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Primeira aproximação – Observação participante em um Centro de Referência de Assistência Social

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 141-149)

OS PERCURSOS DA PESQUISA

3.1 Primeira aproximação – Observação participante em um Centro de Referência de Assistência Social

A pesquisa se iniciou com a inserção no cotidiano de trabalho de um Centro de Referência de Assistência Social. Nossa proposta era a de realizar um período de observação participante que nos possibilitasse familiaridade com aquela realidade, para que ela nos indicasse os caminhos a seguir para conhecê-la. Uma referência que nos orientou, naquele momento, era a de postura etnográfica, conforme discutida por Boumard (1999). Em sua definição, a postura etnográfica é uma postura metodológica (e é postura porque não se resume a procedimentos e técnicas) de estudar o outro enquanto estranho, o que demanda

(...) privilegiar a investigação, a estadia prolongada junto à população estudada, a impregnação dos costumes e das práticas dos grupos, decidindo-se aí se debruçar sobre o estranho e o seu significado. Para apreender o ponto de vista dos outros, é necessário partilhar a sua realidade, a sua descrição do mundo e as suas marcas simbólicas (BOUMARD, 1999).

Na postura etnográfica, como defende Boumard, é a própria realidade quem deve informar como conhecê-la, "como se existisse uma espécie de pressão epistemológica do objeto sobre a postura do investigador". Desta forma, a observação participante deve envolver uma atitude de atenção flutuante, que fique permanentemente à espreita de uma eventual produção de sentido. Nesta

perspectiva, o conhecimento é uma produção conjunta que problematiza simultaneamente os pontos de vista do pesquisador e dos participantes da pesquisa a respeito da realidade pesquisada.

Outra referência neste momento inicial da pesquisa foi a noção de campo-tema, conforme discute P. Spink (2003, 2008). Spink defende que o ―campo‖ não seja entendido como um lugar fisicamente determinado, no qual as pessoas vivem em ―habitat natural‖ e para o qual o pesquisador se dirige para realizar coleta de dados que serão posteriormente analisados fora dali, mas como ―complexo de redes de sentidos que se interconectam‖ (2003, p. 28), campo de sentidos que estão constantemente sendo debatidos e negociados e no qual a pesquisa se insere como argumento possível. Entendido desta forma, o campo para a pesquisa, o campo-tema, acontece em diversos lugares e sempre que o pesquisador está debatendo ou negociando seu tema está em campo. Ressalva feita às significativas diferenças na compreensão do que é esta produção de sentidos na realidade, esta discussão sobre campo-tema foi importante para expandir a compreensão sobre ―estar em campo‖, não mais restrito à observação participante apenas no cotidiano da unidade, mas como postura permanente de identificação e análise dos fenômenos pesquisados nos mais diversos espaços em que se expressam, incorporando diversos registros como fontes de informação para a pesquisa, sempre que estes indicassem revelar algo sobre o que estávamos pesquisando.

Se o objetivo da observação participante era conhecer com profundidade a realidade estudada, a partir de um contato prolongado que permitisse partilhar daquela realidade, consideramos inicialmente que a melhor opção, sem desconsiderar as dificuldades decorrentes delas, seria realizar este momento de observação no próprio município em que o pesquisador trabalhava como técnico em um CRAS. Contudo, em razão de nosso objetivo de incluir na pesquisa as possíveis novidades introduzidas pelo Plano Brasil sem Miséria no que se refere ao enfrentamento da pobreza no cotidiano do SUAS, decidimos que um critério para selecionar o local de realização da observação participante seria o de que ali estivessem sendo desenvolvidas ações no âmbito do plano. No Estado de São Paulo, escolha inicial que decorreu da disponibilidade do pesquisador, isso significava um município que tivesse implantado o programa São Paulo Solidário, resultado da pactuação do Plano Brasil sem Miséria com o governo

estadual. Em decorrência do cronograma da pesquisa, isso significava especificamente um município selecionado para a primeira fase do programa.19 Esse não era o caso, naquele momento, do município em que o pesquisador trabalhava, que viria a iniciar as ações do São Paulo Solidário apenas nos meses finais de 2013.

Decidimos então realizar contato com municípios inseridos na primeira fase (SÃO PAULO, 2011b) e que contassem com CRAS em funcionamento – critério introduzido quando constatamos que neste grupo, formado predominantemente por pequenos municípios, vários ainda não haviam implantado as unidades públicas do SUAS. Planejamos iniciar a observação no primeiro mês de 2013, quando supúnhamos que as ações já estariam em curso há pelo menos um ano. Informados de que as ações de busca ativa20 haviam sido iniciadas no primeiro grupo de municípios ainda no final de 2011, nossa expectativa era encontrar em funcionamento a fase de acompanhamento familiar. Contudo, isso não foi possível. No final do ano de 2012 e começo do ano seguinte, entramos em contato com alguns municípios que atendiam a todos os critérios estabelecidos, em três regiões diferentes: no Vale do Paraíba, na Região Metropolitana de São Paulo e no Vale do Ribeira. Fomos informados de um atraso do início das ações de acompanhamento familiar do São Paulo Solidário. Realizado o mapeamento, alguns municípios ainda aguardavam o Retrato Social que seria produzido a partir da busca ativa. Acrescente-se a isso as dificuldades de contato com os órgãos gestores, a dificuldade de combinar uma forma de inserção no cotidiano do serviço que não interferisse em seu

19 O planejamento de implantação do São Paulo Solidário estabeleceu um cronograma de três fases: em 2012, as ações seriam iniciadas nos 100 municípios com os menores valore do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); em 2013, passariam a ser atendidos os municípios do interior que não estivessem na primeira lista, com exceção daqueles localizados nas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista (na ocasião, a região metropolitana do Vale do Paraíba ainda não existia), totalizando outros 480 municípios; por fim, em 2014, seriam inseridos os demais 65 municípios das três regiões metropolitanas (SÃO PAULO, 2011a). 20 As ações do programa São Paulo Solidário foram organizadas em três fases: [1] Busca Ativa, com mapeamento das famílias em extrema pobreza no município e aplicação de questionário baseado no Índice de Pobreza Multidimensional, do PNUD; [2] Retrato Social, com a análise dos questionários e a produção de um diagnóstico das condições de vida da população, apontando privações nas dimensões de saúde, educação e padrão de vida; [3] Agenda da Família Paulista, ação de acompanhamento familiar baseado na assinatura de compromissos, entre o Estado e a família, para a superação das principais vulnerabilidades identificadas.

funcionamento, o estranhamento e mesmo resistência em autorizar esta inserção e estavam dadas as condições para alterar novamente o planejamento. Eliminamos então o critério de participação no programa São Paulo Solidário e com isso retomamos a proposta de realizar a observação participante no município em que o pesquisador trabalhava. Apresentamos esta proposta à equipe técnica local e à administração do órgão gestor do município, que concordaram e aprovaram a realização da pesquisa nestas condições. E, desta forma, em janeiro de 2013, iniciamos a observação participante. Para uma breve caracterização, trata-se de um município classificado, segundo os parâmetros definidos na Política Nacional de Assistência Social, como de grande porte e com nível de gestão básica.21 A rede socioassistencial local conta com 05 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), 01 Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e 29 entidades sociais referenciadas e inscritas no Conselho Municipal de Assistência Social. Os CRAS foram instalados em 2006, portanto pouco após a implantação do Sistema Único de Assistência Social, e o CREAS em 2011.

De imediato, esta decisão nos colocou uma dificuldade. Pensando naquelas características da postura etnográfica, sugeridas por Boumard (1999), o estranho, neste caso, não era assim tão estranho. O espaço a conhecer não era exatamente desconhecido, afinal o pesquisador já estava ali cotidianamente há mais de um ano. Por outro lado, esta decisão permitiu também o estabelecimento de condições que certamente contribuíram para a realização da pesquisa. Quando formalmente iniciamos a observação participante, o tema de pesquisa já era conhecido pela equipe técnica e tornado objeto dos diálogos cotidianos, o que permitiu que o processo de interpretação dos sentidos daquela realidade fosse um empreendimento minimamente coletivo, compartilhado (obviamente que sem retirar a responsabilidade do pesquisador por eventuais equívocos). A perspectiva de estar em campo toda vez que se está negociando

21 De acordo com sua população, os municípios são classificados como sendo de Pequeno porte I, Pequeno porte II, Médio porte, Grande porte e Metrópole, parâmetro que determina, por exemplo, o número mínimo de unidades a compor a rede socioassistencial pública e a capacidade de referenciamento de cada uma delas. São classificados como de Grande porte, caso do município em que realizamos esta parte da pesquisa, aqueles que possuem entre 100.001 e 900.000 habitante. No que se refere ao Nível de Gestão, os municípios são classificados em Gestão Inicial, Gestão Básica e Gestão Plena, de acordo com sua capacidade de assumir as funções de gestão do sistema.

ou debatendo seu tema de pesquisa aqui se revelava plena. Percebemos que não estávamos iniciando o campo, mas já estávamos nele desde antes de pensarmos a realização da pesquisa. Afinal, como apontamos no preâmbulo desta dissertação, a assistência social é nosso campo de trabalho, de militância e de pesquisa e inequivocamente a análise realizada (desde a seleção do que será analisado até a análise propriamente dita) é marcada por estas experiências, sem que com isso se restrinjam a uma experiência pessoal. Se, por um lado, isso permitiu uma perspectiva privilegiada, com um aprofundamento que muito provavelmente não seria possível em outra condição, não deve ser desconsiderado o desafio envolvido em pesquisar o lugar onde se está todo dia e, mais do que isso, as práticas das quais se participa todo dia. Ainda que nosso entendimento de fazer científico não comporte qualquer pretensão de neutralidade ou exterioridade em relação à realidade pesquisada, isso colocou permanentemente a necessidade de redobrar a atenção para que não nos restringíssemos ao que já conhecíamos, de não considerar já conhecer de antemão o que estávamos ali para conhecer. Considerávamos o risco de que isso levasse a nos ater aos aspectos fenomênicos do que pesquisávamos, de reproduzir o cotidiano sem conseguir superá-lo. O desafio era o de reinterpretar, com rigor metodológico, aquilo que já interpretávamos de forma pragmática (orientada pela heterogeneidade do que precisa ser feito) no cotidiano. Conhecer o estranho, neste caso, foi também desconstruir o que já era conhecido. Torná-lo, em alguma medida, novamente estranho. Adquirir familiaridade foi também aprender a estranhar o que já era familiar.

Desta forma, por um ano a partir do mês de janeiro de 2013, realizamos a observação participante no cotidiano de trabalho de um CRAS. Participamos de atendimentos, visitas domiciliares, reuniões em grupo, do funcionamento da recepção. Dialogamos com os técnicos. Participamos das reuniões semanais ou quinzenais da equipe da unidade. No município, as equipes técnicas de todas as unidades públicas realizam reuniões conjuntas, de periodicidade mensal, e também participamos delas. Estas reuniões, aliás, permitiram registros muito interessantes, exatamente por se constituírem em espaços nos quais as(os) trabalhadoras(es) sociais se propõem a pensar conjuntamente o seu trabalho. Pensadas como momentos para transcender temporariamente o cotidiano, estas reuniões nos ajudaram a fazer o mesmo para a pesquisa, permitindo tomar o

cotidiano de trabalho como objeto de análise. O registro destas experiências foi realizado em diário de campo, do qual procuramos resgatar, para a análise, situações que, inscritas no cotidiano, trouxessem algo de perturbador que permitisse problematizá-lo; que, em sua singularidade, expressassem algo da particularidade. Metodologicamente, o olhar, neste momento, buscava as contradições na realidade, que revelassem, para além dos fenômenos, seu movimento constitutivo. Recorremos também aos registros documentais produzidos pela unidade. Encontramos um acervo muito rico destes registros, afinal remetiam a uma experiência acumulada ao longo de oito anos, desde o diagnóstico inicial realizado no território quando da implantação da unidade. Desta forma, tivemos contato com fichas, prontuários, relatórios de intervenção, relatórios de atividades, memorando e ofícios, instrumentais de diagnóstico, monitoramento e avaliação, planos de trabalho, planejamento de reuniões, entre outros documentos. Muito deste registro documental veio a compor o material analisado na pesquisa.

Ao longo deste período, em três ocasiões tivemos a oportunidade de sistematizar algumas questões percebidas como significativas durante a observação participante, devolvendo-as para discussão durante as reuniões mensais das equipes técnicas. Por sua vez, os registros destas discussões, feitos em diário de campo, passaram a incorporar o material analisado.

Na primeira destas ocasiões, propusemos um debate sobre a noção de vulnerabilidade social enquanto noção central que organiza conceitualmente a política de assistência social, a partir da leitura e discussão de textos que abordam esta noção na perspectiva de sua emergência histórica e da análise dos usos desta noção nos documentos oficiais do SUAS. Havíamos identificado esta como uma importante base ideológica da política de assistência social e para esta discussão sistematizamos o que havíamos analisado até então. As equipes dos CRAS do município haviam constituído um grupo de trabalho com a tarefa de reelaborar os relatórios de atividades utilizados por eles, com o objetivo de potencializá-los como instrumento de diagnóstico, monitoramento e avaliação. Naquele momento, a tarefa imediata, trazida para o coletivo, era de definir quais vulnerabilidades sociais deveriam ser diagnosticadas. Por isso, a atividade propiciou a discussão sobre o que se entende por vulnerabilidade social e o que se entende como objeto de intervenção da política de assistência

social. Esta discussão teve ainda um desdobramento por ocasião da avaliação do período de teste do instrumento produzido, retomando a discussão sobre vulnerabilidades sociais como objeto desta política pública. Esta discussão está presente nos Capítulos 6 e 9.

Em uma segunda ocasião, propusemos a este coletivo de trabalhadoras(es) que avaliassem seu trabalho de acordo com os parâmetros estabelecidos pela ―Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais‖ (BRASIL, 2009d): cobertura do atendimento dos usuários, cumprimento de objetivos, provisões (ambiente físico, recursos materiais, recursos materiais e trabalho social essencial ao serviço), aquisições dos usuários, condições e formas de acesso, articulação em rede e o impacto social esperado. Especificamente sobre o impacto social do trabalho socioassistencial, a discussão buscou aprofundar a avaliação tanto sobre as possibilidades reais quanto sobre o que precisa avançar para que a ação alcance os objetivos propostos. Esta discussão, que aproveitamos no Capítulo 11, permitiu analisar o que se entende como limites e como possibilidades do trabalho na assistência social, definindo os significados sobre seu horizonte teleológico.

Na terceira ocasião, como desdobramento da discussão que acabamos de descrever, buscamos aprofundar o debate sobre o que os técnicos apontaram como sendo os ―limites estruturais‖ que determinam as possibilidades de transformação social a partir da política de assistência social. Para tanto, tomamos como base a leitura de ―Os sentidos do lulismo‖, de André Singer (2012), para discutir a realidade social brasileira contemporânea buscando seu fundamento nas relações entre classes sociais. Referências a esta discussão estão nos Capítulos 8, 11 e 12.

Quando nos aproximávamos do final do período estipulado para a observação participante, propusemos à equipe do CRAS uma reunião para apresentar uma sistematização preliminar dos resultados encontrados, apontando questões que entendíamos ser necessário aprofundar. Vimos esta como uma oportunidade de oferecer uma devolutiva parcial da observação, trocando percepções e possibilitando que aquele momento de interpretação fosse compartilhado. Se ao longo de todo o período, este processo foi construído, em alguma medida, de forma coletiva, pois apoiado em um processo de contínuo diálogo, este poderia ser o momento de fazer esta análise conjunta

de forma sistematizada. A equipe aceitou a proposta e assim realizamos, em dezembro de 2013, uma reunião para discutir o conjunto de questões que nos pareceram mais significativas. Participaram da reunião, além do pesquisador, duas assistentes sociais (referidas como ―Assistente Social 1‖ e ―Assistente Social 2‖), uma psicóloga (referida como ―Psicóloga‖) e uma técnica de nível médio que trabalha na recepção da unidade (referida como ―Auxiliar de Trabalho Social‖). A reunião contou também com duas participantes (referidas como ―Usuária 1‖ e ―Usuária 2‖) em uma situação muito peculiar: são moradoras do território referenciado pelo CRAS e bolsistas de um programa social local de capacitação para o trabalho, voltado a desempregados. No programa, os bolsistas exercem atividades em diversos setores da prefeitura. Neste caso, as duas bolsistas exercem suas atividades do programa no CRAS, o que as coloca na posição de estarem na unidade e serem, ao mesmo tempo, usuárias dela. Para orientar a discussão, produzimos um roteiro a partir da sistematização de vários aspectos da análise que naquele momento já estava avançada. Com o consentimento de todos os participantes, esta reunião foi gravada com a utilização de um gravador digital, para consulta posterior do pesquisador. O conteúdo da reunião foi então transcrito, sendo posteriormente apagado do gravador. Este material estrutura a discussão de toda a Parte III (Capítulos 9 a 12), sendo citado como ―Grupo com os técnicos do CRAS‖.

Por fim, solicitamos e obtivemos autorização (dos técnicos e dos usuários) para gravar uma reunião socioeducativa realizada com beneficiários do Programa Bolsa Família, realizada em dezembro de 2013, com a participação de 19 usuários referenciados àquele CRAS. Na ocasião, o grupo produziu uma discussão sobre o Programa Bolsa Família, seu significado na vida daqueles usuários, as condições que levavam à suspensão do benefício e as possibilidades de superação de tais condições. Nesta discussão, interessou-nos, sobretudo, a expressão de significados sobre o que é viver em condição de pobreza, sobre as possibilidades e limites para sua superação, o papel do programa de transferência de renda neste processo. Também esta reunião foi gravada com a utilização de um gravador digital e seu conteúdo foi transcrito para utilização posterior pelo pesquisador, sendo então apagado. Este material foi aproveitado no Capítulo 11, sendo citado como ―Grupo do Programa Bolsa Família‖.

Todos os registros obtidos com estes procedimentos compuseram o material empírico inicial para a pesquisa. A partir deste, iniciamos os procedimentos abstrativos com o objetivo de apreender o campo pesquisado em suas determinações concretas. Organizamos estes procedimentos em três níveis de análise, que buscaram progressivamente intensificar a razoabilidade ontológica das abstrações empreendidas.

Em um primeiro momento, buscamos apreender aquele campo de protosignificações e proto-operações que funcionam como respostas genéricas que medeiam a relação entre o sujeito da atividade e sua tarefa, que, como discutimos no capítulo anterior, Clot (2007, 2010) denomina gênero da atividade. Na sequência, buscamos identificar mediações entre o gênero da atividade e as dimensões subjetivas da realidade, apreendendo, portanto, o gênero da atividade como momento que compõem o repertório social de significados disponíveis para a compreensão da realidade, que carrega as determinações do processo que a constitui objetiva e subjetivamente, sua historicidade, suas contradições, seus conflitos, seus interesses antagônicos, suas construções ideológicas (FURTADO; SVARTMAN, 2009). Por fim, buscamos apreender a dimensão socioeconômica deste conjunto de questões, naquele sentido de crítica ontológica da realidade em suas dimensões objetiva e subjetiva. As seções seguintes descreverão os procedimentos envolvidos em cada um destes momentos de análise.

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 141-149)