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3. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

3.3. Legislação Rural

3.3.4 As Convenções da OIT

3.3.4.1 Convenção 184 da OIT – Saúde e Segurança na Agricultura

que podem ser ratificados por qualquer dos Estados-Membros da organização.

Os trâmites para sua vigência nos países que aderem dependem do ordenamento jurídico de cada um deles. No Brasil, as Convenções são analisadas pelo Congresso Nacional para serem aprovadas. A partir daí, são passadas ao Presidente da República para ratificá-las. E, após tal fato, o país signatário deve adotar medidas legais ou que assegurem a aplicação das previsões do instrumento normativo internacional, que ao integrar a legislação interna, deve ser aplicado nas decisões dos tribunais, podendo inclusive, alterar, criar, complementar ou derrogar uma norma em vigor. Destaca-se que não há aqui nenhuma inconstitucionalidade, pois a Carta Magna é clara ao dizer no artigo 5º, § 2º, que os direitos e garantias nela descritos não excluem os tratados internacionais nos quais o Brasil vier a tomar parte.

Serão abordadas a seguir algumas convenções que tratam do tema analisado pelo presente trabalho.

3.3.4.1 Convenção 184 da OIT – Saúde e Segurança na Agricultura

A Convenção 184179 trata da segurança e saúde do trabalhador na agricultura mundial. Impõe aos Estados Membros que a ela aderem a definição e execução de uma política nacional em matéria de segurança e de saúde na agricultura, com intuito maior de prevenir acidentes e danos à saúde em consequência do trabalho, eliminando, diminuindo ou mesmo controlando os riscos daquele local.

Estabelece que deve haver um sistema adequado de inspeção dos locais de trabalho agrícola para se avaliar os riscos inerentes à atividade, podendo dali tomar

*Fundada em 1.919, a OIT é uma agência da Organização das Nações Unidas, dotada de personalidade própria e independente, porém sem característica de entidade supraestatal, não cabendo impor obrigações aos Estados-Membros, a não ser quando estes aderem às convenções e recomendações. Em busca da promoção da justiça social e o reconhecimento internacional dos direitos humanos e trabalhistas, a OIT formula normas internacionais do trabalho, promove o desenvolvimento e a interação das organizações de empregadores e de trabalhadores e presta cooperação técnica aos Estados-Membros. Foi através da OIT que se promoveu a internacionalização do Direito do Trabalho, com a dignificação do trabalho e do trabalhador, consubstanciado em vários instrumentos internacionais que favorecessem a paz e a estabilidade. Para a adoção das práticas anunciadas, a OIT, diferentemente dos demais organismos da ONU, tem estrutura tripartite, ou seja, é integrada por representantes de trabalhadores, empregadores e governos.

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BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Convenção 184. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/legislacao/convencao-n-184.htm>. Acesso em: 08.08.2014.

medidas preventivas e protetivas, destacando que o próprio trabalhador, tomando conhecimento do risco, poderá interromper o trabalho, já que tem direito à proteção do meio ambiente do trabalho. Ressalta-se a existência de diversos dispositivos na Convenção sob análise que asseguram o direito à informação e educação ambiental sobre questões de saúde e segurança do trabalho, principalmente em relação aos agrotóxicos, cujo o uso é muito difundido na agricultura e que ainda é responsável por grande número de contaminações ocupacionais.

A Convenção em comento ainda sugere a adoção de uma legislação que verse sobre o uso de maquinário e equipamentos (proteção pessoal, aparelhos e instrumentos manuais utilizados na agricultura), os quais devem atender às normas nacionais, exatamente quanto à compreensão de sua instalação, uso e cuidados gerais, o que se requer dos fabricantes, importadores e fornecedores, no intuito de que a comercialização e fabricação de máquinas e até mesmo produtos químicos, observem o que seria o controle mínimo de itens de proteção, posto que, infelizmente, aqueles normalmente dão maior atenção aos resultados econômicos, sem se importar com a segurança e saúde daqueles que utilizam as ferramentas.

De tal maneira, a norma internacional visa contribuir para a melhoria das condições ambientais laborais no setor agrícola. Porém, trata-se de algo que existe apenas em um plano hipotético na realidade brasileira, devido ao fato de que a Convenção sobre a qual se versa não foi ratificada pelo país. Contudo, indispensável se faz os comentários a seu respeito em decorrência da sua importância no cenário jus laboral, o que torna questionável o fato de até o presente momento não ter ocorrido a sua ratificação, evidenciando possíveis pressões de alguns setores, sobretudo, o ruralista, o qual teria com o reforço da norma internacional de adequar suas práticas contrárias à saúde e segurança do trabalhador.

A Convenção 184 estabelece a sua abrangência no quesito de aplicabilidade e destaca o termo “agricultura”, bem como o que tal conceito não abrange. Na sequencia, aborda a questão da reformulação da política nacional acerca de saúde e segurança no trabalho, onde registra o que a legislação precisará conter. A partir disso, adentra na temática sobre prevenção e proteção, destacando-se o item em que narra os direitos dos trabalhadores. Após, a Convenção discorre sobre questões como segurança de maquinário e ergonomia; manipulação e transporte de materiais; gestão racional de produtos químicos; contato com animais e proteção contra riscos

biológicos; instalações agrícolas; e, por fim, traz outras disposições como o cuidado com trabalhadores jovens e o trabalho perigoso, trabalhadores temporais e sazonais, serviço de bem estar e alojamento.

Constata-se que a Convenção da OIT em questão guarda consonância com o que é estabelecido pela NR 31, o que traz, portanto, um incremento na relevância de tal norma internacional, mesmo porque a norma regulamentadora serviu para atenuar o vazio gerado pela não ratificação, até o presente momento, desta Convenção. A ratificação da Convenção pelo Brasil faria com que o mesmo, além, é claro, do benefício aos obreiros advindos de tal norma, passasse a ter mais respeito pelos demais países, visto que as Convenções e Recomendações da OIT, devido à globalização e a internacionalização dos direitos humanos que resultaram no reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, detêm um valor inestimável. Quando algum país não observa aquilo que fora ratificado, perde o respeito perante a comunidade internacional.

A adesão do Brasil é desejo da maioria que labuta diretamente na agricultura, pois segundo relata Fábio Fernandes:

O movimento sindical dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo vem pressionando o Governo Federal a se tornar signatário da Convenção n. 184 por julgarem-na importante na luta pela melhoria das condições de vida e de trabalho para os trabalhadores rurais. À frente das reivindicações, diversas Federações de Trabalhadores em Agricultura (Fetag) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag), para quem a ratificação da norma é tão importante que é uma das reivindicações mais contundentes do Grito da Terra Brasil 2005.180

Enfim, embora ainda não ratificada pelo Brasil, a Convenção 184 da OIT possui um valor singular no que refere à legislação que visa garantir a dignidade do trabalhador rural, já que especificamente trata da saúde e segurança deste na agricultura, local onde grande parte da população brasileira passa parcela considerável de seu tempo e muitas vezes de sua vida, já que o número de pessoas que moram e trabalham no campo é relevante.

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3.3.4.2 Convenção 148 da OIT – Sobre a proteção dos trabalhadores