BrazJOtorhinolaryngol.2017;83(4):373---374
www.bjorl.org
Brazilian
Journal
of
OTORHINOLARYNGOLOGY
EDITORIAL
The
multicultural
evolution
of
beauty
in
facial
surgery
夽
A
evoluc
¸ão
multicultural
da
beleza
na
cirurgia
facial
O conceito de beleza facial tem sido definido de várias maneiras,asquaisremontamaostemposantigos,eembora adefinic¸ãocontinueasedesenvolver,tornou-seclaroquea belezaatravessafronteirasétnicasetemumimpacto cultu-raleeconômicosignificativo.Subconscientemente,abeleza é percebidapelos sereshumanoscomo umsinaldegenes favoráveiseaumentodafertilidade,quedesempenhamum papel na selec¸ão do (a) parceiro (a). Como resultado, as característicasdeatrac¸ãopercebidasquesão subconscien-temente selecionadas evoluíram muito mais rapidamente do que outras características naturalmente selecionadas. Alémdisso,osindivíduos belossãomaispropensosaobter melhoresnotasnaescola,sercontratadosparaumemprego, recebersaláriosmaiselevadoseservistoscomomais agra-dáveis,maisinteligentesemaissaudáveis.1 Emboratenha
sidoditonopassadoqueabelezaestá‘‘nosolhosdequem vê’’,estudosmaisrecentestêmsugeridoqueabelezaéuma qualidadeobjetiva,quantificável.
Osgregosantigos iniciarama buscadeumpadrão uni-versalde belezae acreditavamque ela era representada pela‘‘proporc¸ãoáurea’’tambémconhecidacomophi,que se pensava representar a harmonia perfeita.1---3 Na
natu-reza,aproporc¸ãoaparecena espiraldasconchas,nataxa de crescimento damandíbula humana e no DNA do anti--helix. Exemplos de sua aplicac¸ão incluemarte egípcia e arquitetura,asequênciadeFibonaccieformasgeométricas, como o pentágono e o decágono. Muitos aindaacreditam quephitambémcorrespondeàbelezafacial.3Noentanto,
outrosaconsideraminexata.Porexemplo,Marquardtcriou um padrão facial ‘‘ideal’’ baseado no phi, e não ape-nas ele se aplicava mal às pessoas de descendência não europeia/branca,mas tambémmasculinizavaasmulheres brancas.4
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.
2017.04.005
夽 Comocitaresteartigo:CerratiEW,ThomasJR.The
multicultu-ralevolutionofbeautyinfacialsurgery.BrazJOtorhinolaryngol.
2017;83:373---4.
Oconceitodebelezacomoumafórmulacontinuoua evo-luir com osartistas do períododo Renascimento. Através deDa Vincie seuscontemporâneos, osideais neoclássicos foramamplamentebaseadosnophi.Osartistas-anatomistas dos séculos 17 e 19 propagaram esses novos padrões no campo médico, que criou uma definic¸ão ‘‘universal’’ de beleza para o período.2 Embora esses ideais continuem
hojea terumaforte influênciana análise faciale sirvam comoumadiretrizparaoplanejamentocirúrgico,apesquisa mostrouqueessesideaisaindanãoseaplicam transcultural-mente.
Apesardaincapacidadedequantificaruniversalmentea beleza,ospesquisadores descobriram que existe um con-sensosobrea avaliac¸ão daatratividadeentreorientac¸ões sexuais,gruposétnicoseetários.Estudostêmdemonstrado quediversaspopulac¸õesconcordamsobrequemée quem nãoéatraente.Alémdisso,mesmoosbebêstêmuma pre-ferênciainataporrostosatraentes.1Certasconcepc¸õesde
belezafacialouatratividadepodemsereternas.Em2006, Bashourpesquisouedesafioucadaumdosquatroconceitos. Eleconcluiuqueaatratividadesubjetivacompreende ape-nasumapequena porcentagemdepreferênciapessoalem relac¸ãoaumaavaliac¸ãoobjetivabiológicamuitomaiorde atratividade.5
Os quatro conceitos de beleza facial incluem sime-tria, proporcionalidade, juventude e dimorfismo sexual. Acredita-sequeoprimeiroconceitodesimetriarepresente umaaltaqualidadededesenvolvimento.Umafacesimétrica reflete a condic¸ão fenotípica e genética de uma pessoa, dá-lhe uma vantagem na competic¸ão sexual. A proporci-onalidade, o segundo conceito, é informada pela teoria darwiniana de que as pressões evolucionistas funcionam contraosextremosdapopulac¸ão.Comoresultado,osseres humanosapreciaminatamenteofatodequeamédia repre-sentaaheterozigosidadegenéticaeumamaiorresistência adoenc¸as.Oterceiroconceitoéa juventude.Acredita-se que ascaracterísticas neonatais, taiscomo olhos grandes e um nariz pequeno, sugerem qualidades desejáveis de jovialidadedajuventude, damente abertae afabilidade. Àmedidaqueumapessoaenvelhecee seustecidosmoles
2530-0539/©2017Associac¸˜aoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaC´ervico-Facial.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eum
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caem, o rosto se desvia do padrão phi, resulta em uma diminuic¸ãonaatratividade.Alémdisso,océrebro humano interpreta as mudanc¸as físicas do envelhecimento como uma diminuic¸ão da fertilidade. O quarto e último con-ceitodebelezaéodimorfismosexual,definidocomouma diferenc¸afenotípicaentremachosefêmeas.Paraas mulhe-res,oaumentodoestrogênio levaao desenvolvimentode características secundárias que sugerem uma hospedeira fértileumavantagemreprodutiva.Essasincluemuma man-díbula fina, queixo pequeno, grandes olhos amplamente espac¸ados, nariz pequeno, malares altos e lábios carnu-dos.Ao contrário,ascaracterísticasfísicas desejáveisnos homenssãoaquelasquesignificamaltosníveisde testoste-rona,taiscomomandíbulaproeminente,queixoquadrado, olhosprofundos,lábiosfinos,sobrancelhaspesadasepelos abundantes.1,2
Embora possa haver um acordo transcultural sobre a atratividade, cada etnia tem características únicas que sãoincorporadasàsuadefinic¸ãode‘‘proporcionalidade’’. Para o cirurgião plástico facial, essas características úni-cas devem ser respeitadas e consideradas para se criar umresultado harmonioso e elegante que satisfac¸a os cri-tériosdebelezaeatratividade.Comoresultado,osideais neoclássicospodemnãoservircomodiretrizesprecisasem pacientesnãobrancos.Especificamentenarinoplastia, exis-temdiferenc¸asanatômicasdistintasentreonarizleptorrino vistoembrancos,onarizplatirrinovistoempopulac¸ões afri-canase asiáticase onarizmesorrino vistoem populac¸ões latino-americanas.1 Ospacientesfrequentementedesejam
preservarsua identidadecultural, porisso é fundamental que o cirurgião claramente diferencie esses objetivos no períodopré-operatório.
Aatualpráticadacirurgiaplásticafacialtípicatemse tornadocadavezmaismulticultural.Asociedademoderna globalizada tem desempenhado um papel significativo na percepc¸ão da beleza. A mobilidade econômica, combi-nadacomumaumentonoscasaisinter-raciais,obscureceu as linhas de identidade étnica e os resultados estetica-menteúnicosebelosnãopermitemqueospacientessejam caracterizados como se fossem encaixados em um molde estreitocomdesejosprevisíveis.1Osprincípiosclássicosda
beleza,inclusive phi, simetria, proporcionalidade, juven-tudeedimorfismosexual,aindapodemseraplicadoscomo diretrizes,masocirurgiãodeveincorporarumavisãomais ampladaanálisefacialedastécnicascirúrgicas.A importân-ciadeidentificarasidentidadesétnicasdospacientesnão podesersubestimada,poisospacientespodemquerer apa-gar,preservar,modificaroumesmo aprimoraressestrac¸os inerentesespecíficos.
Além disso, a cirurgia cosmética continua a ser cada vezmaisdesejávelesocialmenteaceitável.Oaumentoda atenc¸ãoedointeressepodesercreditadoàsuaexposic¸ão
em reality showsna televisão, mídiassociaise documen-tários cirúrgicos. O aumento da demanda e a crescente diversidade populacional garantem que cada paciente irá apresentar um contexto e objetivo cosmético únicos. O cirurgião deve ajudar os pacientes a atingir um objetivo que seja harmonioso com o seu rosto, obter um resul-tadoatemporal,atraente,emvezdeserinfluenciadopelo desenvolvimentodeumatendênciadamoda.Aorientac¸ão correta,oinsighteocontroleéticodistinguemocirurgião deumtécnico.Maisimportanteainda,essasqualidades pre-servamaintegridadedocampodacirurgiaplásticafacial.
Embora modificac¸ões faciais possam ter um tremendo impactona vidados pacientes,oresultado planejadonão deveseaventurarmuitolongedosconceitosdebelezafacial quedefiniramocampodesdeasuacriac¸ão.Fotografias digi-tais,juntamentecomimagensdecomputador,têmajudado nasavaliac¸õespré-operatóriasem umesforc¸o para confir-marqueocirurgiãoeopacientetêmosmesmosobjetivos estéticos.Atecnologiacontinuaráamelhorar,afimde faci-litaressadiscussãoinicial.Àmedidaqueasociedadeevolui, anossacompreensãodabelezaenossatentativadedefini-la cirurgicamentedevemevoluirigualmente.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.WeeksDM,ThomasJR.Beautyinamulticulturalworld.Facial PlastSurgClinNAm.2014;22:337---41.
2.ThomasJR,DixonTK.Aglobalperspectiveofbeautyina multi-culturalworld.JAMAFacialPlastSurg.2016;18:7---8.
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4.HollandE.Marquardt’s phimask: pitfallsofrelyingonfashion modelsandthegoldenratiotodescribeabeautifulface. Aesthe-ticPlastSurg.2008;32:200---8.
5.BashourM.Historyandcurrentconceptsintheanalysisoffacial attractiveness.PlastReconstrSurg.2006;118:741---56.
EricW.Cerratia,∗
e J.ReganThomasb aUniversityofIllinoisatChicago,Departmentof
Otolaryngology-HeadandNeckSurgery,DivisionofFacial Plastic&ReconstructiveSurgery,Chicago,EUA
bUniversityofIllinoisatChicago,Departmentof
Otolaryngology-HeadandNeckSurgery,Chicago,EUA
∗Autorparacorrespondência.