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TECENDO A IGUALDADE: REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E TRABALHO NA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA EM DOURADOS-MS (2000-2008)

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0 GRAZIHELY BERENICE FERNANDES DOS SANTOS PAULON

TECENDO A IGUALDADE:

REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E

TRABALHO NA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA EM DOURADOS-MS (2000-2008)

DOURADOS-MS

2010

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1 GRAZIHELY BERENICE FERNANDES DOS SANTOS PAULON

TECENDO A IGUALDADE:

REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E

TRABALHO NA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA EM DOURADOS-MS (2000-2008)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em História.

Área de concentração: Movimentos sociais e Instituições.

Orientadora: Profª. Drª. Marisa de Fátima Lomba de Farias.

DOURADOS-MS

2010

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2 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central – UFGD

305.430981 P331t

Paulon, Grazihely Berenice Fernandes dos Santos

Tecendo a igualdade: reflexões sobre gênero e trabalho na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS (2000-2008). / Grazihely Berenice Fernandes dos Santos Paulon. – Dourados, MS : UFGD, 2010.

229f.

Orientadora Profª. Drª. Maria de Fátima Lomba de Farias Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Grande Dourados.

1. Poder (Ciências Sociais) - Brasil. 2. Mulheres na economia

informal. 3. Mulheres – Condições socioeconômicas. 4. Setor

informal (Economia) – Dourados, MS. 5. Política de mão-de-obra

– Brasil. I. Título.

(4)

3 GRAZIHELY BERENICE FERNANDES DOS SANTOS PAULON

TECENDO A IGUALDADE:

REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E

TRABALHO NA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA EM DOURADOS-MS (2000-2008)

DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH/UFGD

Aprovada em ______ de __________________ de _________.

BANCA EXAMINADORA:

Presidente e orientadora:

Marisa de Fátima Lomba de Farias (Drª, UFGD)

2º Examinador:

Losandro Antonio Tedeschi (Dr, UFGD)

3º Examinador/a:

(5)

4 Dedico este trabalho a minha família que sempre me incentivou a continuar meus estudos, acreditou que fosse possível realizar meus sonhos e me ajudou nos momentos difíceis de minha caminhada.

Em especial ao meu esposo Dionesio, com

quem compartilho, entre alegrias e conflitos, a

árdua tarefa de construir uma vida em que as

relações de gênero sejam pautadas na real

igualdade.

(6)

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a toda minha família que sempre me apoiou nesta caminhada. Aos meus pais, Marco Antonio e Ieda, que sempre me incentivaram a seguir em frente, vencer os obstáculos de cabeça erguida e acreditar que sou capaz. A vocês, mãe e pai, meu eterno amor, respeito e gratidão.

Às minhas queridas irmãs, Andréya e Fernanda, que sempre estiveram ao meu lado, como verdadeiras amigas e companheiras, me estimulando a prosseguir em minha trajetória acadêmica. Às minhas cunhadas, cunhados, sobrinhas e sobrinhos, agradeço a atenção amorosa. À minha sogra, D. Genir, que através de sua maturidade, suas experiências ricas de vida, me inspira a ser uma pessoa melhor neste mundo tão cheio de adversidades.

Ao meu esposo querido, Dionesio, que conviveu ao meu lado dia-a-dia durante os estudos sobre Gênero, sempre se interessando pelo meu trabalho. Comigo aprendeu, sofreu, discutiu e vivenciou as angústias e as alegrias que sentem aquelas que ingressam na pesquisa sobre esta temática maravilhosa. A você, meu amor e respeito.

Agradeço ao meu querido amigo, padrinho e mestre, Mario Sá, que desde a graduação foi meu incentivador e iluminador. Agradeço seu amparo, suas palavras, seus conselhos e por acreditar em mim quando nem mesmo eu acreditava que conseguiria realizar tantas coisas.

Você é para mim um exemplo de educador e de competência. Obrigada por tudo o que fez por mim. Outra vez escrevo a você como agradecimento: suas lições se encontrarão eternamente gravadas em minha memória.

Agradeço às minhas amigas e amigos, pelo carinho constante. Às minhas colegas e aos colegas do Mestrado em História, turma 2008: Camila, Claudinha, Daniele, Divino, Eduardo, Fabiano, Fabio, Ilsyane, Isabel, João, Layana, Lenita, Márcia, Mirian, Patrícia. Nossas reflexões em sala em muito contribuíram para a realização deste trabalho. Nossas conversas extra-sala também foram gratificantes.

Agradeço as demais colegas e ao colega da disciplina Relações de Gênero e Poder:

Juliana, Lívia, Luciana, Maria de Lourdes, Marina, Míria, Tiago e Satine. As nossas discussões e reflexões em sala foram imprescindíveis para a realização desta pesquisa.

Em especial, agradeço minha querida amiga, Claudinha, companheira em minha

jornada há 7 anos. Nós sofremos juntas, mas aprendemos muito juntas também. Obrigada pelo

seu carinho, pela sua atenção e por dividir comigo outra etapa de minha vida.

(7)

6 Ao meu amigo Fabiano, pessoa querida, que conheci no mestrado. Agradeço o apoio, a mão amiga, a disposição em ajudar, esclarecer, com humildade, paciência e alegria as minhas dúvidas deste caminhar.

Agradeço ao Cleber, secretário do Mestrado em História, pela sua atenção e disposição em nos auxiliar.

Agradeço às professoras e aos professores do Programa de Pós-Graduação em História da UFGD: Alzira Menegat, Cláudio Vasconcelos, Eudes Fernando Leite, João Carlos de Souza, Marisa Lomba e Paulo Cimó. A todos/as, minha profunda admiração. Muito obrigada, pelos conhecimentos e experiências transmitidos durante o período em que nos conhecemos.

Sinto-me orgulhosa de fazer parte do quadro discente deste Mestrado.

Ao professor Paulo Cimó, de quem tive a satisfação de ser aluna, por seu profissionalismo, sua intelectualidade e seu compromisso com a educação, que me inspiram a aprender mais e mais, sempre.

Ao professor João Carlos, agradeço a oportunidade de participar de suas aulas e pelo constante apoio desde o início do Mestrado.

Aos professores André Luiz Faisting e Losandro Antonio Tedeschi, pelas contribuições no processo de qualificação.

À professora Alzira, por sempre me ajudar quando foi necessário desde a graduação.

Sua seriedade e seu compromisso com a transformação social são exemplos que procuro seguir.

À minha orientadora, professora Marisa. O que dizer para sintetizar toda a gratidão que sinto? Pessoa maravilhosa, mulher batalhadora, pesquisadora séria e comprometida com o que acredita. Agradeço toda a orientação, o amparo, o carinho e atenção nesta caminhada.

Suas aulas, nossas conversas, nosso convívio durante o mestrado me abriram os olhos para um outro mundo, um novo mundo, que ao adentrar me trouxe tantas angústias, conflitos, mas que me mostrou também um novo significado para palavras como igualdade e liberdade.

Professora Marisa, o pouco que fiz e os pequenos passos que dei nesta trajetória acadêmica somente foram possíveis através de sua orientação. Obrigada! Sempre terá meu profundo respeito e admiração.

Agradeço à competente Juliane Vieira, pelas correções ortográficas em meio as correrias para finalizar a dissertação.

Agradeço ao Tenente Pedro, pelo apoio e carinho nesta minha caminhada.

Agradeço à ONG Mulheres em Movimento pelas informações, pelos momentos que

convivemos e pelo apoio para minha compreensão sobre a Rede de Economia Solidária de

(8)

7 Dourados-MS. Agradeço também às empreendedoras solidárias, que sempre me receberam com carinho, e por dividirem comigo, em nossas conversas, suas experiências na Economia Solidária. À Prefeitura Municipal de Dourados, pelas informações e documentos.

Agradeço, finalmente, à Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e

Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul – FUNDECT, pelo incentivo à minha pesquisa,

através da bolsa de estudos.

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8

“Era uma vez... numa terra muito distante... uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima. Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico... Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.

Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre... Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:

- Eu, hein?... nem morta!”

Luís Fernando Veríssimo

(10)

9

RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo analisar a participação das mulheres na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS, a partir do ano 2000. Para tanto, a discussão está pautada no arcabouço teórico de gênero, o qual permite reflexões sobre as relações de poder e as desigualdades sociais fundamentadas no sexo. Os estereótipos criados historicamente a partir de definições biológicas para as mulheres são aqueles que simbolizam a delicadeza, a sensibilidade, a essência feminina, um corpo frágil, delegando-a ao espaço doméstico e como instrumento para a reprodução da espécie humana, enquanto o homem representa a força, o intelectual, o chefe de família e a política. No entanto, tais pressupostos são questionados cotidianamente e demonstram novas configurações. Estas resultam em reestruturações de comportamentos e modos de viver as identidades de gênero e os papéis sociais. A análise do surgimento e desenvolvimento da Economia Solidária em Dourados, Mato Grosso do Sul, tem o propósito de perceber no processo histórico, as motivações coletivas que levaram estes grupos excluídos a se posicionarem como sujeitos participantes de sua história, bem como as mudanças efetivadas nas vidas de mulheres envolvidas. Utiliza-se neste trabalho uma metodologia qualitativa, estruturada no diálogo entre os campos da História e da Sociologia e na utilização de alguns procedimentos, dentre eles: análise documental e entrevistas. As fontes escritas compõem-se dos documentos oficiais cedidos pela a Prefeitura Municipal de Dourados, através da Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária, ONG Mulheres em Movimento, Banco Pirê e demais órgãos governamentais. As fontes orais são as entrevistas semi-estruturadas com as mulheres que participaram direta ou indiretamente do processo histórico de estruturação da Economia Solidária no município de Dourados, objetivando compreender as interfaces deste processo, seus avanços e recuos, além de analisar a relação com as políticas públicas efetivadas em âmbitos municipal, estadual e federal.

Fazem parte deste grupo, as empreendedoras solidárias e também, os/as representantes dos órgãos públicos envolvidos na efetivação de políticas públicas a partir do período delimitado para esta pesquisa. Com o desenvolvimento da pesquisa foi possível chegar a uma reflexão teórica referente à conceituação de Economia Solidária e Gênero, necessária para compreender as relações de trabalho e gênero no contexto do modelo econômico alternativo, sua trajetória histórica e sua realidade no contexto douradense. Esse processo permitiu analisar como os empreendimentos de Economia Solidária, considerando o período de sua criação em Dourados, a partir de 2000, se transformaram em instrumentos de inclusão social e empoderamento das comunidades de baixa renda – especialmente das mulheres que participam em maior número –, contribuindo para a afirmação destes/as atores/atrizes sociais no contexto social desigual e conflituoso. Além disso, observou-se os avanços e os recuos no processo de emancipação feminina, rumo à autonomia não somente econômica mas no âmbito das decisões referentes aos rumos de sua vida. Cada vez mais as conseqüências sociais e políticas de sua atuação possibilitam novos questionamentos e trazem soluções, fortalecendo a necessidade de ouvir estes/as atores/atrizes. A História e a Sociologia, neste sentido, possuem papel fundamental para demonstrar como as pessoas fazem parte de uma dinâmica social, na qual há diálogos e conflitos constantes entre os diferentes grupos na sociedade.

Palavras-chave: Empoderamento. Mão-de-obra feminina. Mulheres.

(11)

10

ABSTRACT

This thesis aims to study women contribution to the Rede de Economia Solidária (the Solidarity Economy Network) of Dourados-MS since the year 2000. This discussion is guided on the theoretical framework of gender, which allows reflection on power relations and social inequalities based on gender. Stereotypes historically created from women biological definitions are those that represent delicacy, sensitivity, the female essence, a fragile body, delegating it to the domestic sphere and as a tool for reproduction, while the man represents the strength, the intellectual, the head of the family and politics. Such assumptions are challenged daily and reveal new arrangements, they result in the restructuring of behaviors and ways of living the gender identities and social roles. The study of the arise and development of the Economia Solidária in Dourados, Mato Grosso do Sul, aims to understand the historical process, the collective motivations that led these excluded groups to position themselves as subjects in theirs history, as well as effective changes in lives of women involved. In order to achieve that, it is used a qualitative methodology, based on the dialogue between the fields of history and sociology and on the use of certain procedures, including:

documentary analysis and interviews. The written sources consist of official documents granted by Dourados City Hall, through its Social Assistance and Solidarity Economy Secretariat, the NGO Mulheres em Movimento, Banco Pirê and other government agencies.

The other sources, non-written ones, are semi-structured interviews with women who participated directly or indirectly of the historical process of structuring the Solidarity Economy in Dourados. This group is composed of enterprising women and representatives of public agencies involved in the enactment of public policies since the period determined in this research. As the research developed it was possible to reach a theoretical reflection on the concept of Solidarity Economy and Gender. This is necessary to understand the working relations and gender in the context of an alternative economic model, its historical trajectory and its reality in the city context. This development allowed us to consider how the development of Solidarity Economy has become instrument for social inclusion and empowerment of low-income communities. It has contributed to the affirmation of these social actors in the uneven and dysfunctional social context. Furthermore, it was observed the progress and setbacks in the process of female emancipation, towards not only economic autonomy but in the context of decisions regarding their own lives. The social and political consequences of their actions enable new questions and provide solutions, reinforcing the need to hear these actors. History and Sociology play a fundamental role to demonstrate how people are part of a social dynamic in which there are constant dialogues and conflicts among different groups in society.

Keywords: Empowerment. Female Labor Force. Women.

(12)

11

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1 – II Conferência Regional de Economia Solidária ... 161

Foto 2 – II Conferência Regional de Economia Solidária ... 161

Foto 3 – II Conferência Regional de Economia Solidária ... 161

Foto 4 – II Conferência Regional de Economia Solidária ... 161

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12

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Diagrama do Fórum Brasileiro de Economia Solidária... 104

Ilustração 2 – Instâncias de decisão da Economia Solidária no Brasil... 108

Ilustração 3 – I Conferência Municipal de Economia Solidária... 160

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13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANTEAG – Associação Nacional dos Trabalhadores e Empresas de Autogestão e Participação Acionária

CAND – Colônia Agrícola Nacional de Dourados CNES – Conferência Nacional de Economia Solidária

CONCRAB - Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil COOPAER - Cooperativa de Trabalho em Desenvolvimento Rural e Agronegócio CRAS – Centro de Referência em Assistência Social

CRESOL – Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária CUT – Central Única dos Trabalhadores

DRT – Delegacia Regional do Trabalho ECOSOL – Economia Solidária

EGE – Equipe Gestora Estadual

FBES – Fórum Brasileiro de Economia Solidária FCR – Fundo de Crédito Rotativo

FSM – Fórum Social Mundial

FUNTRAB - Fundação do Trabalho do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul GT-Brasileiro - Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária

IAA – Instituto do Açúcar e Álcool

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público ONU – Organização das Nações Unidas

ONG – Organização Não Governamental

PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul PT – Partido dos Trabalhadores

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(15)

14 SESI – Serviço Social da Indústria

SIES – Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária

UNITRABALHO - Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho

(16)

15

SUMÁRIO

Lista de fotografias ... 11

Lista de ilustrações ... 12

Lista de abreviaturas e siglas ... 13

Introdução ... 17

1. A pesquisa histórica: a história do tempo presente como instrumento para a compreensão do surgimento da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS... 17

2. Os documentos oficiais: fontes escritas fundamentais para entender o surgimento e desenvolvimento da Economia Solidária no município de Dourados-MS... 19

3. As entrevistas: fontes orais reveladoras da realidade da participação das mulheres douradenses na Rede de Economia Solidária... 20

4. Os capítulos... 29

Capítulo 1 História das mulheres no mundo do trabalho: transformações e permanências de desigualdades nas relações de gênero... 34 1.1 Reflexões sobre a história das mulheres e conceito de gênero... 37

1.2 Mão-de-obra feminina: lutas e conquistas do século XIX à era da globalização... 49

Capítulo 2 Economia Solidária no Brasil: história, conceitos e princípios... 66

2.1 Conceitos e princípios da Economia Solidária... 68

2.2 Breve histórico do surgimento da Economia Solidária no mundo... 78

2.3 A Economia Solidária no Brasil... 84

2.4 As primeiras experiências de Economia Solidária no Brasil: alguns exemplos de autogestão e cooperativismo... 89

2.4.1 A Usina Catende... 89

2.4.2 A Cresol – Sistema de Cooperativas de Crédito Rural e Interação Solidária... 92

2.4.3 A Anteag – Associação Nacional dos Trabalhadores e Empresas Autogestionárias e Participação Acionária... 94

2.5 Do Fórum Social Mundial ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária... 96

2.5.1 O Fórum Social Mundial... 96

2.5.2 O Fórum Brasileiro de Economia Solidária... 100

2.6 Plataforma de ação da Economia Solidária... 104

2.7 Estrutura da Economia Solidária no Brasil... 105

Capítulo 3 A Economia Solidária em Dourados-MS: surgimento, desafios e perspectivas... 110

3.1 Processo histórico do surgimento da Economia Solidária em Dourados-MS... 112

3.1.1 Breve histórico da formação da região sul-mato-grossense... 112

3.2 O surgimento da Economia Solidária em Mato Grosso do Sul... 118

3.3. O surgimento da Economia Solidária em Dourados-MS... 121

3.4 Estrutura da Rede de Economia Solidária em Dourados-MS... 126

3.4.1 A ONG Mulheres em Movimento: principal parceira da Rede de Economia Solidária em Dourados-MS... 128

3.4.2 O Banco Pirê e a moeda social Pirapirê... 131

(17)

16

3.4.3 O Fórum Municipal de Economia Solidária ... 134

3.5 Forma de ingresso na Rede de Economia Solidária em Dourados-MS... 136

3.5.1 Programa “Coletivos de Qualificação para o Trabalho”... 137

3.5.1.1 A qualificação para o trabalho... 138

3.5.1.2 A formação para a cidadania: a “Educação Cidadã”... 140

3.5.1.3 O ingresso na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS... 141

3.5.2 Os Encontros de Empreendedores/as... 143

3.6 A Rede de Economia Solidária de Dourados-MS e suas parcerias para a qualificação profissional... 145

3.7 Perfil da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS ... 152

3.8 Os eventos para fomento da Economia Solidária de Dourados-MS ... 157

3.8.1 As Assembleias da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS ... 158

3.8.2 I Conferência Municipal da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS ... 159

3.8.3 II Conferência Regional da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS ... 160

3.9 Desafios e Perspectivas da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS ... 162

Capítulo 4 Relações de Gênero e A Economia Solidária em Dourados-MS: a oculta dominação masculina... 167

4.1 A oculta dominação masculina... 170

4.1.1 A oculta dominação masculina nos momentos coletivos... 171

4.1.2 A oculta dominação masculina nas entrevistas... 175

4.2 O empoderamento das mulheres... 185

4.3 As instituições religiosas: permanência ou ruptura com as desigualdades de gênero... 194

Considerações Finais... 199

Referências Bibliográficas ... 206

Fontes... 215

Anexos... 218

(18)

17

INTRODUÇÃO

1. A pesquisa histórica: a história do tempo presente como instrumento para a compreensão do surgimento da Rede

1

de Economia Solidária de Dourados-MS

O tema “Economia Solidária” foi objeto de meu Trabalho Final de Graduação, no curso de Relações Internacionais, concluído em 2007, intitulado “Tecendo competências em uma Rede Solidária: uma contribuição internacionalista sobre o Terceiro Setor”. Nesse trabalho fiz uma análise sobre a participação de instituições do Terceiro Setor, como as ONGs, na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS. A partir das reflexões acadêmicas sobre o tema na graduação, percebi a necessidade e senti a vontade de aprofundar a análise, fato que se concretizou mediante o ingresso no Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD.

Durante o cumprimento das disciplinas do Mestrado, a pesquisa recebeu um novo olhar. Ao pesquisar sobre a Economia Solidária em Dourados-MS, deparei-me com um dado importante que me conduziu a uma nova reflexão: a maioria das pessoas que compõe a rede de Economia Solidária de Dourados é de mulheres.

A partir desta constatação, a pesquisa ganhou amplitude ao pensar o âmbito das relações de gênero nos grupos da Economia Solidária. Por que a Rede de Economia Solidária tornou-se um lugar para ou de mulheres? Esta indagação foi a primeira de várias que viriam em razão da leitura sobre gênero e das revelações e análises de minhas fontes sobre a Rede de Economia Solidária.

Neste sentido, a presente dissertação foi construída com o objetivo de analisar a participação feminina na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS, a partir de sua criação no ano 2000, enquanto alternativa viável para a geração de trabalho e renda no contexto da globalização e seus efeitos contraditórios. A discussão é pautada em reflexões sobre as relações de gênero e trabalho.

A opção por pesquisar a Economia Solidária é basicamente por entender como e por que este fenômeno cresce no Brasil e no município de Dourados-MS e de que forma se constitui um elemento de transformação social especialmente para as mulheres. Para tanto,

1 Na dissertação utilizaremos a denominação “Rede de Economia Solidária” em razão de ser esta a nomenclatura utilizada pelos/as gestores/as também pelos/as trabalhadores/as. Outros/as pesquisadores/as utilizam outros termos. Euclides André Mance, por exemplo, usa o termo “Redes de Colaboração Solidária”. Cf. MANCE, 2001.

(19)

18 buscamos desenvolver uma análise histórica sobre a sociedade brasileira que resultasse ao que hoje chamamos de Economia Solidária.

A Economia Solidária, bem como outras manifestações sociais questionadoras do sistema capitalista, é fruto de um processo histórico marcado por conflitos e exclusão social, fatos incentivadores para seu surgimento enquanto alternativa para a construção de uma sociedade mais justa. Deste modo, a história do presente necessita dialogar com o passado para a compreensão da atualidade e contribuir para a transformação da realidade social no futuro.

No entanto, ao trabalharmos com o tema Economia Solidária deparamo-nos com as dificuldades e os benefícios de estudar a História do Tempo Presente e utilizar Fontes Orais.

Ao compreender que a pesquisa histórica não envolve necessariamente o estudo de fatos do passado, sentimo-nos à vontade para trilhar os caminhos de uma história contemporânea. Chauveau e Tétart afirmam que “[...] a história não é somente o estudo do passado, ela também pode ser, com um menor recuo e métodos particulares, o estudo do presente”. ( CHAUVEAU;TETART , 1999, p. 15).

Neste sentido, a pesquisa histórica do tempo presente permite uma leitura dos fatos contemporâneos, como resultado de ações do passado. Para a análise da Economia Solidária em Dourados-MS, fato do tempo presente, é imprescindível o entendimento do processo histórico que resultou em uma estrutura social desigual e excludente. A Economia Solidária surge no Brasil, neste contexto, como alternativa à inclusão sócio-econômica de inúmeras pessoas por meio de mecanismos para a geração de trabalho e renda.

Para estudarmos a Rede de Economia Solidária de Dourados-MS, no período histórico citado, buscamos mostrar como, de fato, estas pessoas fazem parte de uma dinâmica social num diálogo constante entre os diferentes grupos que compõem a sociedade. Esta dinâmica social faz do/a historiador/a parte do contemporâneo, conforme as palavras de Chauveau e Tétart,

[...] o historiador é cada vez mais parte integrante do contemporâneo –

porque a força da história passadista, factual e historicista se esfumaça diante

de uma demanda social insistente, resolutamente ancorada no presente e no

modo “interpretativo”. Em sua intervenção pública, a história, como a

medicina ou a ciência da ecologia, é um fator de compreensão do presente e

vetor de opinião para o corpo social. (CHAUVEAU; TÉTART, 1999, p. 35).

(20)

19 Enquanto integrantes do contemporâneo, pesquisadores/as

2

que ingressam na história do tempo presente buscam antes de tudo a compreensão da realidade em que vivem. São as inquietações.

Desta forma, a Economia Solidária, fenômeno contemporâneo, merece ser analisada na história do presente, visto que a demanda social insistente nos pede o registro histórico e a interpretação deste acontecimento marcante e significativo na sociedade.

2. Os documentos oficiais: fontes escritas fundamentais para entender o surgimento e desenvolvimento da Economia Solidária no município de Dourados-MS

Para desenvolver esta pesquisa, escolhemos uma metodologia qualitativa, estruturada na discussão teórica sobre gênero e também na utilização de alguns procedimentos, dentre eles: análise documental e entrevistas. Para tanto, utilizou-se, neste trabalho, os documentos cedidos pela Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária, durante a gestão do Partido dos Trabalhadores na Prefeitura de Dourados-MS, entre os anos 2001 e 2008. Outros documentos coletados são da ONG Mulheres em Movimento, do Banco Pirê, instituições parceiras, e demais órgãos governamentais.

Constituem as fontes documentais utilizadas nesta pesquisa: os relatórios da Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária de Dourados-MS, dos anos de 2006, 2007 e 2008, os jornais do Programa da Rede de Economia Solidária, relatórios de consultoria, catálogos informativos sobre a Rede, bem como as cartilhas utilizadas pelos/as gestores/as para a capacitação dos grupos que participam da Rede. Este acervo é formado por documentos oficiais sobre a Economia Solidária e trazem as impressões do poder público sobre o funcionamento da Rede.

Tais relatórios foram elaborados pelos/as gestores/as da Rede e apresentam informações sobre o objetivo de uma política pública de Economia Solidária, perfil dos empreendimentos

3

e dos/as empreendedores/as, finanças solidárias, marketing solidário,

2 Na dissertação, utilizamos o recurso da barra ( / ) para imprimir às palavras os sentidos feminino e masculino.

Tal escolha, ainda que contrarie a norma gramatical da língua portuguesa, se faz necessária para demonstrar que a linguagem confere ao masculino o sentido universal e plural, fato que merece crítica e reflexão principalmente nas pesquisas sobre as relações de gênero. Cf. PEDRO, 2005.

3 Os termos empreendimentos e empreendedores/as são utilizados nos documentos da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS, bem como pela Secretaria Nacional de Economia Solidária. No entanto, algumas pesquisas discutem se esta terminologia é adequada aos princípios da Economia Solidária, uma vez que o empreendedorismo está relacionado à lógica de mercado, da competitividade. Euclides André Mance utiliza os

(21)

20 educação cidadã, formação para empreendedores/as, organização, estruturação, investimentos e as avaliações dos/as próprios/as empreendedores/as, coletadas através de questionários.

Através dos documentos oficiais, foi possível avaliar como a Rede de Economia Solidária estruturou-se no município e o processo educativo e econômico que possibilitou o seu desenvolvimento. Uma vez que os documentos apresentam a equidade de gênero com um dos princípios norteadores da Rede, verificaremos se os cursos de formação para qualificação dos/as empreendedores/as solidários, bem como as reuniões da Rede, as práticas dos empreendimentos solidários possibilitam uma transformação social nas relações de gênero ou reforçam as diferenças construídas historicamente entre homens e mulheres.

Utilizou-se também a internet como uma das fontes de pesquisa. Para tanto, são considerados sítios eletrônicos confiáveis, de órgãos públicos e de instituições fidedignas. Tal recurso facilitou o desenvolvimento da pesquisa, pois torna documentos e informações mais acessíveis.

3. As entrevistas: fontes orais reveladoras da realidade da participação das mulheres douradenses na Rede de Economia Solidária

As entrevistas também são recursos utilizados nesta pesquisa e foram realizadas com mulheres que participam da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS. Estas fontes orais permitiram outra abordagem sobre a Economia Solidária, visto que através das narrativas destas mulheres identificamos e analisamos se a Economia Solidária trouxe transformação social significativa para suas vidas apenas em âmbito econômico ou se constituíram mudanças nas relações de gênero cotidianas. Através de seus relatos, observamos se a participação na Rede de Economia Solidária contribuiu para o processo de autonomia destas mulheres de modo a possibilitar o fortalecimento de sua identidade no âmbito doméstico e público.

Tanto o relato quanto o documento oficial permitem consolidar a memória coletiva do período e do fenômeno pesquisado. Este conjunto de informações traz um panorama multifacetado e permite uma compreensão ampliada da realidade pesquisada. Assim, as pesquisas acadêmicas contribuem para aprofundar a reflexão e o entendimento sobre determinado fato histórico e sobre o funcionamento de nossa sociedade.

termos: célula de colaboração solidária, célula produtiva, célula de consumo e células da rede. Cf. MANCE, 2001.

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21 Utilizar fontes orais na pesquisa acadêmica significa a possibilidade de ouvir pessoas que, via de regra, não encontram perspectivas de expressão. Trabalhar com grupos sociais excluídos transforma este instrumento em ferramenta indispensável à pesquisa.

Muitas pesquisas, dentre elas esta, relatam fatos e situações que não seriam expostas através de fontes escritas. Por isso, ao registrar os testemunhos, ouvir as memórias, é necessário ter consciência de que “[...] a memória como fonte para o historiador é insubstituível em muitos casos, mas ela é também geradora de erros, de mitos, de mitologia e, evidentemente, o historiador tem muito o que fazer para corrigir e desmisfiticar”. ( FRANK , 1999, p. 107).

Sobre as fontes escritas e orais, Frank faz uma importante reflexão acerca da possibilidade de as fontes orais funcionarem como um instrumento que permite uma visão além do oficial, geralmente, presente nas fontes escritas. Vejamos:

[...] vantagem fundamental e central, as fontes orais revelam melhor do que as fontes escritas a complexidade dos mecanismos da tomada de decisão.

Não há tomada de decisão única, mas todo um feixe de elementos conduzindo a esta. A pessoa que mais importou numa decisão não é necessariamente o ministro que assinou a sentença ou mandou adotar o decreto. Ainda aí, as fontes escritas não bastam para reconstruir a rede de pressões, a meada de influências e a cadeia de decisões. (FRANK, 1999, p.

110).

Isto tem uma importância significativa nesta pesquisa haja vista que as fontes escritas consultadas foram cedidas por instituições públicas, como a Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária, caracterizadas como fontes oficiais.

Ao trabalhar com fontes orais, muitos/as pesquisadores/as se consideram inovadores/as ou até mesmo que tal procedimento pode facilitar o desenvolvimento da mesma. No entanto, pudemos perceber que não basta entrevistar um sujeito social em condições de marginalização e colocar suas considerações no texto como se a entrevista falasse por si mesma. É necessário ter rigor teórico e metodológico para evitar abordagens positivistas.

Desta forma, a relação entre pesquisador/a e entrevistado/a deve ser permeada pela ética principalmente na escrita do texto, uma vez que temos uma responsabilidade não somente com o/a entrevistado/a, mas também com os/as que lerão o trabalho realizado.

[...] citações corretas de trechos, títulos, autores e locais de guarda de

documentos; atribuições de créditos intelectuais a quem de direito; fidelidade

às fontes; transparência de conceitos e metodologias utilizados; exposição de

lacunas e dúvidas da pesquisa, servem para regular as relações entre os

historiadores, suas fontes e seus leitores. (AMADO, 1997, p. 146).

(23)

22 Entretanto, tal responsabilidade não cessa na redação do texto. O/A pesquisador/a deve estar ciente da dimensão que envolve sua relação com outras pessoas, suas ações podem trazer consequências imediatas na vida do/a entrevistado/a, interferindo nas suas relações familiares, profissionais e sociais.

Algumas consequências podem ser positivas, como, por exemplo, quando um/a entrevistado/a mostra-se feliz e orgulhoso/a ao verificar sua entrevista publicada em uma revista. Por outro lado, como resultado negativo, o/a entrevistado/a pode ter sua vida devastada ao serem reveladas “[...] infrações legais, atividades políticas clandestinas, práticas sexuais, relações amorosas, gerando muitas vezes perseguições, processos judiciais, divórcios, transtornos familiares, etc.” ( AMADO , 1997, p. 147). Assim, o rigor e a ética com a pesquisa devem ser redobradas, uma vez que nossas ações interferem diretamente na vida dos/as informantes/as.

Ao trabalhar com as mulheres que participam da Rede de Economia Solidária, foi possível refletir sobre esta relação. Por meio das entrevistas, fizemos questionamentos sobre as relações na Rede e também nas relações familiares, pois o objetivo do trabalho é perceber se a Economia Solidária trouxe alguma transformação positiva para estas mulheres e como esta ocorreu em âmbito doméstico. Ao perceber que muitas vivem sob uma oculta dominação masculina, entendemos a dificuldade que estas sentem em aplicar em suas ações os princípios da Economia Solidária.

As entrevistadas precisam confiar na seriedade da pesquisa, já que no momento da entrevista estas mulheres expõem suas críticas, suas relações com maridos e filhos/as e, por fazerem parte da Rede, não querem causar problemas aos/as gestores/as da Economia Solidária.

Na dissertação, optamos por não mencionar os nomes das mulheres entrevistadas, uma vez que estas podem sentir-se incomodadas com as reflexões realizadas mediante suas falas, ainda que estas tenham o objetivo de contribuir para o entendimento sobre a Economia Solidária no município.

Neste aspecto, Amado afirma que o/a pesquisador/a ao utilizar todos os procedimentos metodológicos e técnicos adequados na prática da entrevista, ao trabalhar de forma ética, não está livre de problemas. As análises que faz dos relatos podem não ser compreendidas e o/a informante pode sentir-se ofendido/a.

O cumprimento de todos os procedimentos não livra o historiador de

problemas, pois a História Oral, fortemente ligada às relações humanas, não

(24)

23 impede problemas e más interpretações, decepções dos informantes com seu próprio depoimento ou com as interpretações que o historiador fez destes, mesmo quando este age de forma ética. (AMADO, 1997, p.149)

Neste sentido, esta dissertação procura fazer uma análise das fontes sob a perspectiva de gênero com a finalidade de demonstrar que para diminuirmos as desigualdades sociais são necessários esforços por parte do poder público, da sociedade em geral, mas principalmente de nossas ações no cotidiano, pois temos a tendência a reproduzir as relações sociais hierárquicas de maneira irrefletida. Busca-se, neste trabalho, interpretar as informantes de modo a contribuir com a construção da Economia Solidária no município, através da crítica construtiva.

De acordo com Le Goff (1996, p.477), “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens.” Assim, a pesquisa história, ao utilizar esta memória, procura trazer à tona problemas que merecem reflexão.

Todavia, o/a pesquisador/a não deve iludir-se ao pensar que sua pesquisa será transformadora na vida dos/as informantes/as. Estes/as, ao concordarem com a entrevista, também possuem seus objetivos e não devem ser vistos/as de forma desvalorizada. Os grupos marginalizados devem ser respeitados em suas lutas, seus mecanismos de defesa, seus questionamentos e, principalmente, pela sua capacidade de construir seus projetos sociais.

O conteúdo de uma pesquisa é importante, mas o cuidado no tratamento das fontes deve orientar todo o trabalho para que este seja sério, científico e traga contribuições significativas. Collingwood (1972, p. 315) afirma que o objetivo no tratamento das fontes

“[...] não é verificar se ela é verdadeira ou falsa, mas descobrir o que significa”. Dito isto, o método científico não é a cópia dos testemunhos, mas a interpretação destes, levando o/a pesquisador/a às suas conclusões pessoais.

Mattoso (1988, p. 17) salienta que “[....] os documentos só têm sentido quando inseridos numa totalidade, que é a existência do homem no tempo”. Neste sentido, deve-se lembrar também que a pesquisa carrega influências da época em que o/a pesquisador/a escreve, do local e influências de sua formação.

Para esta pesquisa, utilizamos entrevistas realizadas no ano de 2007, usadas em meu

Trabalho Final de Graduação. São 3 entrevistas: 2 são com gestoras e 1 com um representante

do poder público. Estas entrevistas não possuíam o foco na temática de gênero e por isso não

foram direcionadas para provocarem nos/as narradores/as uma reflexão sobre a participação

(25)

24 feminina na Rede de Economia Solidária. Todavia, todos/as os/as entrevistados/as citam esta participação, seja pelo número significativo de mulheres que atuam na Rede, seja pelo tipo trabalho que elas desenvolvem. Assim, podemos perceber a relevância do trabalho destas mulheres, ainda que a pesquisa na época (ano 2007) não estivesse focada na perspectiva de gênero. Isso nos leva a crer que as relações de gênero estão intrínsecas no cotidiano, na linguagem, enfim, nas relações sociais e de poder.

No ano de 2008, foram realizados levantamentos de documentos e leituras bibliográficas sobre o tema para cumprimento das disciplinas do Mestrado. No mês de janeiro de 2009, efetivamos alguns contatos e desde o mês de fevereiro de 2009 foram realizadas 6 entrevistas com empreendedoras, que compõem o grupo de entrevistas específico para a pesquisa, para as quais foi elaborado um roteiro focado nas relações de gênero.

Nos anos de 2009 e 2010, houve a possibilidade de participação em eventos organizados pela Rede de Economia Solidária de Dourados-MS. Nestes encontros, estabeleceram-se contatos e foram constituídas oportunidades de observação e entendimento das ações da Rede, tanto de gestores/as, parceiros/as e empreendedores/as. Foi possível conhecer a dinâmica dos encontros e conversar com as pessoas sobre seus entendimentos dos princípios da Rede de Economia Solidária. Em 2010, finalizamos as entrevistas com as mulheres, totalizando 15 entrevistas ao final da pesquisa.

A rede de informantes para a pesquisa foi selecionada a partir do cadastro das mulheres junto à Rede de Economia Solidária. Os registros destas mulheres estão disponíveis nos relatórios fornecidos pela Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária da gestão 2000/2008. Em cada relatório, há uma listagem dos empreendimentos e respectivos/as responsáveis, bem como endereços e telefones para contato.

No início da pesquisa, para a seleção das entrevistadas, pensamos em filtrar a partir da data de ingresso na Rede de Economia Solidária. Desta forma, levantaríamos o número total de mulheres que participam da Rede desde sua criação e faríamos as entrevistas com 10%

sobre o total de mulheres. Através das entrevistas com as mulheres há mais tempo na Rede,

procuraríamos compreender a participação na Economia Solidária, o que esta significou em

suas vidas e de que forma elas se autorreconhecem e se autovalorizam no processo. Da

mesma forma, faríamos também um levantamento das mulheres que entraram recentemente

na Rede e buscaríamos analisar os motivos que as levaram a participar da Economia Solidária.

(26)

25 Assim, tentaríamos colher as impressões e expectativas distintas das participantes no processo para verificar como ocorre a participação feminina na Economia Solidária do município.

Entretanto, houve dificuldade em identificar a data de ingresso dessas mulheres na Rede nos relatórios e demais documentos. Os cadastros dos empreendimentos não informam quando as mulheres iniciaram suas atividades na Economia Solidária. Desta forma, procuramos estabelecer uma nova seleção para as entrevistas, que não utilizasse como referência a data de ingresso na Rede, sem fugirmos de nosso objeto principal.

Outra dificuldade encontrada foi que o número de participantes da Rede a partir do ano 2008, caiu significativamente. Com a mudança de governo na Prefeitura, muitas pessoas abandonaram o projeto e atualmente a Rede, anteriormente composta por 240 empreendimentos solidários aproximadamente, conta com cerca de 100 pessoas. Assim, ao tentarmos localizar as empreendedoras, muitas informaram que não faziam mais parte da Rede e não se interessavam pelo assunto.

Este fato é apontado pela servidora pública, Ivoneide, assistente social na Prefeitura de Dourados-MS, quando relata o período entre o final de 2008 e início de 2009, na posse da nova gestão da Prefeitura de Dourados-MS.

Olha, no início houve um sentimento de perder pai e mãe. Que estavam órfãos. Não entendiam que a economia solidária é 50% ação deles. A partir do momento que eles perceberam que tinham que tomar uma atitude, foi aí que conseguiram continuar a proposta. Agora a participação no Fórum é maior. Ele se reúne toda última quinta-feira do mês. Agora que eles sentiram a força. Cada região de Dourados tem 02 representantes e agora todos eles participam das reuniões. São 06 regiões e são 12 participantes agora. E tem as entidades, as universidades. É um espaço aberto prá quem tem interesse no movimento. Podem participar. Não importa onde ocorra a reunião. Se falarmos em quantidade, a quantidade de participantes hoje da Rede é bem menor. Mas em qualidade, está muito melhor. As reuniões estão sendo mais ricas. As pessoas estão se sentindo parte do processo. Antes você ia numa reunião do Canaã, tinha 40 ou 50 pessoas. Agora se tem 10 é muito. Mas esses poucos participam muito e com qualidade. Conseguiram entender o processo. Se tentar tirar uma proposta do grupo você consegue. Hoje é a qualidade conta. No Jardim Flórida estão reestruturando o movimento porque eram totalmente dependentes da Prefeitura. Agora lá se reuniram 04 pessoas, mas são 04 pessoas que querem continuar a proposta da Rede. A Rede tá bem voltada prá questão da qualidade. As pessoas que ficaram estão bem fortalecidas. Antes eram 240 empreendimentos. Hoje não temos nem 100 pessoas. Atualmente quem faz o controle é a ONG Mulheres em Movimentos.

4

4 Entrevista concedida em 18/12/2009.

(27)

26 Conforme descrito no relato, na mudança de governo ocorrida entre os anos 2008 e 2009, houve uma desistência dos/as empreendedores/as em continuarem na Rede. Logo no início de 2009, surgiram muitas dúvidas sobre o futuro da Rede tanto por parte dos/as empreendedores/as quanto por parte dos/as gestores/as. Até o final do segundo semestre de 2009, as atividades da Rede, incluindo a manutenção das lojas, ainda eram resolvidas através de negociações com o Poder Público.

No entanto, a rede de informantes permaneceu organizada mediante cadastros dos relatórios da Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária. Portanto, estabelecemos outra maneira para selecionar as entrevistadas.

Através dos documentos, fizemos uma primeira seleção por ordem de setor de atividade (confecção, alimentação, etc), e por região (Bairros Izidro Pedroso, Cachoeirinha, etc) em cada relatório. Desta forma, buscamos trabalhar com uma variedade de empreendimentos e locais para esclarecer aspectos diferentes de uma mesma realidade.

As mulheres entrevistadas foram selecionadas dentro de uma região. Esta ‘região’ foi determinada pela Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária e compreende diversos bairros. Por exemplo, na região ‘Cachoeirinha’ estão inseridos os bairros Cachoeirinha, BNH 4º Plano, Vila Almeida, Jardim Independência, Jardim Maringá, Vila Erondina, Jardim Vista Alegre e Cohab II, conforme Anexo II.

Desta forma, definimos primeiramente uma região e depois um setor de atividade. A região escolhida para as primeiras entrevistas foi a denominada Izidro Pedroso e o setor de atividade, a confecção. Não foi possível realizar entrevistas com as mulheres de todas as regiões, mas este fato não prejudicou a pesquisa, pois durante os eventos da Rede em que pudemos participar, outros diálogos foram feitos e diversas conversas realizadas, contribuindo com o entendimento da percepção das mulheres sobre a Rede.

As entrevistas foram agendadas e realizadas nas casas das mulheres. Neste local, conversamos sem restrições, pois o gravador muitas vezes intimida e impede a expressão espontânea. As conversas informais, num ambiente mais descontraído, permitiram aprofundar as percepções sobre a experiência das mulheres na Economia Solidária. Muitas mostraram suas atividades, seus maquinários, suas confecções com muito orgulho do trabalho que realizaram, ainda que, com muitas dificuldades.

A busca pelo relato oral não está associada somente à coleta de informações. Durante

as entrevista, vivemos a “[...] experiência do indizível que se procura traduzir em vocábulos”

(28)

27 ( QUEIROZ , 1991, p. 2) e esta nos permite compreender os olhares, o lugar, os gestos e, assim, sentir para refletir sobre a pesquisa, e o que buscamos com ela.

A fonte oral permite um aprofundamento sobre o tema pesquisado visto que o narrador/a é provocado/a a rememorar os significados de sua experiência para passar ao/à pesquisador/a aquilo que lhe interessa para a pesquisa. Esta relação com os/as narradores/as é mais do que uma troca de informações, é uma cumplicidade e respeito pelas experiências de vida que, muitas vezes, não são fáceis de serem relembradas e relatadas.

Pesquisador/a e narrador/a almejam objetivos diferentes no decorrer da entrevista.

Conforme aponta Queiroz (1991, p. 4), “[...] o pesquisador é guiado por seu próprio interesse ao procurar um narrador, pois pretende conhecer mais de perto, ou então esclarecer, algo que o preocupa”, ou seja, seu objetivo primeiro é a pesquisa e o tema que precisa ser trabalhado enquanto que “[...] o narrador, por sua vez, quer transmitir sua experiência, que considera digna de ser conservada e, ao fazê-lo, segue o pendor de sua própria valorização, independentemente de qualquer desejo de auxiliar o pesquisador”. (1991, p. 4). Ambos tentam realizar uma troca que exige paciência e cuidados, pois o/a pesquisador/a muitas vezes não ouvirá o que lhe convém, mesmo que tente “[...]trazer o narrador ao ‘bom caminho’, isto é, ao assunto que estuda”. (1991, p. 4).

Após a realização das entrevistas, nos deparamos com a transcrição. Esta não possui apenas o significado de transferir para o papel as palavras. Ela significa também “[...] uma nova experiência, um novo passo em que todo o processamento dela é retomado, com seus envolvimentos e emoções, o que leva a aprofundar o significado de certos termos utilizados pelo informante, de certas passagens, de certas histórias que em determinado momento foram contadas, de certas mudanças na entonação da voz”. ( QUEIROZ , 1991, p. 88).

Conforme ressalta Queiroz, o ato de transcrever desencadeia toda a gama de informações presentes no momento da entrevista que compreende não somente o que foi dito, mas o momento em si, permeado pelo clima, ambiente, barulhos, olhares, gestos e expressões faciais. A autora afirma que

[...] Tudo isso é material que o pesquisador obteve de cuja construção diretamente participou – pois no processo de que resultou foi ele parte, numa legítima ação de ‘observador participante’, com todos os riscos que esta posição comporta. É verdade que não partilhou estreitamente da vida cotidiana do informante, como quer a expressão ‘observador participante’

usualmente empregada em antropologia; porém, se a expressão não pode ser

aplicada em se tratando do sentido estrito, em sentido amplo houve uma

participação íntima entre eles, uma associação simbólica e não objetiva que

permitiu, pela instalação de laços de quase-identidade e de comunhão entre

(29)

28 ambos, o desencadeamento frutífero do processo de rememorar. (QUEIROZ, 1991, p. 88).

Assim, a apreensão do que foi dito e não dito durante as entrevistas não depende apenas de uma compreensão teórica, mas da percepção do/a pesquisador/a enquanto

“observador participante” na construção da narrativa.

Para a análise das entrevistas, utilizamos a reflexão de Garrido, que destaca a importância das fontes orais na pesquisa ao possibilitar a investigação de grupos ou indivíduos que não tiveram ou não têm a oportunidade de se expressarem e, desta forma, suas histórias e opiniões não são registradas nos documentos escritos:

Ampliando estas idéias básicas, é importante precisar que o uso das fontes orais permite não apenas incorporar indivíduos ou coletividades até agora marginalizados ou pouco representados nos documentos arquivísticos, mas também facilita o estudo de atos e situações que a racionalidade de um momento histórico concreto impede que apareçam nos documentos escritos.

Assim, portanto, as fontes orais possibilitam incorporar não apenas indivíduos à construção do discurso do historiador, mas nos permite conhecer e compreender situações insuficientemente estudadas até agora.

(GUARRIDO, 1992/1993, p. 36).

Desta forma, percebemos que a participação feminina na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS e toda sua dinâmica foram estudadas de forma insuficiente até agora. Ainda que representadas nos documentos arquivísticos sobre a Rede enquanto dados numéricos, as histórias das empreendedoras solidárias merecem não somente o registro estatístico, mas uma análise aprofundada da constante reconstrução ou reprodução de seu modo de vida enquanto participantes da Rede de Economia Solidária.

Nesta perspectiva, Martins (1996, p. 22), ao citar Lefebvre, afirma “[...] não há reprodução de relações sociais sem uma certa produção de relações, não há repetição sem uma certa inovação”. E diz ainda que “[...] nem todas as relações sociais têm a mesma origem.

Todas sobrevivem de diferentes momentos e circunstâncias históricas”. (1996, p. 15).

Assim, as transformações nas relações de gênero na Rede de Economia Solidária são difíceis, pois acreditamos que o aspecto inovador proposto pela teoria de Economia Solidária comporta toda a transformação necessária para uma sociedade mais justa.

Por muitas vezes, os/as gestores/as da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS,

que participaram e os/as que permanecem ainda agem acreditam que suas ações na Economia

Solidária são inovadoras, quando na verdade apenas reproduzem as relações sociais. Lefebvre

afirmava que esta reprodução está no cotidiano, quando pensamos que estamos produzindo

(30)

29 novas situações, novas relações, estamos na verdade reproduzindo relações sociais desiguais, nas quais os papéis masculinos e femininos são determinados pela biologia.

Saffioti nos remete também a esta reflexão e salienta que dentre as diversas ferramentas para a manutenção das desigualdades entre mulheres e homens, os mitos constituem instrumento de controle do comportamento feminino. Esta construção de mitos serve para determinar o papel da mulher enquanto esposa e mãe de maneira que sua ascensão profissional seja dificultada pelas condições desiguais colocadas para mulheres e homens. Diz a autora:

Com efeito, nas sociedades competitivas, os mitos femininos preenchem funções precisas e, neste sentido, representam uma das possibilidades, e talvez uma das mais simples, de controlar o comportamento das mulheres, de modo a contê-lo dentro de certos limites de variação e de motivá-las a aderir aos padrões exigidos pelo sistema, na medida em que funcionam como legitimações destes mesmos padrões. (SAFFIOTI, 1976, p. 309).

Desse modo, percebemos que estes mitos são presentes no cotidiano das mulheres participantes da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS. Estas participam de uma experiência que parece ser transformadora, no entanto, continuam a exercer seus papéis definidos pelo sistema e aderem aos padrões estabelecidos por este.

Mesmo assim, a Rede de Economia Solidária de Dourados-MS constitui estratégia de empoderamento e resistências efetivadas por essas mulheres. Estas significam “ganhos” e transformações em suas vidas. Sabemos que mudanças “pequenas” acumuladas geram transformações mais amplas na consciência feminina para a percepção de sua participação na Rede de Economia Solidária e na sociedade.

4. Os capítulos

A dissertação está estrutura em quatro capítulos. No primeiro capítulo, abordamos a maneira como as pesquisas históricas têm estudado a participação das mulheres na sociedade.

Com a expansão de movimentos feministas no mundo e inovações nas pesquisas históricas –

fato conhecido como “nova história” – há uma preocupação em entender a atuação das

mulheres na sociedade. A história das mulheres é fruto de diversos questionamentos e lutas de

militantes feministas e pesquisadores/as sobre método histórico tradicional que se dedica ao

registro dos grandes feitos do “homem” e dos grandes acontecimentos.

(31)

30 A partir da emergência do conceito de gênero formulado por pesquisadoras feministas, há uma preocupação em não fazer uma história descritiva dos feitos femininos, mas interpretar os fenômenos que permitem relações desiguais entre mulheres e homens. Neste sentido, esta pesquisa sobre a Rede de Economia Solidária de Dourados-MS procura compreender os meandros da dominação masculina que permeiam muitas ações de gestores/as e empreendedores/as solidários/as.

Para compreendermos a emergência da Economia Solidária e de que maneira esta se tornou alternativa para as mulheres, fizemos reflexões sobre o processo histórico de sua participação no mundo do trabalho a partir do século XIX.

As reflexões teóricas sobre a história das mulheres e de gênero permitiram o desenvolvimento da discussão sobre a internacionalização crescente do capital, com vistas a um mercado mundial unificado, que torna a globalização um processo excludente ao alimentar uma crescente desigualdade nas situações de trabalho das mulheres e dos homens.

Foi possível demonstrar que as mulheres sempre trabalharam tanto no âmbito doméstico (o mais desvalorizado) quanto no âmbito público, mas sempre como mão-de-obra mais barata e explorada. Desta forma, as representações sobre o trabalho de mulheres foram construídas de modo a subjugá-las. Mesmo na chamada era da inovação, é possível encontrar uma grande quantidade de mulheres pobres, trabalhando a baixos salários e sob péssimas condições, e aquelas que conquistaram o mercado ainda ganham menos que os homens.

Estudamos o crescimento da participação feminina no mundo do trabalho, principalmente, a partir da década de 1990, sinalizando erroneamente uma conquista feminina e a superação de diferenças entre mulheres e homens. No entanto, essa participação feminina no mercado de trabalho tem-se voltado a trabalhos informais e precários, demonstrando que as oportunidades de empregos e trabalhos dignos continuam desiguais para mulheres e homens. No âmbito doméstico, esta situação se agrava. Apesar do acesso feminino a um número maior de postos de trabalho em diversos campos, suas “ditas obrigações domésticas”

tiveram poucas transformações. Os afazeres domésticos permanecem sob responsabilidade das mulheres mesmo quando estas exercem um trabalho fora do lar.

Neste contexto, no primeiro capítulo, abordamos as realidades distintas do processo

globalizador que possibilita o surgimento de iniciativas como as Redes de Economia

Solidária, enquanto alternativas para mulheres em situação vulnerável da sociedade

capitalista.

(32)

31 No segundo capítulo desta dissertação, apresentamos reflexões acerca do conceito de Economia Solidária e da história de seu surgimento no Brasil. Nesta leitura histórica, registramos a importância dos movimentos sociais e suas lutas desde as décadas de 1970 e 1980 até a de 1990, período no qual se consolida o que atualmente denominamos Economia Solidária. Percebemos que seu surgimento está ligado às primeiras experiências de autogestão e cooperativas populares, atreladas às iniciativas de movimentos sociais para a construção de alternativas de geração de trabalho e renda, na busca por qualidade de vida.

Neste sentido, o surgimento da Economia Solidária no Brasil coincide com uma mudança nas estratégias de lutas dos movimentos sociais a partir da década de 1990.

Diferente dos períodos anteriores, os movimentos sociais utilizam redes sociais como ferramentas para dialogar com o Estado para a conquista de soluções para problemas sociais diversos, através de fóruns, reuniões e debates para implementação de políticas públicas. O crescimento das ONG’s favorece a interlocução com diversos agentes sociais visto que na década de 1990 estas passaram a ter mais importância e visibilidade que os movimentos sociais.

Assim, o surgimento da Economia Solidária e sua expansão é fruto de diversas experiências na busca por uma vida melhor por diversos grupos. Estas experiências foram amadurecendo, seus/as pensadores/as recriaram projetos, metas, estratégias. Os/as participantes avaliaram seus resultados, refletiram sobre as especificidades dos grupos, por classe social, gênero, etnia, idade, etc. Outras demandas surgiram e através do diálogo com diversos setores da sociedade os movimentos sociais construíram várias possibilidades para a vivência em sociedade de forma democrática para todos/as. Dentre estas alternativas, as Redes de Economia Solidária se destacam enquanto ferramenta viável para a geração de trabalho e renda com dignidade.

No terceiro capítulo, tecemos reflexões sobre a Rede de Economia Solidária de Dourados, Mato Grosso do Sul. Inicialmente, apresentamos um breve histórico da formação do estado, demonstrando que na formação história da sociedade sul-mato-grossense apenas algumas famílias foram beneficiadas por diversas leis e políticas agrárias voltadas à formação de grandes propriedades.

Este quadro fez com que as desigualdades sociais, os problemas sociais ficassem

sempre em segundo plano, o que gerou ainda mais conflitos e taxas alarmantes de desemprego

e pobreza.

(33)

32 Numa mudança de mentalidade política na cidade de Dourados-MS, a partir do ano 2000, a Prefeitura precisou pensar em estratégias de geração de trabalho e renda além do trabalho assalariado tradicional. Seguindo exemplos de outras experiências de Economia Solidária nas diversas cidades do Brasil, a Prefeitura iniciou suas atividades visando criar uma estrutura funcional para dar origem a uma Rede de Economia Solidária na cidade.

Para tanto, a Secretaria de Assistência Social agregou a Economia Solidária como política pública para emancipação social. Ligada e subordinada à Secretaria, foi criada uma Superintendência de Economia Solidária para pensar, organizar a Rede na cidade e articular ações, fazer parcerias e estudar estratégias que viabilizassem a implantação da Economia Solidária na cidade de Dourados-MS.

Toda a estrutura montada com a finalidade de trazer a Economia Solidária à Dourados- MS trouxe resultados positivos. Outras entidades nasceram para apoiar a Rede, como a ONG Mulheres em Movimento, o Banco Comunitário Pirê e o Fórum Municipal de Economia Solidária. A Rede cresceu de forma significativa até o ano de 2008, quando há uma mudança de governo. Depois de 2009, a Rede perde o apoio da Prefeitura que tinha na gestão anterior e, com isto, muitas pessoas se desvinculam da Rede. No entanto, desde 2009, permanecem na Rede de Economia Solidária de Dourados-MS pequenos grupos que realmente acreditam na proposta de uma economia voltada para a solidariedade e igualdade.

Apesar do pouco incentivo por parte do poder público, muitas ações da Rede permanecem ativas. O Banco comunitário Pirê continua fazendo os empréstimos para os/as empreendedores/as solidários/as. A moeda social Pirapirê continua circulando. Também parcerias com as universidades e outras instituições permanecem. Mas os cursos de qualificação não acontecem mais, pois estes eram realizados mediante parceria da Prefeitura municipal com as escolas profissionalizantes do sistema “S”.

No entanto, a Rede de Economia Solidária de Dourados-MS é referência no estado de Mato Grosso do Sul e na região Centro-Oeste como instrumento para o combate à pobreza e à exclusão social.

No capítulo quatro, aprofundamo-nos no estudo da Rede de Economia Solidária de Dourados-MS para compreendermos a participação das mulheres. Percebemos que mesmo com o mérito da Rede, em oportunizar às diversas pessoas a capacidade de gerar renda apesar do desemprego, muitas ações continuam permeadas por uma oculta dominação masculina.

A igualdade proposta pela Economia Solidária é um objetivo de difícil conquista,

principalmente porque vivemos em uma sociedade na qual as relações são desiguais. Desde a

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