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3. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

3.3. Legislação Rural

3.3.4 As Convenções da OIT

3.3.4.4 Convenção 161 da OIT – Serviços de Saúde do Trabalho

A Convenção 161198 trata da segurança e saúde dos trabalhadores, todavia, com foco na regulamentação dos serviços de saúde. Em vigor no Brasil desde 18.5.1991, através do Decreto 127/1991199, prestigia a atuação dos Serviços de Saúde no Trabalho, ao passo que de forma preventiva aconselha o empregador, os trabalhadores e seus representantes na empresa, a manterem um ambiente de trabalho seguro e salubre, bem como a adaptação do trabalho às capacidades dos trabalhadores, levando em conta seu estado de sanidade física e mental (artigo 1º).

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VOLPI, Sylvia. Cartas de São Paulo e Buenos Aires. Revista CIPA, v. 20, n. 240, 1999, p. 35.

198

OIT - Organização Internacional do Trabalho. Convenção 161. Disponível em: <http://www.oit.org.br/node/507>. Acesso em: 22.02.2015.

199

BRASIL. Decreto-Lei n. 127, de 22 de maio de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0127.htm>. Acesso em: 22.02.2015.

Observa-se que a OIT tem privilegiado a conscientização de que se deve ajustar o trabalho às condições salubres do meio ambiente, para que o trabalhador tenha assegurada a qualidade de vida preconizada pelos direitos fundamentais, o que sem dúvida é efetivado por meio dos Serviços de Saúde no Trabalho. Para melhor operação dos serviços, a Convenção analisada determina que os Serviços de Saúde no Trabalho sejam multidisciplinares (artigos 9º e 10º), ou seja, compostos por especialistas de diversas áreas profissionais.

Dentre os Serviços de Saúde no Trabalho, cita-se, por exemplo, o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), o qual, conforme estabelece a NR 4200, no item 4.1 da Portaria 3.214/78, deve obrigatoriamente existir nas empresas privadas e públicas, órgãos da administração direta e indireta, e nos dos poderes Legislativo e Judiciário que possuam empregados regidos pela CLT. Sua finalidade é promover a saúde e a proteção da integridade do trabalhador em seu local de trabalho.

O SESMT deve, por meio de seus profissionais, portar-se como o órgão líder das atividades prevencionistas na empresa e solucionar com maior brevidade possível os problemas detectados, evitando a lesão à saúde do trabalhador. Outra peculiaridade é manter-se atualizado quanto às disposições legais e técnicas aplicáveis às atividades destinadas à segurança e à saúde no trabalho. Basicamente, deverá aplicar instrumentos, mecanismos e conhecimentos, objetivando a proteção da saúde dos trabalhadores na empresa.

De acordo com o artigo 9º da Convenção 161, bem como o item 4.4 da NR 4, o SESMT deve ser integrado por profissionais habilitados, empregados da empresa, cuja prioridade está voltada para a eliminação dos riscos existentes no ambiente do trabalho, o que justifica a integração de médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho, técnico de segurança do trabalho e auxiliar de enfermagem do trabalho, todos proibidos de exercer outras atividades na empresa (NR 4, item 4.10).

A presença desta equipe multidisciplinar é essencial para melhor fiscalização e prevenção de qualquer desequilíbrio do meio ambiente do trabalho, o que inclusive é confirmado nas palavras de Sebastião Ivone Vieira:

200

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n. 4, de 8 de junho de 1978. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm>. Acesso em: 22.02.2015.

Admitir-se ainda hoje que, proteger a saúde do trabalhador exige apenas uma atividade, seria conservar o velho e superado conceito por muitos ainda admitido, olvidando-se de que, o êxito dos programas de saúde depende da somatória de esforços e da colaboração de vários profissionais que, direta ou indiretamente, se relacionam.201

Interessante destacar que o papel do médico do trabalho é fundamental para a efetivação do SESMT, já que integrado à empresa, constitui o elo entre todos os setores daquela e os prováveis problemas existentes no meio ambiente do trabalho, fato que contribuirá direta ou indiretamente para os futuros programas de prevenção de acidentes naquela empresa. Todavia, mesmo diante de um objetivo tão claro, em muitas empresas este serviço fica reduzido ao papel de medicalização, situação denunciada por Mônica Maria Lauzid de Moraes:

É evidente o papel prevencionista do SESMT, entretanto, seus agentes são empregados da empresa o que, na maioria dos casos, prejudica essencialmente o desenvolvimento das atribuições do SESMT, ficando o serviço reduzido ao mero diagnóstico técnico e médico, pois passa a tratar dos sintomas sem adentrar no nexo causal da agressão à saúde e segurança do trabalhador (fator o agente prejudicial versus atividade desenvolvida pelo empregado).202

Uma outra situação que descaracteriza e mesmo reduz a confiança que os empregados tem no SESMT, é a posição de hierarquia que este tem junto à empresa, posto que muitas vezes está ligado à diretoria, aos recursos humanos, ao passo que deveria estar vinculado a quem definitivamente tenha poderes efetivos de gestão no programa.

Apenas como esclarecimento, mesmo porque as normas estabelecidas na Convenção 161, bem como na NR 4, no que diz respeito à regulamentação dos serviços de saúde, também se aplicam à área rural, nesta, quem integra o Serviço de Saúde no Trabalho é o Serviço Especializado em Segurança e Saúde no Trabalho Rural (SESTR), que também tem o dever de manter a integridade física e mental dos trabalhadores no seu local de trabalho, conforme menciona Vicente Pedro Marano ao listar a finalidade de tal serviço:

Reduzir ou eliminar os fatores agressivos à saúde dos trabalhadores (máquinas, ferramentas, meio ambiente do trabalho, etc.); controlar,

201

VIEIRA, Sebastião Ivone. Manual de saúde e segurança do trabalho: administração e

gerenciamento de serviços. São Paulo: LTr, 2005, p. 106. 202

manter, indicar, coordenar, distribuir, orientar e analisar a qualidade e a eficiência dos equipamentos de proteção individual; participar dos projetos de novas edificações, de máquinas, ferramentas, etc; organizar as Comissões Internas de Prevenção dos Acidentes do Trabalho Rural – CIPATR, preparando os cipeiros e participando de suas reuniões; programar e realizar atividades educativas, informativas, formativas e de conscientização no âmbito prevencionista; programar, organizar e realizar as Semanas Internas de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural – SIPATR; criar estímulos para a participação dos trabalhadores na prática de prevenção; assessorar o empregador objetivando a implantação de uma Política Prevencionista; elaborar estatísticas pertinentes; investigar as causas dos acidentes e dos incidentes; participar na celebração de contratos com terceiros; participar nos programas de integração dos novos empregados e dos terceirizados (temporários e emigrantes); organizar, coordenar e administrar as brigadas contra incêndios; realizar periodicamente visitas-inspeções nos diferentes setores de trabalho; participar do Programa da Conservação Auditiva – PCA; elaborar o Laudo Técnico do Controle do Ambiente de Trabalho – LTCAT e elaborar o DSS 8030 para fins de Aposentadoria Especial; participar na elaboração do Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP, para fins de Aposentadoria Especial; coordenar a Tecnologia de Proteção Individual – TPI e ainda realizar preventiva e periodicamente as avaliações ambientais (ruído, vibração, temperaturas externas, umidade, radiações).203

Portanto, não restam dúvidas que esses serviços de saúde e segurança no trabalho devem executar suas tarefas com o apoio do tomador de serviços, mas sempre visando beneficiar o trabalhador, no sentido de garantir-lhe um meio ambiente do trabalho equilibrado, seguro e saudável, onde o mesmo possa desempenhar suas funções sem o risco de acidentes e doenças ocupacionais.