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Para valorizarmos o conceito de criança e de infância se faz necessário contextualizar as crianças pequenas ao longo da história recente das creches e pré- escolas no território europeu e brasileiro, para depois conversar sobre a criança em relação ao computador, pois como escreve Ecléa Bosi no texto “Memória e Sociedade, lembranças de velhos”, obra precursora no Brasil de trabalhos científicos sobre o ato de lembrar observa-se que:

(...) a memória não é sonho, mas trabalho. Podemos acrescentar que o ato de relembrar em conjunto, isto é, o ato de compartilhar a memória, é um trabalho que constrói sólidas pontes de relacionamento entre os indivíduos - porque alicerçadas numa bagagem cultural comum - e, talvez por isso, conduza a ação. Portanto, a memória compartilhada é tanto forma de domar o tempo, vivendo-o plenamente, como empuxo que nos leva a ação, constituindo uma estratégia muito valiosa nestes tempos em que tudo é transformado em mercadoria, tudo possui valor de troca. Essa memória compartilhada, enquanto desejo latente do homem pós-moderno, que se realiza numa relação não inserida na lógica de mercado, nos leva a construir redes de relacionamentos nas quais é possível focalizar em conjunto aspectos do passado, envolvendo participantes de diferentes gerações de um mesmo grupo social.

Nesse processo são utilizados o que chamamos de “óculos do presente”, para reconstruir vivências e experiências pretéritas o que nos propicia pensar em bases mais sólidas e realistas nossas futuras ações (apud VON SIMSON, 2003. p.16).

Assim, parto de alguns acontecimentos em relação à aceitação da criança como partícipe da sua infância fora do ambiente familiar, e tento situar nesse documento a entrada dos primeiros computadores na SME e nas Unidades Educacionais de Educação

Infantildo município de Campinas, juntamente com o programa EUREKA.

Problematizo a formação continuada do professor recebida nos cursos oferecidos pelo NTE e seus efeitos no cotidiano da escola, tendo como ponderações norteadoras nesta escrita: - o movimento histórico da Educação Infantil e a infância midiática; - a formação realizada pelo Programa Eureka e pelo NTE; - a proposta pedagógica das professoras de Educação Infantil escritas no Projeto e nas Avaliações Pedagógicas em relação às tecnologias e a estrutura e a organização física das escolas para a instalação das máquinas e da internet.

Abordo a formação continuada do professor de Educação Infantil em relação a sua atuação com o computador na sala de aula com crianças de 03 a 06 anos; os aspectos da estrutura física da Unidade Educacional, quanto a possibilidade ou não do

31 uso da internet; o local físico onde se localiza o computador; os cursos realizados pelo professor em relação a temática e os jogos utilizados pelas crianças.

Ao iniciar esta escrita senti necessidade de realizar uma linha do tempo iniciando pela história da Educação Infantil na Europa, no Brasil e no município de Campinas, que se entrelaça com o início do uso dos computadores nas escolas de Ensino Fundamental e nas escolas de Educação Infantil, praticamente ao mesmo tempo, mas de formas diferenciadas. Neste texto as vozes de alguns professores retratam histórias vividas no trabalho com o computador na Educação Infantil.

Metodologia

Para este estudo utilizei entrevistas, questionários, Projetos e avaliações Pedagógicas (2008, 2009, 2010, 2011) e documentos arquivados no NTE a partir de 2005. Os documentos pesquisados foram: planejamentos e avaliações contidas nos Projetos Pedagógicos; das entrevistas reflexivas com educadores que participaram do Projeto Eureka e questionários reflexivos enviados a dez professores das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) que fazem parte dessa pesquisa; documentos históricos do arquivo do Núcleo de Tecnologia Educacional da Secretária Municipal de Educação de Campinas (NTE).

Esses procedimentos têm a intenção de dar visibilidade à problemática ou aos desafios vivenciados pelos professores de Educação Infantil ao utilizarem os computadores nas salas de aula das Unidades Educacionais Públicas de Educação Infantil de Campinas.

Utilizei entrevistas coletivas e individuais em 2011 conceituadas por entrevistas reflexivas, que tem como base os trabalhos de Heloísa Szimanski10. Entrevistei pessoas, analisei, me restringi ao assunto solicitado, reescrevi e enviei para a pessoa entrevistada, que leu fez suas ponderações e assim eu coloquei na pesquisa. As entrevistas foram coletivas com professores que participaram e construíram a história da formação e do trabalho com computadores na Rede Municipal de Ensino.

Para Heloísa Szymanski (2001, p.1) no que se refere à volta aos participantes

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Heloisa Szymanski, PUCSP é doutora e líder do Grupo de Pesquisa em Práticas Educativas e Atenção Psicoeducacional na Família, Escola e Comunidade. http://www.pucsp.br/pos/ped

32 entrevistados, depois de terminada a transcrição referente à pesquisa, caracteriza a prática reflexiva, porque seu objetivo é apresentar a reflexão e a compreensão do pesquisador aos participantes, quanto a temática estudada, partindo da análise da narrativa de experiências das pessoas que colaboraram com o estudo.

De acordo com Fernando Amoras11 (2010) na utilização da entrevista reflexiva o

consentimento do entrevistado é importante, pois demonstra a ética para com essa prática. O roteiro com perguntas é adequado nesse momento, porque auxilia que o pesquisador tenha um planejamento das perguntas e que essas sejam flexíveis, impossibilitando ao entrevistador esquecer seus objetivos, o direcionamento e a amplitude das mesmas. As entrevistas reflexivas trazem para ao estudo uma coleta de dados qualitativos que indicam a qualidade do trabalho realizado pelos professores- formadores e pelos professores que recebem o aprendizado.

Um segundo instrumento utilizado foi o questionário de perguntas abertas que permitiu investigar as percepções que os professores, envolvidos na pesquisa têm quanto à organização do trabalho realizado por eles com as crianças pequenas no cotidiano educacional e como percebem no desenvolvimento das ações a formação realizada oferecida pelo NTE.

Os questionários trouxeram visibilidade e sentido à problemática vivida pelos professores para realizar as atividades, manifestar as possibilidades, os caminhos e propostas que buscaram ao longo do trabalho realizado em relação à utilização dos computadores na escola e na sua formação.

As entrevistas reflexivas e os questionários revelaram que tanto quanto acontecia no passado os professores procuram a formação institucional, mas não têm em suas Unidades Educacionais condições estruturais para realizá-la adequadamente, pois falta formação, computadores, salas apropriadas, e acima de tudo uma política educacional oferecida pela SME, que lhes dê condições reais para realização das atividades planejadas. Os questionários são claros quanto à intencionalidade educacional dos professores e quanto ao “esforço” despendido para realizar o planejamento, mas também possibilitam compreender que alguns professores executam

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Fernando Castro Amoras é graduado em Ciências Sociais e Mestrando em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá, onde trabalha como Técnico Administrativo em Educação.

33 seus fazeres com pouca ou nenhuma formação em relação à utilização dos computadores. Outra observação é que deixam de executar o projeto informática e realizam outros cursos permitidos pela resolução de Tempos Pedagógicos, enfim as entrevistas e os questionários são reveladores da realidade existente na educação infantil, quanto à política educacional de formação existente.