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MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014

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Vinicius Cesca de Lima

Psicologia da pobreza e pobreza da psicologia:

um estudo sobre o trabalho de psicólogas(os) na política

pública de assistência social

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

(2)

Vinicius Cesca de Lima

Psicologia da pobreza e pobreza da psicologia:

um estudo sobre o trabalho de psicólogas(os) na política

pública de assistência social

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Social, sob a orientação do Prof. Dr. Odair Furtado

(3)

BANCA EXAMINADORA

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(5)

Agradeço inicialmente aqueles que, estando mais próximos, compartilharam deste processo, direta ou indiretamente, de todas as maneiras possíveis, às vezes mesmo ao preço de estarmos tão distantes ainda que tão próximos. Meus agradecimentos à companheira Bruna Nicastri, por estar à disposição para conversar sobre os rumos desta dissertação e por ter me suportado nos (não poucos) momentos mais difíceis. Aos pequenos Mathias e Dante por fazerem tudo ser mais leve, incluindo a experiência de conciliar os momentos mais áridos deste trabalho com jogos, brincadeiras, desenhos e outros passatempos infantis. Tudo tem mais graça quando vocês estão por perto!

À minha família - e cito nominalmente minha mãe Cláudia, minha irmã Mariana e minha avó Zilma - pelas diversas formas de apoio.

Ao querido orientador Odair Furtado pela acolhida desde o primeiro momento, pelo acompanhamento deste trabalho desde quando este ainda era uma ideia vaga, pelas contribuições decisivas especialmente nos momentos em que elas se fizeram mais necessárias, pela paciência, pela leitura cuidadosa e por tantas outras contribuições à minha formação.

Ao professor André Singer e à professora Graça Gonçalves por aceitarem os convites de participar da avaliação deste trabalho e pelas preciosas considerações oferecidas durante o exame de qualificação.

Ao professor Régis de Toledo Souza por ser parte fundamental da trajetória que me trouxe até aqui e por, mais uma vez, ter se disposto a compartilhar de um momento importante desta. E em seu nome agradeço ainda a todos do NIPPC (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas de Práxis Contemporâneas) da Universidade de Taubaté, a quem devo o incentivo inicial à pesquisa.

(6)

Aos colegas de NUTAS pelo acolhimento, pelo suporte, pelas trocas, pelo aprendizado. Gratidão e orgulho são o que sinto por poder fazer parte de um grupo tão potente!

À querida Aline Matheus, por ter lido e discutido este texto, pelas contribuições dadas, mas, sobretudo, por ser uma interlocutora permanente que compartilha as mesmas inquietações, muitas das quais presentes aqui.

Às professoras Bader Sawaia e Mary Jane Spink pelos debates proporcionados em sala de aula, muitos dos quais se fizeram presentes neste texto. E, em seu nome, a todo o corpo docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP.

A todas(os) as(os) colegas de PUC-SP por todos os momentos compartilhados nesta jornada.

Às trabalhadoras e trabalhadores sociais com os quais compartilho da tarefa diária de buscar produzir respostas a algumas das expressões mais regressivas produzidas pelo capital. Paradoxalmente, quando decidi fazê-los presentes nesta pesquisa, o compromisso de resguardar-lhes o sigilo me levou a não poder citá-los de forma mais direta do que estou fazendo. Felizmente, vocês sabem quem vocês são!

(7)

Eis como estão as coisas! A burguesia (...) pratica calculadamente a beneficência, não faz nenhuma doação, considera suas contribuições atos comerciais; faz um negócio com os pobres e declara: ―Investindo em instituições beneficentes, compro o direito de não ser importunada e tratem vocês de permanecer em suas tocas escuras para não ferir meus nervos delicados com o espetáculo de sua miséria! Continuem desesperados, mas desesperem-se discretamente - é esse o nosso contrato, que me custa as vinte libras que ofereço para o asilo‖. Ah, a infame filantropia de um burguês cristão! (...) ―Vocês, os pobres, têm o direito de existir, mas apenas de existir; não têm o direito de procriar, assim como não têm o direito de existir em condições humanas. Vocês constituem uma praga e, se não podemos eliminá-los como às outras pragas, devem sentir-se como tal, devem saber que serão controlados e impedidos de criar novos supérfluos, seja diretamente, seja induzindo-os à preguiça e ao desemprego. Vocês vão viver, mas apenas como exemplo para advertir a todo aquele que possa vir a ter ocasião de tornar-se supérfluo‖ (F. ENGELS).

(8)

LIMA, V. C. Psicologia da pobreza e Pobreza da psicologia: um estudo sobre o trabalho de psicólogas(os) na política pública de assistência social. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

A dissertação analisa algumas conexões entre as trajetórias da profissão de psicóloga(o), da política de assistência social (e, no interior desta, das ações de enfrentamento da pobreza) e do modelo de desenvolvimento econômico em curso no país, a partir de duas questões: [1] como se produz a dimensão subjetiva deste campo profissional e como esta o determina, ou seja, como se produz o campo de significados que o orienta, justifica e legitima; [2] como as intervenções realizadas no âmbito da política de assistência social podem concretamente contribuir na direção das transformações intencionadas. Para isso, a dissertação se sustenta em três esforços analíticos complementares. Em um primeiro momento, visando apreender a relação entre teleologia e causalidade na práxis, abordamos, a partir do materialismo historico-dialético, a fundamentação ontológica do ser social. Em um segundo caminho, discutimos as bases histórico-sociais do fenômeno da pobreza no modo de produção capitalista, abordando como a pobreza passou a ser representada politicamente como problema público a ser enfrentado através de políticas sociais e como estas são tensionadas contemporaneamente pela crise estrutural do capital. Especial atenção foi dada à delimitação destas questões na realidade brasileira contemporânea, ao relacionar as políticas sociais ao modelo de

desenvolvimento econômico que tem sido denominado

―neodesenvolvimentista‖. Abordamos também as concepções sobre pobreza e sobre o seu enfrentamento enquanto produções ideológicas que compõem a dimensão subjetiva deste campo. Em um terceiro movimento, analisamos o trabalho de psicólogas(os) neste contexto institucional, a partir de pesquisa que envolveu observação participante em um Centro de Referência de Assistência Social e a análise de distintas fontes documentais. A análise realizada revela alguns dos muitos desafios teóricos e práticos postos para esta inserção profissional, dos quais destacamos a superação do subjetivismo e do politicismo presentes em concepções e práticas que assumem um projeto profissional orientado à promoção de emancipação política, mas que não raro se limita a

uma ainda mais abstrata ―emancipação subjetiva‖, reduzindo-se, na pior das

hipóteses, à reprodução adaptacionista do cotidiano ou, na melhor delas, a expressão trágica de uma intencionalidade ética que não tem condições materiais de se realizar.

(9)

LIMA, V. C. Psychology of poverty and Poverty of psychology: a study about

psychologists‘ professional practices in social assistance public policy.

Dissertation (Master‘s Degree on Social Psychology), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

This study analizes some connections between psychologist profession, social assistance policy (and, within this, specifically poverty combat) and the economical development pattern, from two questions: [1] how is produced the subjective dimension of this professional field and how this dimension determines it or, in other words, how are produced the repertories of meanings which guides, justifies and legitimizes it; [2] how these practices can concretely contribute towards the intended changes. For this, the study is based on three complementary analytical efforts. Firstly, in order to apprehend the relationship between causality and teleology in praxis, we discuss, on historical-dialectical materialism, the ontological foundation of social being. Secondly, we discuss the social and historical bases of poverty in capitalist mode of production, analyzing how poverty became politically represented as a public issue to be addressed by social policies and how these are tensioned contemporarily by the structural crisis of capital. Special attention was given to define these issues in Brazilian contemporary reality, relating social policies to "neodevelopmentalist" economy. It's also discussed the conceptions of poverty and its combat as ideological productions in subjective dimension of reality. Thirdly, we analyze the professional practices of psychologists in this institutional context, based on research involving participative observation in a Reference Center for Social Assistance and analysis of multiple documentary sources. The study revealed some of many theorical and practical challenges for psychologists in social assistance, specially the need to overcome subjectivism and politicism in professional concepts and practices that assume a professional project that aims political emancipation, but is often limited to a more abstract "subjective emancipation", reducing itself, in worst case, to adaptationist reproduction of everyday or, at the best of them, to tragic expression of an ethical intentionality with no material condictions to accomplish.

(10)

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BPC Benefício de Prestação Continuada

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (acrônimo)

BSM Plano Brasil sem Miséria

BSP Benefício Extraordinário para a Superação da Extrema Pobreza

BVS-Psi Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia Brasil

CBIA Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CFP Conselho Federal de Psicologia

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

Consea Conselho Nacional de Segurança Alimentar

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CREPOP Centro de Referência em Psicologia e Políticas Públicas

CRP-MG Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais

CRP-RS Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul

CRP-SP Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FMI Fundo Monetário Internacional

FHC Fernando Henrique Cardoso

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDCRAS Índice de Desenvolvimento do CRAS

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

(11)

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPVS Índice Paulista de Vulnerabilidade Social

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MESA Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NOB/SUAS Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social

NOB-RH/SUAS Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social

NUTAS Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trabalho e Ação Social

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Plano de Aceleração do Crescimento

PAEFI Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

PAT Posto de Atendimento ao Trabalhador

PBF Programa Bolsa Família

PDP Política de Desenvolvimento Produtivo

PEA População Economicamente Ativa

PEAD Programa Emergencial de Auxílio ao Desempregado

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PIA Pesquisa Industrial Anual

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(12)

RDPC Renda Domiciliar Per Capita

RMV Renda Mensal Vitalícia

SAGI Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação

SM Salário Mínimo

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TC Terapia Comunitária

TDAH Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade

UBS Unidade Básica de Saúde

(13)

Pág. Quadro 1 Documentos oficiais da política de assistência social

selecionados para a pesquisa 150

Quadro 2 Documentos de autorregulação profissional selecionados para a

pesquisa 151

Quadro 3 Artigos científicos selecionados para a pesquisa 153

Quadro 4 Marcadores temáticos 167

Quadro 5 Divisões temáticas no interior de cada marcador 160

Quadro 6 Comparação entre a ortodoxia convencional e o novo

(14)

Pág. Tabela 1 Distribuição dos municípios brasileiros por população

extremamente pobre (1991, 2000, 2010) 306

Tabela 2 Distribuição dos municípios brasileiros por população

extremamente pobre e pobre (1991, 2000, 2010) 306

Tabela 3 Distribuição dos municípios brasileiros por população extremamente pobre, pobre e vulnerável à pobreza (1991, 2000,

2010) 306

Tabela 4 Brasil: variação de indicadores socioeconômicos (1991-2000 e

2000-2010) 307

Tabela 5 Índice de pobreza (em %) nos BRICS (linha de U$2 diários PPC)

– variação entre 1994/1996 e 2009/2010 309

Tabela 6 Evolução do Índice de Gini nos BRICS (2001 a 2010) 309

Tabela 7 Variação dos índices de miséria e de pobreza na América Latina

(2000 a 2012) 313

Tabela 8 Países mais desiguais na distribuição pessoal de renda, medida

pelo Índice de Gini (2010) 317

Tabela 9 Países mais desiguais na distribuição pessoal de renda, medida pela razão entre os rendimentos médios dos 20% mais ricos e

dos 20% mais pobres (2010) 318

Tabela 10 Brasil: saldo de contratações com carteira assinada (2000 a

2012) 324

Tabela 11 Brasil: comparação da variação na produtividade e nos salários e da defasagem entre eles na indústria extrativa e na indústria de

transformação (1996-2002 e 2002-2011) 373

Tabela 12 Distribuição dos usuários atendidos por Assistentes Sociais e por

Psicólogas(os) nos CRAS 01 e 02 por faixa etária 412

Tabela 13 Avaliação da execução do PAIF nos CRAS. Item 01 – Usuários: em que medida o CRAS atende efetivamente aqueles que

devem ser atendidos pelo PAIF? 476

(15)

Tabela 15 Avaliação do PAIF nos CRAS. Item 03 – Trabalho social: em que medida o CRAS realiza as atividades definidas como trabalho

social essencial ao PAIF? 476

Tabela 16 Avaliação do PAIF nos CRAS. Item 04 – Articulação em rede: em que medida há a necessária conexão do PAIF no CRAS com

outros serviços, programas e projetos estatais e não-estatais? 477

Tabela 17 Avaliação do PAIF nos CRAS. Item 05 – Aquisições dos usuários: em que medida o PAIF no CRAS atinge a resolutividade e a efetividade esperadas, isto é, em que medida produz as seguranças sociais que devem ser garantidas pela

política de assistência social? 478

Tabela 18 Avaliação do PAIF nos CRAS. Item 06 – Objetivos: em que medida a realização do PAIF no CRAS alcança os propósitos e

resultados esperados? 479

Tabela 19 Avaliação do PAIF nos CRAS. Item 07 – Impacto Social: em que medida a realização do PAIF no CRAS, em conexão com a rede,

produz os impactos sociais esperados? 479

Tabela 20 Famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família na região do CRAS pesquisado: valor médio do benefício e valor médio da

renda familiar total, por faixa de renda 512

Tabelas do Apêndice A

Tabela 1 Distribuição dos ocupados por classe ou fração de classe – 1960,

1970 e 1976 586

Tabela 2 Distribuição do proletariado nas frações de classe proletária e

subproletária – 1960, 1970 e 1976 586

Tabela 3 Percentual estimado de ocupações gerenciais entre os

trabalhadores formais em ocupações intermediárias 596

Tabela 4 Distribuição dos rendimentos de cada faixa entre as ocupações

(16)

atividades não agrícolas 598

Tabela 6 População (em mil pessoas) de burgueses gerenciais, proletários e subproletários entre os empregados e

trabalhadores domésticos em atividades não agrícolas 598

Tabela 7 Percentual de pequenos burgueses e subproletários sobre o total

de conta própria em atividades não agrícolas 599

Tabela 8 População (em mil pessoas) de pequenos burgueses e subproletários entre os trabalhadores por conta própria em

atividades não agrícolas 599

Tabela 9 Distribuição de pequenos e grandes empreendimentos por faixa

de renda entre os empregadores em atividades não agrícolas 600

Tabela 10 Percentual de burgueses empresariais e pequenos burgueses

sobre o total de empregadores em atividades não agrícolas 601

Tabela 11 População (em mil pessoas) de burgueses empresariais e pequenos burgueses entre os empregadores em atividades não

agrícolas 601

Tabela 12 Probabilidade de que um trabalhador por conta própria com determinada faixa de RDPC estivesse em uma determinada faixa

de renda pessoal 602

Tabela 13 Percentual de pequenos burgueses e subproletários sobre o total

de trabalhadores não remunerados em atividades não agrícolas 603

Tabela 14 População (em mil pessoas) de pequenos burgueses e subproletários entre os trabalhadores não remunerados em

atividades não agrícolas 603

Tabela 15 Percentual estimado de ocupações gerenciais entre os trabalhadores formais em ocupações intermediárias

(empregados permanentes nas atividades agrícolas) 604

Tabela 16 Percentual de burgueses gerenciais, proletários e subproletários sobre o total de empregados permanentes em atividades

agrícolas 604

(17)

Tabela 18 Percentual estimado de ocupações gerenciais entre os trabalhadores formais em ocupações intermediárias

(empregados temporários nas atividades agrícolas) 605

Tabela 19 Percentual de burgueses gerenciais, proletários e subproletários sobre o total de empregados temporários em atividades

agrícolas 606

Tabela 20 População (em mil pessoas) de burgueses gerenciais, proletários e subproletários entre os empregados temporários

em atividades agrícolas 606

Tabela 21 Percentual de pequenos burgueses e subproletários sobre o total

de conta própria em serviços auxiliares nas atividades agrícolas 607

Tabela 22 População (em mil pessoas) de pequenos burgueses e subproletários entre os trabalhadores por conta própria em

serviços auxiliares em atividades agrícolas 607

Tabela 23 Percentual de pequenos burgueses e subproletários sobre o total de conta própria (exceto em serviços auxiliares) nas atividades

agrícolas 608

Tabela 24 População (em mil pessoas) de pequenos burgueses e subproletários entre os trabalhadores por conta própria (exceto

em serviços auxiliares) em atividades agrícolas 608

Tabela 25 Percentual de burgueses empresariais e pequenos burgueses sobre o total de empregadores nos serviços auxiliares em

atividades agrícolas 609

Tabela 26 População (em mil pessoas) de burgueses empresariais e pequenos burgueses entre os empregadores nos serviços

auxiliares em atividades agrícolas 609

Tabela 27 Percentual de burgueses empresariais e pequenos burgueses sobre o total de empregadores (exceto nos serviços auxiliares)

em atividades agrícolas 610

(18)

agrícolas por condição de propriedade e por faixa de RDPC 611

Tabela 30 Percentual de pequenos burgueses e subproletários sobre o total

de trabalhadores não remunerados em atividades agrícolas 611

Tabela 31 População (em mil pessoas) de pequenos burgueses e subproletários entre os trabalhadores não remunerados em

atividades não agrícolas 612

Tabela 32 Distribuição da população ocupada em classes e frações de

classes sociais nas atividades agrícolas (2002 e 2012) 612

Tabela 33 Distribuição da população ocupada em classes e frações de

classes sociais nas atividades não agrícolas (2002 e 2012) 613

Tabela 34 Distribuição da população ocupada em classes e frações de

classes sociais no total dos ocupados (2002 e 2012) 613

Tabela 35 População (em mil pessoas) por classe e fração de classe social no Brasil entre os ocupados em atividades agrícolas (2002 e

2012) 614

Tabela 36 População (em mil pessoas) por classe e fração de classe social no Brasil entre os ocupados em atividades não agrícolas (2002 e

2012) 614

Tabela 37 População (em mil pessoas) por classe e fração de classe social

no Brasil no total de ocupados (2002 e 2012) 615

Tabela 38 Distribuição da PEA agrícola por classe e fração de classe social

e por faixa de rendimento (2002 e 2012) 619

Tabela 39 Distribuição da PEA não agrícola por classe e fração de classe

social e por faixa de rendimento (2002 e 2012) 620

Tabela 40 Rendimento médio (em R$) de cada fração de classe na PEA

agrícola e na PEA não-agrícola em 2002 e em 2012 623

Tabela 41 Razão entre o rendimento médio de cada fração de classe na

PEA não-agrícola sobre a PEA agrícola em 2002 e em 2012 623

Tabela 42 Razão entre o rendimento médio da burguesia e o rendimento médio do proletariado na PEA agrícola e na PEA não-agrícola

(19)

2012 625

Tabela 44 Distribuição por RDPC das frações de classe social na PEA

agrícola, nos anos de 2002 e 2012 627

Tabela 45 Distribuição por RDPC das frações de classe social na PEA não

(20)

Pág. Gráfico 1 Brasil: evolução da composição proporcional (%) dos estratos

de renda AB, C e DE entre 1992 e 2011.

298

Gráfico 2 Brasil: variação anual média dos estratos de renda (A, B, C, D

e E) entre 2003 e 2011 300

Gráfico 3 Brasil: distribuição da população (%) em extremamente

pobres, pobres, vulneráveis e não pobres (2003 e 2011) 301

Gráfico 4 Evolução da população pobre e extremamente pobre no Brasil

(critério IPEA) de 1981 a 2009 302

Gráfico 5 Distribuição dos municípios brasileiros por nível do IDH-M

(1991, 2000 e 2010) 305

Gráfico 6 Crescimento anual médio do PIB nos BRICS (2004 a 2012) 308

Gráfico 7 Crescimento anual médio do PIB na América Latina e Caribe

(2003 a 2012) 311

Gráfico 8 Índice de Miséria (%) nos países latinoamericanos em

2000/2002 e 2011/2012 312

Gráfico 9 Índice de Pobreza (%) nos países latinoamericanos em

2000/2002 e 2011/2012 312

Gráfico 10 Variação anual média do Índice de Gini nos países

latinoamericanos (2002 a 2012) 314

Gráfico 11 Índice de Gini dos países da América Latina (2000/2002) 315

Gráfico 12 Índice de Gini dos países da América Latina (2011/2012) 315

Gráfico 13 Rendimento domiciliar per capita médio – razão entre o Quintil

5 e o Quintil 1 (2000/2002 e 2010/2012) 316

Gráfico 14 Brasil: composição da renda domiciliar por fonte (2009) 321

Gráfico 15 Brasil: evolução do saldo das ocupações segundo faixa de

remuneração (década de 1970 a década de 2000) 323

Gráfico 16 Brasil: evolução do rendimento médio de todos os trabalhos

(em R$ de setembro de 2011) entre 1992 e 2011 325

Gráfico 17 Brasil: variação do valor real do Salário Mínimo (em R$ de

(21)

Gráfico 19 Brasil: variação da Paridade do Poder de Compra do Salário

Mínimo entre 1965 e 2013 328

Gráfico 20 Brasil: distribuição da população em idade ativa por presença

ou ausência de rendimentos por estrato de renda (2010) 329

Gráfico 21 Brasil: distribuição dos trabalhadores remunerados em

ocupações informais e formais por estrato de renda (2010) 330

Gráfico 22 Brasil: distribuição das ocupações remuneradas por faixa de

remuneração e por estrato de renda (2010) 331

Gráfico 23 Brasil: composição da renda familiar a partir de suas distintas

fontes, por estrato de renda (2009) 333

Gráfico 24 Brasil: composição da renda familiar a partir de suas distintas

fontes entre pobres e extremamente pobres (2011) 334

Gráfico 25 Brasil: variação da Taxa de Lucro na Indústria Extrativa e na

Indústria de Transformação entre 1996 e 2011 370

Gráfico 26 Brasil: variação no volume total de valor produzido e no

volume total de salários na indústria entre 1996 e 2011 372

Gráfico 27 Brasil: variação da Taxa de Mais-Valor na indústria extrativa e

na indústria de transformação (1996 – 2011) 374

Gráfico 28 Distribuição dos usuários atendidos por Assistentes Sociais e por Psicólogas(os), nos CRAS 01 e 02, por faixa de

rendimento familiar per capita 415

Gráfico 29 Distribuição dos usuários atendidos por Assistentes Sociais e por Psicólogas(os), nos CRAS 01 e 02, por condição de

trabalho 419

Gráfico 30 Responsáveis familiares sem rendimento na região e no

município do CRAS pesquisado (anos 2000 e 2010) 503

Gráfico 31 Rendimento médio mensal dos responsáveis familiares que possuem algum rendimento na região e no município do

CRAS pesquisado (anos 2000 e 2010) 504

(22)

pesquisado, com idade de 18 a 60 anos e que estavam

ocupados: distribuição por faixa de remuneração 511

Gráfico 34 Famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família na região do CRAS pesquisado: composição da renda total por faixa de

(23)

PREÂMBULO 27

SITUANDO O DEBATE 31

PARTE I. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS 42

1. A DIMENSÃO SUBJETIVA DA REALIDADE:

FUNDAMENTAÇÃO ONTOLÓGICA E DECORRÊNCIAS METODOLÓGICAS

44

1.1 Questões preliminares sobre a fundamentação do método na práxis 46

1.2 O problema ontológico do método 50

1.3 O problema epistemológico do método 61

1.4 Resolução metodológica: os modos de investigação e de exposição 72

1.5 A dimensão subjetiva da realidade 85

2. A DIMENSÃO TELEOLÓGICA DA PRÁXIS: A RELAÇÃO

ENTRE CONSCIÊNCIA E ATIVIDADE 106

2.1 Pôr teleológico primário, pôr teleológico secundário e a mediação da

ideologia 108

2.2 Intentio recta, intentio obliqua e a produção de sentidos sobre a realidade

116

2.3 Necessidade, motivo, finalidade, significado e sentido: categorias para

apreender a relação entre consciência e atividade 121 2.4 Gêneros e estilos da atividade: a atividade como drama, campo de

conflitos, de resistência e de criação 133

3. OS PERCURSOS DA PESQUISA 141

3.1 Primeira aproximação – Observação participante em um Centro de

Referência de Assistência Social 141

(24)

3.3 Terceira aproximação – As dimensões subjetivas da realidade 163 3.4 Quarta aproximação – A crítica da dimensão subjetiva que engendre

simultaneamente a crítica da dimensão objetiva da realidade 164

3.5 Modo de exposição 164

PARTE II. A POBREZA E SEU ENFRENTAMENTO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS 168

4. A POBREZA E O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 175

4.1 Os pobres se tornam um problema 175

4.2 Causalidades do pauperismo no modo de produção capitalista 186

5. POBREZA, “QUESTÃO SOCIAL” E POLÍTICAS SOCIAIS 195

5.1 Pobreza e ―questão social‖ 195

5.2 ―Questão social‖ e políticas sociais 203 5.3 ―Nova pobreza‖ e ―nova questão social‖ 214

6. SUBJETIVISMO E POLITICISMO NAS CONCEPÇÕES SOBRE

POBREZA E SEU ENFRENTAMENTO 230

6.1 Vulnerabilidade social: em busca de sentidos 232 6.2 Vulnerabilidade social e linguagem social dos riscos: subjetivismo e

politicismo no enfrentamento da ―nova questão social‖ e da ―nova pobreza‖

236

6.3 Subjetivismo e politicismo à luz da crise estrutural do capital 254

7. O ENFRENTAMENTO DA POBREZA NAS POLÍTICAS

SOCIAIS BRASILEIRAS 259

7.1 Particularidades do processo histórico de constituição das políticas

sociais brasileiras 260

7.2 O enfrentamento da pobreza nas políticas sociais brasileiras: das

(25)

Programa Bolsa Família e o Sistema Único de Assistência Social 282

8. O ENFRENTAMENTO DA POBREZA NO BRASIL

CONTEMPORÂNEO: O “NEODESENVOLVIMENTISMO” 295

8.1 Pobreza e desigualdade no Brasil: transformações e permanências 296 8.1.1 Pobreza e desigualdade no Brasil: transformações recentes 296 8.1.2 Pobreza e desigualdade no Brasil: análise comparativa com os

BRICS 307

8.1.3 Pobreza e desigualdade no Brasil: análise comparativa com a

América Latina 310

8.1.4 Pobreza e desigualdade no Brasil: permanências 317 8.2 O impacto das políticas econômicas e sociais na redução da pobreza no

Brasil 320

8.3 Relação entre desenvolvimento econômico e enfrentamento da

pobreza: elementos para o debate sobre o ―neodesenvolvimentismo‖ 335 8.4 O neodesenvolvimentismo e as contradições do modo de produção

capitalista: apontamentos para pensar desdobramentos futuros 380

PARTE III. PSICOLOGIA, ASSISTÊNCIA SOCIAL E

ENFRENTAMENTO DA POBREZA

9. UM LUGAR PARA A PSICOLOGIA NA POLÍTICA PÚBLICA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL 396

9.1 Há um lugar específico para a psicologia na assistência social? 397 9.2 ―A Psicologia se funde, mas não se confunde com o Serviço Social‖:

especificidade e generalidade do trabalho na política pública de

assistência social 402

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ATIVIDADE 434 10.1 Significações sobre princípios, diretrizes, contribuições e dificuldades do

trabalho de psicólogas(os) na política de assistência social 434 10.2 O gênero da atividade de psicólogas(os) na política de assistência social

ainda está para ser construído 444

10.3 A psicologia que não se reconhece na assistência social e a psicologia que assume que apenas as suas contribuições podem efetivar a

assistência social 458

11. “MUDANÇAS SIM, TRANSFORMAÇÃO NÃO”: OS IMPACTOS

E IMPASSES DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 473 11.1 Entre a confiança no trabalho e a descrença nos seus resultados 473 11.2 ―A gente parece paliativo das mazelas do capital. A gente fica

remediando o que não tem solução‖: limites da política de assistência

social na transformação da realidade 488

11.3 ―A saída é individual‖: a singularidade com refúgio diante de condições

objetivas que parecem inalteráveis 493

12. “A POBREZA MUDOU, MAS AINDA É POBREZA”:

NEODESENVOLVIMENTISMO, ENFRENTAMENTO DA

POBREZA E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 502 12.1 Onde não se sonha o ―sonho rooseveltiano‖ 502 12.2 Quem são os usuários da política de assistência social? 520

CONSIDERAÇÕES FINAIS. PSICOLOGIA, ASSISTÊNCIA SOCIAL E

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL 530

REFERÊNCIAS 548

APÊNDICE A. Estrutura de classes sociais e repartição de renda no

Brasil nos anos de 2002 e 2012 585

(27)

PREÂMBULO

Apontar, ainda que forma sumária, elementos da gênese desta pesquisa, o que passa pela trajetória pessoal do pesquisador sem se reduzir a esta, pois também se trata de empreendimento coletivo e determinado pelas tarefas colocadas para este momento histórico, me parece ser uma boa forma de situar, de partida, o lugar do qual falo, o que entendo contribuir para evidenciar quais os interesses que mobilizam este estudo e com quais intencionalidades. Considero que explicitar na pesquisa a sua gênese, os seus compromissos, os seus fundamentos, as escolhas adotadas é ato fundamental para garantir o necessário rigor a um estudo que reivindica objetividade, mas não neutralidade. É o que iniciarei aqui nesta breve apresentação.

Existe um imprescindível elemento a priori nesta pesquisa, o qual subordina todas as escolhas (acertadas ou não) realizadas: a intenção de contribuir para a construção de alternativas críticas a partir da psicologia, o que entendemos envolver também a construção de alternativas críticas para a psicologia. Na crítica da psicologia, a busca pela desmistificação daquilo que é construído como seu objeto específico (com toda a intensa disputa de sentidos que envolve desde a própria definição de que objeto é este), a denúncia dos interesses sociais que determinam o conhecimento produzido e as intervenções profissionais realizadas, seu caráter ideológico, seus compromissos de classe. Na psicologia para fazer a crítica, a busca pela produção de contribuições teóricas, metodológicas, técnicas, éticas e políticas da psicologia para a crítica da realidade na perspectiva das lutas dos trabalhadores, da superação do capital e da emancipação humana. Considero que a psicologia pode ter algo a dizer e fazer neste sentido e é para isso que busco contribuir com esta pesquisa, ressalvado o limite do alcance da especificidade do campo em que esta se insere, o do trabalho de psicólogas(os)1 na política pública de assistência social.

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Não cheguei por acaso até o conjunto de questões que serão aqui discutidas e apontar, na minha trajetória por este campo, os caminhos e as questões que têm sido suscitadas ao longo deles pode ajudar a esclarecer a contribuição pretendida. Esta trajetória remete a pesquisa anterior, apresentada como trabalho de conclusão do curso de graduação em psicologia (LIMA, 2009), em que analisei os desdobramentos das transformações intencionadas no campo da formação em psicologia a partir de uma nova matriz curricular, aprovada havia alguns anos. Na pesquisa, me deparei com uma forma peculiar pela qual a trajetória histórica da psicologia se encontra com a trajetória das políticas educacionais brasileiras e as aproximações e distanciamentos que se travam em relações tensas e contraditórias entre estas trajetórias. No essencial, apontavam para um campo de preocupações que tenho buscado desde então aprofundar, que é o das possibilidades históricas de materializar um projeto político-profissional que, no limite, remete a um projeto societário radicalmente distinto daquele que vigora sob a égide do capital. Para além de seus resultados específicos, cuja discussão não é necessária aqui, naquele momento a pesquisa me evidenciou a necessidade metodológica de uma rigorosa análise concreta do campo de possibilidades, sem a qual não se efetiva qualquer ação que se pretende transformadora da realidade. Ou como afirma Paniago (2012), ―a política e suas inovações institucionais, sem consideração da base ontológica do que se pretende transformar, torna-se puro reflexo de desejo e subjetividades

bem intencionadas‖ (p. 15).2

Se naquele primeiro momento a militância estudantil tornava o campo da formação a minha principal preocupação analítica, a trajetória profissional que se iniciaria a partir dali deslocou (mas sem suprimir) este campo de preocupações para as possibilidades de transformação a partir de determinados contextos institucionais de atuação profissional. No trabalho como psicólogo em uma Unidade Básica de Saúde, esta questão apareceu na forma das negociações em torno do trabalho realizado – repletas de contradições e tensões, que, contudo, nem sempre se apresentavam assim, não raro sendo negadas, ocultadas e naturalizadas. A experiência naquele contexto concreto de atuação permitiu a

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identificação de diversas outras mediações entre a teleologia do trabalho e as possibilidades objetivas de sua realização, entre as quais a estrutura institucional, as formas de organização (precária) do trabalho, os limites dos repertórios teóricos e técnicos disponíveis e os significados construídos para a atividade. Na produção destas mediações pareceu-me estar um importante objeto de aprofundamento analítico para a psicologia social crítica na construção de uma práxis social transformadora. Estas preocupações, ainda bastante difusas, são as que eu trouxe comigo quando comecei a delinear este estudo.

Uma maior particularização destas preocupações foi possibilitada pela experiência posterior de trabalho em Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). No primeiro deles, participei de sua instalação em um município de pequeno porte. A segunda experiência, por sua vez, se deu em uma realidade bem distinta, com o acúmulo de anos de funcionamento do equipmento em um município de grande porte. Cada uma destas realidades implicou seus desafios peculiares. A inserção na política de assistência social me trouxe um campo em que aquelas contradições se expressam de forma ainda mais intensa, em decorrência, como discutiremos ao longo deste trabalho, da organização desta política, dos fenômenos sobre os quais intervém e das respostas produzidas pela psicologia para as demandas com as quais se depara a partir desta inserção.

Por fim, mais recentemente, a experiência de trabalho na organização de um setor de Vigilância Socioassistencial, responsável pelas funções de diagnóstico, monitoramento e avaliação no âmbito da política pública de assistência social, me colocou diante do desafio de produzir sistematicamente respostas sobre quais os fenômenos sociais que esta política toma como objetos de sua intervenção, como abordá-los e quais os efeitos reais que esta política exerce sobre eles. Aqui os desafios iniciais, percebidos no âmbito da negociação em torno da atividade realizada, se tornaram ainda maiores e mais claramente delineados.

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Parece-me que esta sumaríssima apresentação é suficiente para deixar claro, ainda que de forma tão somente introdutória, quais as tarefas para as quais me proponho e que estão determinadas (não só, mas também) por este espaço de inserção: o de um psicólogo, trabalhador da Assistência Social, no contato cotidiano com a pobreza (tomada nesta pesquisa como objeto específico dentre aqueles com os quais trabalha esta política pública, escolha que será justificada adiante), com a demanda de produzir respostas téorico-metodológicas, técnicas, éticas e políticas para esta realidade (uma psicologia da pobreza) e ao mesmo tempo com as limitações institucionais, teóricas, metodológicas, técnicas e políticas para esta intervenção (a pobreza da psicologia).

Por fim, quero apenas assinalar aqui que, ainda que esta pesquisa seja produzida no curso desta trajetória e que este preâmbulo tenha sido escrito na primeira pessoa do singular, a pesquisa não é contingente e nem individual, pois se insere (ou ao menos assim intenciona contribuir) em uma trajetória coletiva de pensar criticamente a psicologia enquanto ciência e profissão, no curso de um projeto ético-político que assume o espaço das políticas sociais públicas como um espaço importante de ação na superação das formas de exploração e estranhamento de uma sociabilidade que estruturalmente limita as possibilidades de que todos participem do acúmulo material e espiritual do gênero humano.

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SITUANDO O DEBATE

Ao abordarmos o trabalho de psicólogas(os) na política pública de assistência social, recortando nesta especificamente o enfrentamento da pobreza, falamos do encontro de diferentes trajetórias.

Por um lado, tratamos da trajetória da sociedade brasileira e das políticas sociais públicas, que coloca contemporaneamente a pobreza em uma posição central. A presença intensa e constante – no discurso governamental, nos meios de comunicação, na produção científica – de temas como a erradicação da miséria e a ascensão da chamada (não sem polêmica) ―nova classe média‖ aponta para o lugar de destaque ocupado, na agenda pública brasileira, pela questão do enfrentamento da pobreza. Como discute A. Singer (2012), o enfrentamento da pobreza, especialmente em suas expressões mais agudas, é o elemento central que organiza, hoje e de forma potencialmente duradoura, a agenda política nacional.

Não por acaso, portanto, a superação da pobreza extrema tem sido apresentada como objetivo central para o Estado brasileiro, a partir da diretriz governamental de ―erradicar a pobreza absoluta e prosseguir reduzindo as desigualdades.‖3 Uma destacada expressão simbólica desta centralidade, ao menos no plano discursivo, se encontra no slogan adotado pelo governo de Dilma Rousseff, de que ―País rico é país sem pobreza‖. Neste contexto, a mais recente expressão desta política é aquela desenvolvida a partir do Plano Nacional para a Erradicação da Extrema Pobreza (o Plano Brasil sem Miséria), lançado em 2011 com o objetivo de tornar residual o percentual dos que vivem em condição de miséria no país. Neste âmbito, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) tem sido convocado a ocupar um lugar destacado na execução do Plano Brasil sem Miséria, como poderemos aprofundar adiante ao discutirmos o desenvolvimento histórico das políticas sociais brasileiras.

3

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A despeito desta centralidade, é preciso considerar, contudo, que se trata de uma política em construção e por esta razão precisa ser problematizada. Em uma trajetória histórica marcada por sua negação enquanto política pública, na qual foi relegada ao âmbito da caridade, da benemerência e da ação voluntária, a institucionalização da assistência social como política pública de garantia de direitos é ainda relativamente recente, sendo seu sistema único, organizado de forma descentralizada e participativa, uma experiência que ainda não completou sua primeira década. Contudo, apesar deste caráter recente de sua institucionalização, o SUAS apresenta um vigoroso crescimento, sendo muito significativos os números da cobertura alcançada por seus equipamentos. De acordo com o Censo SUAS 2013, a rede de atendimento, presente em quase todos os municípios brasileiros, tinha atingido significativa capilaridade com 7.883 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS, unidades públicas responsáveis pela prestação do que é classificado como proteção social básica), 2.249 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS, unidades públicas responsáveis pela prestação do que é classificado como proteção social especial), 131 Centros Pop (especializados em população em situação de rua), 4.423 unidades de acolhimento. A estas unidades públicas se somam as 10.193 entidades privadas referenciadas (em números de 2012). Considerando apenas os CRAS, que são a via de acesso ao sistema, o sistema demonstra ainda uma elevada capacidade de atendimento: foram realizados, em 2012 (ano para o qual encontramos os dados mais recentes disponibilizados), aproximadamente 14,3 milhões de atendimentos que geraram, por sua vez, quase 1,9 milhões de acompanhamentos familiares. Da mesma forma, destaca-se o vigoroso crescimento do Programa Bolsa Família, um dos elementos centrais da política de enfrentamento da pobreza. Em setembro de 2013, prestes a completar uma década de existência, por volta de 13,8 milhões de famílias eram beneficiárias do programa.4

Por outro lado, falamos também da trajetória da inserção de psicólogas(os) nas políticas sociais públicas e, especificamente, na política de assistência social. Historicamente, a atuação em políticas públicas não foi

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significativa nem reivindicada nas primeiras décadas após a regulamentação desta profissão, período em que se consolidou um modelo de exercício profissional liberal, de atuação clínica em consultório particular. Levantamento realizado pelo Conselho Federal de Psicologia, em 1988, apontava que a atuação no setor público era a realidade de aproximadamente 26% dos profissionais de psicologia. A partir da década de 1990, a inserção se amplia, mas, como apontam Yamamoto e Oliveira (2010), isso se deu mais por questões circunstanciais do que políticas, representando um espaço de empregabilidade em um momento de enxugamento do mercado e de precarização do trabalho. Contudo, esta inserção também tem sido reivindicada pelas entidades que organizam a profissão como uma estratégia central para reposicionar socialmente a profissão e disputar o rumo do próprio Estado brasileiro, sendo apontada como espaço privilegiado para a construção do projeto político do

―compromisso social da Psicologia‖ (GONÇALVES, M. G., 2010). Dados

recentes sobre as condições de trabalho da categoria profissional, como os trazidos por Macêdo, Heloani e Cassiolato (2010), apontam se tratar de uma inserção em franca expansão: o setor público é atualmente o maior empregador para a categoria, no qual se inserem 40,3% dos profissionais assalariados, sendo que quase 20% atuam exclusivamente neste setor.

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garantir a reserva de um mercado exclusivo de atuação. Neste processo, Estado e profissão constroem demandas, referências e prescrições para o trabalho, que se expressam em suas diversas regulamentações, no aparato técnico-jurídico que as norteia, nos movimentos de articulação coletiva, nas contribuições e também na disputa do direcionamento das políticas. A relação entre Estado e profissões no contexto das políticas públicas se inscreve, portanto, em um campo de relações entre seus interesses políticos e econômicos.

É preciso esclarecer, contudo, que não se trata de uma dicotomização que coloca Estado e seus interesses de um lado e profissão e seus interesses de outro, ora convergindo ora divergindo, mas a compreensão do Estado e das políticas sociais públicas como expressão das lutas entre classes sociais, das contradições da sociabilidade capitalista – entre o público e o privado, entre o individual e o coletivo, entre o econômico e o social – que ―atualizam, especificam e particularizam a contradição capital-trabalho‖ (GONÇALVES, M. G., 2010, p. 20). A análise desta questão será aprofundada nos capítulos da Parte II, bastando neste momento apenas apontá-la com o objetivo de problematizar a inserção de psicólogas(os) nas políticas públicas como lócus contraditório.

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Outro motivo para problematizar esta inserção é a maneira específica pela qual esta particulariza as contradições presentes, de forma geral, na inserção da profissão em políticas públicas, nomeadamente a contradição entre a configuração do trabalho demandado de acordo com as regulações da política de assistência social e a identidade social historicamente construída pela profissão de psicóloga(o). Podemos citar como exemplos, neste sentido, a inexistência de atribuições específicas para o psicólogo no SUAS, sendo estabelecidas atribuições comuns aos técnicos de nível superior; a demanda por um enfoque interdisciplinar que supere abordagens tecnicistas e individualizadas; o veto explícito ao atendimento psicoterapêutico. De encontro com esta demanda encontramos um profissional que majoritariamente trabalha de forma individual ou em equipes unidisciplinares, como indicam Martins e Puente-Palacios (2010), e com uma formação ainda voltada fortemente ao exercício profissional liberal e sustentada em uma lógica clínica, individualista e intimista, como discute, por exemplo, Bernardes (2004). Além disso, pesquisas realizadas sobre este tema, com as de Araújo (2010) e Nery (2009), indicam a presença de tensões decorrentes do caráter processual de uma prática profissional em construção, em um cenário de ausência de modelos de trabalho pré-definidos, de consensos sobre seus princípios éticos e políticos e de discussão coletiva sobre o trabalho realizado, ainda de caráter improvisado, precário e determinado pela imediaticidade do cotidiano.

Em uma primeira formulação, ainda reconhecidamente genérica, são estas tensões e contradições que constroem este campo o que abordaremos nesta pesquisa, buscando contribuir, especificamente a partir da psicologia social, para evidenciar como neste se produz uma dimensão subjetiva que é constituída e constitutiva desta atuação. Para avançar na delimitação desta questão, é preciso, contudo, considerar mais alguns elementos.

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portanto, de uma questão de urgente relevância para a psicologia, mas também, de forma geral, para a política social brasileira na medida em que o trabalho de seus profissionais é a principal mediação na efetivação da estrutura institucional da política de assistência social (BRASIL, 2009b). Assim entendemos se justificar a importância deste debate.

Consideramos que isto coloca para a psicologia dois grandes problemas, o de produzir conhecimento sobre a dimensão subjetiva da pobreza enquanto fenômeno social e o de produzir respostas a partir do espaço institucional da política pública de assistência social, no qual a profissão se insere e local privilegiado desde o qual atua. Reconhecendo estes dois caminhos como possíveis e igualmente necessários, fomos permanentemente tensionados por estes durante a realização da pesquisa. Não sem motivo: entendemos que a resolução de um passa necessariamente pela resolução do outro; o problema é, na realidade, o da via de acesso. Mas, diante da necessidade objetiva de uma delimitação, optamos, neste trabalho, por seguir o caminho da resolução do segundo problema indicado, o das respostas produzidas a partir da inserção institucional em uma política pública desde a qual temos sido convocados a intervir nesta realidade. Neste sentido, compreender as respostas teóricas, metodológicas, técnicas, éticas e políticas que têm sido produzidas neste âmbito, desvelar nestas a dimensão subjetiva que as determina enquanto mediação entre a ação individual e a produção coletiva de significados sobre a realidade e que também é determinada por este agir no mundo, nos parece ser um caminho satisfatório para problematizar esta inserção e apontar possibilidades de atuação na direção do compromisso ético-político que norteia esta pesquisa.

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construídas a partir das demandas que esta inserção nos coloca. Considerando que aspectos como o desconhecimento sobre a atuação no SUAS, a falta de definições e orientações sobre o trabalho, a inexistência de referências para a atuação, a ausência do tema na graduação, a falta de diálogo e troca de informações entre profissionais e as divergências na atuação estão entre os principais aspectos problematizados pelos psicólogos que atuam nesta política, como revela pesquisa do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010), esta foi/tem sido uma tarefa fundamental e necessária para que possamos analisar as respostas que temos produzido. Identificamos que a vasta produção recente sobre o tema tem contribuído decisivamente para isso. Outra tarefa que a produção recente sobre o tema tem destacado é a de pensar e apontar respostas teórico-metodológicas e técnico-operativas para que a atuação na política pública de assistência social contribua para a realização dos objetivos desta política, superando simultaneamente tanto a herança assistencialista, privatista, autoritária e tutelar que marca este campo quanto a herança clínica e individualista que marca historicamente a profissão. Diferentes saberes e fazeres têm sido mobilizados na construção destas respostas, em uma produção também bastante vasta e potente.

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não se faz, ao menos não da maneira radical que entendemos ser necessária, a crítica destes próprios objetivos e consideramos assim que é necessário avançar nesta direção. Em um arriscado esforço de síntese destas duas questões, que será aprofundado ao longo desta dissertação, trata-se, portanto, de apreender o trabalho simultaneamente em sua dimensão objetiva e em sua dimensão subjetiva. Como buscaremos evidenciar também, não se trata, contudo, propriamente de duas questões, ao menos não isoladamente, mas de apreender a maneira pela qual a dimensão objetiva e a dimensão subjetiva da realidade se relacionam em um mesmo processo histórico a partir da práxis social. A estas questões some-se a preocupação em compreender especificamente o tema do enfrentamento da pobreza no interior da política de assistência social, pelos motivos já apresentados. O esclarecimento destas questões passa pela apreensão de como se dá, no trabalho de psicólogas(os) que atuam na política de assistência social, a relação entre teleologia e causalidade, assim como pela apreensão da produção da própria dimensão teleológica do trabalho. Estes são os problemas que esta pesquisa buscou responder. Esta é a contribuição específica que buscamos através dela fornecer.

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PARTE

I

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Esta primeira parte da dissertação será dedicada à apresentação do método da pesquisa, assim entendido não apenas os procedimentos e técnicas usadas durante a investigação, mas também a abordagem das questões epistemológicas e ontológicas, da concepção de mundo, de homem e de conhecimento que fundamenta a construção dos procedimentos. Por clareza de exposição, optamos em apresentar inicialmente – e a isto dedicaremos os dois primeiros capítulos – a discussão sobre os fundamentos ontológicos e epistemológicos do método e um panorama geral do percurso metodológico da pesquisa, deixando a descrição e a justificativa dos procedimentos utilizados para serem realizadas na sequência, no Capítulo 3.

Contudo, como poderá se tornar melhor perceptível ao longo da discussão, a exposição do método servirá também (e talvez fosse mais correto dizer que esta é a principal contribuição deste capítulo) para apresentar os elementos analíticos mais gerais para a compreensão de nosso campo de pesquisa, o que faremos ao buscar fundamentar com precisão o que entendemos por dimensão subjetiva da realidade. Esta delimitação e seu consequente aprofundamento analítico se fazem necessários por atender, simultaneamente, a três objetivos. Em primeiro lugar, é necessária porque nela se fundamenta o método da pesquisa. Além disso, o trabalho de psicólogas(os), objeto desta pesquisa, apresenta uma peculiaridade: é mediado por uma dimensão subjetiva, ao mesmo tempo em que tem na subjetividade seu objeto de trabalho. A fundamentação materialista, histórica e dialética da subjetividade como complexo no interior da totalidade social possibilitará, desta forma, adiantar os temas e fundamentar as análises que serão retomadas ao longo de toda a exposição. Afinal, o método ―é ao mesmo tempo premissa e produto, ferramenta e resultado da investigação‖ (VYGOTSKI, 1995, p. 47).

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CAPÍTULO 1.

A DIMENSÃO SUBJETIVA DA REALIDADE: FUNDAMENTAÇÃO

ONTOLÓGICA E DECORRÊNCIAS METODOLÓGICAS

Esta pesquisa se fundamenta metodologicamente no materialismo histórico-dialético, adoção orientada não por uma posição lógico-epistemológica definida a priori, mas pelo objetivo de produzir conhecimento que se converta em ―força material‖ para a transformação radical da realidade. Como buscaremos demonstrar doravante, ao expor e discutir alguns de seus fundamentos, o método materialista histórico e dialético é essencialmente crítico e revolucionário na medida em que permite apreender não apenas a existência e a gênese histórica da realidade estudada, mas também e acima de tudo, as possibilidades de seu desenvolvimento, transformação e superação (MARX, 2013).

A questão do método é cara ao campo marxista. Como aponta Musse (2005), a marca comum do vasto campo do marxismo dito ―ocidental‖ é a

―reiterada opção de conceder primazia ao método‖ (p. 370). Não raro o método é

apresentado como elemento central (no limite, o único elemento) que define o materialismo histórico-dialético. Esta centralidade pode ser exemplificada na afirmação de Lukács (2003, p. 63 - 64) de que o método é a "quintessência" do marxismo, sua ortodoxia, a ser preservada ainda que cada resultado das investigações de Marx pudesse ser refutado. Especificamente na psicologia, podemos citar ainda a afirmação de Vigotski (2004, p. 392) de que a construção da psicologia científica não se daria pela importação das categorias do materialismo histórico-dialético, mas sim pela aplicação de seu método na apreensão do grupo de fenômenos específica que estuda.

A centralidade atribuída ao método não significa, contudo, a existência de qualquer consenso sobre o tema. O próprio Marx teve a oportunidade de

constatar que ―o método aplicado em O capital foi pouco compreendido‖ (2013,

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Para problematizar a posição que afirma a centralidade do método, em um movimento que entendemos ser necessário, Chasin (2009) afirma que, a rigor, em Marx não há método. Mais do que isso, em Marx haveria um antimétodo. Não há método no sentido de que não existe caminho pré-configurado para se alcançar a verdade, nem garantia apriorística da apreensão segura e infalível do objeto e de seus nexos essenciais, o que se torna um antimétodo na medida em que a possibilidade de apreensão das determinações essenciais da realidade é definida em termos de um conjunto de procedimentos ontológicos e não epistêmico-metodológicos.

A afirmação de Chasin, longe de representar a negação de qualquer tratamento metodológico, traz aquilo que consideramos central para a compreensão do método em Marx: diferentemente do que postulam as abordagens reducionistas da questão, o materialismo histórico-dialético não é apenas uma ciência particular e nem método universal a ser aplicado a qualquer ciência particular, mas uma forma de apreensão ontológica do ser social. Como afirma Lukács, de forma taxativa, todos os enunciados concretos de Marx são, em última instância, ―enunciados diretos sobre certo tipo de ser, ou seja, são afirmações puramente ontológicas‖ (2012b, p. 281). A dimensão gnosiológica do método está, em Marx, submissa à dimensão ontológica, derivando-se desta. Há ―a prioridade do ontológico com relação ao mero conhecimento‖ (Ibid., p. 303). O conhecimento adequado de um objeto da realidade é determinado não por operações intelectivas aplicáveis ao conhecimento de qualquer objeto, mas pelas características ontológicas do objeto em questão, no sentido da afirmação de que ―as categorias expressam formas de ser, determinações de existência‖ (MARX, 2011c, p. 59). A resolução metodológica passa, portanto, pelo reconhecimento de que

Do ponto de vista metodológico, (...) Marx separa dois complexos: o ser social, que existe independentemente do fato de ser mais ou menos corretamente conhecido, e o método de sua apreensão ideal mais adequada possível (LUKÁCS, 2012b, p. 303).

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do Ser Social (LUKÁCS, 2012b, 2013). Discutiremos então especificamente a pesquisa sobre a subjetividade, a partir da dimensão subjetiva da realidade. Antes de prosseguir, contudo, será necessário esclarecer algumas questões preliminares sobre a fundamentação do método.

1.1 Questões preliminares sobre a fundamentação do método na práxis

Antes de iniciar a apresentação dos fundamentos ontológicos, é preciso, contudo, estabelecer uma referência inicial, sem a qual não é possível entender a investigação científica como proposta por Marx: a centralidade da práxis. A investigação não é neutra ou desinteressada, mas tem por objetivo se constituir em práxis revolucionária de transformação da realidade na direção da emancipação humana. O conhecimento científico, longe de ser contemplação do mundo, é definido como apropriação ativa da realidade por sujeitos que visam transformá-la.

Tal orientação para a práxis emerge como ―necessidade prática de superar a dominação escravizadora da objetivação alienante, reforçada de forma constante pelo poder aniquilador do fetichismo da mercadoria‖ (MÉSZÁROS, 2009, p. 218 – 219). O método tem sua historicidade, isto é, emerge como necessidade a partir de determinadas condições históricas, está sujeito a determinações materiais, atende a determinados interesses concretos (GONÇALVES, M. G., 2005). Neste sentido, a orientação para a práxis objetiva aquilo que nenhuma consciência especulativa poderia suprir, se constituir ―também um instrumento necessário da luta pela autoemancipação‖ (MÉSZÁROS, 2011a, p. 33). A necessidade histórica deste papel da ciência – sua orientação para a práxis – é colocada por Mészáros nos seguintes termos:

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dedicar-se apenas à negação da ordem dada. A negação do sistema do capital tinha de ser combinada com a demonstração da viabilidade histórica da ordem hegemônica alternativa positiva necessária (...). É por isso que pela primeira vez na história uma teoria científica de mudança estrutural foi articulada e diretamente vinculada por seu fundador à realização necessária da tarefa histórica de criar um movimento revolucionário consciente capaz de instituir a propugnada estratégia de transformação global (MÉSZÁROS, 2009, p. 214). Neste sentido, ―a questão de saber se ao pensamento humano cabe

alguma verdade objetiva [é] uma questão prática‖, pois ―é na prática que o

homem tem de provar a verdade‖ (MARX; ENGELS, 2012, p. 533).

Marx (2013) coloca claramente que a intenção de seu esforço teórico não era o de simplesmente apreender as determinações dos fenômenos na sua forma presente de apresentação, mas as determinações de sua mutabilidade, de seu desenvolvimento, de sua passagem a outra forma, da necessidade que o determina ser como é para demonstrar a necessidade de sua transformação. Neste sentido, a objetividade e a validade de suas proposições não poderiam ser demonstradas por um esforço teórico, mas eminentemente prático, em que se depreende seu estatuto de verdade da demonstração prática de sua viabilidade (COGGIOLA, 2011). Como afirma Marx,

o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria também se torna força material quando se apodera das massas. A teoria é capaz de se apoderar das massas tão logo demonstra ad hominem, e demonstra ad hominem tão logo se torna radical. Ser radical é agarrar a coisa pela raiz. Mas a raiz, para o homem, é o próprio homem (MARX, 2010a, p. 151).

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interessa a ocultação deste embate a teoria pode se apresentar como neutra (COGGIOLA, 2011).

Não se trata, contudo, como aponta Maar (2011), de subordinação da teoria à prática, mas da afirmação dos nexos dialéticos na história entre sujeito e objeto, entre necessidade e contingência, entre condições racionais-filosóficas e sócio-históricas de construção de alternativas, a partir da compreensão de que a reprodução ou a superação de uma determinada sociabilidade é um complexo processo de mediações objetivas e subjetivas, teóricas e práticas. À teoria cabe decifrar a mediação histórica entre necessidade e contingência para demonstrar as reais possibilidades práticas de transformação e é este papel que confere à teoria seu estatuto de ―verdade objetiva histórica‖ (p. 51).

Esta ênfase dada à práxis é possível, desta forma, a partir de uma compreensão muito específica de história, uma compreensão materialista e dialética que rejeita qualquer teleologia abstrata: as condições para o esgotamento e a superação de uma determinada organização social são produzidas no interior desta mesma organização (MARX, 1977), o que torna a transformação necessária e sua superação possível, mas não inevitável – o resultado do acirramento das contradições no interior de uma determinada forma de sociabilidade podem ser sua reestruturação revolucionária ou seu aniquilamento (MARX; ENGELS, 1981). Este entendimento envolve, por conseguinte, uma compreensão muito específica da relação entre sujeito e objeto, entre subjetividade e objetividade, que está na raiz da ênfase dada à práxis: a afirmação de um sujeito histórico ativo cuja atividade concreta é determinada por uma objetividade que independe absolutamente de sua vontade, mas um sujeito que transforma o objeto ao agir sobre ele, ao mesmo em que se transforma, em uma relação de mútua determinação, de unidade, mas não de identidade. Como afirma Maar,

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