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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL NIVEL MESTRADO

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FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL NIVEL MESTRADO

LARAH BEATRÍSSIA QUEIROZ OLIVEIRA

A PROTEÇÃO JURÍDICA AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL BRASILEIRO

CUIABÁ 2015

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LARAH BEATRÍSSIA QUEIROZ OLIVEIRA

A PROTEÇÃO JURÍDICA AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL BRASILEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Agroambiental, na linha de pesquisa de Direito do Trabalho, oferecida pela Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientadora: Profª. Drª. Carla Reita Faria Leal

CUIABÁ 2015

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Quero agradecer,

A Deus, fonte de toda força, pois sem ele, não teria conseguido concluir este estudo.

Aos meus familiares, na pessoa da minha querida mãe, que me ensinou a perseverar sempre para alcançar meus objetivos e em especial a meu sobrinho Éverth que me auxiliou neste trabalho.

A meu marido, Daniel, pelo amor, força e carinho que nestes 14 anos de união temos vivido.

Ao meu filho Davi que apesar de estar no ventre, já é amado, querido e ansiosamente aguardado por todos. Não poderia deixar de exaltar a presença amável e fiel dos meus queridos Scoth e Pith.

Aos amigos que entenderam os motivos de minha ausência.

Aos servidores e professores da UFMT, que fazem com que esta instituição tenha seu valor e reconhecimento próprio.

E, à minha professora e orientadora, Carla Reita Faria Leal, por todas as vezes que me recebeu com um sorriso e sempre pronta para transmitir seus vastos conhecimentos jurídicos e conselhos amigos.

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RESUMO

O presente estudo analisa o meio ambiente como um todo e em face de sua classificação, restringe a pesquisa ao meio ambiente do trabalho rural, onde os trabalhadores permanecem grande parte da sua vida, devendo ele, para garantir dignidade, saúde e segurança aos que ali laboram, ser sadio, adequado e equilibrado, o que representa um direito fundamental, em consonância com a legislação nacional e internacional. Todavia, apesar da farta normatização a respeito do assunto, a degradação do meio ambiente do trabalho rural e mesmo a exploração dos trabalhadores é assustadora, pois que compreende desde o não cumprimento de simples normas de segurança e saúde até a redução do trabalhador à condição análoga a de escravo, ferindo a dignidade da pessoa humana. Diante destas grandes questões que se colocam, o Poder Público, seja por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, seja por intermédio do Ministério Público do Trabalho e da Justiça do Trabalho, contando ainda com a parceria de outras instituições, vêm intensificando suas ações em prol da defesa do direito à dignidade, saúde e segurança do trabalhador rural. No entanto, as articulações do Poder Público são um tanto tímidas diante dos problemas apontados, o que requer com urgência, maior efetividade no cumprimento das normas legais. É no intuito de explorar os níveis desta proteção no Brasil que este trabalho veio à tona, sendo adotado o método científico, com pesquisa bibliográfica. Ao final da pesquisa, concluiu-se que, apesar dos esforços nacionais e internacionais em proteger o meio ambiente do trabalho rural, e mesmo havendo um número considerável de normas legais a respeito, ainda há dificuldades na sua implementação prática.

PALAVRAS-CHAVES: Meio Ambiente do Trabalho Rural. Degradação. Inefetividade da legislação aplicável.

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ABSTRACT

The current study analyzes the environment, considering both its totality and its classification, and restricts the research on the rural work environment, where the laborers remain for the most part of their lives. In order to assure dignity, health and security for those who labor there, this environment must be healthy, suitable and balanced. It represents a fundamental right in line with the national and international legislation. However, although the abundant regulation about this subject, the degradation of the rural work environment and even the exploitation of the laborers are scary, for it comprehends since the non-compliance of simple norms of safety and health to the debasement of the laborer to a slave-like condition, wounding the dignity of the human person. Faced with these great questions that are presented, the public Power, either by the mediation of the Department of Labor and Employment, either by the Public Ministry of Labor and the Labor Courts, also counting with the support of other institutions, has been intensifying its actions to defend the right to the dignity, the health and the security of the farm worker. Nevertheless, the articulations of the public Power are quite weak in face of the problems presented, what requires urgently more effectiveness in the compliance of the legal regulations. It is in order to explore the levels of this protection in Brazil that this work came out, adopting the scientific method, with bibliographical search. At the end of the research, the conclusion is that, in spite of the national and international efforts to protect the rural work environment, and even with a reasonable number of legal regulations about it, there are still difficulties in their practical implementation. KEYWORDS: Rural Work Environment. Degradation. Ineffectiveness of the legislation.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1. MEIO AMBIENTE E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ... 14

1.1 Conceito de meio ambiente ... 14

1.1.1 Visões ecocêntrica e antropocêntrica ... 22

1.2 Classificação ... 27

1.2.1 Meio ambiente natural ... 29

1.2.2 Meio ambiente artificial ... 31

1.2.3 Meio ambiente cultural ... 32

1.2.4 Meio ambiente do trabalho ... 33

1.2.4.1 Conceito ... 35

1.2.4.2 Natureza jurídica... 41

2. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ... 47

2.1 Histórico da degradação do meio ambiente do trabalho ... 47

2.1.1 Uma visão global do fenômeno ... 47

2.1.2 O cenário da Revolução Industrial ... 49

2.1.3 As respostas ideológicas ... 51

2.1.4 Da luta advêm as conquistas ... 54

2.1.5 Perspectivas atuais ... 55

2.1.6 Panorama brasileiro ... 60

2.2 A supremacia do princípio da dignidade humana ... 67

2.3 A saúde do trabalhador no meio ambiente do trabalho e sua acepção constitucional ... 69

3. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ... 79

3.1 Historicidade ... 79

3.2 Contextualização ... 82

3.2.1 Conceito de empregado rural e empregador rural ... 85

3.2.2 Da afirmação dos direitos dos empregados rurais ... 87

3.3. Legislação Rural ... 89

3.3.1 A Lei do Trabalho Rural – 5.889/1973 ... 90

3.3.2 A Portaria n. 3.067/1988 ... 93

3.3.3 A NR 31 do Ministério do Trabalho e do Emprego ... 96

3.3.4 As Convenções da OIT ... 105

3.3.4.1 Convenção 184 da OIT – Saúde e Segurança na Agricultura ... 106

3.3.4.2 Convenção 148 da OIT – Sobre a proteção dos trabalhadores contra os riscos devidos à contaminação do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho. ... 109

3.3.4.3 Convenção 155 da OIT – Sobre segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho ... 111

3.3.4.4 Convenção 161 da OIT – Serviços de Saúde do Trabalho ... 117

3.3.4.5 Convenção 29 e 105 da OIT – Sobre o trabalho forçado ... 120

3.4 Violações normativas mais comuns na atividade rural ... 124

3.4.1 Direito ao lazer ... 124

3.4.2 A NR 31 e os agrotóxicos ... 129

3.4.3 Escravidão contemporânea ... 139

3.4.3.1 Modos de execução da prática de redução à condição análoga de escravo ... 144

(9)

3.4.3.2.1 Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) ... 162

3.4.3.2.2 O cadastro de empregadores na lista suja ... 165

3.4.3.2.3 A desapropriação da propriedade rural ... 168

3.4.3.2.4 A expropriação da propriedade rural ... 171

3.4.3.2.5 A atuação do Ministério Público do Trabalho ... 175

3.5 A Contemporaneidade do Direito do Trabalho Rural ... 182

CONCLUSÃO ... 188

(10)

INTRODUÇÃO

Desde que se conhecem registros escritos sobre a humanidade, o homem utiliza-se do trabalho para sua sobrevivência e seu sustento material. Deve-se considerar que quase todas as atividades laborativas podem levar a pessoa a algum tipo de risco ou acidente e, exatamente por isso, o meio ambiente onde o trabalho é desenvolvido deve ser protegido com rigor.

A consciência de que o ofício humano pode ser prejudicial à saúde é relativamente antiga, mas a devida proteção à saúde do trabalhador, bem como ao meio ambiente do trabalho equilibrado é uma conquista recente. Em outras palavras, a história do direito do trabalho não se confunde com a história do trabalho, pois este remonta à história da própria humanidade, enquanto o direito do trabalho surge em uma circunstância histórica específica: as péssimas condições de vida, para não dizer, subumanas, em que viviam os trabalhadores após o marco histórico conhecido por Revolução Industrial.

Em meio aos acontecimentos, a massa trabalhadora, influenciada pela proliferação de idéias sociais, adquiriu consciência de classe e da união auferiu poder, favorecendo uma atividade reivindicativa, inclusive a respeito da necessidade de proteger o meio ambiente do trabalho, tendo como foco não o ambiente em si, mas a saúde do trabalhador, cuja integridade era constantemente ameaçada não só pela ação muitas vezes inescrupulosa de seus empregadores, como também pela condenável omissão do Estado.

De fato, os direitos dos trabalhadores encontraram múltiplas barreiras antes de serem reconhecidos, o que não foi diferente no setor rural, mesmo porque os poucos camponeses que resistiram ao êxodo rural tiveram que suportar e se submeter aos mandos dos senhores de terras, que tinham como única preocupação, a produção de riquezas, com a completa marginalização dos trabalhadores.

Imperioso notar que as conquistas alcançadas por meio das reivindicações, quase sempre partiram dos trabalhadores urbanos, já que não havia uma conscientização política organizada dos trabalhadores rurais, portanto, a proteção ao trabalhador rural, se não foi fruto de uma luta de classes, foi um reflexo natural do avanço do direito social.

Fazendo-se um paralelo, aqui no Brasil, especificamente no âmbito rural, os problemas enfrentados pelos trabalhadores no que diz respeito ao atendimento das

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normas de segurança e saúde, apesar de ter ao longo dos séculos melhorado, ainda deixa a desejar e muitas vezes tal trabalho chega a ser comparado ao processo histórico da escravidão, todavia, uma escravidão contemporânea, onde a pessoa é tratada como se fosse mercadoria, havendo um poder total exercido sobre a vítima, ainda que temporariamente, o que diferencia da escravidão Colonial, onde manter as pessoas escravas era questão permanente e legal. Ocorre que atualmente, mesmo que disfarçadamente, ainda há formas de trabalho forçado ou obrigatório no país que reduzem a pessoa a condições subumanas, desrespeitando o princípio da dignidade da pessoa humana, tais como, o trabalho sem registro em CTPS, mediante fraude ou violência (física ou moral), o regime de trabalho forçado, sob vigilância armada e em muitos casos sem remuneração, a servidão por dívida, condições degradantes do meio ambiente do trabalho ou mesmo a restrição de locomoção, dentre outros.

A par disso, a situação acima contraria o ditame constitucional do Estado Democrático de Direito que preza pela conformância das relações de trabalho aos direitos fundamentais, ao passo que embora haja vínculo de subordinação entre empregador e empregado, este não poderá ser privado de seus direitos e liberdades, obrigação que tem por conteúdo o respeito aos direitos inerentes à dignidade da pessoa.

Pois bem. Reportando-se ao presente estudo, independentemente do ofício exercido, o meio ambiente do trabalho deve gozar da devida proteção, visando, em última instância, assegurar o interesse humano. O que se pretende é proceder a uma discussão conceitual e teórica sobre as normas de segurança e saúde do trabalhador no meio ambiente do trabalho rural, tema tão complexo e pouco explorado no mundo jurídico.

Nesse sentido, no meio rural, ressalta-se a influência da mecanização da agricultura, mormente por meio da chamada Revolução Verde, a questão dos agrotóxicos e seus efeitos na estrutura natural e humana, bem como a submissão dos trabalhadores rurais às condições análogas à de escravo, como que compondo os temas, a exploração econômica provocada pelo sistema capitalista, que determina a constância e a força com que acontece e influencia a degradação do meio ambiente do trabalho.

É importante destacar que, neste trabalho, não se opta por tomar, absolutamente, uma atitude contrária a todo e qualquer avanço científico e

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tecnológico proporcionado pelo capitalismo. Ao contrário, está-se consciente de que tais avanços não só aprimoram a produção agrícola, dispensando métodos arcaicos ou demorados, como contribuem para a própria humanidade, oferecendo-lhe a possibilidade de um acesso mais amplo aos meios para seu sustento básico, como a alimentação. No entanto, nenhum desses avanços resultará em efetivo benefício aos homens se não forem dirigidos de modo a buscar o respeito às normas de saúde e segurança dos trabalhadores, em direção à dignidade da pessoa humana, que se traduz no fundamento da ordem econômica, segundo a Constituição brasileira de 1988: a valorização do trabalho humano, pressupondo o respeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores, entre eles, o direito à saúde e à segurança.

Portanto, mesmo diante das vantagens que a economia proporciona, deve sempre se analisar se estas não estão em conflito com as situações que envolvam o meio laboral saudável, já que por este o trabalhador alcança o seu bem-estar físico, psíquico e social, aspectos sustentados pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Interessante apontar que a intenção não é defender a obstacularização do exercício da atividade econômica como um todo, mas somente aquelas que provoquem prejuízos e degradação ambiental, elevando em muitas vezes os índices de agressões à saúde e segurança do trabalhador.

Assim, a presente pesquisa se propõe a verificar qual a proteção que o direito estabelece ao meio ambiente do trabalho, especificamente no espaço rural, onde os trabalhadores permanecem grande parte de sua vida sujeitos a uma série de riscos e agressões à saúde. Com efeito, sua qualidade de vida está diretamente ligada a do seu meio ambiente de trabalho, o qual, para garantir dignidade, saúde e segurança, deve ser sadio, adequado e equilibrado, o que representa um direito fundamental, expressão da efetividade do próprio princípio constitucional do direito à vida.

Nessa perspectiva, o objetivo geral do estudo é analisar as condições do meio ambiente do trabalho rural no Brasil, a partir das normas vigentes, com ênfase na proteção dos trabalhadores, como corolário de um direito fundamental ao meio ambiente do trabalho equilibrado e à saúde do trabalhador. Já os objetivos específicos, se configuram na avaliação das normas de proteção ao meio ambiente do trabalho rural existentes, bem como se há deficiência legislativa e prováveis soluções; análise do comprometimento do Poder Público em relação à fiscalização adequada do meio ambiente do trabalho rural, em face da dignidade da pessoa

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humana e dos avanços tecnológicos, considerando que suas decisões podem interferir em interesses econômicos e mesmo compreender as dificuldades dos trabalhadores no tocante à utilização dos instrumentos de proteção no meio ambiente de trabalho, em face dos problemas de analfabetismo, instrução, pobreza e falta de serviços básicos que contribuem para a manutenção das precárias condições de trabalho.

A pesquisa ora alinhavada tem como pano de fundo a demonstração do grau de descaso a que estão sujeitos os trabalhadores brasileiros, em especial os que laboram no campo, até porque a degradação do meio ambiente do trabalho rural não é um aspecto isolado, está intimamente ligada ao modelo econômico adotado e reflete problemas na saúde pública que atinge em especial, todos os trabalhadores.

Para a consecução dos objetivos, o trabalho será baseado, principalmente, em revisão bibliográfica, sendo, portanto, essencialmente, dissertativo.

A exposição textual da dissertação se compõe, além da introdução, de três capítulos e conclusão.

No capítulo 1, será abordado o conceito de meio ambiente geral, as correntes filosóficas a respeito da essência do direito ambiental, bem como as suas classificações, em meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. Também se buscará o conceito de meio ambiente do trabalho e, por fim, a delimitação de sua natureza jurídica.

No capítulo 2, será dado ênfase à proteção ao meio ambiente do trabalho, com enfoque do histórico do desenvolvimento das relações de trabalho, desde o cenário global até o panorama brasileiro. Também merecerá atenção neste capítulo o princípio da dignidade da pessoa humana, e por último, a configuração da saúde do trabalhador no meio ambiente do trabalho e sua acepção constitucional.

Já no capítulo 3, será registrada a evolução da legislação do trabalho rural no Brasil e sua contextualização com apontamento da atual legislação sobre o tema, destacando-se a Lei do Trabalho Rural (5.889/1973); a Portaria 3.067/1988; a NR 31 do Ministério do Trabalho e do Emprego, bem como as Convenções Internacionais, que têm relação direta com as normas de direito ambiental do trabalho rural. Também será feita uma avaliação das violações normativas mais comuns à luz das atividades rurais, fazendo-se alusão ao direito ao lazer, o descumprimento da NR 31, especificamente no que relaciona ao uso de agrotóxicos e a escravidão contemporânea. Por fim, abordar-se-á a realidade do meio ambiente laboral rural

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brasileiro, apontando-se possíveis soluções para a proteção da saúde e segurança do trabalhador rural de forma efetiva.

Por derradeiro, na conclusão, tentar-se-á apresentar uma síntese do que foi averiguado, com apontamentos para outras possibilidades de investigação a partir da pesquisa realizada.

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1. MEIO AMBIENTE E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

1.1 Conceito de meio ambiente

Antes da definição de meio ambiente do trabalho, é oportuno ser aclarado qual o significado de meio ambiente. Apesar de redundante, posto que ambiente pressupõe o meio no qual o homem está inserido, ou seja, tudo aquilo que o cerca e o rodeia, a expressão foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, sendo que atualmente não se consegue compreender o todo, quando não há a conjunção das duas palavras. É que o intuito está na preservação do reforço do significado apresentado.

Assim entende José Afonso da Silva:

A necessidade de reforçar o sentido significante de determinados termos em expressões compostas, é uma prática que deveria do fato de o termo reforçado ter sofrido enfraquecimento no sentido a destacar, ou, então, porque a sua expressividade é mais ampla ou mais difusa, de sorte a não satisfazer mais, psicologicamente, a ideia que a linguagem quer expressar. Este fenômeno influencia o legislador, que sente a imperiosa necessidade de dar, aos textos legislativos, a maior precisão significativa possível, daí por que a brasileira, incluindo normas constitucionais, também vem empregando a expressão meio ambiente, em vez de ambiente apenas.1

Pois bem, mas o que vem a ser meio ambiente? A primeira legislação pátria a respeito da questão ambiental de uma forma geral, embora não tenha definido o meio ambiente, tratou do controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais, consoante o Decreto-Lei 1.413, de 14 de agosto de 19752. Em seguida, foi aprovada a Lei 6.938, de 31 de agosto de 19813, que dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, tendo pela primeira vez aqui definido meio ambiente, no seu artigo 3º, inciso I, como o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

1

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 12.

2

BRASIL. Decreto-Lei n. 1.413, de 14 de agosto de 1975. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=122915>. Acesso em: 11.04.2014.

3

BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 11.04.2014.

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Denota-se que o conceito acima é propositalmente amplo e aberto, posto que, ao que parece, a intenção não era esgotar ou mesmo restringir o conteúdo de meio ambiente a certas peculiaridades, fator decisivo para que fosse recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que, no seu artigo 225*, buscou tutelar todos os seus aspectos, desde o natural, artificial e cultural até o do trabalho.

O conceito amplo segundo Marcelo Abelha Rodrigues, se dá porque:

Numa escalada, pode-se dizer que se protegem os elementos bióticos e abióticos e sua respectiva interação, para se alcançar a proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, porque este bem é responsável pela conservação de todas as formas de vida. Possui importância fundamental a identificação do meio ambiente ecologicamente equilibrado como sendo um bem autônomo e juridicamente protegido, de fruição comum (dos elementos que o formam), porque, em última análise, o dano ao meio ambiente é aquele que agride o equilíbrio ecológico, e uma eventual reparação deve ter em conta a recuperação desse mesmo equilíbrio ecológico.4

Enfim, o meio ambiente protegido em nossa legislação abarca, lato sensu, todos os recursos ambientais de forma a não excluir nem mesmo o ser humano, ligado ao processo de transformação, já que suas decisões são muitas vezes decisivas à saúde da terra. A perspectiva de atuação conjunta em prol de um bem maior foi acentuada na própria lei de Política Nacional do Meio Ambiente, ao dispor, no artigo 2º, inciso I, sobre a manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o

meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo, sem desfigurar que cada um por si só tem o

*Cf. art. 225 da Constituição Federal, de 05 out. de 1988, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 11.04.2014.

4

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de direito ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2002, v. 1, p. 58.

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direito a um meio ambiente de qualidade e, para tanto, deverá se comprometer com os deveres em relação a esse.

Nesse sentido, cabe a visão de Leonardo Boff:

A preocupação com o ambiente (ou com a ecologia) não é, enfim, luxo de classes dominantes ou modismo momentâneo – a questão ecológica remete a um novo estágio da consciência mundial: a importância da Terra como um todo, o destino comum da natureza e do ser humano, o bem comum tanto como bem das pessoas, das sociedades, como do conjunto dos seres da natureza lembra “o risco apocalíptico que pesa sobre todo o criado” - pois o homem pode tanto ser “o anjo da guarda como o satã da Terra” -, terra que é nossa responsabilidade comum e sofre e sangra, “especialmente em seus filhos mais singulares, os oprimidos, os marginalizados e os excluídos” – que são as grandes maiorias dos tempos atuais, a partir das quais impõe-se pensar o equilíbrio universal e a nova ordem ecológica mundial.5

Cabe apontar que a preocupação com o meio ambiente, antes mesmo de ser expressada nas leis nacionais, já era conhecida nas relações internacionais, desde a 1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, ano de 1972, com a presença de países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que era extremamente positivo para aquele tempo, pois ainda se vivia a Guerra Fria, que dividia grande parte das nações mais industrializadas, algumas menos preocupadas com o meio ambiente.

A partir dali, dada a consciência do quadro de emergência e o aguçamento dos problemas relativos à ordem planetária, vários instrumentos legais em matéria ambiental foram adotados, ainda mais com a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992, período em que as Nações Unidas procuraram estabelecer sistema de coordenação da temática ambiental de forma global e articulada, o que resultou na estruturação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), um núcleo de apoio às ações e coordenações das questões ambientais, bem como a confecção de princípios e recomendações6.

Todos os países, organismos das Nações Unidas e organizações internacionais foram convocados a cooperar na busca de soluções para uma série de problemas ambientais. Esses documentos, embora não fossem produzidos para

5

BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização e espiritualidades. São Paulo: Ática, 1993, p. 15.

6

ROCHA, Julio César de Sá da. Direito ambiental do trabalho: mudanças de paradigma na tutela

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aplicação prática, representaram as intenções daqueles que participaram em forma de princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões relacionadas a questões ambientais.

Apenas para ilustrar o compromisso, o princípio 1º da Declaração afirma que:

o ser humano tem o direito fundamental a liberdade, igualdade e condições de vida adequadas, num meio ambiente de uma qualidade tal que permita uma vida de dignidade e bem-estar, e tem uma responsabilidade solene de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. 7

A correlação meio ambiente saudável e vida digna iniciou aqui seus primeiros passos, a partir da qual veio a nossa legislação. Apesar da existência de algumas leis e regulamentos esparsos em prol da proteção ao meio ambiente, somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988 é que foram construídos em definitivo os fundamentos dessa proteção.

O bem protegido, o meio ambiente, passou a ter importância própria ao lado de outros bens dispostos na Carta Magna, tendo para isso um espaço próprio e peculiar, inserido na Ordem Social, no Capítulo VI do Título VIII, remetendo a um dos objetivos da República, o aspecto social, meta perseguida tanto pelo Poder Público, quanto pela sociedade como um todo.

Trata-se de um direito fundamental de 3ª geração* e está incluído entre os direitos da solidariedade ou fraternidade, sendo, portanto, indisponível, com conteúdo de universalidade já que traz desafios, não mais apenas à vida e à

7

ONU, Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Estocolmo: [S.I.], 1972. Disponível em: < http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/estocolmo1972.pdf>. Acesso em 11.04.2014.

*Embora haja divergência doutrinária a respeito da utilização dos termos geração e dimensão, alegando os adeptos desta última que a expressão geração poderia induzir à falsa idéia de que uma geração posterior substituiria a anterior, o que não é verdade, o certo é que em relação ao conteúdo desses direitos a doutrina não diverge. Posto isso, optou-se pela expressão geração.

No sentido de explicar melhor o que vem a ser 3ª geração, necessário entender que em dados momentos a sociedade engloba outros valores na medida em que as demandas históricas impulsionam para novos caminhos. Considerando este aspecto, as gerações representam as etapas históricas dos direitos humanos, posições subjetivas que vão se concretizando ao longo do tempo, conduzindo ao progressivo aprofundamento e desenvolvimento do ser humano. Portanto, cada geração contextualiza o seu momento histórico, é uma etapa evolutiva. Sendo assim, a 3ª geração busca a qualidade ambiental como elemento indispensável à vida digna. É a representação do Estado Socioambiental, com objetivo na solução dos problemas de degradação ambiental planetários. Embora não substitua os direitos fundamentais de 1ª e 2ª geração, o que deles distanciam e caracteriza a 3ª geração é o seu caráter transindividual, com titularidade indefinida e indeterminável.

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liberdade, mas especialmente à qualidade de vida e à solidariedade entre os seres humanos e todas as raças e nações. Aparece no ordenamento jurídico como direito coletivo ou difuso, tendo como característica marcante o fato de não poder ser dividido pelos atores sociais e pertencer a todos ao mesmo tempo, não podendo ser concedido a um ou a outro indivíduo de forma separada, justamente por se tratar de bem de uso comum do povo.

É nesse momento que surge a cooperação entre os homens e mesmo do Estado em prol da consciência ambiental, ainda mais porque os problemas ocasionados ao meio ambiente têm grande parcela de participação destes atores, não havendo dúvidas de que juntos deverão garantir ou mesmo restabelecer o equilíbrio deste meio, ao passo que dele todos dependem. Não cabe somente ao Estado a responsabilidade na proteção, esta deve ser exercida conjuntamente com a sociedade.

De fato, considerando que a Constituição Federal, no artigo 225, caput, como já visto, assegura o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, está nítido que se estabeleceu o direito ao ambiente sadio como

um direito fundamental do indivíduo, portanto, direito público subjetivo, o que consequentemente revela o atendimento a outro valor fundamental, o da vida, como bem retrata Tiago Fensterseifer:

O conceito de vida hoje se desenvolve para além de uma concepção estritamente biológica, ao passo que os elementos “digna” e “saudável” lhe impõem um conceito mais amplo, contemplando uma dimensão existencial plena para o desenvolvimento da personalidade humana, para o que a qualidade do ambiente passa a ser um componente nuclear. À ordem jurídica cumpre acompanhar a dinâmica da vida em face dos novos desafios existenciais postos pela degradação ambiental, ampliando o seu âmbito de proteção de modo a contemplar no seu campo normativo a proteção da vida inclusive contra as novas ameaças de natureza ecológica (como, por exemplo, a contaminação química e nuclear, a degradação ambiental, o aquecimento global, etc.).8

Então, o meio ambiente com qualidade passou a ser pressuposto para uma vida digna, situação também albergada pela Constituição Federal, no seu artigo 1º,

8

FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 62.

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inciso III, quando revela que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana.

Assim, a dignidade humana está diretamente ligada à saúde do ambiente, em frequente vigilância aos riscos e ameaças que a cada tempo surgem, sinais da degradação ambiental, não tolerada pelo ordenamento jurídico brasileiro, ainda mais quando o que se busca é a proteção ambiental para o desenvolvimento da sadia qualidade de vida do indivíduo que está inserido no meio.

É o que pensa José Afonso da Silva:

A proteção ambiental que visa a tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de vida é uma forma de direito fundamental da pessoa humana, direito este que foi reconhecido pela Declaração do Meio Ambiente, adotada pela Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, em junho de 1972, cujos vinte e seis princípios constituem prolongamento da Declaração Universal dos Direitos do Homem.9

O ser humano tem direito fundamental garantido de viver em um ambiente saudável e equilibrado, para que possa desfrutar de condições de vida adequadas, em um ambiente de qualidade suficiente para assegurar o seu bem estar, mas também tem o dever de preservá-lo para as gerações futuras, uma vez que a degradação e o esgotamento dos recursos naturais inviabilizarão a vida no planeta.

Este também é o entendimento de Tiago Fensterseifer ao revelar que:

No âmbito do Estado Socioambiental de Direito, a “referência ao outro” toma uma amplitude maior, uma vez que busca proteger também um “outro” que se encontra num espaço temporal-geracional distinto do presente (ou seja, no plano futuro). Dessa forma, pode-se dizer que a dignidade humana fundamenta tanto a sociedade já constituída como também aquela ainda a ser constituída no futuro, apontando para deveres e responsabilidades das gerações presentes para com as gerações humanas futuras, em que pese a herança negativa em termos ambientais legada pelas gerações passadas. Esse é o conteúdo da norma constitucional expressa no art. 225, caput, a qual deposita nas mãos do Estado e dos atores privados o “dever” de preservar e proteger o ambiente para as presentes e futuras gerações humanas.10

É importante destacar que a denominação Estado Socioambiental veio justificar o novo modelo de Estado de Direito, principalmente em face da

9

SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 36.

10

(21)

metodologia jurídico-constitucional apresentada. Para esse modelo, a preocupação volta-se para interesses sociais e ecológicos, ambos notadamente interligados ao princípio da dignidade da pessoa humana. Insere-se, além do enfrentamento de questões ecológicas, o fator social, pois a ausência de direitos sociais básicos à população também é causa de degradação ambiental. Portanto, há a necessidade de se apoiar a proteção destes direitos fundamentais conjugados com a dignidade humana.

Segundo Alexandre de Moraes,

A preocupação com a preservação do meio ambiente - que hoje transcende o plano das presentes gerações, para também atuar em favor de gerações futuras - tem constituído objeto de regulações normativas e de proclamações jurídicas que, ultrapassando a província meramente doméstica do direito nacional de cada Estado soberano, projetam-se no plano das declarações internacionais que refletem, em sua expressão concreta, o compromisso das Nações com o indeclinável respeito a esse direito fundamental que assiste a toda a Humanidade. Dentro desse contexto, emergem com nitidez a idéia de que o meio ambiente constitui patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando-se como encargo que se impõe – sempre em benefício das presentes e futuras gerações – tanto do Poder Público, quanto à coletividade.11

É em prol da efetivação do meio ambiente ecologicamente equilibrado que todos devem se unir, cabendo ao Estado o compromisso de tutelar e garantir uma vida digna aos indivíduos, com a concretização dos direitos fundamentais, mediante ações protetivas e promocionais.

Imperioso afirmar que embora o conceito de meio ambiente esteja descrito no artigo 3º, inciso I, da Lei 6.938/81, há discussão doutrinária a respeito da conceituação definitiva, ainda mais quando há referência a meio ambiente equilibrado e a sadia qualidade de vida, no caput do artigo 225 da Constituição.

Paulo Bessa Antunes descreve meio ambiente como um conjunto de ações,

circunstâncias, de origens culturais, sociais, físicas, naturais e econômicas que envolvem o homem e todas as formas de vida12.

Segundo Norma Sueli Padilha, o conceito de meio ambiente é abrangente e interdisciplinar:

11

MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 2188.

12

(22)

O conceito de meio ambiente é amplíssimo, na exata medida em que se associa à expressão “sadia qualidade de vida”. Trata-se, pois, de um conceito jurídico indeterminado, que, propositadamente colocado pelo legislador, visa criar um espaço positivo de incidência da norma, ou seja, ao revés, se houvesse uma definição precisa do que seja meio ambiente, numerosas situações, que normalmente seriam inseridas na órbita do conceito atual de meio ambiente, poderiam deixar de sê-lo, pela eventual criação de um espaço negativo inerente a qualquer definição.13

Raimundo Simão de Melo14, partindo do conceito legal estabelecido na Lei 6.938/81, observa que o legislador optou por trazer um conceito jurídico aberto, com a finalidade de criar um espaço positivo de incidência da norma legal, o qual se encontra em plena harmonia com a Carta Magna, já que no caput do artigo 225 se buscou tutelar todos dos aspectos do meio ambiente, desde o natural, artificial e cultural até mesmo o do trabalho.

Por fim, Tessler destaca que o conceito de meio ambiente depende da concepção filosófica adotada:

A determinação de seu conteúdo depende da perspectiva adotada: antropocêntrica ou ecocêntrica. Partindo-se de uma concepção ecocêntrica, o conceito de meio ambiente engloba apenas os elementos ambientais naturais. Já em uma compreensão antropocêntrica, assume um perfil mais amplo – abarca, além dos elementos naturais, os efeitos de suas relações com o homem.15

Apesar das inúmeras posições a respeito do conceito de meio ambiente, sem dúvida pode-se apontar que elas têm sua parcela de importância, na medida em que compreendem todos dos aspectos do meio ambiente, desde o natural, artificial, cultural e mesmo o do trabalho.

Antes de adentrar especificamente na classificação do meio ambiente, é importante entender a discussão filosófica tratada a seguir, para se compreender onde o meio ambiente está alicerçado.

13

PADILHA, Norma Sueli. Do meio ambiente do trabalho equilibrado. São Paulo: LTr, 2002, p. 21.

14

MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 4. ed. São Paulo: LTr, 2010, p. 29.

15

(23)

1.1.1 Visões ecocêntrica e antropocêntrica

É de grande importância entender as convicções e seus fundamentos filosóficos a respeito da essência do direito ambiental, posto que essas introduzem perspectivas diferenciadas a respeito do tema e mesmo em relação ao próprio conceito de meio ambiente.

Os adeptos da corrente filosófica do ecocentrismo abraçam a afirmação de que o homem tem ligação direta com a natureza, dela não se desvinculando. Não há qualquer separação entre ser humano e natureza, ainda porque essa tem seu valor intrínseco, devendo ser preservada pelos suas próprias vantagens e não pela vontade dos homens, que pode vê-la como oportunidade para seus interesses pessoais.

Fritjof Capra, defensor dessa visão, que ele denominou de ecologia profunda, apregoa uma visão de mundo holística, concebendo-o como um todo conjugado, ao invés de uma coletânea de partes desconexas.

A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).16

O que se busca no ecocentrismo é harmonizar a convivência planetária entre as diversas espécies, entre elas a do ser humano, haja vista que não há desigualdade entre elas, possuindo cada uma o seu direito intrínseco particular.

Júlio Cesar de Sá Rocha esclarece que:

o ecocentrismo consubstancia-se, dentre outros parâmetros filosóficos, pela ecologia profunda. Nota-se que se entende que o ser humano constitui parte integrante do mundo natural. Os elementos da natureza (mundo não humano), como, por exemplo, animais, plantas, possuem igual importância e direitos.17

Enfim, a corrente ora tratada estabelece que todos os seres que habitam este planeta, sem distinção, têm seu próprio valor, e que um não tem qualquer prevalência em relação ao outro, convivendo todos a partir de uma relação integrada

16

CAPRA, Fritjof. A teia da vida. 8. ed. São Paulo: Cultrix, 2003, p. 25.

17

(24)

e harmoniosa, na busca do equilíbrio, que influenciará nas necessidades do homem, já que o mesmo integra a natureza.

Já no que cabe ao antropocentrismo, tudo gira em torno do indivíduo, sendo ele o fim em si mesmo, o centro das atenções, estando a ele subordinados todos os demais seres. Aqui não há uma integração entre a natureza e o homem, pois aquela não é vista com valor próprio, estando destinada a satisfazer às necessidades do homem dominador.

Há ainda as divisões entre antropocentrismo radical (egocentrismo) e antropocentrismo conservacionista. No primeiro, o que se busca, acima da preservação ambiental, é a satisfação dos interesses econômicos; mitiga-se a depredação da natureza em prol do avanço econômico, como bem traduz Júlio Cesar de Sá Rocha:

Com efeito, existindo conflito entre a atividade econômica e proteção ambiental, o empreendimento humano deve prevalecer, pois representa possibilidade de atuação das forças de mercado na busca do desenvolvimento econômico e prosperidade mundial. Em realidade, o mundo natural é submetido a interesses econômicos e ao consumismo.18

Já em relação ao antropocentrismo conservacionista, há a preocupação com a proteção ambiental, mesmo porque o homem precisará de certos recursos. Cuida-se de um interesCuida-se voltado às expectativas humanas, e não pelo valor que a natureza possui em si. Ainda aqui o interesse do homem prevalece, como esclarece ainda Júlio Cesar de Sá Rocha,

Tutelam-se, juridicamente, a fauna, a flora, as florestas e os demais recursos naturais em razão do próprio ser humano, por diferenciadas razões e justificativas. Por exemplo, as primeiras legislações estendem utilitariamente a proteção a determinados recursos naturais, com na proteção específica de determinadas espécies de peixes e pássaros, enquanto se estimula a destruição indiscriminada de outros. Observa-se que são criadas reservas, parques e clubes de caça, para que o homem possa divertir-se, mantendo-se determinadas espécies de interesse.19

De um modo geral há várias especulações doutrinárias em torno da visão adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, pois enquanto alguns entendem como

18

ROCHA, op. cit., p. 57.

19

(25)

visível o antropocentrismo, com todas as suas características, há outros que garantem uma influência ecocêntrica e, por isso, uma mudança de ótica no panorama, já que os benefícios seriam para todo o ecossistema e não só para o homem.

Em face do que estabelece o caput do artigo 225 da Constituição Federal, quanto à expressão sadia qualidade de vida, com uma visão puramente antropocêntrica, os seus adeptos garantem que a saúde, o bem estar e segurança aqui cogitados são os do ser humano. É o que defende Cristiane Derani:

Isto significa que o tratamento legal destinado ao meio ambiente permanece necessariamente numa visão antropocêntrica porque esta visão está no cerne do conceito de meio ambiente (...). As normas ambientais são essencialmente voltadas a uma relação social e não a uma assistência à natureza.20

Seguindo os mesmos passos, outros autores asseveram que, numa

sociedade organizada, o destinatário de toda e qualquer norma é o ser humano21,

porque, como único animal racional que é, só o homem é que tem possibilidades de

preservar todas as espécies, incluindo a sua.22

Assim também pensa Thaísa Rodrigues Lustosa de Camargo:

Dessa forma, a manutenção da atual organização social, através do Estado Democrático de Direito, só é possível com a permanência da visão antropocêntrica, em que o homem é o destinatário final de toda e qualquer norma. A vida dos demais seres só pode ser tutelada pelo direito ambiental, nos termos da norma positivada, à medida que sua existência implique a garantia da sadia qualidade de vida humana. O homem tem por objetivo conservar a natureza, claramente, em benefício seu. É nesse contexto que devem ser visualizadas as normas ambientais.23

Apesar do respeito pelos que adotam puramente a teoria do antropocentrismo, há muito tempo ela deixou de garantir a proteção ambiental adequada, pois que se espelha tão somente na figura do homem, deixando de

20

DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 71.

21

ROSSIT, Liliana Allodi. O meio ambiente de trabalho no direito ambiental brasileiro. São Paulo: LTr, 2001, p. 38.

22

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Ambiental e

Legislação Aplicável. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 49. 23

CAMARGO, Thaísa Rodrigues Lustosa de. Princípios de direito ambiental do trabalho. São Paulo: LTr, 2013, p. 21.

(26)

considerar que, nesse mundo, há outros seres que precisam de proteção e que também têm grande parcela de importância.

Como bem ensina Diogo de Freitas do Amaral:

Já não é mais possível considerar a proteção da natureza como um objetivo decretado pelo homem em benefício exclusivo do próprio homem. A natureza tem que ser protegida também em função dela mesma, como valor em si, e não apenas como um objeto útil ao homem. (...) A natureza carece de uma proteção que, muitas vezes, terá de ser dirigida contra o próprio homem.24

Não se quer negar em definitivo a visão antropocêntrica. Todavia, também não se pode anular a influência do ecocentrismo nas normas constitucionais atuais, com o estabelecimento da integração dos ecossistemas, que, mantendo cada um seu valor intrínseco, juntos poderão desarticular os riscos de degradação ambiental que coloca em xeque não só a humanidade, mas toda a vida planetária.

Para assegurar a descentralização da figura do homem, bem como a visão antropocêntrica, segundo Tiago Fensterseifer, a medida é a dimensão histórico-cultural da dignidade. O que antes era visto unicamente como atributo do ser humano, em face da ditada dignidade da pessoa humana, que inclusive justifica as atitudes de exploração ambiental, agora deixou de ser, uma vez que a dignidade, historicamente, passou a compreender, em face dos valores sociais, toda a vida, não só a humana.

Assim, considerando os valores inseridos no âmbito social pela cultura ambientalista, apesar da importância em se conservar uma autonomia conceitual, a dignidade da vida de um modo geral caracteriza também uma projeção e realização da dignidade humana, conjugando a dimensão individual da dignidade e de toda a comunidade humana (enquanto ente coletivo e transindividual). E, como já sinalizado em passagem anterior, para além das perspectivas individual e social, projeta-se também a dimensão ecológica.25

É que, com a valoração do modelo ecológico nas sociedades contemporâneas, passou-se a inserir o efeito dignidade a outras formas de vida não-humanas. O ambiente não mais poderá ser protegido em função da saúde e

24

Amaral (apud FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 48).

25

(27)

qualidade de vida das pessoas, mas também em virtude de seu próprio interesse, já que tem valor em si mesmo.

O maior obstáculo é desfigurar a imagem ética predatória para incluir o preservadorismo, passagem inclusive anotada por Leonardo Boff, quando argumenta que age de tal maneira que tuas ações não sejam destrutivas da Casa

Comum, a Terra, e de tudo que nela vive e coexiste conosco.26

Para melhor compreender os avanços no seio social, Norberto Bobbio, expõe a trajetória histórica dos direitos humanos, marcando a passagem dos direitos de liberdade para os direitos políticos e sociais, o que ocasionou o deslocamento do foco do indivíduo ao qual foram atribuídos direitos naturais (ou morais), para sujeitos diferentes do indivíduo como, por exemplo, as minorias étnicas e religiosas, e também, mais recentemente, toda a humanidade em seu conjunto (em razão dos direitos das gerações humanas futuras). Ressalta ainda que,

o reconhecimento de direitos pode ser concebido para além de indivíduos humanos considerados singularmente ou comunitariamente, ou seja, para sujeitos diferentes do ser humano, como os animais. Tais “direitos da natureza”, impulsionados pelos movimentos ecológicos, postulam as mesmas palavras (“respeito” e “não-exploração”) utilizadas tradicionalmente na definição e justificação dos direitos humanos.27

Dando embasamento às afirmações acima, é interessante traçar um exemplo para que não haja dúvidas de que o que se busca tutelar é a dignidade da vida em geral, e não só a do homem. O artigo 225, § 1º, inciso VII, da Constituição Federal, veda explicitamente práticas que provoquem a extinção de espécies ou submetam

os animais à crueldade. É norma impositiva inclusive contra a ação dos homens, o

que por si só configura que não só este tem seu próprio valor, ainda mais porque está claro que a intenção do legislador também é proteger a vida não humana, não por ela servir de interesse aos homens, mas, sobretudo, por seu valor inerente. Aqui está transparente a tutela da vida em geral, totalmente desvinculada do ser humano, posto que deve ser protegida em face de seu valor intrínseco.

Em acordo com o postulado, expõe Antônio Herman Benjamin:

26

BOFF, Leonardo. Do iceberg à Arca de Noé: o nascimento de uma ética planetária. Rio de Janeiro: Garamond, 2002, p. 97.

27

(28)

o constituinte desenhou um regime de direitos de filiação antropocêntrica temporalmente mitigada (com a titularidade conferida também às gerações futuras), atrelado, de modo surpreendente, a um feixe de obrigações com beneficiários que vão além, muito além, da reduzida esfera daquilo que se chama de humanidade. Se é certo que não se chega, pela via direta, a atribuir direitos à natureza, o legislador constitucional não hesitou em nela reconhecer valor intrínseco, estatuindo deveres a serem cobrados dos sujeitos-humanos em favor dos elementos bióticos e abióticos que compõem as bases da vida. De uma forma ou de outra, o paradigma do homem como prius é irreversivelmente trincado.28

Diante das posições apresentadas, merece ressaltar que, apesar de o modelo constitucional brasileiro ser em sua essência antropocêntrico, não resta dúvidas de que o mesmo é mitigado, posto que há grande interferência do ecocentrismo, fato diagnosticado em várias passagens do texto constitucional. Há uma integração entre os componentes do ecossistema que revelam ao fim, que tanto o ser humano quanto a natureza tem seu valor próprio, e que um está vinculado ao outro.

No item seguinte o meio ambiente será desdobrado em natural, artificial, cultural e do trabalho, com o objetivo de demonstrar que cada tem característica própria e peculiar.

1.2 Classificação

O Direito Ambiental amplia seu campo de defesa em todo o patrimônio ambiental, que, por sua natureza difusa, abrange não só o campo nacional de cada país, mas se exterioriza em campo planetário com o propósito único de defender a vida e a sua qualidade. A classificação do meio ambiente é uma forma mais fácil de se verificar, dentro da amplitude, qual é a atividade degradante e, assim, o bem agredido, tendo uma visão mais restrita de cada classe.

Quanto à classificação, apesar de serem pacíficas na doutrina as classes, a saber: meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho, é interessante ressaltar que alguns autores, como Édis Milaré, ignoram a existência desta última, assinalando que diante do que estabelece a literalidade do artigo 3º, inciso I, da Lei 6.938/81, bem como o artigo 225 da Constituição Federal, o meio ambiente tão somente poderá se caracterizar como o

28

BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição Federal. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MORATO LEITE, José Rubens (Orgs.). Direito

(29)

conjunto de espaços, equipamentos e condições naturais, artificiais e culturais que influenciam na vida do ser humano e que atuam sobre todos os seres vivos29.

Já outros corroboram que o correto seria a designação meio ambiente misto, que englobaria todos os outros meios ambientes, que mesmo tendo características dos meios ambientes já citados, também possuem traços próprios, não se englobando naqueles.

Um destes adeptos é Fernando de Azevedo Alves Brito que diz:

Como exemplo de meio ambiente misto, poderia se apontar o meio ambiente urbano que ostenta, simultaneamente características das classes natural, artificial e cultural. Além deste, o meio ambiente do trabalho (que para manter a segurança, a saúde e a vida do trabalhador, deve equilibrar o meio ambiente natural - com temperatura ideal, local com padrões saudáveis de radiação, boa qualidade do ar etc.-, o artificial - com instalações seguras e adequadas, equipamentos e ferramentas seguras, materiais de segurança presentes, como o extintor de incêndio etc. - e o cultural - aplicação de técnicas e conceitos de produção, preparo individual para técnicas de relações humanas etc.); o meio ambiente das instituições de ensino que é fiscalizado, hoje, principalmente, pelo MEC (que deve manter o equilíbrio entre o meio ambiente natural - com temperaturas e sons adequados para aprendizagem, tendo áreas verdes para estreitar a relação dos estudantes com a natureza etc. -, com o artificial - através de instalações adequadas, materiais elétricos e de construção seguros, para não pôr em risco a vida dos estudantes e funcionários etc. - e com o cultural - pelo material didático e aplicação dos métodos pedagógicos adequados, para cuidar do melhor enraizamento cultural, em geral, na mente humana etc.).30

Embora se tenha feito uma pequena pausa para descrever o que seria o meio ambiente misto, ele não é abordado de forma incisiva pelos doutrinadores e muito menos é sustentado pela legislação, pois esta, como logo veremos, prefere a terminologia que explicita a classificação tratada a seguir.

29

MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 5. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 196.

30

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do meio ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a existência ou a inexistência das classes do meio ambiente do trabalho e do meio ambiente misto. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1606>. Acesso em: 16.04.2014.

(30)

1.2.1 Meio ambiente natural

Meio ambiente natural ou físico é aquele que se origina da própria natureza, preservando sua substância, mesmo ocorrendo interferência do homem. É que não basta a interferência. Ela tem que modificar a essência daquele meio para que o mesmo deixe de ser classificado como natural ou físico. A importância na proteção deste meio está no fato de que é composto de todos os recursos naturais elementares à conservação do homem no planeta. São eles o ar, a água, o solo, a flora e a fauna.

O ar atmosférico é constituído por uma mistura de diversos gases, como o nitrogênio, oxigênio, gás carbônico e gases nobres, inclusive o vapor de água, que provém da evaporação das águas de rios, mares e lagos, respiração dos seres vivos, transpiração das plantas, evaporação da água do solo e evaporação da água de dejetos (como fezes e urina de animais).

Assim frisa Édis Milaré:

Ligado estreitamente aos processos vitais de respiração e fotossíntese, à evaporação, à transpiração, à oxidação e a fenômenos climáticos e meteorológicos, o recurso ar - mais amplamente, a atmosfera - tem um significado econômico, além do biológico ou ecológico, que não pode ser devidamente avaliado. Enquanto corpo receptor de impactos, é o recurso que mais rapidamente se contamina e mais rapidamente se recupera - dependendo, evidentemente, de condições favoráveis.31

A proteção desse elemento integrante do meio ambiente natural é, sem dúvida, de extrema importância e vital à humanidade, mesmo porque sua poluição e degradação tem efeito transfronteiriço.

A água é composta de hidrogênio e oxigênio, podendo ser encontrada em três estados físicos: sólido (geleiras), líquido (oceanos e rios), e gasoso (vapor d‟água na atmosfera). Sua importância está no fato de que, sem ela, não haverá qualquer tipo de vida no mundo, já que está relacionada diretamente com a saúde.

Assim como o ar atmosférico, também a água é um assunto de preocupação global, mesmo porque, além de sua disponibilidade ser limitada, a sua poluição resulta em desequilíbrio do ecossistema, não havendo qualquer qualidade de vida, o que também fere os ditames constitucionais.

31

(31)

O solo pode ser entendido em dois sentidos: como recurso natural, formando-se a partir da união de grânulos minúsculos, compartilhando múltiplos espaços livres entre os mesmos, os quais são preenchidos por água ou gases, condicionando as comunidades bióticas à existência de bactérias degradadoras32; e também como recurso social, compreendendo o hábitat e as atividades produtivas do ser humano no solo, que poderão influenciar na degradação em cadeia, já que além do solo, outras espécies, que dependem diretamente dele, sofrerão as consequências.

Enfim, a flora e fauna são seres bióticos intimamente ligados dentro do ecossistema, tanto que, na ausência de um, todo o outro será comprometido. A flora é constituída por vegetação de uma região ou de um país, com proteção legal por representar um bem de interesse comum a todos. Já a fauna, podendo ser silvestre ou doméstica, compreende o conjunto de animais de certa região.

José Afonso da Silva fala do meio ambiente natural ou físico como constituído

pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, enfim, pela interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre espécies e a relação destas com o ambiente físico que ocupam33.

A proteção do meio ambiente natural é salutar para a sobrevivência da própria espécie humana, já que a ligação entre os componentes desse meio é desencadeadora do ecossistema e decisiva para a manutenção do ambiente ecologicamente equilibrado.

Por fim, com relação à fundamentação legal, o meio ambiente natural é diretamente tutelado pela Constituição Federal, no artigo 225, caput, e no § 1º, incisos I e VII. No mesmo texto, há ainda que se referir aos incisos II (ao visar a preservação da diversidade e do patrimônio genético), IV (ao exigir o estudo prévio de impacto ambiental, com o fito de evitar desequilíbrios, entre outros aspectos, no meio ambiente natural), V (no controle de técnicas e substâncias que prejudiquem a vida humana e todas as demais), além do § 2º do mesmo artigo (que, ante a abusiva e descuidada exploração mineral, obriga o degradante a recuperar o meio ambiente degradado, entre eles, o natural).

32

MILARÉ, op. cit., p. 226.

33

(32)

1.2.2 Meio ambiente artificial

Meio ambiente artificial é aquele espaço construído pela ação humana. Aqui, ao contrário do meio ambiente natural, há uma interferência para sua concepção, qual seja, aquele meio ambiente trabalhado, alterado e modificado em sua substância, podendo-se citar o conjunto de edificações (o espaço urbano público e privado), bem como os equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, compreendendo o espaço urbano aberto). Apenas fazendo um adendo, também aqui no meio ambiente artificial estão incluídos os espaços rurais, que são alterados em seu conteúdo por meio de construções físicas.

Ainda relata Édis Milaré,

Opondo-se ou contrapondo-se ao elemento natural aparece o elemento artificial, aquele que não surgiu como resultante de leis e fatores naturais, mas por processos diferentes: proveio da ação transformadora do homem. De fato, a sociedade humana conta, hoje, com os mais variados elementos, fatores e dispositivos para „criar‟, por artifícios, inúmeros produtos e ambientes, valendo-se inevitavelmente de elementos e recursos naturais, e essa conta pesa sobre o meio ambiente como um todo.34

A preocupação acima está no fato de que, a cada dia o meio ambiente artificial em face do modelo de desenvolvimento capitalista encontra respaldo na sociedade, avançando sobre o meio ambiente natural, com o perigo do desequilíbrio ambiental. Todavia, é interessante anotar sua indisponibilidade, mesmo porque representam os espaços onde o homem desenvolve sua vida, inclusive o trabalho. Nesse sentido, relata José de Ávila Aguiar Coimbra que é da cidade que disparamos

nossas ações tecnológicas sobre a Natureza; dela partimos para criar ecossistemas artificiais que sirvam à nossa alimentação e às muitas modalidades de produção que empresariamos35.

Pensando na legislação aplicável, além do artigo 225 da Constituição Federal, pode ser citado no mesmo texto o artigo 182, que traça o perfil da política urbana,

34

MILARÉ, op. cit., p. 272.

35

COIMBRA, José de Ávila Aguiar. O outro lado do meio ambiente. Campinas: Millennium, 2002, p. 129.

(33)

bem como os artigos 21, XX e 5º, XXIII, sem falar da aplicabilidade da Lei 10.257, de 10 de Julho de 200136, conhecida como Estatuto da Cidade.

1.2.3 Meio ambiente cultural

Meio ambiente cultural são os traços marcantes de uma sociedade, como a sua história e formação cultural, características que por si só registram o momento histórico daquela civilização, tudo conforme disposto nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal. Esses traços podem se apresentar de forma concreta e abstrata, sendo a primeira constituída dos prédios, construções, monumentos, estações e outros edifícios que se materializam como meio ambiente artificial. Aqui, do mesmo modo que no ambiente artificial, urge considerar a artificialidade em

detrimento da naturalidade originária do meio ambiental, no meio ambiente cultural concreto torna-se muito mais relevante considerar a sua valoração cultural em detrimento da artificialidade que o mesmo detém37.

Denota-se que, apesar de o meio ambiente cultural concreto se exteriorizar por meio do meio ambiente artificial, ainda assim é ele cultural por manter suas características especiais que corroboram o patrimônio cultural de uma sociedade, de modo a fazer com que seja mais considerado pelo seu valor imaterial (histórico, turístico, paisagístico, artístico ou arquitetônico) do que pelo seu valor material (correspondente à estrutura física que o compõe).

A forma abstrata do meio ambiente cultural é a cultura em si mesma. Tratam-se de elementos não palpáveis, que, no entanto, possuem grande valor de cunho patrimonial, expressando também a identidade social do povo. Caracteriza-se pela língua, pelos costumes e modos como as pessoas se relacionam (social, afetiva e profissionalmente), pelas produções acadêmicas, literárias e científicas e pelas manifestações derivadas de cada identidade nacional e/ou regional.

36

BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 17.04.2014.

37

MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 32.

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