas as atividades econômicas no município, as industriais estão sofrendo forte retração de 5,5% em 1987 para 3,4% em 1997 e 2,2% em 2007; igualmente em queda no total das atividades econômicas encontram-se as comerciais, que no mesmo período caíram de 30,9% para 24,1% para 21,6. Cresce fortemente a participação dos serviços neste total, de 63,6% para 72,5% para 76,2%. Enquanto em alguns bairros o número de estabelecimentos industriais ainda cresce (em bairros de alta densidade populacional ou bairros de alto crescimento populacional geométrico; nos bairros Planalto e Cooperativa mais vigorosamente, acima dos 20%), ela está caindo nos bairros de baixa densidade populacional e características rurais, como o dos Alvarenga (mais que 10%) e brutalmente na Zona Rural (decréscimo de 21 a 5; queda acima dos 60%). Estes dados fortalecem a hipótese, citada acima, que, além de causas macroestruturais, está em jogo a desocupação das áreas de proteção aos mananciais. Em outras palavras: a população destes bairros está sofrendo, além da espoliação urbana, aquilo que Marcondes (1999) chama de “espoliação ambiental”, como discutirei abaixo.

A desconcentração industrial de São Bernardo do Campo se revela também no número de empregos no ramo industrial. Enquanto o número de empregados na indústria caiu, entre 1991 e 2000, em SBC, no grande ABC, na Grande São Paulo e no Estado de São Paulo, ele retomou o crescimento entre 2000 e 2006 nas últimas três regiões (no Estado de São Paulo ficando até acima do patamar de 1991) e continuou em queda somente em São Bernardo do Campo. Esta redução de postos de trabalho foi acompanhada de uma brutal redução salarial (a média salarial caiu em SBC de R$ 1.778,00 em 1991 para R$ 1.537,00 no ano 2000, continuando a cair para R$ 1.283,00 no ano 2007) – queda que se deu, mas de maneira bem menos acentuada, também nos setores de comércio e serviço. Ao mesmo tempo, a participação de mulheres nas ocupações subiu de 41,6% em 1997 para 44,1% em 2007.- No indicador dos chefes de domicílios segundo rendimentos, o bairro dos Alvarenga se localiza no polo inferior dos bairros do município, ao lado de Ferrazópolis e na frente do Montanhão e

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Porcentagens elaborados por mim a partir dos microdados do IBGE.- Deve ser lembrado que o Grande ABC é menos católico e mais evangélico, pentecostal e sem-religião do que o Brasil.

do bairro Batistini. A curva do indicador dos chefes de domicílios por anos de estudo é praticamente idêntica.

Resumindo, pode-se dizer que o município de São Bernardo do Campo está perdendo a sua função de polo industrial na região e no Estado. Parece haver uma política de desconcentração industrial, especialmente das áreas de proteção aos mananciais e muito acentuada em torno dos braços da Represa Billings, com exceção dos bairros do Montanhão e Batistini. A desconcentração industrial não é acompanhada, porém, por um decréscimo populacional: o Montanhão, situado ao lado de um dos braços da Represa Billings e já de alta densidade populacional, tem a taxa mais alta de crescimento geométrico e continua “explodindo”. Os outros bairros em torno da represa têm um crescimento acentuado (acima dos 20%, entre 2000 e 2008), mas continuam com baixa densidade de população (a maioria dos bairros com até 3 mil habitantes por km2, e o bairro dos Alvarenga com até 6 mil habitantes). A desconcentração industrial, sim, é acompanhada de uma acentuada piora em vários indicadores econômicos e sociais, e há indícios (especialmente no Índice Paulista de Vulnerabilidade Social) de uma forte desigualdade social no município.

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