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A educação infantil teclando e navegando na tecnologia da informação

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Academic year: 2021

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MIRIAM BENEDITA DE CASTRO CAMARGO

A EDUCAÇÃO INFANTIL TECLANDO E

NAVEGANDO PELAS TECNOLOGIAS DA

INFORMAÇÃO

CAMPINAS

2013

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objeto estudar o processo de apropriação do computador e sua utilização no cotidiano de 05 (cinco) Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) do município de Campinas, sendo que 04 (quatro) se situam na região Sul: EMEI Celisa Cardoso do Amaral, EMEI Presidente Campos Salles, EMEI Prefeito José Pires Neto, EMEI Comecinho de Vida e 01 (uma) intitulada EMEI Agostinho Páttaro considerada precursora no trabalho com computador pertencente à região Norte da cidade. Também escrevo sobre a formação continuada recebida pelo professor de Educação Infantil, nos cursos oferecidos pelo Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE e seus efeitos no cotidiano das Unidades Educacionais de Educação Infantil.

A complexidade deste tema exigiu o estudo de vários autores como: Moran (2000), Silva (2011), Bastos (2001), Monarcha (2001), Faria (1999), Ramos (2010), Ferraz (2001), Kuhlmann (1998), Kenski (2007), Papert (1993), Buckingham (2000), Muller (2009), Juquer (2012), Szymaschi (2001), Hishimoto (2009).

Este estudo aponta para a necessidade da Secretaria Municipal de Educação de Campinas aperfeiçoar a política de formação em relação à normatização do cronograma, a divulgação e a integração do conteúdo dos grupos de formação com as atividades realizadas nas Unidades Educacionais de Educação Infantil; de que os cursos ministrados pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) sejam reflexivos e não apenas técnico; dos entraves enfrentados pelos professores e Unidades Educacionais quanto à utilização dos computadores, formação teórica e prática dos professores, que muitas vezes inviabilizam as propostas pedagógicas, além da estrutura física e elétrica inadequada para a instalação do computador e da internet.

Neste contexto é importante que haja diálogos e ações conjuntas entre o Departamento Pedagógico, a Coordenadoria de Formação, Núcleos de Ação Educativa Descentralizada, Núcleo de Tecnologia Educacional e Assessoria de Currículo para garantir que os cursos em geral venham contribuir para a continuidade dos projetos idealizados pelo coletivo educacional, visando à qualidade e reflexão nos cursos e ampliação da estrutura física, pessoal, teórica e prática do NTE.

Palavras-chave: Educação Infantil, Tecnologia, Formação, Prática docente, Projeto

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ABSTRACT

This research aims to study the process of appropriation of the computer and its use in the routine of five (05) School District Early Childhood Education (EMEIs) in Campinas, which 04 (four) of them are located in the South region and 01 (one), considered the forerunner in working with computer, belongs to the north region of the city. I also write about kindergarten teacher professional development education in courses offered by the Educational Technology Center - NTE and its effects on the daily routine of Educational Units of Childhood Education.

The complexity of this issue required the study of various authors, such as: Moran (2000), Silva (2011), Bastos (2001), Monarcha (2001), Faria (1999), Ramos (2010), Ferraz (2001), Kuhlmann (1998 ) Kenski (2007), Papert (1993), Buckingham (2000), Muller (2009), Juquer (2012), Szymaschi (2001), Hishimoto (2009).

This study indicatesthe need of Municipal Secretary of Education in Campinas

to improve the professional development policy in relation to the schedule regulation, dissemination and integration of the content of the training groups with activities done in Early Childhood Educational Units; also the courses offered by the Educational Technology Center (NTE) may be reflexive and not only technical; barriers faced by teachers and Educational Units on the use of computers, theoretical and practical training of teachers, which often do not make the educational proposals possible, and also the physical and electrical structure for the installation of computers and the internet.

In this context it is important to have dialogues and joint actions are needed between the Pedagogical Department, the Professional Development Coordination Department, Centers for Decentralized Educational Actions, Educational Technology Center and Curriculum Advisory to ensure the courses will contribute to the continuity of the projects conceived by the collective education, aiming at quality and reflection in courses and expansion of physical infrastructure, personal, theoretical and practical from NTE.

Keywords: Early Childhood Education, Technology, Professional Development

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xi

Dedico a meu pai (in memória), a minha mãe, meu irmão, minha irmã, que me orientaram em todos os momentos da minha vida e que sempre me incentivaram a estudar.

Ao meu marido e filhos que estiveram de mãos dadas comigo na realização desse sonho me dando força, coragem, fé e alegria nessa minha caminhada.

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É preciso compreender o presente não apenas como presente de limitações, mas como presente de possibilidades (Paulo Freire).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me conduziu nessa caminhada dando me fé e confiança para seguir em frente.

A minha mãe Maria Nadalini de Castro que me concedeu a chance de ser educada por uma família maravilhosa, que me ensinou a importância de estudar e que até hoje me apoia em todos os momentos da minha vida.

Ao meu irmão José de Castro Neto e a minha irmã Juciene Aparecida de Castro que sempre me amaram muito.

Ao meu marido Alcides Camargo, e aos meus filhos Ícaro Augusto, Iago Felipe e

Igor Henrique que me incentivaram durante todo o processo de escrita dessa

dissertação, motivando-me a cada dia e aceitando os meus períodos de ausência nas suas vidas cotidianas.

A minha Orientadora professora Doutora Afira Vianna Ripper pela confiança e dedicação a mim depositada, pela orientação competente, pela disponibilidade, pelos momentos que compartilhou sua experiência profissional e as muitas vezes que contribuiu na realização desta pesquisa.

A professora Ms. Maria Aparecida Damin da Silva que caminhou de mãos dadas comigo nos momentos alegres e árduos do cotidiano me auxiliando na busca do desejo, da reflexão e do sonho.

Ao professor Doutor Guilherme Val Toledo que nessa caminhada me auxiliou, me provocou e me instigou, quanto ao memorial, registro e a formação dos professores. Ao professor Doutor Álvaro José Pereira Braga amigo de todas as horas que com suas ponderações me auxiliou a olhar e reolhar a trajetória percorrida.

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xvi A professora Doutora Rúbia Cruz amiga e companheira, profissional adorável que em todos os momentos teve uma palavra de parceria, motivação e amizade que muito me auxiliou.

Ao professor Doutor Newton P. Bryan amigo e profissional, que rapidamente aceitou meu convite para compartilhar esse momento tão importante da minha vida.

A Equipe Educativa do Núcleo de Ação Educativa Descentralizada Sul (Representante

Regional e Supervisores Educacionais) que direta ou indiretamente contribuíram com

a realização desse trabalho.

As Coordenadoras Pedagógicas de Educação Infantil do NAED Sul, Margarete,

Marina, Clélia, Marisa e Renata que sempre foram presentes, amigas e parceiras

nessa caminhada, contribuindo muito com as minhas reflexões.

A Orientadora Pedagógica Martinha que com sua amizade e ponderação contribuiu comigo a todo o momento.

A todos os gestores, professores, monitores/agentes e funcionários das Escolas Municipais de Educação Infantil da Região Sul que escreveram os Projetos Pedagógicos e as avaliações, que deram vida a essa Dissertação de Mestrado.

As professoras de Educação Infantil das Unidades Educacionais pesquisadas que permitiram que eu estivesse presente em salas de aula, nas salas multifuncionais observando e conversando sobre o trabalho realizado.

Ao Núcleo de Tecnologia Educacional, Ângela, Márcia, Carla, Karen, Ivonete que me auxiliaram com documentos, entrevistas, conversas e reflexões que foram bases essenciais para a escrita dessa Dissertação.

As Gestoras Educacionais Leila Sarubbi e Lorena, Carla e Janete, Leila e Iara,

Solange, Sara e Martha por colaborarem com a minha pesquisa.

As minhas amigas do LEIA Elizandra e Teresa que contribuíram com discussões e reflexões que auxiliaram essa pesquisa.

A minha amiga e Vice Diretora Maria Terezinha Amaro que subsidiou a pesquisa conversando e rememorando seu trabalho na equipe de apoio do Projeto Eureka.

Aos meus sobrinhos Davi (03 anos) e Juninho (06 anos) que me ensinaram a “brincar, jogar, mexer, contar, pintar, espiar... utilizando o computador.

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xvii As crianças que nessa caminhada observei jogando e se encantando com o computador. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para essa pesquisa.

E finalmente a todas as pessoas as quais esse estudo de uma forma ou de outra poderá beneficiar.

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LISTA DE SIGLAS

ATP – Assistente Técnico Pedagógica CEDI – Coordenadoria de Educação Infantil

CEFORTEPE - Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional “Prof. Milton de Almeida Santos” da Secretaria Municipal de Educação.

CEMEI – Centro Municipal de Educação Infantil CHP – Carga Horária Pedagógica

CIED - Centros de Informática Aplicada à Educação de 1º e 2º grau CIES - Centro de Informática na Educação Superior

CIET – Centro de Informática na Educação Tecnológica CME – Conselho Municipal de Educação

CNPQ - Conselho Nacional de Pesquisas COPE – Coordenadoria de Programas Especiais CP – Coordenador (a) Pedagógico (a)

CPU – Central Processing Unit ou Unidade Central de Processamento (UCP) DIC – Distrito Industrial de Campinas

DIPPLA – Departamento de Informática, Planejamento e Pesquisa DOM – Diário Oficial do Município

EDUCOM – Educação e Computador EI – Educação Infantil

EF – Ensino Fundamental

EJA – Educação de Jovens e Adultos EXTRACAMP - Escola de Extensão

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xx EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental

EMPG – Escola Municipal de Primeiro Grau FE - Faculdade de Educação

FEAC – Fundação de Educação Comunitária FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

FUNDAÇÃO EDUCAR – Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos GT – Grupo de Trabalho

HP – Hora Projeto

IMA - Informática dos Municípios Associados

LEC - Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia LEIA - Laboratório de Educação e Informática Aplicada da FE/UNICAMP LIED - Laboratório de Informática da Escola

MEC – Ministério de Educação e Cultura

MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização NAED – Núcleo de Ação Educativa Descentralizada NIED - Núcleo de Informática Aplicada à Educação NTE – Núcleo de Tecnologia Educacional

OEA - Organização dos Estados Americanos PBSE - Plano Básico Socioeducativo

PLIMEC – Plano de Integração do Menor na Comunidade PP – Projeto Pedagógico

PROCAI - Programa Comunitário de Atendimento Infantil PROINFE - Programa Nacional de Informática na Educação RMEC - Rede Municipal de Educação de Campinas SEED - Secretaria de Educação a Distancia

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xxi SME - Secretaria Municipal de Educação do município de Campinas

TDPR – Trabalho Docente com Projetos

TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação U.E – Unidade Educacional/ Unidade Escolar UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRGS - Universidades Federais do Rio Grande do Sul UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

Memorial: Reencontrando a vida diante da impossibilidade... 01

O cotidiano compondo a realidade... 03

Do por do sol... Nasce uma vida... 05

O magistério... E o compromisso profissional... 07

Vida profissional... Projetos... Medos... Acertos... Propostas... 08

A opção de trabalhar somente na rede municipal... 13

Eu... Diretora Educacional... 14

O interesse pela informática... 18

Introdução... 25

O delineamento do tema... 30

Metodologia... 31

Participantes da pesquisa... 33

Instrumentos e procedimentos de coleta de dados... 35

Entrevista-Reflexiva... 36

Questionários desvelando o fazer com a informática... 39

Capítulo 1. A Educação Infantil no Município de Campinas... ... 41 As creches e a infância no Brasil... 49

O conceito de Infância... 55

A criança na era das mídias eletrônicas... 63

Capítulo 2. O computador Recriando a Prática Pedagógica... 67

Computadores na Educação Infantil do município de Campinas... 76

Recriação da pratica pedagógica no projeto Eureka... 80

EMEI “Agostinho Páttaro” preconizando a Informática na Educação infantil... 87

Núcleo de Tecnologia Educacional – rememorando fatos... 92

Capítulo 3. A formação da professora de Educação Infantil e as tecnologias de informação com crianças pequenas... 111

Projetos Pedagógicos e propostas de uso do computador, entrelaçando as ações das Unidades Educacionais e NTE Educacionais e Núcleo de Tecnologia Educacional... 116

EMEI Presidente Campos Salles... 117

EMEI Comecinho de Vida... 121

EMEI Celisa Cardoso do Amaral... 125

EMEI Prefeito José Pires Neto... 127

Incorporar à criança à Tecnologia Digital, Ampliar o Conceito de Letramento... 130

Considerações Finais... 135

Bibliografia... 145

Referências Eletronicas... 151

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1 MEMORIAL

REENCONTRANDO A VIDA DIANTE DA

IMPOSSIBILIDADE

Escrever essa dissertação de mestrado é caminhar por um antigo sonho, um rumo, um destino, coincidências, enfim um momento sem igual.

Ter a frente à possibilidade de se tornar uma pesquisadora diante das impossibilidades que a vida me trouxe, é maravilhosa.

Nesse processo de pesquisa pretendo contar muitas histórias sobre infância e infâncias, mas acredito que a primeira história a ser contada deva ser a minha.

Rememorar a minha história de vida, a minha infância, adolescência, fase adulta, escola, profissão é me identificar, me aproximar a cada momento da temática escolhida e esclarecer como e onde a tecnologia se entrelaça à minha vida e à minha a formação.

A minha trajetória se faz sempre de mãos dadas com a minha família, assim preciso, inicialmente, deixar registrado nesse memorial os momentos mais encantadores da minha vida.

Fui adotada por um casal onde a esposa tem descendência italiana e o marido descendência espanhola. Ele era militar e ela trabalhava em um departamento de Sericicultura, uma repartição do Instituto Agronômico, onde os bichos da seda eram alimentados.

Um dos filhos desse casal faleceu e eles tinham feito uma promessa de adotar uma criança. Após a morte do Antônio Carlos, eles tiveram mais dois filhos, José e Juciene, mas, continuaram firmes no propósito da adoção.

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2 Passado dez anos do nascimento da filha eu fui oferecida a esse casal, estava então com 12 dias, quando minha mãe biológica me ofereceu no quartel onde meu pai (adotivo) trabalhava. Imediatamente, meu pai que estava no trabalho telefonou para minha mãe e perguntou se ela queria adotar uma criança, ela disse que sim, sem pestanejar. Ele pediu que minha mãe genética me levasse ao endereço que ele lhe escrevera no papel sem ver a criança, só sabia que era uma menina enrolada naqueles “panos”, mas ficou sensibilizado pela história da minha mãe.

Ela se encaminhou para o endereço dado, onde eu era aguardada pela minha nova mãe e pela minha nova avó. Os meus novos irmãos estavam na escola.

Segundo minha mãe, eu estava muito embrulhada em uma manta, suja ou sujinha como ela diz, com muita fome, pois tinha passado 12 dias só tomando água com açúcar.

Minha mãe genética conversou um pouco, me desenrolou dos trapos e se foi, estava muito doente e logo faleceu. Contam que só viram que eu era negra quando me tiraram da manta, pois a minha mãe genética tinha os olhos bem azuis e cabelos loiros bem compridos. Segundo minha segunda mãe ela esperou que eu estivesse bem acolhida, para depois falecer.

Minha avó Olívia contava que me deram um banho demorado e eu dormi o dia todo na cama dela e a noite improvisou um colchãozinho em cima de duas cadeiras, pois o berço só seria comprado no outro dia. Ela dizia que ficou tão macio que não dava nem para me enxergar, pois eu afundava nas cobertas. Deve ter sido reconfortante.

Cresci em uma casa bem grande com um lindo quintal, daqueles que hoje só se encontra nas cidades bem pequenas.

No “meu” quintal tinha pés de pêssego, manga, jabuticaba, laranja, além de uma horta. Na mangueira tinha duas balanças, onde eu e minha prima nos divertíamos.

Lembro muito bem que quando perdi o primeiro dente estava chupando manga

no alto da mangueira.

Era no quintal que aconteciam todas as brincadeiras com os meus vizinhos. Tinha um vizinho chamado Wilson que brincávamos de posto de gasolina, o pai dele comprou um com tudo automático, eu tinha uma boneca de borracha, com olhos azuis e cabelos loiros, linda. Minha prima tinha um boneco careca com olhos azuis que era de

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3 “louça”, e quebrava com facilidade. Passávamos a tarde brincando. Na maioria das vezes minha avó fazia um lanchinho para todos.

O cotidiano compondo a realidade

Gostoso era ficar sentada no muro e esperar meu pai chegar, ele não vinha todo dia, porque dormia no quartel, mas quando vinha era um momento especial.

Minha mãe sempre me trazia muito bem arrumada, e com fita colorida no cabelo, cada dia de uma cor. Eu usava muita trança e coque, que uma vizinha fazia. Muitas vezes eu chorava, porque doía muito pentear e trançar o cabelo ela puxava tanto que às vezes eu dizia que ia virar “japonesa”, ficava bonito, mas, hoje eu penso que ela podia ter mais paciência comigo, eu a perdoo, porque se não fosse a mãe da Mélica, como seria o meu cabelo? Minha mãe não sabia pentear meu cabelo muito bem, ela achava que não ficava bom. O interessante é que eu chorava e minha prima chorava comigo, coitado do ouvido da mulher.

Fui para a pré - escola aos cinco anos. O meu primeiro dia no Parque Infantil Professor Hilário Pereira Magro Junior, na Vila Marieta foi de muito choro, pois queria que minha mãe e minha avó ficassem comigo. A escola era próxima a minha casa e eu subia no escorregador e gritava para minha mãe ouvir e vir me buscar, mas ela não ouvia, é claro.

Fui para a Escola Estadual Júlio de Mesquita fazer a primeira série com seis anos e meio. Minha professora se chamava Maria Taduku, de origem japonesa, magra, alta e dócil. Fiz a primeira série sem dificuldades. Estudei na Cartilha Sodré.

Realizei os quatro primeiros anos na mesma escola, conhecia todos os alunos, brincava no recreio e gostava muito de comer canjica, sagu, sopa de fubá com couve e leite com chocolate.

Detestava tomar vacina, mas sempre o Centro de Saúde estava na escola com aquelas enfermeiras de branco e com a seringa na mão, quanto choro. Gostava de contribuir com a Caixa Escolar, porque ela ajudava na compra de materiais escolares para quem não tinha, além de incrementar a merenda.

Gostava de ser a primeira da fila porque ia quase sempre de mão dada com a professora.

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4 Na segunda, na terceira e na quarta série as professoras eram minhas vizinhas; Dona Marina e Dona Vilma. Eu era muito amiga da Keila, filha da Dona Marina e da Raquel filha da Dona Vilma.

Na segunda série Dona Marina tinha um livrinho onde todos os problemas de matemática já estavam resolvidos, tínhamos muita vontade de olhar o livrinho, mas ela não deixava, às vezes pensávamos em pegá-lo, mas nunca realizamos esse sonho.

Um dia, na segunda série, Dona Marina pediu que escrevêssemos uma história com o título: Uma mão lava a outra, mas não explicou que era um dito popular e eu não consegui entender o que era. Escrevi sobre um homem que machucou a mão e precisou lavar porque sangrava muito. Passado algum tempo da aula ela começou chamar os alunos para ler, cada um leu uma história diferente, mas não tão diferente como a minha. Eu fui ficando gelada, me afundava na carteira, para não ser chamada, mas sentava na primeira mesa, pouco adiantava me esconder. Graças a Deus deu o sinal do recreio e não deu tempo de me chamar para ler, mas faltavam poucos alunos para terminar a leitura e ela disse que retomava na próxima aula. Após o recreio ela explicou e aí eu entendi o significado do tema.

Chegando em casa falei do dito popular para a minha avó e para a minha irmã, que já conheciam, elas me ajudaram a fazer uma bela história. Nunca mais esqueci o medo que senti de ler e interpretar algo errado e as crianças rirem de mim, além de receber nota baixa. Sinceramente receberia zero porque nunca tinha ouvido falar desse tal ditado.

Eu nunca havia tirado uma nota baixa e também meu pai não deixava. Na terceira série tirei nota 50 em matemática e minha prima 85. Fui motivo de gozação dela, das colegas na escola e até na minha casa. Minha mãe não contou para o meu pai, para ele não ficar bravo comigo, mas eu prometi que ia recuperar a nota e realmente estudei, estudei muito e consegui recuperar tirando uma nota 100. Não fiquei para exame e minha prima quase reprovou porque respondeu em uma prova que o peixe tinha cascão e não escamas, a professora não perdoou e a deixou de exame. A professora que ela estudava era a mais brava da escola.

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Do por do sol... Nasce uma vida

Durante a minha infância e na escola primária minha família estava me preparando para um encontro encantador e transformador na minha vida.

Num determinado dia, minha mãe me arrumou, me senti linda com as fitas coloridas e fomos passear.

Nesse dia fomos até o Juizado de Menores, conversar com o juiz, pois eles já tinham me contado que eu era adotiva.

Eu provoquei para que eles me contassem sobre a adoção, pois minha mãe tinha medo de falar. Eu demorei muito para perceber, apesar de todos os meus familiares serem brancos, mas sempre fui tão querida que a cor da pele passou despercebida.

Quando eu estava na terceira série é que comecei a perceber que minha pele era escura e a palma da minha mão era branca. Meus irmãos eram claros e eu perguntava para minha avó e ela dizia: “é assim mesmo porque seu vô por parte de pai tinha descendência índia” e o pior é que era verdade e por isso a pele dele era mais escura e eu achava que tinha a pele escura por causa dessa descendência.

Quando eu comecei a perguntar, minha mãe e meu pai acharam melhor conversar com o juiz para que ele os orientasse em como proceder e ver a possibilidade da troca do meu sobrenome, pois eu já havia descoberto que o meu sobrenome era diferente do deles. Eles esperaram eu descobrir correndo todos os riscos, para que eu pudesse ter certeza de que realmente queria continuar com eles. Minha mãe dizia que queria ouvir da minha boca se eu queria ficar com eles e trocar o nome e para isso tinha que ser no momento certo, e que o momento certo era esse.

Esse processo foi muito bom para mim, pois fui conversando com os meus pais e eles foram explicando pouco a pouco o que tinha acontecido, chegaram à conclusão que não precisavam mais esconder nada, pois eu gostava muito deles. Diante dessa segurança, dessa certeza, desse amor tudo mudou e eu me constituí nesse momento como filha legítima.

Fomos ao juiz e ao chegar não esperei muito, ele logo me recebeu, me colocou no seu colo e perguntou se eu estava gostando da minha mãe, do meu pai, dos meus

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6 irmãos, além de querer saber como era o meu dia a dia.

Perguntou da alimentação, da escola, se eu brigava com os meus irmãos, se alguém me batia, dos avôs, dos padrinhos, dos amigos, dos passeios, enfim perguntou um pouco de tudo e de todos.

Esse momento foi muito importante para mim e para meus pais que ficaram do lado de fora muito apreensivos, com o que eu iria decidir. O juiz me perguntou se queria mudar o meu sobrenome e eu rapidamente disse que sim.

Começou nesse momento uma nova história para a minha vida.

Houve uma festa em casa, minha mãe, muito festeira fez um almoço, todos estavam muito felizes.

E eu estava radiante, pois ia para uma nova escola com um novo sobrenome. Com dez anos eu iniciava o Ginasial, na Escola Estadual Professor José Vilagelin Neto, no Jardim Proença. Nessa escola fiz muitos amigos que trago até hoje no meu coração junto com a saudade, mas também passei por momentos difíceis que hoje entendo como preconceito racial.

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O magistério... E o compromisso profissional

Durante o Ginasial tinha um grupo de amigas e andávamos sempre juntas. Quando resolvemos fazer Magistério, foi mais uma ideia do grupo do que minha na verdade. Eu nem sabia o que queria fazer.

Conforme o tempo foi passando, eu fui gostando do curso, principalmente quando começamos a estagiar, pois a prática propiciava que fizéssemos materiais diversos para as crianças. Gostava de observar os professores dando aula.

No dia em que dei a minha primeira aula foi muito interessante, pois me perdi no tempo e a aula não terminava. A aula era sobre as profissões, então fiz vários joguinhos, mas tinha também a parte teórica, onde eu tinha que explicar as profissões. Eu resolvi começar a aula conversando com os alunos sobre as profissões dos seus pais, eles amaram, mas todos queriam falar e eu só tinha 40 minutos para desenvolver todo o planejamento.

Conversamos bastante, mas na hora dos joguinhos (a parte mais gostosa), tive que correr, pois o tempo era pequeno e em seguida tinha outra amiga para fazer o encerramento.

Não tive uma boa nota na aula prática, mas aprendi que temos que dosar o conteúdo e as atividades que reforçam o planejamento.

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Vida profissional... Projetos... Medos... Acertos... Propostas

Meu primeiro trabalho foi em uma escolinha particular chamada Recanto Baronesa, onde trabalhei por 06 meses. Foi muito difícil, pois pela primeira vez eu tinha que dar aula sozinha e ainda para crianças de 03 anos. Muitos alunos e tive que ensinar como usar corretamente o banheiro, outros choravam na adaptação, pois queriam a mãe, enfim foi uma luta sadia porque aprendi muito e hoje tenho experiência para orientar as pessoas com as quais trabalho.

Trabalhei na Federação das Entidades Assistenciais de Campinas - FEAC com adolescentes que frequentavam o Plano de Integração do Menor na Comunidade - PLIMEC, núcleo educacional que funcionava no contra turno da escola. Crianças carentes da favela do Jardim Santa Lúcia. Eles iam para a escola de manhã e a tarde tinha reforço escolar, jogos, brincadeiras e reflexão sobre os problemas cotidianos.

Uma experiência inesquecível, que me fez crescer muito, principalmente porque não conhecia nada daquela realidade e aprendi a valorizar a vida de cada um sem demonstrar preconceito. Minha vida profissional foi sendo delineada a partir dessas experiências e vivências.

Foi muito difícil deixar o grupo, mas precisava me dedicar à faculdade em período integral e tive que pedir para sair do projeto social.

Em 1979 fui chamada para dar aula na Prefeitura da Campinas, onde trabalho até hoje, trabalhei inicialmente, na EMEI Hermínia Ricci, na Vila Padre Manoel de Nóbrega fiz amizades inesquecíveis.

Trabalhei com crianças de cinco anos (infantil), minha sala tinha aproximadamente trinta crianças, dava para um gramado maravilhoso. A sala tinha uma grande porta que permitia que eu ficasse com um grupo de crianças no interior da sala e outro brincando no gramado.

Tinha uma proposta de trabalho diferente das outras professoras, pois eu queria muito trabalhar com atividades diversificadas, com cantinhos ou ateliês tanto dentro e como fora da sala. Tinha receio, pois era nova ali. Era uma proposta ousada para a época, sendo que a minha preocupação era pensar como a Diretora Educacional e a

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9 Orientadora Pedagógica reagiriam. Com esse pensamento fiz amizade com a professora mais antiga da escola e conversei com ela sobre meus propósitos.

Ela gostou muito da ideia e logo tanto ela como eu estávamos trabalhando com pequenos ateliês. Outra professora se encantou e começou a trabalhar também. Encontramos resistência na Orientadora Pedagógica, pois em 1979 tínhamos que seguir o conteúdo programado pelas Assistentes Técnico-Pedagógicas – ATPs da Secretária de Educação de Campinas.

Decidimos não se importar com a Orientadora Pedagógica e estudar bastante para termos argumentos quando ela perguntasse do nosso trabalho na reunião pedagógica, muitas vezes não deixávamos que ela falasse porque perguntávamos muito sobre o objetivo do conteúdo apresentado, enfim fazíamos do nosso jeito e usávamos um pouco do conteúdo proposto pela SME.

Conseguimos virar o jogo quando começamos a fazer teatro com as mães, além de trazê-las para experimentar o cotidiano dos filhos na reunião de pais e mestres. Também trouxemos avós para conversar sobre o passado. Bem conseguimos o respeito da diretora e da orientadora de uma forma tal que ela elogiava o nosso trabalho para todos. Naquela época misturávamos um pouco da pedagogia Freinet com tema gerador e com datas comemorativas, etc. Eu usava muito gravador tanto para tocar músicas infantis, mas também com as crianças cantando, contando histórias ou simplesmente conversando com elas mesmas.

O importante para mim era que a criança tivesse liberdade de escolha no dia a dia, conversasse muito na roda e construíssemos juntas a rotina diária. Eu e as outras professoras faltando pouco tempo para o término do ano letivo passamos a nos preocupar com a auto avaliação do trabalho realizado pela criança, mas o pouco que fizemos deu para perceber o quanto a criança se observa e observa o outro. Não fazíamos livro da vida, mas trabalhávamos com flip charp ou lousa. Foi uma experiência maravilhosa, mas tive que deixar a escola em janeiro de 1980.

Fazer UNICAMP durante o dia e dar aula a tarde eu não estava conseguindo, pois saia às 11:15 de Barão Geraldo e tinha que chegar as 12:00 horas na Unidade Educacional da Prefeitura, de ônibus coletivo, era muito difícil e eu comecei a me sentir muito cansada.

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10 Em fevereiro de 1980 fui chamada para trabalhar em uma escola particular, hesitei muito em aceitar, mas o salário era bom e eu já tinha feito todas as matérias obrigatórias, então na segunda vez que a professora Maria Rosa Marafon coordenadora de 1ª a 4ª série me chamou não pensei duas vezes em aceitar.

A escola era bastante tradicional, mas aos poucos fui refletindo jeitos novos para trabalhar. Essa escola investia muito em cursos para formação de professores e gostava muito que o professor inovasse na metodologia, era tudo o que eu queria.

Trabalhei com crianças de 1ª e 2ª séries, confeccionamos muitos jogos, fizemos muitos teatros, cantávamos muito, sendo que eu e minha amiga chegamos a cantar e gravar uma música para que as crianças dançassem no teatro para os pais. Mais de duzentos pais e a nossa voz saindo nas caixas de som e os pais curiosos para saber quem cantava, as crianças adoraram e nos mostrou que o envolvimento com as crianças era total. Em outro momento trabalhamos com um samba do cantor e compositor Martinho da Vila que falava sobre o Brasil e as crianças apresentaram uma dança misturada com teatro, foi lindo e inovador, pois trabalhar com samba numa escola de freiras não era normal.

Naquela época o meu interesse era que a criança estivesse sempre trabalhando feliz.

De uma hora para outra, a mantenedora do Colégio achou melhor trabalharmos com uma proposta curricular específica, que orientasse os nossos trabalhos de forma que todos os professores de 1ª a 4ª séries trabalhassem com os mesmos objetivos e conteúdos.

A escola, então adotou o Projeto Alfa1, projeto que tinha como objetivo principal trabalhar o autoconceito, linguagem oral e escrita, pesquisa e raciocino lógico. Fizemos o curso em São Paulo e parecia muito interessante. Não usávamos cartilha, trabalhávamos a partir de textos ou de palavras do universo da criança, muita exploração científica e muita pesquisa em matérias sociais, mas com apostilas e direcionamento metodológico.

O trabalho se desenvolvia muito bem, mas de repente chegou uma nova

1

Projeto Alfa I – consistia em material de alfabetização, publicado pela editora Abril em 1980, que foi muito utilizado como metodologia de trabalho nas escolas privadas e em alguns estados e municípios.

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11 coordenadora pedagógica vinda de São Paulo, onde o mais importante para ela era o trabalho com os objetivos, enfim passamos a fazer tantos objetivos que os professores não sabiam nem para o que serviam. Era cômico. O planejamento era feito e refeito várias vezes até os objetivos estarem certos era muito interessante, porque não havia preocupação direta com o que acontecia em a sala de aula, somente com o que estava no papel, bom eu ia levando a minha vida, dando a minha aula e curtindo muito os meus alunos e aquele momento.

Certo dia fui fazer uma experiência plantando legumes em caixotes dentro da sala de aula, maravilhosa experiência, mas quando as crianças molhavam demais a horta o perigo era a água escorrer pelo chão de madeira encerada da escola e manchar de branco. Eu vivia com um pano com cera e um pano de chão passando no local. Em um feriado a funcionária molhou demais e a água foi parar na sala do andar de baixo, não preciso dizer que fui chamada para conversar, mas nada demais arrumaram um lugar para eu plantar com meus alunos, foi um incidente que se transformou num grande trabalho. Agradeço até hoje a funcionária.

Em 1981 nas férias de julho fui para o estado do Acre participar do Projeto Rondon, onde fiquei trinta e cinco dias conhecendo, auxiliando e orientando os professores, diretores, coordenadores da cidade de Cruzeiro do Sul, uma experiência que até hoje lembro, pois aprendi com o povo do Acre a trabalhar com a cultura e que temos que respeitar os saberes de cada um, fui com o objetivo de formar e acabei sendo formada.

Entre 1986/87 fui convidada para trabalhar na mesma escola como monitora de Educação Artística com as crianças de 1ª a 4ª série. Trabalhava com todas as crianças em um projeto ousado que consistia em fazer com que as crianças apreciassem e lessem as obras de diferentes artistas. O objetivo do projeto era que as crianças desenhassem usando todo o espaço do papel, para isso fiz uma parceria com o professor de Educação Física, pois era essencial que eles trabalhassem o corpo para entender o trabalho realizado na utilização de todo o papel. Experenciei os movimento interdisciplinares na escola

Eu trabalhava na escola particular e trabalhava nas escolas da Prefeitura de Campinas observando as duas realidades. Naquela época tínhamos mais liberdade no trabalho desenvolvido na escola Municipal, mas não tínhamos recurso financeiro para

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12 compra de material, mas crescíamos muito, pois estávamos sempre construindo diferentes materiais.

Houve uma época no Município que dava aula de reforço em diferentes Unidades Educacionais de ensino fundamental , assim ia para vários bairros periféricos, mas não consegui implantar nenhum trabalho que envolvesse a realidade, ou melhor, a cultura dos lugares, porque passava tão rápido, ficava às vezes um ou dois meses em cada escola. Muitas vezes conseguia utilizar na alfabetização de alguns adolescentes sua própria linguagem (gíria). Na escola do Parque D. Pedro II fiquei aproximadamente seis meses com adolescentes e crianças, onde desenvolvi teatro, escrita de recados e cartas, trabalhei com jogos matemáticos, resolução de problemas utilizando o cotidiano, letra de música, dança e pesquisa em revistas de temas atuais, etc. Usava brinquedos doados pela outra escola e outros que o meu pai fazia. Nessa época utilizava o mimeógrafo e datilografava no stencil o conteúdo que seria trabalhado com as crianças ou adolescentes.

Mas quando ia compreendendo que em cada lugar era necessário um mergulho na cultura local, nos saberes dos alunos, no que eu poderia contribuir e integrar ao cotidiano da escola, terminava minha substituição e mudava de escola e não terminava o trabalho proposto.

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A opção de trabalhar somente na rede municipal...

Em 1984 me casei e em 1987 nasceu o meu primeiro filho, assim trabalhar em duas redes de educação se tornou muito difícil.

Em 1990 optei em trabalhar somente no município, escolhi uma escola próxima à casa da minha mãe, pois facilitava para levar meu filho na casa dela, enquanto eu trabalhava. Após alguns meses e fui convidada para trabalhar na FUMEC como supervisora de Educação Infantil, mas para isso tive que fazer um projeto que na época foi avaliado pelo Secretário de Educação e pela Diretora Pedagógica. Foram escolhidas sete profissionais da rede para esse trabalho e eu fui escolhida em primeiro lugar. Fiquei radiante, porque não esperava que as minhas ideias viessem ao encontro daquela administração, até então eu me sentia um “peixinho” perdido no “espaço”. O bom que tinha acabado de encontrar mais seis pessoas com vontade de lutar por uma educação onde a criança construísse sua autonomia e tivesse condições de ser olhada e pensada como um todo.

Cada uma escolheu uma região para trabalhar. Eu escolhi a região do Jardim Santa Lúcia, Jardim Capivari, Jardim Ieda e outros bairros. As escolas de Educação Infantil se situavam dentro de Igrejas, Associações Amigos do Bairro, Salões Paroquiais, garagens, casas, enfim lugares dos mais variados, mas com professores interessados em diversificar o trabalho com as crianças. Fazíamos reuniões com as professoras para troca de experiências. Cada uma levava para a reunião uma atividade que as crianças tinham gostado muito durante o semestre e explicavam para as outras professoras quais eram os objetivos e como era desenvolvida. As professoras gostavam muito e ficavam animadas para as próximas reuniões, porque tínhamos um lanche comunitário que compartilhávamos a alegria do encontro. Inicialmente essas reuniões eram realizadas somente em uma região, mas foram ficando tão importante para os professores que resolvemos fazê-las em um lugar maior e centralizado, realizávamos as reuniões na “Escola Evolução,” envolvendo todas as regiões e assim proporcionar que os professores se conhecessem e consequentemente houve maior integração e troca de conhecimento.

Em 1991 voltei para o ensino Fundamental trabalhando novamente com segunda série e dando aula de reforço no contra turno. Tinha como proposta trabalhar com

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14 histórias infantis ou contos de fadas como eixo gerador o que consegui em parte, pois tinha que seguir o conteúdo determinado pela SME.

Muitas vezes “burlei” o estabelecido. Trabalhei com uma caixa de livros itinerante, onde as crianças emprestavam livros, liam em casa e discutíamos o conteúdo na sala de aula. As crianças gostavam muito. Ganhava muitos presentes das mães. Nesse ano um dos meus alunos ganhou uma medalha no Salão Vermelho como a melhor redação de toda Rede Municipal, fiquei muito feliz em acompanhá-lo para receber o prêmio das mãos do Secretario de Educação.

Em 1992 fiz um concurso interno na Prefeitura de Campinas e me tornei Orientadora Pedagógica efetiva de Educação Infantil. A diretora da escola, onde eu trabalhava não acreditou que eu tinha escolhido a educação infantil e ficou um bom tempo sem conversar comigo, pois tinha cargo efetivo naquela escola e eu não escolhi, mas eu sempre achei que a minha maior contribuição como profissional era com as crianças pequenas. Nesse ano nasceram meus gêmeos.

Eu... Diretora Educacional...

Em 1994 fiz novo concurso interno e fui para a direção de um CEMEI no DIC I, com 403 crianças entre 0 a 6 anos. Inicialmente houve um estranhamento total. Uma escola enorme com duas vices diretoras que não se davam bem; duas cozinhas que competiam para fazer a melhor comida; mato alto; crianças doentes; pais pedindo vagas; pais que deixavam as crianças na escola, após as dezenove horas, hora de término do período escolar na época; pouco material pedagógico; algumas monitoras que não se entendiam; faltas de monitor, etc, etc, etc.

Bom, por onde começar????!!!!!

Comecei conversando com as professoras e monitoras, descobrindo mais dificuldades do Centro Municipal de Educação Infantil - CEMEI, esperava que me contassem algo bom e que fosse o gancho para desenvolver o meu trabalho.

Na verdade demorou um pouco, mas alguém resolveu me contar que a comunidade era muito boa. Surge aí o meu “filão” para começar um projeto, que ainda não tinha nome, mas sabia que envolveria a comunidade.

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15 vice nas suas respectivas salas. Coloquei uma mesa para a orientadora pedagógica em uma salinha que era da enfermagem não havia mais enfermeira nos CEMEIS que as creches haviam sido transferidas da Secretaria de Promoção Social para a Secretaria de Educação em 1991. Meu objetivo de que cada um tivesse o seu espaço e desenvolvesse suas atividades da melhor forma possível. Na sala da diretoria havia uma mesa para mim e outra pequena para reuniões e conversas. Como a escola era dividida em duas no mesmo prédio, uma parte atendia de 0 (zero0 a 03 (três) anos e a outra de 04(quatro) a 06 (seis) anos, o trabalho foi dividido, sendo que as vices eram responsáveis pelas matrículas, funcionários, material, etc. Inicialmente achei melhor que elas se responsabilizassem por seus respectivos espaços. Eu ficava com a parte administrativa e com todos os problemas maiores. Quando tudo caminhava muito bem uma vice se desentendia com a outra ou os monitores discutiam...

Conheci o presidente da Associação de Bairros, que logo veio me pedir para fazer uma festa na escola e eu acabei deixando, mas colocando toda a responsabilidade nas mãos do presidente, principalmente se precisasse de consertos. Tudo ficou acertado.

Conversando com as monitoras expliquei que cada uma seria responsável pelo seu setor e se houvesse faltas a responsabilidade era delas. Precisariam avisar com antecedência possíveis ausências para receber pagamento ou ir a cidade, médico tudo deveria ser conversado bem antes para que o próprio setor providenciasse um outro monitor que estivesse com poucas crianças. As conversas eram registradas por escrito e havia um quadro para anotações das faltas dos monitores e outro para ausências de pequenos períodos, que possibilitasse o retorno ao trabalho, como receber pagamento ou médico. Tudo foi tão bem conversado que dificilmente tínhamos monitores faltosos e elas realmente iam ao médico e voltavam para trabalhar. Esses momentos de saída rápida e organizada não eram descontados, uma “cobria o trabalho da outra”. Foi uma experiência exitosa. É claro que havia uma ou outra que saia do combinado, mas era só conversar de novo.

Propus um projeto para as crianças que os pais demoravam a chegar colocando jogos à disposição, música, histórias, enfim os dois monitores que ficavam sempre planejavam a saída. Algumas crianças não queriam ir embora, pois era gostoso brincar no final do período. Mudamos o horário do almoço das turmas e conseguimos diminuir o número de crianças no refeitório; começamos a aproveitar a sobra dos pães para fazer

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16 bolo salgado; às vezes as crianças levavam os pães que sobravam para os irmãos, mas era muito difícil sobrar.

Fiquei um tempo como diretora efetiva (1994) e como a Secretaria de Educação precisava de Coordenadores Pedagógicos, fiz minha inscrição para substituir, nessa função. Na época o Estatuto do Magistério permitia que o Diretor Educacional substituísse o Coordenador Pedagógico. Decidi juntamente com a minha família fazer a substituição para ficar mais perto de casa, pois percorria quilômetros entre o Distrito de Barão Geraldo, onde eu morava e o DIC I.

Até hoje sinto falta daquela primeira experiência na gestão, pois a escola ficou sobre a responsabilidade da primeira vice, que logo modificou todo o trabalho. Soube que a escola foi roubada, pichada e o diálogo que era a “mola mestre” do trabalho entre os funcionários e com a comunidade acabou. Mas até hoje encontro pessoas que trabalharam comigo e me cumprimentam saudosas daqueles dias.

Fui substituir como Coordenadora Pedagógicoa e a nova função foi apaixonante e acabei me efetivando um ano depois. Hoje, após dezenove anos continuo trabalhando como Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil.

O trabalho de Coordenação Pedagógica era dividido em frentes. Iniciei assessorando as Orientadoras Pedagógicas de Educação Infantil e junto com uma amiga, também Coordenadora Pedagógica em 1994 iniciamos a escrita do Currículo em Construção. Para isso tivemos como base o I Seminário de Educação Infantil realizado pelo MEC, em Brasília em 1994, quando foram discutidas as diretrizes sobre a Política de Educação Infantil. Cadastramos o município e recebemos o material de discussão do MEC para distribuir em todas as Unidades Educacionais de Educação Infantil de Campinas. Iniciamos esse movimento com a leitura, reflexão e análise do documento com as Orientadoras Pedagógicas de Educação Infantil em um processo reflexivo de estudos nas instituições infantis. Discutiam conosco (CPs) e voltavam a refletir com os profissionais da Unidade Educacional, assim construímos o movimento do Currículo de Educação Infantil do município de Campinas.

Para a escrita do documento curricular foi criada uma nova frente de trabalho denominada “currículo”, onde junto com uma amiga, ampliamos o movimento curricular, convidando monitores, professores e especialistas para compor uma

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17 Comissão de reflexão e estudos sobre as temáticas, que envolviam a Política de Educação Infantil. O movimento de integrar monitores e professores à discussão, antes era só de especialistas, foi inédito.

Participei da escrita do currículo até 1997, quando fui para a Supervisão Educacional da SME para uma pequena substituição e acabei ficando até 2002. O documento foi entregue à rede municipal em 1998.

Nessa experiência aprendi muito. Em 1999 fui convidada para assumir a Coordenadoria Setorial de Legislação e Administração Escolar (CLAE) e aceitei. Inicialmente, uma aprendizagem inesquecível; conhecimento novo, amizade, planejamento para toda rede, etc. Mas no segundo semestre do ano 2000 senti na carne o preconceito racial. Ele me marcou e me transmitiu uma dor insuperável, que por mais que eu queira esquecer é impossível. Talvez a dor do preconceito seja muito parecida com a dor da chibata que machucava o “lombo” dos negros escravos.

Não preciso dizer que a partir dessa experiência fiquei atenta quanto ao tema, e em 2001 quando tentaram fazer a mesma coisa e, principalmente, me humilhar em público eu coloquei a boca no mundo e até hoje me culpo por não ter processado a quem me fez tanto mal.

Os anos que se seguiram não foram bons para Rede Municipal de Educação em relação aos cargos de especialistas (Diretor Educacional, Coordenador Pedagógico, Supervisão Educacional, Orientadores Pedagógicos e Vice Diretor). As pessoas da rede que ocupavam esses cargos retornaram a seus cargos de origem, provocando grandes transtornos em suas vidas. Pela primeira vez em 2002 aconteceu o concurso público para os cargos de especialistas, trazendo profissionais de todo o Brasil. Esse processo extinguiu a carreira de especialista no município de Campinas. Observo que nessa situação se perdeu parte da história e a sensação de que tudo começa hoje. Enfim, foram anos conturbados em que as pessoas não se entendiam, não houve respeito pela história da rede, pela história das pessoas, até hoje temos reflexos adormecidos, sofridos e doentes dessa época.

Hoje estamos tentando refazer a história da Educação de Campinas de diversas formas, inclusive na elaboração das diretrizes curriculares do município.

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18 Talvez em cavernas escondidas, ainda com medo de mostrar o rosto, pois se saírem da escuridão não sabem o que vão ver.

O interesse pela informática...

Na minha adolescência o curso que todos gostavam de fazer era datilografia, pois possibilitava trabalhar em um escritório, o sonho das famílias era ter uma filha secretaria ou professora.

Eu utilizei muito a datilografia no magistério para fazer os trabalhos solicitados pelos professores e também para escrever os planejamentos das aulas.

De uma máquina comum passei a usar a máquina elétrica, comecei a trabalhar com as Orientadoras Pedagógicas na Secretaria Municipal de Educação de Campinas, foi um pouco difícil acostumar, pois tinha que controlar a coordenação dos dedos com muita leveza o que inicialmente não conseguia.

Nessa época surgiram alguns cursos como o de Processamento de Dados, que envolvia a utilização dos computadores, meu sobrinho fez o curso técnico e começou a trabalhar com isso. Ele foi me ensinando e eu adorava. Havia mais agilidade para escrita, embora os computadores fossem grandes, caros e com impressoras de papel contínuo de tiras nas bordas, que eu gostava de destacar.

Na Prefeitura os computadores foram chegando e as máquinas elétricas se aposentando, mas demorou muito porque nem todos aceitavam essa “modernidade” da sociedade. Os funcionários gostavam mais de dar o trabalho para técnicos fazerem do que executarem, pois a dificuldade de uso era muito grande. Tínhamos digitadores para a escrita dos trabalhos e para isso tínhamos que agendar a digitação, tamanha a concorrência entre as coordenadorias. Em alguns anos foram chegando os analistas e passamos por outra situação complicada, que era entender o seu trabalho, pois ainda estávamos aprendendo a digitar.

Os cursos começaram a ser oferecidos para todos os profissionais, que trabalhavam no 9º andar da Secretaria Municipal de Educação e eu me encantei, porque com o computador eu podia realizar muitas coisas que não fazia com as máquinas de

escrever. No curso aprendi a fazer pasta, deletar, escrever, arquivar, usar o mouse,

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19 O acesso à internet era muito restrito e demorado, na verdade o computador só era utilizado para digitar. Aos poucos a internet foi chegando, bem lentamente. Usamos muito pouco esse recurso porque era caro e demorado.

Na Secretaria de Educação o grande sonho de todos que ali trabalhavam era utilizar o computador para várias ações que tínhamos como: atribuição de aulas/cargos para os profissionais da educação, contagem de tempo de serviço, processo de remoção, comunicação mais ágil entre as Secretarias, Recursos Humanos, localizar protocolos, etc. Muitas dessas ações foram informatizadas, a partir da década de 90, mas ainda existe uma divisão entre o fazer manual e o fazer informatizado. Na SME o fazer informatizado tem superado o fazer manual, mas a resistência dos profissionais mais antigos à informatização ainda existe.

Na época em que fui responsável pela Coordenadoria de Legislação e Assuntos Educacionais iniciei conversas com o Departamento de Informática e Planejamento - DIPPLA para informatizar as resoluções, o processo de remoção e a contagem do tempo de serviço. As resoluções e portarias seguiam para a Secretaria de Recursos Humanos e para o Diário Oficial do Município (DOM) digitadas, mas entregávamos ao destinatário pessoalmente e não pela internet. Era muito complicado, pois tínhamos hora certa para protocolar os documentos, isto é tudo tinha que ser realizado, antes da saída dos malotes para as secretarias ou Unidades Educacionais. As Unidades Educacionais ainda não tinham internet, somente computador na secretaria.

Desde de aproximadamente 1995 a Secretaria Municipal de Educação foi se informatizando, se modernizando e hoje quase todas as ações são realizadas com o uso da informática.

Nesse movimento da informática na SME me sinto parte da história e em alguns momentos idealizadora e pesquisadora de documentos e processos que foram informatizados junto ao antigo DIPPLA.

Aos poucos fui vendo as escolas de ensino fundamental recebendo seus computadores, seus laboratórios completos e o aprendizado dos professores.

Sempre me intrigou o ensino fundamental receber a informatização e a Educação Infantil não. Foi muito demorada a ida dos computadores para as secretarias das escolas infantis e também o curso para os Especialistas (Diretores Educacionais, Orientadores

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20 Pedagógicos, Supervisores Educacionais e Coordenadores Pedagógicos). Primeiramente os cursos eram ministrados para os especialistas, que trabalhavam nas Unidades Educacionais, mas nem todos se inscreviam e continuavam a fazer seus documentos usando caneta e papel. A resistência era grande, até hoje temos especialistas que não aceitam essas essa tecnologia.

Como Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil sempre me envolvi com a informática, nos últimos anos criei blogs para promover o trabalho desenvolvido na região Sul, onde atuo. Publiquei os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos nas escolas. Com a autorização da Representante Regional do Núcleo de Ação Descentralizada Sul (NAED) mandei e-mails e falei em reuniões com os Diretores Educacionais, Orientadores Pedagógicos e também para os Supervisores Educacionais e Coordenadores Pedagógicos do próprio NAED Sul, solicitando que os mesmos me auxiliassem trazendo notícias para serem divulgadas no blog. Inicialmente recebi muitas fotos, vídeos, mas somente eu fazia a propaganda, os outros profissionais do NAED Sul não se interessaram em aprender ou em auxiliar no trabalho com o blog. Aos poucos deixei de solicitar material e comecei a transformá-lo em um blog de pesquisa, onde me dedicava mais em publicar assuntos que as Orientadoras Pedagógicas poderiam utilizar no trabalho que realizavam no dia a dia das Unidades. As orientadoras adoraram a ideia e começaram a divulgar, assim os acessos ao blog aumentaram muito e quando me encontravam pessoalmente ou por e-mail me solicitavam temáticas para pesquisar, adorava fazer esse trabalho. É certo que não ganhava nada por ele, mas me satisfazia. Até que chegou uma Coordenadora Pedagógica que começou a implicar com o blog, pois dizia que apareciam os rostos das crianças desenvolvendo atividades nas Unidades Educacionais, mas eu sempre tive cuidado com a segurança, fazia o trabalho de conversar com a gestão sobre a autorização e só publicar se as autorizações estivessem no prontuário da criança, além de orientar que as fotos fossem tiradas com as crianças de costas, propunha também só publicar o registro escrito das atividades, passei a checar todas as informações antes das publicações, mas depois de certo tempo resolvi não publicar mais, porque descobri que as pessoas que dividiam o trabalho pedagógico comigo no NAED Sul não se interessavam com a ampliação do trabalho pedagógico de forma eletrônica. Assim, parei com os blogs, várias Orientadoras Pedagógicas reclamaram, mas na época foi melhor, talvez um dia quando me desligar do trabalho como Coordenadora Pedagógica da Prefeitura de Campinas, eu volte a ser blogueira de

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assuntos pedagógicos. Montei grupos de bate papo para alguns grupos de formação, para o grupo de

Orientadores Pedagógicos, onde postava filmes, slides, textos variados, conteúdos variados e trabalhados em reuniões, mas percebi que eram poucos os que se interessavam em procurar os assuntos na internet ou mesmo em aceitar o convite enviado, novamente me desinteressei e parei de postar.

Realizei vários cursos no Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE com dois objetivos: o primeiro de aprendizagem digital e o segundo queria entender como eram ministrados esses cursos e quais objetivos tinham em relação à Educação Infantil, e a relação dos mesmos com a sala de aula. Fiz curso sobre construção de páginas digitais; utilização do programa audacity (programa que possibilita gravar as vozes das crianças e inseri-las nas histórias infantis), aprendi utilizar várias ferramentas que compõem a internet como o google docs, onde aprendi a realizar as inscrições para cursos de formação e avaliações on line para auxiliar o NAED Sul.

O meu envolvimento com o computador aumentou de uma forma que comecei a orientar as Unidades Educacionais de Educação Infantil com as quais trabalho no sentido de qualificar a cada dia mais essa temática com as crianças de 03 a 05 anos e onze meses, não somente com jogos on line, mas com situações significativas em que a criança se reconheça e possa interagir na ação como: histórias virtuais escritas a partir da fala das crianças (coletivas ou não), uso da voz das crianças como se fosse o som dos animais da história infantil, construir vídeos e apresentar para os pais, fotografar e expor, enfim utilizar a tecnologia em prol do trabalho pedagógico realizado pelo professor.

Em uma Unidade Educacional de Educação Infantil pertencente ao meu bloco como Coordenadora Pedagógica aconteceu um curso de informática com consultor externo voltado para as crianças pequenas, onde o objetivo era que o professor se compreendesse como mediador, como alguém que olhasse para a capacidade criativa e imaginativa da criança e não só para as suas habilidades e competências. O curso propiciou aos professores reflexão sobre a utilização do computador na sociedade de hoje, os recursos para a aprendizagem e qual a melhor forma de utilizá-los na sala de aula. A proposta do grupo de formação tinha como intencionalidade que o professor da sala entendesse minimamente como comandar o computador a partir de noções básicas

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22 de informática, selecionar e organizar previamente os softwares, desenvolver pequenos programas de apoio escolar (power point, teclado virtual e outros), desenvolver nas crianças habilidades e conceitos que podem ser estimulados, além de oficinas práticas com diferentes programas para serem utilizados em Windows e Linux. Esse movimento formativo na instituição educacional possibilitou que os professores repensassem o seu fazer a partir de reflexões, sobre a sua prática pedagógica e num movimento de apropriação seja capaz de desmontar resquícios de práticas conservadoras e apontar para as mais diferentes formas de práticas inovadoras junto às crianças.

Assim a formação recebida pelo professor nessa Unidade Educacional possibilitou crescimento pessoal na qualidade do trabalho com as crianças pequenas.

Observando o desenvolvimento das crianças pequenas em relação à utilização do computador como ferramenta educacional é que resolvi pesquisar sobre essa temática, pois atualmente as crianças nascem em uma sociedade onde a tecnologia, neste caso, o computador é “peça chave” para quase todos os fazeres em relação à comunicação.

A utilização do computador com/por crianças de três a cinco anos parece ser um assunto que ainda não tem recebido a devida valorização por parte da SME, principalmente no que se refere à formação continuada e a estrutura física das Unidades Educacionais para o uso das máquinas e da internet pelo professor, que desenvolve e acompanha as atividades relacionadas ao uso dessa tecnologia. Os Projetos Pedagógicos de várias Unidades Educacionais de Educação Infantil da região sul evidenciam em suas páginas, tais dificuldades, pois as instituições não têm máquinas suficientes para todas as crianças utilizarem, nem estrutura física e elétrica para suportá-las. Algumas Unidades Educacionais se situam em locais que a internet só chega por rádio ou 3G.

Com base na escrita dos Projetos e das Avaliações Pedagógicas discuto nesta dissertação algumas experiências realizadas na Educação Infantil, no que se refere à utilização dos computadores e a formação continuada ministrada pelo NTE aos professores em relação à informática.

Como já evidenciei anteriormente minha curiosidade para pesquisar essa temática surgiu a partir do curso de Especialização: "A Pesquisa e a Tecnologia na formação docente" realizado pela Faculdade de Educação da UNICAMP em convênio com a Secretaria Municipal de Educação do município de Campinas, que me trouxe

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23 algumas indagações sobre o trabalho realizado pelos professores na Rede Municipal de Educação de Campinas – RMEC em relação à utilização das diversas tecnologias de informação no ambiente educacional.

Curso esse que possibilitou a partir de leituras e reflexões entre os participantes um olhar diferenciado para o próprio fazer cotidiano, ocasionando mudanças na postura e no planejamento dos professores, proporcionando uma maior clareza nas intenções pedagógicas em relação às crianças e adolescentes.

Foram várias as disciplinas trabalhadas no curso, mas o meu maior interesse foi realmente o trabalho voltado para a tecnologia e a possibilidade da professora de Educação Infantil inovar e diferenciar as atividades e experiências vivenciadas pelas crianças.

Ao escrever o trabalho de encerramento do curso mapeei os Projetos Pedagógicos das Unidades Educacionais de Educação infantil da região sul e percebi as dificuldades que os professores que decidem trabalhar utilizando o computador enfrentam.

Nesta dissertação continuo o estudo iniciado no curso de especialização e relembro pontos relacionados ao processo histórico da Educação Infantil em Campinas, pois trazem marcas e marcos importantes, que poderão contribuir para o entendimento da concepção que alicerça o fazer pedagógico, que é desenvolvido com as crianças pequenas, no que se refere à utilização do computador como ferramenta educacional.

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INTRODUÇÃO

O tempo só existe Enquanto se move E assim que é sentido. Só assim tem sentido, O tempo não para. Roberto Amorim

Esta pesquisa aborda o processo de apropriação do computador e sua utilização no cotidiano de 05 (cinco) Escolas Municipais de Educação Infantil2 (EMEIs) de Campinas, a formação oferecida aos professores de Educação Infantil pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) e seus possíveis efeitos no cotidiano, dando ênfase ao início das creches e o surgimento do conceito de infância no Brasil.

Os profissionais da Rede Municipal de Educação Infantil de Campinas são protagonistas desta história, balizando preceitos que defendem esta etapa para que meninos e meninas possam ter seus direitos garantidos nessa fase do desenvolvimento infantil, e principalmente ter o brincar como linguagem constitutiva para o seu desenvolvimento.

É importante que a criança edifique seus conhecimentos a partir de uma relação viva com os próprios saberes e com as memórias do povo brasileiro, com a produção cultural, por meio da vivência das diferentes linguagens, as interações com o mundo social que ampliam sua visão de mundo, ao respeito à pluralidade étnica, a tecnologia, à igualdade de oportunidades e ao acesso das crianças a Educação Infantil pública.

Ao buscarmos as memórias da Educação Infantil percebemos que a História se fez e se faz pelas decisões tomadas, opções possíveis, significações dadas aos atos, repercussões diante do estabelecido, investimentos, sejam em nível financeiro ou humano, priorizações e enfrentamentos aos obstáculos. A História tecida no passado e no presente acontece em tempos, espaços, cenários múltiplos, como gabinetes, unidades

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EMEI “Prefeito José Pires Neto”, “EMEI Celisa Cardoso do Amaral”, “EMEI Comecinho de Vida”, “EMEI Presidente Campos Salles”, “EMEI Agostinho Páttaro”, que trabalham com crianças de 03 (três) a 05 (cinco anos) e 11 (onze meses).

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26 educativas, comunidades, conselhos, fóruns, com a presença de diálogos e silêncios.

Cada unidade educativa relacionada à Secretaria Municipal de Educação (SME) e seus educadores, ao longo destes anos, escreveu e materializou as políticas educativas para o atendimento das crianças de nosso município, e são ao mesmo tempo, personagens e autores do vivido.

Na história da Educação Infantil de Campinas encontramos momentos considerados marcos que nos possibilitam compreender seus movimentos e reflexos nas políticas atuais, no sentido do atendimento oportunizado às crianças. Cada marco traz episódios da história tais como movimentos políticos, sociais, econômicos, ideológicos, avanços tecnológicos que refletem nas concepções de homem, natureza, escola, infância, relações de trabalho, interação social e ação pedagógica.

Ao recuperar a trajetória da Educação Infantil recupera-se a história das pessoas que se dedicaram, viveram e se consolidaram na construção de uma escola pública de qualidade, histórias construídas sob várias óticas, vozes, coletivos, memórias, que revelam um movimento que não se consolidou de forma cartesiana, mas com muitas sinuosidades, frutos de avanços e obstáculos, que refletem a organização do trabalho na Educação Infantil.

O movimento transformador que tem acontecido na sociedade e que consequentemente atinge as crianças de 03 (três) a 05 (cinco) anos e 11 (onze) meses me leva a refletir sobre a formação continuada dos professores, quanto à utilização do computador como ferramenta educacional nas salas de aula de Educação Infantil do município de Campinas. A formação continuada é realizada pelo Núcleo de Tecnologia

Educacional3 (NTE) nos espaços pedagógicos denominados Carga Horária Pedagógica4

(CHP) e nas Horas Projetos5 (HP). Abrindo um caminho novo para o trabalho na Educação Infantil que abre horizontes, perspectivas e descobertas para as crianças, além

3

Os NTE núcleos de tecnologia que pesquisam, criam projetos educacionais que envolvem novas tecnologias da informática e da comunicação, capacitam professores utilizando os computadores distribuídos em escolas públicas estaduais e municipais e a Internet. Cada estado possui vários núcleos para atender as demandas educacionais. Disponível em: http://paginas.ucpel.tche.br/~lla/projetos.htm

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Carga Horária Pedagógica (CHP) que compreende as horas-aula vinculadas ao desenvolvimento de projetos pedagógicos voltados para o ensino aprendizagem, de acordo com o Plano de Cargos e Carreiras da Prefeitura Municipal de Campinas.

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Hora Projeto (HP), que compreende as horas-aula destinadas ao desenvolvimento de projetos compatíveis com a atividade docente e realizados em consonância com as normas fixadas pela SME, de acordo com o Plano de Cargos e Carreiras da Prefeitura Municipal de Campinas.

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