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Quarta aproximação – A crítica da dimensão subjetiva que engendre simultaneamente a crítica da dimensão objetiva da realidade

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 164-175)

OS PERCURSOS DA PESQUISA

PRINCÍPIOS

3.4 Quarta aproximação – A crítica da dimensão subjetiva que engendre simultaneamente a crítica da dimensão objetiva da realidade

Por fim, uma quarta aproximação analítica envolveu buscar desmistificar não apenas as formas de consciência relacionadas às atuais condições sociais e históricas, mas estas próprias condições. Além dos pressupostos metodológicos já apontados, o que nos orientou neste momento da investigação foi a reiterada afirmação, identificada ao longo da pesquisa, da existência de ―questões estruturais‖ que limitam as possibilidades objetivamente disponíveis para o enfrentamento da pobreza e, consequentemente, do trabalho na política de assistência social. Este momento da investigação buscou compreender que ―questões estruturais‖ são estas, buscando contribuir para tornar mais concreta a análise, que reputamos ser tratada de forma demasiadamente abstrata pela psicologia, da dimensão objetiva da realidade.

Para tanto, recorremos tanto a indicadores socioeconômicos (sobretudo aqueles provenientes de estatísticas oficiais e de microdados de pesquisas sociais e econômicas) quanto a um conjunto de análises sobre as condições socioeconômicas do Brasil contemporâneo (no que se refere ao desenvolvimento econômico e a redução da pobreza e da desigualdade),

buscando contribuir para a compreensão do chamado

―neodesenvolvimentismo‖. O resultado desta análise, que encerra a investigação, está no Capítulo 8 e no estudo complementar que compõe o Apêndice A.

3. 5 Modo de exposição

Coerente com a concepção metodológica que fundamenta a pesquisa, a exposição se dará através de sucessivas aproximações à concreticidade do campo de trabalho das(os) psicólogas(os) que atuam nas ações para o enfrentamento da pobreza na política pública de assistência social. A cada momento, partindo das determinações mais gerais, serão introduzidas

determinações mais específicas que permitam captar, sobretudo, as mediações históricas particulares que determinam concretamente as expressões singulares deste campo de trabalho. Para isso, a referência principal sempre será a da dimensão subjetiva da realidade em sua relação dialética com a dimensão objetiva material.

Nos capítulos que compõem esta Parte I – Considerações

metodológicas, ainda que seu objetivo tenha sido inicialmente o de expor e

fundamentar o método de pesquisa materialista histórico-dialético, iniciamos este processo de exposição das determinações cuja síntese permitirá apreender o campo de pesquisa investigado em sua concreticidade. Como ficará cada vez mais perceptível, ao apresentarmos aqui, ainda em alto grau de abstratividade, as determinações mais gerais da forma de sociabilidade em cujo interior emerge o pauperismo enquanto fenômeno que possui simultaneamente sentido objetivo e subjetivo, foi delineado o quadro mais amplo de referências que serão retomadas ao longo da exposição. A estas determinações gerais do ser social, que em sua generalidade e especificidade é síntese fundada na práxis humana entre causalidade e teleologia, serão acrescidas determinações cada vez mais específicas, em um processo dialético de aproximação, para apreender o fenômeno da pobreza no Brasil contemporâneo. Apresentaremos determinações dos significados socialmente construídos para a pobreza e também para o seu enfrentamento, das políticas públicas de assistência social e de superação da pobreza (em suas aproximações, tensões e distanciamentos) e do trabalho de psicólogas(os) neste campo. Neste percurso, também as determinações da dimensão subjetiva da realidade e do cotidiano enquanto esfera de reprodução imediata da vida, até aqui delineadas em seus aspectos mais gerais, serão retomadas e aprofundadas na direção de sua concretização. Nos capítulos que compõem a Parte II – A pobreza e seu

enfrentamento, iniciaremos esta abordagem mais específica de nosso campo

de pesquisa. Apresentaremos alguns elementos para discutir o fenômeno do pauperismo no modo de produção capitalista, inicialmente a partir de suas determinações mais gerais enquanto produto necessário do processo de acumulação de capital, no que se distingue das formas de pobreza pré-capitalistas. Discutiremos ainda como se produzem significados ideológicos sobre o que é pobreza a partir do momento em que esta se constitui em ―questão

social‖ que precisa ser enfrentada e de como estes significados ideológicos fundamentam o seu enfrentamento público (e depois especificamente estatal através de políticas públicas). Em um movimento de maior aproximação da particularidade histórica em que estes fenômenos são produzidos atualmente, abordaremos algumas especificidades deste campo no contexto da reestruturação produtiva e da crise estrutural do capital, no qual emergem os discursos que apontam para uma ―nova pobreza‖ que se diluí na noção de ―vulnerabilidade social‖ e dos desdobramentos destes processos, objetivos e subjetivos, nas políticas sociais. Buscamos então apresentar como estas questões desenvolvem-se na sociedade brasileira, a partir da discussão da sua forma específica de objetivação do capitalismo e dos diversos modelos de política de enfrentamento da pobreza em sua relação com a política de assistência social. Esta discussão prepara aquela apresentada no último capítulo da Parte II, em que analisaremos a especificidade sócio-histórica do enfrentamento da pobreza no Brasil contemporâneo, tomando como referência o ―neodesenvolvimentismo‖ em suas bases econômicas e ideológicas.

Por fim, na Parte III – Psicologia, Assistência Social e Enfrentamento

da Pobreza, serão apresentados elementos para a análise do trabalho de

psicólogas(os) neste campo, em um duplo movimento que abordará tanto os repertórios sociais de significados sobre este trabalho quanto o contexto cotidiano na unidade de assistência social analisada. O empírico, que foi o ponto de partida de investigação, será então exposto já enriquecido de um longo processo de abstrações, em suas múltiplas determinações. Neste momento, será possível a síntese pretendida.

PARTE

II

A POBREZA E SEU ENFRENTAMENTO

A acumulação de riqueza num pólo é, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, o suplício do trabalho, a escravidão, a ignorância, a brutalização e a degradação moral no pólo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital (MARX, 2013, p. 721).

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antes de adentrarmos na discussão específica sobre o trabalho de psicólogas(os) na política de assistência social e, dentro desta, do enfrentamento da pobreza, discutiremos inicialmente sobre a pobreza e seu enfrentamento. O objetivo principal é apresentar elementos para a compreensão das determinações mais gerais do campo pesquisado e estabelecer assim os argumentos principais que conduzirão também o debate que faremos, na Parte III, sobre o trabalho de psicólogas(os).

Ao longo dos próximos cinco capítulos, discutiremos as bases histórico-sociais do fenômeno da pobreza (e neste processo teremos o cuidado de explicitar de forma mais precisa o que entendemos por pobreza, procedimento indispensável diante da polissemia que caracteriza, não sem motivo, os usos do termo)24 no modo de produção capitalista. Neste percurso, abordaremos ainda como a pobreza passou a ser representada politicamente como problema público a ser enfrentado através de políticas sociais e como estas são tensionadas no contexto contemporâneo pelas condições da crise estrutural do capital (MÉSZÁROS, 2011b). Por sua vez, abordar a maneira através da qual a pobreza se torna objeto de políticas sociais implicará também discutir como esta é concebida e como são concebidas as possibilidades de seu enfrentamento, concepções ideológicas que compõem a dimensão subjetiva deste campo. Assim, abordaremos o pauperismo e as políticas que atuam sobre ele enquanto campo objetivo e subjetivo.

Obviamente não temos a pretensão de sistematizar todas estas questões em todos os seus aspectos possíveis. O que faremos é destacar alguns

aspectos deste amplo campo, guiados pelo objetivo de

compreender, especificamente, as bases materiais da pobreza e de seu enfrentamento na realidade brasileira neste momento histórico. Como veremos,

24 Neste sentido, concordamos com Paugam (2003) quando este afirma que a pobreza é um fenômeno cuja definição parece ser clara para a opinião pública, mas que sua abordagem nas ciências sociais é dúbia, equívoca e auto-referente, sendo preciso inicialmente desmitificar epistemologicamente o objeto. Como argumentaremos, não é assim sem motivo, mas como reflexo da decadência ideológica (LUKÁCS, 2010a) do pensamento econômico burguês.

isso passa pela discussão da atual institucionalidade da política brasileira de enfrentamento da pobreza (situada no encontro do Plano Brasil sem Miséria com o Sistema Único de Assistência Social) e de como esta se relaciona a uma forma de compreender a pobreza e as possibilidades de sua superação por meio de uma confluência específica de desenvolvimento econômico e políticas sociais. Ainda que isto implique necessariamente a compreensão de determinações gerais e particulares deste campo de fenômenos sociais, ressaltamos que é a especificidade da expressão atual destas questões na sociedade brasileira o que orientou a investigação e que também orientará, por conseguinte, a exposição que faremos. Não é à toa, portanto, que o último capítulo desta parte da dissertação, dedicado a compreender o enfrentamento da pobreza no neodesenvolvimentismo lulista, é o mais extenso deste conjunto. A delimitação deste objetivo foi orientada pela hipótese de que a expressão histórico-social da pobreza no Brasil contemporâneo, a institucionalidade específica construída para de alguma forma responder às demandas que a pobreza coloca e os significados sobre pobreza e sobre as possibilidades de sua superação que são produzidos neste processo são parte das determinações fundamentais do trabalho de psicólogas(os) que se inserem na política de assistência social e que isto ocorre porque compõem tanto a dimensão subjetiva que orienta e justifica o trabalho realizado quanto a dimensão objetiva à qual este trabalho se dirige.

Ainda que este objetivo se justifique plenamente pela perspectiva metodológica que fundamenta esta pesquisa, a extensão da discussão que será apresentada, assim como a aparente distância entre esta discussão e aquela anunciada na introdução desta dissertação, pode produzir o legítimo questionamento sobre a sua relevância. Afinal, não se trata somente de uma discussão de fundo, preparatória da discussão específica que será construída adiante na Parte III? Prevendo esta possibilidade e adiantando a resposta de que não se trata meramente de uma discussão de questões de fundo, justificamos esta decisão.

Os cinco capítulos seguintes podem eventualmente não apresentar muitas novidades para um leitor familiarizado ao debate destes temas, ainda que, no diálogo com parte da extensa produção sobre eles, tenhamos buscado apresentar (esperamos que com sucesso) algumas contribuições inéditas aqui e

ali. Mas, entendemos que ainda assim era necessário construir esta discussão por pelo menos dois motivos.

O primeiro é marcar um posicionamento na disputa de sentidos sobre o que é pobreza e como esta deve ser tomada como objeto de intervenção política. Décadas de defesa da concepção neoliberal de que as políticas sociais devem se focar nas expressões mais extremas da pobreza e de predomínio da falsa polarização entre concepções economicistas e concepções subjetivistas ―empobreceram‖ o próprio debate sobre pobreza, produzindo uma dupla exclusão. Ao longo desse processo, o debate sobre pobreza se polarizou entre concepções que, sendo distintas, carecem igualmente de proposições radicais. Ao mesmo tempo, a pobreza parece ter sido descartada enquanto categoria analítica nas análises que se reivindicam radicais, materialistas, históricas e dialéticas, sendo continuamente apresentada como um categoria demasiadamente estática e contraposta à dinâmica relacional contida, por exemplo, na noção de desigualdade social. A maneira pela qual tomamos aqui a pobreza como objeto expressa a intenção política de colocá-la novamente no lugar que entendemos lhe competir: o epicentro das contradições do modo capitalista de produção. Defendemos que a pobreza foi, é e continuará sendo uma das mais importantes expressões das contradições entre capital e trabalho posto que a dinâmica objetiva que a produz é aquela da lei geral da acumulação capitalista. Portanto, nenhuma tentativa passada, presente ou futura de impor controle ao capital incontrolável em seu curso expansivo conseguiu, consegue ou conseguirá superá-la porque a pobreza está no próprio limite das contradições que o capital não pode resolver porque isso implicaria desfazer a relação capital em si. A posição política derivada disso é clara: a superação da pobreza somente é possível com a superação do modo de produção da qual é uma das mais centrais expressões. Desta forma, ainda que não haja exatamente novidade em abordar a pobreza desta perspectiva analítica, consideramos que a maneira através da qual esta concepção tem sido alijada do grande debate sobre o tema justifica recuperar alguns elementos para a discussão.

O segundo motivo se relaciona ao estranhamento que identificamos que a psicologia mantém em relação a estes temas. Ao longo da realização da pesquisa, diversas vezes fomos questionados sobre os motivos de incluir uma discussão desta natureza em uma dissertação em psicologia social.

Consideramos que o estranhamento em relação à discussão propriamente econômica presente em boa parte das páginas que seguem é um exemplo eloquente de como a fragmentação dos campos científicos produzida pela decadência ideológica da burguesia obsta a compreensão da realidade na perspectiva de uma totalidade organicamente articulada. A intenção política aqui é trazer este debate para dentro da psicologia, que, como argumentaremos adiante, precisa ser cada vez menos psicologia no sentido que a conhecemos para que esteja à altura dos desafios colocados para a produção de um conhecimento crítico sobre as dimensões subjetivas da realidade que possa se converter em ―força material‖ para a transformação revolucionária da realidade na perspectiva da emancipação humana. E para isso defendemos, por exemplo, que a lei da tendência de queda da taxa de lucro não é um assunto distante e muito menos alheio à questão da produção de sentidos e significados na constituição da consciência. Se na primeira parte da dissertação buscamos contribuir para tornar mais concreta a análise, que reputamos ser ainda tratada de forma demasiadamente abstrata, da relação dialética entre subjetividade e objetividade, nesta segunda parte buscamos contribuir para tornar mais concreta a análise, que também reputamos ser ainda tratada de forma demasiadamente abstrata pela psicologia, da dimensão objetiva da realidade. Consideramos que teremos contribuído com esta finalidade se ―capitalismo‖ não for mais apenas uma expressão heurística de potencial alegadamente ilimitado que é demandada toda vez que se precisa de alguma forma lidar com as bases econômicas da realidade, para as quais a psicologia não possui arcabouço analítico para lidar satisfatoriamente.

Se o objetivo contido nestes dois motivos é razoável, se foi alcançado e em que medida ou se fomos pretensiosos demais ao formulá-lo e buscar atendê-lo, submetemos à apreciação e ao debate. Consideramos, contudo, que era necessário e intelectualmente honesto expô-lo.

Talvez possamos formular ainda uma terceira justificativa para a realização da análise que iniciaremos agora. Ela nos permitirá começar a delinear um argumento que permeará toda a discussão nesta parte e também posteriormente na discussão específica sobre o trabalho de psicólogas(os), que se desdobra em uma sequência de quatro questões:

[1] As diversas maneiras pelas quais a pobreza tem sido concebida na história do capitalismo possuem como característica comum o fato de revelar aspectos parcialmente verdadeiros do fenômeno, ao mesmo tempo em que o mistificam. Neste sentido, a multiplicidade de explicações decorre de se isolar e privilegiar, a cada momento histórico e por este determinado, distintos elementos parciais do fenômeno sem que estes possam ser apreendidos enquanto momentos que compõem a totalidade social.

[2] Não se trata, porém, de mera inadequação metodológica na tentativa de apreensão do fenômeno, mas de concepções determinadas pelo contraditório imperativo de revelá-lo e ocultá-lo, isto é, de explicar um fenômeno que não pode ser ignorado, ao mesmo tempo em que é preciso justificá-lo ocultando suas determinações econômicas reais.

[3] Nestas concepções sempre estiveram presentes, em maior ou menor grau, ideias psicológicas, isto é, afirmações de que a pobreza possui aspectos psicossociais, seja em sua origem ou como sua consequência. Estes aspectos subjetivos da pobreza são atualmente hiper-estimados, sendo assumidos como centrais nas concepções de que a pobreza não pode ser reduzida a uma dimensão monetária.

[4] Esta ―virada‖ contemporânea em direção à subjetividade, contudo, não se dá como consequência de um aprimoramento teórico-metodológico e menos ainda de forma desinteressada, mas em decorrência das maneiras pelas quais, na crise estrutural do capital, se explicitam os limites objetivos de superação do fenômeno nos marcos deste modo de produção. Não se trata, portanto, do adequado reconhecimento da existência de uma dimensão subjetiva dos fenômenos sociais, que se relaciona dialeticamente com a dimensão objetiva, mas de um subjetivismo mistificado que renova e repõe concepções individualizantes e culpabilizantes.

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Para organizar a exposição, esta discussão será realizada em cinco capítulos. No Capítulo 4, discutimos como historicamente a pobreza se torna um

problema que demanda alguma forma de intervenção pública e as concepções produzidas, neste processo, sobre sua gênese e sobre as possibilidades de seu enfrentamento. Neste capítulo, ainda apresentamos uma conceituação de pobreza a partir da análise das suas causalidades no modo de produção capitalista.

No Capítulo 5, abordaremos como se constituem historicamente as políticas sociais enquanto resposta à "questão social" que decorre da representação política da pobreza enquanto problema público. Discutiremos também a forma particular de apresentação destas questões no contexto da crise estrutural do capital, da reestruturação produtiva e da implantação das políticas neoliberais. Abordaremos como estas condições históricas se desdobraram nas reformulações dos sistemas de proteção social e na ascensão das concepções "flexíveis" de pobreza, assim nomeadas aquelas que partem da crítica ao que entendem como rigidez das interpretações de pobreza como carência de renda (direta ou indireta na forma de acesso a determinado padrão de consumo de bens e serviços) e passam a enfatizar aspectos subjetivos e relacionais.

No Capítulo 6, analisamos, como exemplo destas concepções ―flexíveis‖, a noção de ―vulnerabilidade social‖, reconhecendo nesta uma produção ideológica que organiza e articula contemporaneamente a política de assistência social. Analisando suas bases materiais e funções ideológicas, apontamos o que entendemos ser a presença de formas subjetivistas e politicistas de apreender a pobreza e seu enfrentamento.

No Capítulo 7, abordaremos estas questões especificamente na realidade brasileira, discutindo algumas especificidade do pauperismo na forma de objetivação do capitalismo no país e como se desenvolveram os distintos modelos de políticas de assistência social e de enfrentamento da pobreza (justificaremos, inclusive, porque entendemos se tratar de duas políticas que se aproximam sem coincidir), focando, nesta narrativa histórica, a gênese tanto do modelo institucional de política social que temos hoje quanto as concepções nas quais este se sustenta.

Por fim, no Capítulo 8, discutiremos o enfrentamento da pobreza no Brasil contemporâneo, buscando relacionar às políticas sociais ao modelo de

―neodesenvolvimentista‖. Exploraremos indicadores socioeconômicos para discutir as transformações ocorridas recentemente no que se refere ao enfrentamento da pobreza, qual sua extensão e sua profundidade. Complementa esta discussão o estudo apresentado no Apêndice A. Discutiremos também qual o papel desempenhado pelas políticas sociais e econômicas nesta redução da pobreza. Esta discussão nos conduz, por sua vez, à necessidade de apreender o ―neodesenvolvimentismo‖ e discutir a dimensão política destes processos e como estes podem impactar a composição, a correlação de forças e as lutas entre classes sociais no país.

CAPÍTULO 4.

A POBREZA E O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Neste capítulo, apresentaremos elementos para discutir a especificidade do modo de produção capitalista como gerador de um impressionante acúmulo simultâneo de riqueza e de miséria, como aponta Marx (2013) na citação que abre esta segunda parte. Buscando apresentar um quadro geral do problema, discutiremos: [1] como a pobreza se torna, no ocaso do modo de produção feudal, um problema que demanda intervenção pública e as primeiras formas que esta intervenção assume; [2] as condições extremas de pobreza que marcam as primeiras décadas após a Revolução Industrial, como a pobreza se torna objeto da economia política e quais as principais concepções produzidas para explicá-la; [3] o sistema de causalidades da pobreza no modo de produção capitalista, ou seja, como este modo de produção de riqueza é também necessariamente um modo de produção de pobreza.

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 164-175)