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Computadores na Educação Infantil do município de Campinas

No início da década de 90, apoiada em experiências anteriores como o Projeto Educom, a Universidade Estadual de Campinas UNICAMP iniciou o trabalho com informática educacional, em parceria com a Prefeitura de Campinas (Secretaria Municipal de Educação de Campinas e Fundação Municipal para Educação Comunitária-FUMEC).

O Projeto Eureka nasceu como projeto interinstitucional entre a PMC (SME e FUMEC) e a UNICAMP (Laboratório de Educação e Informática Aplicada- LEIA – Faculdade de Educação, Núcleo de Informática Aplicada à educação- NIED e Escola de Extensão – EXTRACAMP); e apoio técnico da Informática dos Municípios Associados- IMA, além de participarem dos ambientes Logo, os professores participantes recebiam formação em dois Módulos: Módulo Intensivo através de cursos e oficinas na Faculdade de Educação da UNICAMP como escreveu Braga (1996, p. 62), que consistia:

(...) em cursos de duração curta de 40 horas e são ministrados anualmente para os professores interessados em participar do Projeto Eureka (iniciação), ou para professores que já estejam trabalhando dentro dessa proposta (cursos de aprofundamento) e o Módulo Extensivo consiste de reuniões semanais que cada escola realiza e na qual participam todos os professores que estão integrados ao Projeto, independentemente da classe ou série que lecionam, constituindo-se em Grupos de Trabalho. Também faz parte do Módulo Extensivo reuniões mensais, denominadas até 1993, de Grupos de Estudos, quando se encontravam professores de todas as escolas envolvidas no Projeto Eureka, para aprofundamento metodológico ou trocas de experiências. A partir de 1994 as reuniões mensais transformaram-se em Grupos de Trabalho por Área, quando se encontravam professores de todas as escolas do Projeto Eureka, divididos em quatro grupos dois de Ensino Fundamental – de primeira a quarta séries e de quinta a oitava séries - terceiro de Educação de Jovens e Adultos/FUMEC, e o quarto com os que trabalham em Educação infantil.

O documento de Braga (1996, p 67) aponta que a intenção do grupo de trabalho era priorizar a discussão do pedagógico através da reflexão, discussão e encaminhamentos que permitiam ao professor através do voto democrático o poder de deliberar sobre o projeto na escola.

Aimar Shimabukuro, professora da equipe de instrutores do projeto Eureka disse no Jornal Eureka Hoje (1997, p. 04) que o maior objetivo dos cursos:

(...) era o de estimular reflexões e discussões sobre a Filosofia Logo e a prática pedagógica de cada professor. A proposta é vivenciar a aprendizagem,

77 refletindo também a postura pedagógica dos professores, principalmente na criação de um ambiente diferenciado, um Ambiente Logo de Aprendizagem. Diante das falas de Braga e Shimabukuro percebe-se que a proposta era vivenciar uma formação em serviço, de forma diferenciada, pois nela o conteúdo aprendido pelo professor nos momentos formativos realmente eram considerados como sustentáculo das atividades por ele realizadas, na escola ou nos Laboratórios de Informática Educativa. A formação continuada em serviço era organizada como uma teia, pois abrangia todos os Grupos de Trabalho (GT) e seu conteúdo era disseminado, refletido e orientado por todas as instâncias do Programa.

No “Jornal Eureka Hoje” de 1997 está escrito que o Grupo de Trabalho dos Monitores e o Grupo de Trabalho dos Instrutores procuravam “aprimorar as atividades dos professores a fim de proporcionar a seus alunos uma vivência acadêmica mais significativa” (p. 05), que priorizavam a produção de conhecimento elaborada pelos alunos, valorizando seus próprios saberes e também o saber do professor em relação ao trabalho com os computadores.

A professora Maria Terezinha Pereira Amaro, membro da equipe de Apoio e

monitora do GT31 da EMPG “Júlio de Mesquita Filho”, disse ao “Jornal Eureka Hoje”,

que no GT deveria:

(...) acontecer reflexões e discussões teóricas: dos problemas e dificuldades de cada turma e das possíveis soluções, além das discussões específicas de cada unidade escolar. E é por isso que ele é o âmago do Programa, mas o professor, só poderá participar do GT da sua unidade escolar. Ele trabalha com seus alunos no Laboratório de Informática Educativa (LIED), o conteúdo específico de sua disciplina, observa e coleta os problemas e dificuldades, volta para o grupo, para o estudo, elabora projetos para provocar e desencadear o processo de aprendizagem; e isto deverá provocar um circulo de ações e interações nos diversos níveis entre professores de mesma disciplina, de mesma série, entre disciplinas e entre séries dando uma maior coesão e ligação no grupo; fortalecendo o trabalho em equipe e a realização efetiva do projeto pedagógico (1997, p. 5).

O trabalho nesses GTs era muito mais do que ensinar os professores a utilizar o computador como ferramenta pedagógica na escola. Consistia na conscientização da necessidade da mudança de postura do professor com relação à sua formação, aprimoramento profissional e início de um trabalho interdisciplinar, pois havia no grupo professores de diversas disciplinas discutindo e refletindo sobre sua rotina e seus fazeres cotidianos. Nesse ir e vir de discussões e reflexões se estabelece uma tessitura uniforme

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78 entre os profissionais, e possibilita que cada um mesmo sem perceber ou intuitivamente participe das dificuldades ou facilidades do trabalho realizado por outro professor do grupo. Dessa forma se cria um processo de ensino-aprendizagem, que possibilita a participação democrática e o envolvimento dos professores presentes ao Grupo de trabalho, numa perspectiva de tomada de decisões coletivas que vão ao encontro das necessidades do próprio professor, da escola e dos alunos participantes do projeto.

O Grupo de Trabalho, na escola articulado aos cursos e outras atividades de formação continuada em serviço do Programa Eureka, é a grande conquista dos educadores municipais na busca da apropriação (consciente, crítica e coletiva) da informática educativa como ferramenta da construção de um novo paradigma educacional da escola pública brasileira (EUREKA HOJE, novembro, 1997, p.02).

O processo reflexivo que ocorria no Grupo de Trabalho do Projeto Eureka vem ao encontro do pensamento de Zeichner (2008, p. 545) ao afirmar que a formação docente reflexiva só deve ser apoiada quando contribui para a construção de uma sociedade melhor para os filhos de todos e vislumbre por “justiça social e contribuir para a diminuição das lacunas na qualidade da educação disponível para estudantes de diferentes perfis, em todos os países do mundo ”.

Em entrevista ao jornalista Dinilson Vieira a Secretária Municipal de Educação Maria Helena Guimarães de Castro diz que:

Mais de mil alunos da rede municipal de ensino de Campinas, com idade entre cinco anos e a faixa adulta, começam a se familiarizar com a informática. Embora não tenha virado matéria específica, mexer em microcomputadores já é uma prática de rotina em duas escolas: na EMPG Dulce Bento Nascimento, e na EMEI Agostinho Páttaro, no centro de Barão Geraldo (JORNAL DIÁRIO do POVO, 1993, p. 05).

Ela nos explica que o projeto tinha subsídio do MEC, e que em contra partida exigia que os alunos do Supletivo também aprendessem informática. Outras escolas também seriam equipadas com microcomputadores e que esses eram apenas o início para o ensino da informática nas escolas municipais.

Com a implantação do Projeto Alpha em 09 de agosto de 1996, o Projeto Eureka passou a fazer parte do Programa Eureka. O Projeto Alpha, através da rede Campinet, tinha como objetivo interligar as Unidades Educacionais, Postos de Saúde, Secretarias de Ação Regional e Prefeitura Municipal de Campinas. O Projeto Eureka usando o computador como instrumento pedagógico tinha como função educacional a formação do ambiente logo de aprendizagem. Esse movimento é considerado por todos os envolvidos com o Programa Eureka como o início de uma nova fase para o programa,

79 fase de expansão e integração. O número de escolas atendidas aumentou e a demanda de professores cresceu, solicitando mais cursos junto a Escola de Extensão da UNICAMP.

Diante desse panorama alguns professores instrutores que já faziam parte do Programa foram convidados a integrar a equipe de formação, colaborando com seus conhecimentos e experiências anteriores.

Durante este período o LIED (Laboratório de Informática da Escola) era frequentado por muitos alunos. Foram realizados Seminários Internos, como oficinas de estudo e apresentação de trabalhos.

A seguir retomo o Programa Eureka a partir da memória de uma professora que dele participou, desde 1992 e relembra sua contribuição para a prática pedagógica.

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