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A primavera secundarista e o universo da cibercultura: análises a partir do pensamento gramsciano

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ROBERTA KERR DOS SANTOS

A PRIMAVERA SECUNDARISTA E O UNIVERSO DA CIBERCULTURA: ANÁLISES A PARTIR DO PENSAMENTO GRAMSCIANO

NITERÓI 2020

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ROBERTA KERR DOS SANTOS

A PRIMAVERA SECUNDARISTA E O UNIVERSO DA CIBERCULTURA: ANÁLISES A PARTIR DO PENSAMENTO GRAMSCIANO

Tese apresentada à banca formada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutora em Educação.

Linha de pesquisa: Filosofia, Estética e Sociedade Orientador: Prof. Dr. Giovanni Semeraro

NITERÓI 2020

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ROBERTA KERR DOS SANTOS

A PRIMAVERA SECUNDARISTA E O UNIVERSO DA CIBERCULTURA: ANÁLISES A PARTIR DO PENSAMENTO GRAMSCIANO

Tese apresentada à banca formada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutora em Educação.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Giovanni Semeraro – (Orientador/Presidente – UFF)

Profa. Dra. Maria Martha D'Angelo Pinto – (1⁰ Examinadora – UFF)

Profa. Dra. Ana Lole – (2⁰ Examinadora – PUC)

Prof. Dr. Pedro Cláudio Cunca Brando Bocayuva Cunha – (3⁰ Examinador – UFRJ)

Prof. Dr. Luiz Fernando Conde Sangenis – (4⁰ Examinador – UERJ)

Profa. Dra. Telma Cristiane Sasso de Lima – (1⁰ Suplente – UFAL)

Prof. Dr. Victor Leandro Chaves Gomes – (2⁰ Suplente – UFF)

NITERÓI 2020

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, Kauê e Clarice.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Giovanni Semeraro, sempre compreensivo, paciente e empático diante de tantas dificuldades que vivenciei nessa jornada exaustiva e, contudo, vitoriosa.

A minha mãe, Rosileny, parceira em todos os momentos em que precisei me dedicar aos estudos, aos cuidados com a minha bebê e, também, com a minha saúde.

Ao meu pai, Fernando, apoiador mesmo distante, pela confiança na minha capacidade de realizar sonhos.

Aos meus amigos Jairo Leal e Leonardo Kaplan, à época da elaboração do projeto para ingresso ao doutorado, pelas conversas sobre Gramsci e indicações bibliográficas. Vocês foram fundamentais em meu primeiro passo nesta pesquisa.

As minhas amigas, também professoras, Georgiane, Alessandra, Denise e Marcela tão queridas me incentivando com palavras de encorajamento, respeito e amizade sincera e recíproca.

À professora Ana Lole, companheira nos estudos gramscianos, pelo apoio constante, parceria, incentivo e demonstrações de carinho espontâneas que me fortaleceram em vários momentos durante o curso.

Aos professores Martha D’Ângelo e Cunca Bocayuva, essencialmente pela empatia durante a qualificação ocorrida após o início do meu tratamento de saúde, e pelas contribuições significativas para o progresso da minha pesquisa.

Aos professores Luiz Fernando Sangenis e Victor Gomes, pela disponibilidade e receptividade na aceitação do convite à composição da banca.

À professora Telma Sasso, pela sintonia na temática em nossas investigações, além da atenção e apoio efetivo mesmo a distância.

Às professoras Carmen Pérez, Marisol Barenco e Cláudia Alves, pela compreensão em relação as minhas ausências por conta da gestação e, posteriormente, da amamentação da minha pequena.

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Aos colegas do NuFIPE, em especial aos professores Percival Tavares e Reginaldo Costa e às professoras Bárbara White e Rejane Gadelha, pela amizade e inúmeras trocas, neste processo de aprendizado e pesquisa, que contribuem significativamente para a nossa luta!

Por fim, à CAPES, pelo financiamento de toda a pesquisa durante os 52 meses de duração do curso.

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RESUMO

A presente pesquisa investigou a relação das reflexões contidas nos escritos carcerários do pensador italiano Antonio Gramsci com a práxis política da Primavera Secundarista via self media nos registros em circulação nas mídias sociais virtuais. Na atualidade, com o aumento de usuários conectados nas malhas da internet – no Brasil são 102 milhões de internautas (53% da população) –, urge refletir sobre a perspectiva multimidiática do movimento social de ocupação de escolas concernente à viralização de textos orais, escritos e/ou imagéticos com conteúdos que possam representar uma hegemonia do povo e colaborar para um posicionamento a favor da construção de um Estado democrático popular. No ano de 2016, logo após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), o Brasil passou por um turbilhão de drásticas mudanças políticas pós-golpe. Dentre essas mudanças, três iniciativas legislativas do governo do presidente Michel Temer causaram grande preocupação por conta de seu impacto social para a educação no país, sendo elas a Proposta de Emenda Constitucional 241-55/2016 – conhecida como PEC do Teto de Gastos Públicos –, a Reforma do Ensino Médio e o Projeto Escola Sem Partido. O universo da cibercultura, baseado nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), é considerado por muitos estudiosos um espaço democrático de múltiplas vozes, que pode ser um recurso político-pedagógico oportuno para a luta de classes. Assim, algumas das indagações que compõem a tessitura desta tese são: Como viralizar os ideais contra a hegemonia da classe dominante e conscientizar a classe oprimida? Qual o potencial da self media, enquanto produções da cibercultura, para a constituição de uma vontade coletiva e consequente propagação de reivindicações populares? Nos discursos dos registros da Primavera Secundarista, enquanto movimento social em rede, comparecem ideologias que revelam a paixão política e o interesse na conquista de um Estado democrático-popular? Refletindo sobre os algoritmos e os sistemas de pesquisas na internet, a partir do provedor líder de mecanismo on-line de buscas, o Google, a metodologia para o mapeamento do corpus se baseia na localização de composições narrativas realizadas pelos próprios alunos. Desse modo, foram selecionados quatro documentários que utilizaram imagens e vídeos publicados no Twitter, Facebook, YouTube e blogues à época do movimento. Para a perspectiva teórica, são considerados essenciais os pensamentos de Gramsci, já que suas palavras fundamentam inúmeros conceitos utilizados nesta investigação e, principalmente, porque suas reflexões subsidiam criticamente, e com o vigor necessário, as questões propostas.

Palavras-chave: Antonio Gramsci; Primavera Secundarista; Cibercultura; Redes Sociais; Movimentos Sociais.

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ABSTRACT

The present research investigated the relationship of the reflections contained in the prison writings of the Italian thinker Antonio Gramsci with the political praxis of Primavera Secundarista via self media in the records in circulation on virtual social media. Nowadays, with the increase of users connected to the internet networks - in Brazil there are 102 million Internet users (53% of the population) - it is urgent to reflect on the multimedia perspective of the social movement of school occupation regarding the viralization of oral, written texts and / or imagery with content that can represent a hegemony of the people and collaborate for a position in favor of building a popular democratic state. In 2016, shortly after the impeachment of President Dilma Rousseff, of the Partido dos Trabalhadores (PT), Brazil went through a whirlwind of drastic political changes after the coup. Among these changes, three legislative initiatives by the government of President Michel Temer caused great concern because of their social impact on education in the country, namely the Proposta de Emenda Constitucional 241-55 / 2016 - known as the PEC of the Public Spending Ceiling - , the Reforma do Ensino Médio and the Projeto Escola Sem Partido. The universe of cyberculture, based on Information and Communication Technologies (ICTs), is considered by many scholars to be a democratic space with multiple voices, which can be an opportune political-pedagogical resource for class struggle. Thus, some of the questions that make up the fabric of this thesis are: How to viralize the ideals against the hegemony of the ruling class and raise awareness of the oppressed class? What is the potential of self media, as cyberculture productions, for the constitution of a collective will and the consequent spread of popular demands? In the speeches of the registries of Primavera Secundarista, as a networked social movement, do ideologies appear that reveal political passion and interest in the conquest of a popular democratic state? Reflecting on the algorithms and search systems on the internet, from the leading online search engine provider, Google, the methodology for mapping the corpus is based on the location of narrative compositions made by the students themselves. In this way, four documentaries were selected that used images and videos published on Twitter, Facebook, YouTube and blogs at the time of the movement. For the theoretical perspective, Gramsci's thoughts are considered essential, since his words underpin numerous concepts used in this investigation and, mainly, because his reflections subsidize critically, and with the necessary vigor, the proposed questions.

Keywords: Antonio Gramsci; Primavera Secundarista; Cyberculture; Social Networks; Social Movement.

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SOMMARIO

La presente ricerca ha indagato sul rapporto tra le riflessioni contenute negli scritti del carcere degli scrittori italiani Antonio Gramsci e la prassi politica della Primavera Secundarista attraverso gli auto-media nei registri circolanti nei social media virtuali. Al giorno d'oggi, con l'aumento degli utenti connessi a Internet - in Brasile vi sono 102 milioni di utenti di Internet (il 53% della popolazione) - è urgente riflettere sulla prospettiva multimediale del movimento sociale dell'occupazione scolastica in merito alla viralizzazione dei testi orali scritti e / o immagini con contenuti che possono rappresentare un'egemonia del popolo e contribuire a una posizione a favore della costruzione di uno stato democratico popolare. Nel 2016, poco dopo l'impeachment del presidente Dilma Rousseff del Partido dos Trabalhadores (PT), il Brasile ha subito un turbine di drastici cambiamenti politici post-colpo di stato. Tra questi cambiamenti, tre iniziative legislative del governo del presidente Michel Temer hanno suscitato grande preoccupazione a causa del loro impatto sociale sull'istruzione nel paese, vale a dire la proposta di emendamento costituzionale 241-55 / 2016 - nota come “PEC do Teto de Gastos Públicos” –, la “Reforma do Ensino Médio” e il “Projeto Escola Sem Partido”. L'universo della cibercultura, basato sulle Tecnologie dell'Informazione e della Comunicazione (TICs), è considerato da molti studiosi uno spazio democratico a più voci, che può essere un'opportuna risorsa politico-pedagogica per la lotta di classe. Quindi, alcune delle domande che costituiscono il tessuto di questa tesi sono: Come viralizzare gli ideali contro l'egemonia della classe dominante e rendere consapevole la classe oppressa? Qual è il potenziale dei media autonomi, come produzioni di cybercultura, per la costituzione di una volontà collettiva e la conseguente propagazione di affermazioni popolari? Nei discorsi dei registri della Primavera Secundarista, come movimento dei social network, le ideologie rivelano la passione politica e l'interesse per la conquista di uno stato democratico popolare? Riflettendo su algoritmi e sistemi di ricerca su Internet, dal principale fornitore di motori di ricerca online, Google, la metodologia di mappatura dei corpus si basa sulla posizione delle composizioni narrative da parte degli studenti stessi. Pertanto, quatro documentari sono stati selezionati utilizzando immagini e video pubblicati su Twitter, Facebook, YouTube e blog al momento del movimento. Per la prospettiva teorica, i pensieri di Gramsci sono considerati essenziali, poiché le sue parole sono alla base di numerosi concetti utilizzati in questa indagine e, soprattutto, perché le sue riflessioni sostengono criticamente e vigorosamente le domande proposte.

Parole chiave: Antonio Gramsci; Primavera Secundarista; Cybercultura; Reti sociali; Movimenti sociali.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABE Associação Brasileira de Educação

Apenoesp Associação dos Professores do Ensino Oficial Secundário e Normal do Estado de São Paulo

CC Cadernos do Cárcere

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito CPP Centro de Professorado Paulista ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FIESP Federação das Indústrias de São Paulo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFRJ Instituto Federal do Rio de Janeiro

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

LGBTI Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo MBL Movimento Brasil Livre

MEB Movimento de Educação de Base MEC Ministério da Educação

MP Medida Provisória MPL Movimento Passe Livre MST Movimento Sem Terra

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômica OSCE Organização para Segurança e Cooperação na Europa

ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas OS Operating System

OSs Organizações Sociais

OSCE Organização para Segurança e Cooperação na Europa PEC Proposta de Emenda Constitucional

PIB Produto Interno Bruto PL Projeto de Lei

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro PSDB Partido da Social Democracia Brasileira PSC Partido Social Cristão

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PSL Partido Social Liberal

PSOL Partido Socialismo e Liberdade PT Partido dos Trabalhadores

SAEB Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SAERJ Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro SEEDUC Secretaria da Educação do Rio de Janeiro

SMS Short Message Service Q Quardeni del Carcere

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Lista de documentários do YouTube. ... 35

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Deveres do professor segundo o PL Escola Sem Partido. ... 72

Figura 2 – Seminário Escola Sem Partido Ao Vivo. ... 74

Figura 3 – Vídeo do canal “Você Sabia?”. ... 78

Figura 4 – Monthly users. ... 92

Figura 5 – Facebook para Política. ... 94

Figura 6 – Election. Ad Campaigns. ... 95

Figura 7 – The top 500 sites on the web – Global... 97

Figura 8 – Top sites in Brazil. ... 97

Figura 9 – Twitter. ... 102

Figura 10 – Moments no Twitter. ... 103

Figura 11 – Instagram. ... 106

Figura 12 – Active Users. ... 108

Figura 13 – Hashtag “ocupareresistir”. ... 110

Figura 14 – Fake news no Instagram. ... 114

Figura 15 – Fake News no Instagram. ... 116

Figura 16 – Audiência dos veículos de mídia no Brasil. ... 124

Figura 17 – Registro cotidiano da ocupação. ... 126

Figura 18 – Acompanhamento da Primavera Secundarista pela UBES. ... 127

Figura 19 – Ação policial. ... 128

Figura 20 – Número de escolas ocupadas no país. ... 140

Figura 21 – Pronunciamento de estudantes no Facebook. ... 147

Figura 22 – Ana Júlia na Assembleia Legislativa do Paraná. ... 149

Figura 23 – Self media e rede social no documentário. ... 155

Figura 24 – Imagem de cartaz em escola ocupada. ... 156

Figura 25 – Self media de agressão na escola ocupada. ... 159

Figura 26 – Menina em manifestação na rua. ... 162

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Figura 28 – Resultados de busca no Google para a frase “como ocupar um colégio”.

... 164

Figura 29 – Cartilha escrita por estudantes do Chile e da Argentina. ... 164

Figura 30 – Transeunte associa o movimento ao PT. ... 166

Figura 31 – Registro self media de ação policial. ... 167

Figura 32 – Jornalismo alternativo na narrativa de desocupação. ... 168

Figura 33 – Mapa on-line de escolas ocupadas. ... 172

Figura 34 – Narrativas da ocupação no Facebook. ... 174

Figura 35 – Viralização da hashtag #VoltaGabi. ... 176

Figura 36 – Páginas pela desocupação no Facebook. ... 177

Figura 37 – Self media que registra o ataque à escola ocupada. ... 179

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 18

1.1 JUSTIFICATIVA ... 27

1.2 METODOLOGIA ... 31

1.3 PROCESSO INVESTIGATIVO EM ETAPAS ... 38

2. PENSAMENTO GRAMSCIANO ... 40 2.1 FILOSOFIA DA PRÁXIS ... 44 2.2 HEGEMONIA ... 47 2.3 SENSO COMUM ... 50 2.4 INTELECTUALIZAÇÃO ORGÂNICA ... 53 2.5 MODERNO PRÍNCIPE... 57 2.6 VONTADE COLETIVA ... 59

3. CRISE ORGÂNICA NA CONTEMPORANEIDADE ... 63

3.1 CENÁRIO POLÍTICO ... 64

3.2 CENÁRIO EDUCACIONAL ... 69

3.2.1 Teto dos gastos públicos ... 70

3.2.2 Escola Sem partido ... 71

3.2.3 Reforma do ensino médio ... 75

4. MOVIMENTOS SOCIAIS EM REDE ... 79

4.1 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA ... 80

4.2. DEMOCRACIA VIRTUAL ... 81

4.3. SUJEITOS EM REDE ... 85

4.3.1 Conexão dos sujeitos na rede ... 86

4.3.2 Publicações e interação na rede ... 87

4.3.3 Nativos digitais ... 89

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4.4 REDES SOCIAIS VIRTUAIS ... 91 4.4.1 Facebook ... 92 4.4.2 YouTube ... 96 4.4.3 Twitter ... 101 4.4.4 Instagram ... 104 4.4.5 Self Media ... 111 4.4.6 Fake News ... 113 4.5 JORNALISMO ALTERNATIVO ... 120

4.6 MOVIMENTOS SOCIAIS EM REDE PELO MUNDO ... 129

4.7 MOVIMENTOS SOCIAIS PELA EDUCAÇÃO ... 133

5. PRIMAVERA SECUNDARISTA ... 138

5.1 DOCUMENTÁRIO COMO PRÁTICA SOCIAL ... 150

5.2 DOCUMENTÁRIOS SOBRE AS OCUPAÇÕES ... 152

5.2.1 Primavera Secundarista – o filme (23 min; 6 jul. 2017) ... 153

5.2.2 OCUPE-SE: A luta entre o lápis e a borracha. (50 min; 28 abr. 2019) ... 157

5.2.3 Lute como uma menina! (76 min; 9 nov. 2016) ... 161

5.2.4 Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná. (56 min; 10 mai. 2017) ... 170

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 182

REFERÊNCIAS ... 193

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“Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”. (Rosa Luxemburgo)

(Cartaz colado na parede de uma escola pública ocupada)

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Trono do Estudar Ninguém tira o trono do estudar Ninguém é o dono do que a vida dá Ninguém tira o trono do estudar Ninguém é o dono do que a vida dá E nem me colocando numa jaula Porque sala de aula essa jaula vai virar E nem me colocando numa jaula Porque sala de aula essa jaula vai virar A vida deu os muitos anos da estrutura Do humano à procura do que Deus não respondeu Deu a história, a ciência, arquitetura Deu a arte, deu a cura e a cultura pra quem leu Depois de tudo até chegar neste momento me negar Conhecimento é me negar o que é meu Não venha agora fazer furo em meu futuro Me trancar num quarto escuro e fingir que me esqueceu Vocês vão ter que acostumar Ninguém tira o trono do estudar Ninguém é o dono do que a vida dá Ninguém tira o trono do estudar Ninguém é o dono do que a vida dá E nem me colocando numa jaula Porque sala de aula essa jaula vai virar E nem me colocando numa jaula Porque sala de aula essa jaula vai virar E tem que honrar e se orgulhar do trono mesmo E perder o sono mesmo pra lutar pelo o que é seu Que neste trono todo ser humano é rei Seja preto, branco, gay, rico, pobre, santo, ateu Pra ter escolha, tem que ter escola Ninguém quer esmola, e isso ninguém pode negar Nem a lei, nem estado, nem turista, nem palácio Nem artista, nem polícia militar Vocês vão ter que engolir e se entregar Ninguém tira o trono do estudar (Dani Black, 2016)

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1. INTRODUÇÃO

“o Estado é livre para manter os cidadãos informados de todas as suas atividades, ou seja, educá-los: um argumento democrático que se transforma em justificativa da atividade oligárquica”1.

(Antonio Gramsci)

A educação no Brasil vem apresentando índices alarmantes de baixa qualidade na educação básica. Uma pesquisa internacional realizada em 2015 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) classificou o país em 60º colocado dentre 76 nações ricas ou pobres representativas mundialmente. Outras fontes corroboram para esse resultado, já que o conhecimento básico dos alunos do ensino público reflete essa realidade em provas aplicadas em âmbito nacional. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) (MEC, 2007), que coleta dados sobre o desempenho acadêmico dos discentes brasileiros, divulgou, em 2005, um quadro evolutivo de 1995 a 2005, mostrando a queda nas médias de proficiência em Língua Portuguesa e em Matemática em duas séries do Ensino Fundamental e na terceira série do Ensino Médio. Nessas estatísticas, destaca-se um pior desempenho nas regiões Norte e Nordeste, áreas com menor índice de desenvolvimento econômico, carentes de adequadas instituições escolares e condições básicas de vida, além de evidenciarem grandes desigualdades sociais.

Diante dessa triste realidade educacional, a escola pública carece de melhorias estruturais e pedagógicas para o seu aprimoramento na formação dos alunos e, também, cidadãos, sendo a maioria proveniente das classes de baixa renda. A população vem reivindicando condições adequadas de ensino que envolvem o programa e a infraestrutura das instituições escolares para minimizar

1 Tradução livre. Original: “lo Stato deve gratuitamente tenere informati i cittadini di tutta la sua attività,

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tais desigualdades, primando por uma melhor qualidade de vida do povo oprimido social e economicamente. Deve-se pensar no exercício da cidadania e na aplicação das leis que preveem direitos a todos. E para fundamentar a importância histórica dos direitos e deveres de todos os indivíduos da nação, pode-se retomar os ideais da Revolução Francesa, resgatando uma ruptura iniciada no final do século XVIII. Nessa época:

ao lado das ideologias liberais, democráticas e socialistas, desenvolveu-se o nacionalismo, que teve sua origem na Revolução Francesa. Tradicionalmente, cada país era considerado uma espécie de “propriedade” do rei e de sua família. Por isso, cada indivíduo era súdito de um determinado rei e não um cidadão. Foi durante a luta dos franceses contra o absolutismo do rei que, aos poucos, eles deixaram de se considerar súditos para se tornarem cidadãos (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 211, grifos do autor). Assim como ocorreu na história da França, diante da insatisfação da classe subalterna, até hoje, inúmeros protestos irrompem com frequência para denunciar e requerer investimentos governamentais, além de tentar obter equidade social.

No Brasil, particularmente, a educação comparecia no slogan da campanha do governo federal, presidido por Dilma Vana Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), através do título “Pátria Educadora”. O logotipo da instituição máxima do Estado apresentou essa expressão – ressaltando a importância do ensino no país – desde o início do governo da presidenta em sua reeleição no final de 2014 e início de 2015. Apesar desse marketing, o Estado que se julga democrático e que prevê, em suas leis, direitos a todos os cidadãos não consegue garantir escolas igualitárias e de qualidade aos estudantes.

Neste exercício político-cidadão, dentre tantas demandas reclamadas, uma delas envolve a de se conquistar a democratização da educação no país. Este deve ser o caminho: a reflexão crítica é a base para o engajamento político, para que as ideias alcancem dada intelectualidade e participação social. Afinal, deve ser oferecida uma educação pública e gratuita a todas as crianças e jovens, como prevê a constituição brasileira:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo

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para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, s/p.).

No processo de reivindicação de direitos, o enfrentamento entre as classes sociais se estabelece pela organização comunicacional e promoção de novas maneiras de pensar, que constitui uma atividade intelectual criadora. Segundo o pensador italiano Antonio Gramsci, “todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um ‘filósofo’, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral”2 (Q 12 § 3). No entanto, as “camadas intelectuais” se formam de

acordo com processos históricos tradicionais concretos, relacionando-se com o mundo da produção “mediatizada” pelo contexto social, e geradas pelas necessidades políticas do grupo fundamental dominante. Nesse embate, entre a “sociedade civil” e a “sociedade política ou Estado”, Marx (1978) defendia que “era preciso que os intelectuais políticos se colocassem no lugar das vítimas do sistema, adquirissem a ótica dos defraudados e se revestissem das suas energias revolucionárias” (SEMERARO, 2006, p.375). Somente assim fariam parte de um movimento real:

Marx estava convencido, de fato, que as classes desapropriadas e os povos saqueados possuíam a inteligência “objetiva”, o ponto de vista mais concreto e radical proveniente da violência sofrida, do trabalho alienado, das necessidades elementares desatendidas, das relações sociais e humanas dissolvidas. Assim, se a verdadeira face da sociedade burguesa encontrava-se nos trabalhadores explorados e nos territórios colonizados (Marx, 1978, p. 265), a partir destes também precisava ser encontrado o caminho da revolução para fazer avançar a história em direção à liberdade e à sociabilidade universal (SEMERARO, 2006, p.375).

Segundo as premissas de Marx e Gramsci, a filosofia, reflexão das ideias pelos intelectuais, deve se tornar “práxis política”, em que o conhecimento é socializado e conectado às diversas organizações sociais, tornando-se, assim, orgânico e contrapondo-se à elitização desses pensadores – os intelectuais que representam a hegemonia dominante. Por essa razão, o novo intelectual intencionaria conquistar maior consciência da sua classe através da sua vinculação à cultura, à história e à política das classes desprivilegiadas, diferentemente da

2 Tradução livre. Original: “Ogni uomo infine, all’infuori della sua professione esplica una qualche

attività intellettuale, è cioè un ‘filosofo’, un artista, un uomo di gusto, partecipa di una concezione del mondo, ha una consapevole linea di condotta morale”.

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imagem que se tem do filósofo como detentor de todo conhecimento e alheio à cultura popular.

Com a evolução tecnológica e o acesso à rede mundial de computadores, a propagação de ideias encontrou, nas conexões virtuais, um ambiente comunicacional propício.

Até 2015, 43% das pessoas do mundo tinham acesso à internet, segundo o relatório State of Connectivity 2015 (FACEBOOK, 2016, s/p.). O Brasil possui mais da metade da população – 102 milhões de pessoas – conectada à Internet e 53% dos brasileiros acessam as mídias sociais virtuais, como Facebook, Twitter e YouTube, diariamente. A frequência de consulta aos smartphones é diária para 82% dos internautas. Trata-se de um cenário extremamente recente que configura o modo de comunicação inovador em que as Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) modificam o comportamento humano à medida que geram novos hábitos e necessidades cotidianas.

Naturalmente essa evolução se instaura a partir de um processo capitalista consumidor que gera demandas por novos produtos a serem adquiridos constantemente no mercado. Em termos sócio-interacionais, é um grande negócio a oferta de equipamentos eletrônicos atraentes que possibilitam a facilidade da conversação on-line entre usuários da rede que estejam em qualquer lugar do mundo, gerando uma suposta “necessidade” e/ou urgência comunicativa.

A realidade interacional hodierna atende todo tipo de enunciado: gêneros como relato subjetivo, opinião, notícia ou meme; via voz (os chamados podcasts, bastante difundidos no aplicativo WhatsApp), texto ou imagem; tanto de dados verídicos, quanto de fake news. Sendo este último modelo, um fenômeno em crescimento surgido na cobertura jornalística da campanha eleitoral presidencial americana em 2016 em que blogues difundiam informações falsas sobre a candidata Hillary Clinton, conforme coloca o professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado (GLOBONEWS, 2018, s/p.).

Ainda sobre conteúdos difamatórios no ciberespaço, no Brasil, seguindo a mesma tendência, diversos grupos políticos – aqui destacando os grupos mais conservadores – se utilizaram da chamada “máquina de fake news” para persuadir

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seus eleitores. Tal questão reverberou um ano após a eleição presidencial brasileira de 2018 quando, após ser destituída da liderança do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP) foi convidada a depor na comissão parlamentar de inquérito que investiga as notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual: a CPI das Fake News. A deputada federal afirmou, em suas redes sociais, que o presidente Jair Messias Bolsonaro (atualmente sem partido, após sua desassociação do Partido Social Liberal – PSL) teria uma “milícia virtual” para intimidar opositores (SENADO NOTÍCIAS, 2019, s/p.).

A “milícia virtual” se caracterizaria pela existência de cerca de dois milhões de perfis falsos, ou seja, robôs, seguidores das contas oficiais do presidente e seus filhos Eduardo Bolsonaro (deputado federal – PSC) e Carlos Bolsonaro (vereador do Rio de Janeiro – PSC). Em seu depoimento, Hasselmann “levou imagens, áudios e vídeos para tentar mostrar a existência de uma estrutura que foi montada com apoio do governo, chamada de ‘gabinete do ódio’, usada para espalhar mensagens falsas” (JORNAL NACIONAL, 2019, s/p.) sobre aqueles que se colocaram em oposição à família Bolsonaro. E declarou, ainda, que “Cada atuação de robô custa em média, cada disparo, R$ 20 mil em média. Se a gente está falando desses robôs todos, quem paga por isso? De onde sai esse dinheiro?”.

A facilidade de compartilhamento e disseminação de conteúdo é simples, pois basta um clique para que outros internautas possam visualizar, curtir e novamente compartilhar. Dessa maneira, diariamente milhares de posts (publicações) “viralizam”, ou seja, espalham-se rapidamente (como um “vírus”) alcançando milhares ou milhões de visualizações na web e, consequentemente, ganhando repercussão – muitas vezes inesperada. A rede social Twitter, à guisa de ilustração, mensura os assuntos de maior popularidade, divulgando o Trending Topic que, traduzindo, significa “tópico em tendência”. São os “assuntos do momento”, identificados a partir de algoritmos dessa social media que conta hoje com mais de 134 milhões de usuários diários, além de uma receita em crescente aumento por conta da publicidade virtual. Ainda segundo o The Wall Street Journal (2019, s/p.), o lucro dessa empresa subiu 18% no primeiro trimestre de 2019, alcançando o valor de US$ 787 milhões (R$ 3,11 bilhões).

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Nesse ínterim, há de se acrescentar as páginas colaborativas, como por exemplo, a WikiLeaks, na qual sujeitos, em especial ciberativistas, contribuem com documentos acerca de acontecimentos diversos de significativo impacto social sobre as grandes potências mundiais. Desde 2001, a enciclopédia virtual Wikipédia possui colaboradores em todo o mundo abarcando inúmeros tipos de conteúdo e ocupando um espaço virtual dito democrático. Dentre os uploads nos canais do YouTube, viralizaram diversos vídeos durante a ocupação dos estudantes em alguns estados no Brasil no início de 2017, em especial o da secundarista Ana Júlia que apresentou uma fala emocionante no plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, posicionando-se contra a aprovação da Reforma do Ensino Médio e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241-55/2016.

Tradicionalmente, as mídias de grande circulação (mass media), tais como as redes televisivas, rádios, jornais e revistas, representam as ideias da classe dominante e ratificam as ideologias hegemônicas. Aqui, tomando o termo “ideologia” a partir do viés gramsciano, conceituado como concepção de mundo, e manifestando-se nas vidas individual e coletiva. Segundo Gramsci, “A luta pela hegemonia é luta de ideologia: não se trata de uma pura ‘batalha das ideias’, estas ideias têm uma ‘estrutura material’” (Q 3 § 49; LIGUORI, 2017p.400).

Conforme refere o autor, “Toda camada social tem seu ‘senso comum’ que está no fundo da concepção de vida e a moral mais difusa”3 (Q 1, § 65). Na

sociedade, o senso comum é introduzido em nossos costumes, estabelecido pelos dirigentes de forma a induzir a uma “realidade” que lhes seja conveniente, manipulando o povo de modo que este “aceite” sua condição de oprimido.

Desde a Revolução Francesa, época em que o termo “quarto poder” foi cunhado, acreditava-se que os meios de comunicação serviriam para “vigiar” os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. Contudo, conforme o desenvolvimento da economia de mercado, todos os quatro poderes vêm sendo massivamente ameaçados pela força da economia, frequentemente motivada pela ganância e corrupção pertinentes ao sistema capitalista. Nesse contexto, a grande mídia se tornou a única que não é diretamente acompanhada por mecanismos de controle

3 Tradução livre. Original: “Ogni strato sociale ha il suo ‘senso comune’ che è in fondo la concezione

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público – isso sem considerar a efetividade desse controle. Acrescenta-se, ainda, que as mídias, em geral, possuem um papel social cada vez mais sofisticado, isso porque “a formação da opinião pública é um elemento essencial para o exercício do poder” (SERRANO, 2013, p. 72).

Os meios de comunicação de massa não possuem legitimidade democrática, já que não se estabelecem via escolha ou seleção popular, e não ocupam uma posição de neutralidade ideológica. E, na História nacional, são inúmeras as ocorrências de manipulação motivadas pelos interesses dos donos das grandes emissoras de rádio, televisão e jornais, ações obscurecidas pelo argumento da “liberdade de imprensa”. Afinal, as mídias empresariais são operadas por organizações que atuam no mercado via facilidades comerciais muitas vezes viabilizadas pelo governo numa relação de interesse que visa garantir a manutenção do senso comum.

Além disso, recentemente o Brasil vem passando por alterações na política desde a ascensão de um governo que representaria as vozes populares com a eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. De origem humilde, o ex-metalúrgico e ex-sindicalista que liderou greves dos operários no ABC Paulista, em São Paulo (BANCO DE DADOS DA FOLHA, 2017, s/p.), Lula participou da fundação do PT numa proposta de “mudanças na vida dos trabalhadores da cidade e do campo” (PT, sem data, s/p.).

A sucessora de Lula, Dilma Rousseff, que permaneceu na presidência de 2011 a 2016, foi vítima de uma articulação política que colaborou para a cassação de seu mandato na presidência brasileira através do golpe operado pelo seu vice Michel Temer (REVISTA FÓRUM, 2019, s/p.). Com o impeachment da presidenta, e consequente assunção do governo Temer, pertencente ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), surgem as consequências e mudanças no âmbito legislativo, declaradamente justificadas pelo déficit orçamentário.

O início do mandato de Temer ocorreu em maio de 2016, primeiramente como interino durante o processo de impeachment, e, depois, assumindo o cargo de presidente da república em 31 de agosto de 2016. Desde a posse, Temer anunciou que tomaria medidas impopulares, porém “necessárias” para alcançar a

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estabilidade econômico-financeira do país. Tratava-se de uma proposta de governo “reformista”, como ele anunciava em suas falas públicas.

Para estabelecer um enfrentamento à hegemonia dominante, surgem movimentos sociais populares que buscam a conscientização coletiva para contestar o poder, rebelar-se contra os desmandos do Estado, lutar pela democracia. E os atores dessa luta são os oprimidos socialmente, aqueles que têm direitos previstos nas leis nacionais, mas que são ignorados ou excluídos.

Contemporaneamente, os movimentos sociais em rede questionam o modo como se estabelecem as relações de poder nesse novo contexto social da cibercultura e, também, as formas como os atos políticos se instauram e se propagam nas malhas da internet. O paradigma da liberdade deve ser pensado, já que fora uma temática aglutinadora na época da ditadura, quando, apesar de tudo, “assistimos a um florescimento espantoso de práticas político-pedagógicas inovadoras e de criações teóricas em diversos campos” (SEMERARO, 2007, p. 2). Os movimentos sociais pela educação, através da reivindicação de direitos democráticos no âmbito escolar, vêm abrindo novos espaços interativos virtuais, ampliando as discussões sobre o ensino público. Afinal, a escola deve permanentemente ser um espaço de discussão, no qual seus atores – alunos, professores e demais profissionais da educação – possam produzir diálogos, reconquistando o direito pela palavra e se pronunciando sobre o mundo a fim de transformá-lo (FREIRE, 2015, p.109).

Em 2015, os estudantes secundaristas da educação pública de São Paulo mostraram à sociedade a força que possuem através de uma grande organização social que mobilizou mais de duzentas escolas no estado. Eles estavam iniciando o movimento de ocupação, de caráter educacional, pois se instaura no espaço escolar e é motivado a partir de questões políticas educacionais. Principalmente em reação à proposta de reestruturação escolar do governador Geraldo Alckimin, do PSDB, que previa o fechamento de centenas de escolas, e pela abertura da CPI da Merenda, a fim de investigar os desvios de verbas da merenda escolar, os adolescentes realizaram a ocupação das escolas.

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A presente tese se inspira nesse movimento, denominado por alguns meios de comunicação como Primavera Secundarista. Busca-se investigar a relação das reflexões contidas nos escritos carcerários de Gramsci com a práxis dos secundaristas em ações reivindicativas pela educação pública, no universo da cibercultura, via self media – uma espécie de comunicação independente que pode ser realizada por qualquer sujeito conectado. Os documentos que compõem a narrativa das ocupações – que ocorreram em mais de mil escolas em todo o Brasil – foram disseminados via mídias sociais virtuais e muitos deles comparecem em documentários de cunho independente disponíveis publicamente na internet.

Na crise orgânica na qual o Brasil se imergiu, três iniciativas legislativas do governo Temer causaram grande preocupação aos estudantes por conta de seu impacto social para a educação no país, sendo elas a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241-55/2016 – conhecida como PEC do Teto de Gastos Públicos –, a Reforma do Ensino Médio e o Projeto Escola Sem Partido.

O universo da cibercultura, baseado nas TICs, é considerado por muitos estudiosos um espaço democrático de múltiplas vozes, que pode ser um recurso político-pedagógico oportuno para a luta de classes. Assim, algumas das indagações que compuseram a tessitura desta pesquisa são: Como viralizar os ideais contra a hegemonia da classe dominante e conscientizar a classe oprimida? Qual o potencial da self media, enquanto produções da cibercultura, para a constituição de uma vontade coletiva e consequente propagação de reivindicações populares? Nos discursos dos registros da primavera secundarista, enquanto movimento social em rede, comparecem ideologias que revelam a paixão política e o interesse na conquista de um Estado democrático-popular?

Refletindo sobre os algoritmos e os sistemas de pesquisas na internet, a partir do buscador mais usado em todo o mundo, o Google, a metodologia para o mapeamento do corpus se baseia na identificação de composições narrativas com conteúdo de registros self media dos próprios alunos do movimento estudantil. Desse modo, foram selecionados quatro documentários que se constituem utilizando imagens, textos e vídeos publicados no Twitter, Facebook, YouTube e blogues à época da ocupação.

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Por fim, para a perspectiva teórica, são considerados essenciais os pensamentos de Gramsci, já que suas palavras fundamentam inúmeros conceitos utilizados nesta investigação e, principalmente, porque suas reflexões subsidiam criticamente, e com o vigor necessário, as questões propostas.

1.1 JUSTIFICATIVA

Hodiernamente, no Brasil, vive-se uma intensa turbulência política num contexto dicotômico midiático entre petistas e não petistas. Em 2016, uma grande farsa foi criada pelos meios de comunicação de massa, em especial pela televisão, para demonizar o PT e, por consequência, através de inúmeros escândalos de corrupção, retirar a sua líder da presidência da república Dilma Rousseff, eleita democraticamente, instaurando-se o golpe. Segundo o pensamento gramsciano, há, nesse desvio de atenção, a prática da pequena política que serve à manipulação dos subalternos.

A partir do sensacionalismo em torno de tais questões, os representantes da oposição vêm ganhando cada vez mais espaço nas decisões políticas, propondo modificações legislativas que acarretam uma significativa piora na qualidade de vida da população em diversos setores essenciais, tal como na educação.

As ideologias em circulação nas multimídias tradicionais não defendem os interesses da população oprimida. Vale esclarecer que apenas cinco famílias controlam cinquenta por cento dos principais veículos de mídia do país, englobando canais de televisão, rádios, editoras e sites: “esse domínio configura um oligopólio. ‘Nem a tecnologia digital e o crescimento da internet, nem esforços regulatórios ocasionais limitaram a formação desses oligopólios’, afirmam as ONGs” Intervozes (no Brasil) e a Repórteres Sem Fronteiras (na França) (CARTA CAPITAL, 2017, s/p.).

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Apesar disso, existe uma brecha na qual um posicionamento contrário à hegemonia da classe dominante circula e se propaga entre um grande número de sujeitos conectados, sensibilizando-os e fortalecendo vozes que defendem os direitos do povo. O jornalismo alternativo que ocupa as diversas mídias digitais, como exemplo, se posiciona a favor da democracia realizando denúncias que a grande mídia omite. Quem pode controlá-lo ou inibi-lo? A liberdade de imprensa na rede, portanto, aparenta existir e pode representar a classe subalterna.

A propósito, os espaços virtuais se constituíram como lugares colaborativos nos quais os cidadãos conectados podem contribuir, participar, interagir. É a chamada “Era de Emerec”, em que o homem é emissor e receptor em simultâneo (modelo concêntrico) segundo teoria idealizada por Jean Cloutier em 1975 (AMARAL; SOUSA, 2009, p.2). Destarte, “por causa da sua história, da infraestrutura técnica e dos ideais que acompanharam seu desenvolvimento, a internet é frequentemente associada à ideia de uma participação mais ativa dos indivíduos no espaço público” (CARDON, 2016, p.287). Houve, por conta disso, uma anulação das divisões que constituíam as mídias tradicionais, o que favoreceu novas formas de interação “democrática”, tais como fóruns, chats, comentários de artigos, wikis e, principalmente, as redes sociais digitais (CARDON, 2016, p.287).

Em contrapartida, há diversas vozes em circulação que representam o interesse dos grandes empresários. Assim, ideias como a meritocracia são defendidas pelas mídias para reforçar uma suposta incapacidade do cidadão comum de alcançar boas condições de vida, como obter recurso financeiro para pagar um plano de saúde e não enfrentar filas nos hospitais públicos.

Desse modo, a fim de entender a conceituação do senso comum, Liguori refere que:

Em geral, trata-se da ideologia mais difundida e com frequência implícita de um grupo social, de nível mínimo. Por isso, ele se relaciona dialeticamente com a filosofia, isto é, com o segmento alto da ideologia, próprio aos grupos dirigentes dos vários grupos sociais. Da mesma forma, também uma força política que se coloque do lado dos subalternos deve instaurar com ele uma relação dialética para que ele seja transformado e se transforme, até se alcançar um novo senso comum, necessário no âmbito da luta pela hegemonia” (2017a, p. 723)

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Por isso, a cultura popular deve estar fortalecida para ganhar espaço – nas redes e nas ruas – e conseguir enfrentar o senso comum hegemônico. Nas lutas políticas subalternas, é urgente que os ideais revolucionários se espalhem, inspirando a organização política, alcançando um maior número de pessoas pertencentes às classes sociais desfavorecidas e gerando as condições para transformar a realidade.

As comunidades e movimentos virtuais configuram uma continuidade dos movimentos populares brasileiros da segunda metade do século passado (SEMERARO, 2007) e de outras iniciativas oriundas dos setores subjugados. Tais propósitos abrangem o embate das classes sociais. E o cenário se constitui a partir do progresso tecnológico capitalista: o ambiente virtual-digital. Afinal, se a repressão do governo sempre se impôs em nossa sociedade, inibindo as manifestações, mobilizações e demais efervescências políticas nos meios estudantis, e manipulando os veículos midiáticos, as opiniões e ideias que circulam no ambiente web contam com novas possibilidades interacionais. Isso porque:

A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada, num padrão em constante mudança (CASTELLS, 2013, p.11).

Tratando-se de espaços virtuais, há, naturalmente, uma disputa ideológica, também, em rede. E, nesses lugares, ocorre, de modo concomitante, a circulação massiva dos discursos pertencentes àqueles que detêm o controle da comunicação de massa, afinal, os usos multimidiáticos gradativamente vêm se ampliando a partir dos recursos de mídia tradicionais, amalgamando-se com os que envolvem as chamadas TICs.

Apesar disso, destaca-se a singularidade que a cibercultura possui, visto que os novos meios comunicacionais compreendem práticas outras em termos de produção da informação pela sua natureza horizontal, autônoma e colaborativa. Historicamente, comparecem, cada vez mais, iniciativas de movimentos sociais em rede que, de diferentes modos, utilizam as mídias sociais em sua formação, deliberação, organização, propagação e no modo de atuar.

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protege o movimento da repressão de seus espaços físicos liberados, mantendo a comunicação entre as pessoas do movimento e com a sociedade em geral na longa marcha da mudança social exigida para superar a dominação institucionalizada (CASTELLS, 2013, p.167).

E, apesar de um possível deslumbramento de tais vieses libertários e plurais, tratando-se de uma sociedade capitalista, de que modos as redes sociais podem “indicar” publicações via algoritmos obscuros, assim como, recomendar posts pagos que são priorizados nas timelines (linhas do tempo) dos usuários?

Mais recentemente, de modo cada vez mais frequente, há a ocorrência de notícias falsas, as fake news, que geraram um impacto social e de capital muito intenso ao manipular eleições presidenciais nos Estados Unidos, elegendo Donald Trump (do partido Republicano) em 2016. No Brasil, a história se assemelha, posto que foi eleito o candidato Jair Bolsonaro (do Partido Social Liberal) em 2018, ambos com posições ideológicas que representam a extrema direita – situação bastante crítica e que gera implicação direta para a população mais humilde.

Urge, desse modo, refletir sobre possibilidades de ação que possam firmar resistência frente a tantos embates. A educação precisa ser blindada contra tantos ataques para que não sejam perdidos direitos conquistados historicamente – mesmo que o contexto educacional atual ainda seja extremamente precário na maioria das realidades sociais do país. Destarte, entender o movimento da Primavera Secundarista pode colaborar para a percepção das práticas no universo da cibercultura e propiciar reflexões sobre a práxis revolucionária.

No contexto da crise política e social brasileira, de drásticas mudanças legislativas pós-golpe, o objetivo geral da presente pesquisa é investigar e mostrar, a partir das ideias gramscianas e no contexto da cibercultura, as possíveis reflexões propiciadas pelo movimento social em rede pela educação no Brasil intitulado Primavera Secundarista.

Observando e analisando os documentários selecionados, busca-se pensar sobre de que modo a atuação multimidiática da ocupação via registros narrativos virtuais self media possa ter colaborado filosoficamente em prol de uma formação política e/ou para a construção da vontade coletiva por uma sociedade e um Estado democrático-populares. Assim como, de que maneira tais experiências contribuem

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para novas práticas comunicacionais e organizacionais, no contexto da cibercultura, para o fortalecimento orgânico de uma hegemonia popular a partir da práxis política realizada pelas classes populares de modo a unificar e fortalecer seus interesses e vozes.

1.2 METODOLOGIA

“A questão da ‘objetividade’ do conhecimento segundo a filosofia da práxis pode ser elaborada a partir da proposição (contida no prefácio da Crítica da economia política) de que ‘os homens tornam-se conscientes (do conflito entre as forças materiais de produção) no terreno ideológico’ de formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas e filosóficas”.4

(Antonio Gramsci)

Concebendo pesquisa como “uma atividade processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade nos impõem” (DEMO, 2003, p. 16), de um modo geral, a natureza metodológica da tese para este projeto é bibliográfico-documental, envolvendo principalmente a fundamentação teórica de base filosófica e de investigação social concernente às comunicações em discursos registrados em ambientes tecnológicos e consolidados em documentários publicados gratuitamente na rede social YouTube.

Por conta do crescente número de usuários conectados, as mídias virtuais vêm sensibilizando e influenciando de forma significativa o comportamento de grupos e indivíduos em diversos campos sociais. No contexto da cibercultura, a presente tese se propôs pesquisar os ambientes multimidiáticos que abrangem os

4 Tradução livre. Original: “La quistione dela ‘obbiettività’ della conoscenza secondo la filosofia della

prassi può essere elaborata partendo dalla proposizione (contenuta nella prefazione alla Critica dell’economia politica) che ‘gli uomini diventano consapevoli (del conflitto tra le forze materiali di produzione) nel terreno ideologico’ delle forme giuridiche, politiche, religiose, artistiche, filosofiche”.

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atores sociais – os estudantes secundaristas que se mobilizaram através da ocupação de escolas públicas – e os elos estabelecidos entre eles via narrativas estruturadas em vídeos documentários – enquanto representações sociais – disponibilizados no maior repositório virtual de vídeos on-line.

Busca-se compreender recorrências e/ou padrões discursivos de atuação política nos registros self media que coadunem com a filosofia da práxis do pensador italiano Antonio Gramsci, posto que ele fora “uma importante figura intelectual, talvez como o homem multifacetado do Renascimento, que mesmo no cárcere preserva sua liberdade espiritual lendo, estudando e escrevendo para a posteridade” (MONASTA, 2010, p. 19).

A respeito do pensamento gramsciano e suas relações teóricas com o movimento Primavera Secundarista, tais questões serão detalhadas no terceiro capítulo, que versa sobre as ideias de Gramsci que subsidiarão as reflexões filosóficas desta pesquisa. A produção do militante comunista italiano, em sua experiência de vida e, mais especialmente, em seu período na prisão, gerou um inestimado legado teórico e político que, desde então, vem influenciando socialistas pelo mundo afora (COSTA; SANTOS, 2017).

Pelas condições de produção de seus escritos, posto que Gramsci tinha acesso restrito a leituras, era censurado pela polícia política e, ainda, pela precariedade da sua saúde e posterior adoecimento físico, há grande dificuldade na apreensão dos textos contidos nos cadernos. Contudo, a chave de leitura para decifrar o seu construto intelectual “envolve reconhecer as condições objetivas da sua escrita, o contexto social, político e econômico da Itália fascista e compreender as contribuições teóricas dos diversos autores com os quais ele dialoga” (COSTA; SANTOS, 2017, p.411).

A partir do desafio de compreender tais ideias, no capítulo 3, intitulado “Pensamento Gramsciano”, destacam-se os seguintes tópicos abordados por Gramsci: filosofia da práxis, hegemonia, senso comum, intelectualização orgânica, moderno príncipe e vontade coletiva. Esclarece-se que esta seleção se dá por conta das reflexões surgidas a partir dos acontecimentos que envolvem a Primavera Secundarista em especial e, mais genericamente, os movimentos sociais em rede

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enquanto práxis política de acordo com o contexto histórico do qual emergem. Assim como, não esgotam toda a gama de conceitos do autor dada a característica polissêmica de sua escrita carcerária.

A propósito do contexto dos acontecimentos históricos, o capítulo seguinte busca traçar um panorama e, também, resgatar significativas análises teóricas sobre a crise orgânica na contemporaneidade. Trata, desse modo, do cenário político após o impeachment da presidenta Dilma, esmiuçando as questões legislativas que estão vinculadas mais diretamente ao âmbito da educação no Brasil.

Subsequente ao tema do materialismo histórico exposto no capítulo 4, o capítulo 5 intenciona traçar um panorama sobre os movimentos sociais em rede a partir da evolução tecnológica. Colocam-se, assim, aspectos teóricos sobre a democracia virtual no contexto que envolve: o uso das mídias sociais virtuais, suas mecânicas e lógicas interacionais; os atores sociais, chamados aqui de “sujeitos em rede” – sejam eles nativos ou excluídos digitais; o jornalismo alternativo, do mesmo modo, fruto das novas formas de comunicação digital; e os movimentos sociais em rede que ganharam notoriedade no mundo e no Brasil.

O último capítulo fala sobre a Primavera Secundarista, o corpus selecionado que fornece pistas sobre a práxis política hodierna disseminada na internet, ou seja, ao alcance por qualquer usuário conectado à rede mundial de computadores.

Para a análise desta tese, o recorte do corpus abrange o período o mais próximo da cena política contemporânea, por isso coincide com a transição do impeachment da ex-presidenta à posse do atual presidente Michel Temer, período pós-golpe, até a aprovação da PEC 241-55/2016 (do Teto dos Gastos Públicos), considerando que esta ação representou um impacto de grande frustração para todos os sujeitos que se mobilizaram em rede e nas ruas para lutar contra a emenda constitucional.

Posto que o objetivo seja observar a práxis política que se desenrola no movimento social estudantil, e refletir sobre a densidade das discussões implicadas nas ações que ocorreram em cerca de 1.100 escolas no Brasil em 2016 (ÉPOCA, 2017, p.65.), para a seleção do corpus, optou-se pelo mecanismo on-line de buscas

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mais usual, o Google. Esclarece-se que as ações dos alunos secundaristas eram narradas via self media e publicadas nas redes sociais.

O buscador Google, no Brasil e no mundo, “ainda reina como site mais acessado da internet” (AGRELA, 2017, s/p.), ocupando o primeiro e o terceiro colocados no ranking dos sites mais populares do Brasil em 2017. No segundo lugar, está o YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos que alcançou a marca de audiência de um bilhão de horas por dia assistidas por seus usuários (O ESTADO DE S. PAULO, 2017, s/p.). Segundo o próprio site:

o primeiro bilhão de horas foi atingido no final de 2016, registrando um crescimento em mais de 10 vezes na audiência desde 2012, quando o site começou a investir nos algoritmos — inteligência artificial que reconhece o gosto dos usuários e faz sugestões personalizadas” (O ESTADO DE S. PAULO, 2017, s/p.).

Descartou-se a coleta de dados por hashtag ou qualquer outra estratégia de recorte diretamente nas redes sociais Facebook, Twitter e YouTube, pois essas opções gerariam um volume grande e aleatório de publicações, do qual não se poderia distinguir ou classificar os graus de importância/relevância em termos de representatividade, repercussão e influência. Principalmente porque não havia, à época do movimento, uma página ou perfil central dos acontecimentos que se desenrolavam em cada unidade escolar ocupada. Por conseguinte, seria necessário estabelecer outros critérios, tais como quantitativo de visualizações, número de compartilhamentos, curtidas e outros a fim de angariar os posts de maior audiência. A partir do procedimento referido, o buscador apresentou inúmeros documentários a partir das palavras-chaves documentário Primavera Secundarista, listados no quadro 1, a seguir, com os dados fornecidos pelos autores em seus respectivos canais no site YouTube.

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Quadro 1: Lista de documentários do YouTube.

Documentário Direção e Canal Views e Likes Descrição do Canal 1 Primavera Secundarista – o filme. (23 min; 6 jul. 2017)5 Maíra Kaline Januário Cabral; Maíra Kaline Januário Cabral. 2,2 mil; 70.

Sinopse: O documentário Primavera Secundarista apresenta o movimento de ocupação de escolas e universidades ocorrido em 2016 em cerca de 1100 escolas no Brasil, das quais 850 no Estado do Paraná, como resistência dos estudantes contra a Medida Provisória 746 de Reforma do Ensino Médio e outras, como o Projeto de Emenda Constitucional 55 que congela os gastos públicos por vinte anos.

Documentário gravado de forma imersa em duas ocupações. 2 OCUPE SE: A luta entre o lápis e a borracha. (50 min; 28 abr. 2019)6 Fabrício Rodrigues, Gabriel da Costa, Willian Graniero; Ocupe-se. 1,6 mil; 62.

Idealizado e produzido durante o movimento secundarista contra a "reorganização" escolar proposta pelo Governo do Estado de São Paulo. Material exclusivo, captado dentro de escolas ocupadas e manifestações de rua, mostrando o que realmente aconteceu do lado de dentro dos muros, acompanhando de perto e relatando fielmente todas as ações do movimento que fez história frente à uma decisão verticalizada.

3 Lute como uma menina! (76 min; 9 nov. 2016)7 Flávio Colombini e Beatriz Alonso; Maíra Kaline J. 93 mil; 4 mil.

Conta a história das meninas que participaram do movimento secundarista que ocupou escolas e foi as ruas para lutar contra um projeto de reorganização escolar imposto pelo governador de São Paulo, que previa o fechamento de quase cem escolas.

As meninas contam suas histórias enfrentando figuras de autoridade, desde a luta pela autogestão das escolas até a violência desenfreada da polícia militar. Uma importante reflexão sobre o feminismo, o atual modelo educacional, e o poder popular.

5 Disponível em: https://youtu.be/TbNqoky5HVY. Acesso em 02 nov. 2019.

6 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=W3FjtBfSpbk. Acesso em 02 nov. 2019. 7 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8OCUMGHm2oA. Acesso em 02 nov. 2019.

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4 Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná. (56 min; 10 mai. 2017)8 Carlos Pronzado; La Mestiza Audiovisual. 2,7 mil; 108.

Retrata a luta dos estudantes secundaristas paranaenses contra a MP da Reforma do Ensino Médio proposta pelo governo federal. Os estudantes também lutavam contra o PL Escola sem Partido e a PEC 55, que congela os investimentos sociais durante 20 anos. Das mais de mil escolas ocupadas no país em 2016, 850 foram no Paraná.

O filme conta com uma linha narrativa que consegue expressar em profundidade os sentidos políticos e históricos desse que foi o maior movimento de ocupações já registrado na História. O filme se notabiliza como uma produção coletiva, colaborativa e de natureza independente, viabilizada pelo envolvimento de sujeitos que estiveram na linha de frente do movimento e/ou que atuaram em sua defesa nos meios escolares, jurídicos e midiáticos. Mais que um registro documental tradicional, Ocupa Tudo é parte das necessárias e urgentes mobilizações em defesa dos direitos sociais no Brasil.

Fonte: Elaboração da autora, 2020.

Com a finalidade de obter informações adicionais a respeito do processo de produção dos quatro filmes listados, através do suporte digital, criou-se um formulário no Google Docs que contemplava indagações adicionais. Intitulado “Questionário sobre as narrativas multimidiáticas do movimento estudantil de ocupação” (Apêndice A), a resposta ao documento acrescentaria novos olhares sobre os vídeos documentários, e com a adição de dados de quem esteve diretamente vinculado às realidades aqui, nesta investigação, observadas virtualmente.

Através das redes sociais Facebook e Instagram, os(as) diretores(as) e/ou responsáveis foram localizados(as) e, assim, o link do formulário foi enviado. Para o preenchimento do questionário e envio da resposta, o endereço eletrônico seria o mesmo, isso porque os recursos viabilizados pelo Google Docs permitem a

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gravação das respostas, e as disponibiliza on-line no instante em que o usuário envia o arquivo digital.

Infelizmente, a proposta não foi concretizada, visto que somente um dos selecionados respondeu à enquete digital. A inexistência de interesse por parte dos(as) envolvidos(as) na produção das obras pode suscitar uma reflexão acerca da eficácia/ineficácia na interação digital, ou ainda, certa desconfiança em iniciativas de contato realizadas via redes sociais. Assim como, pode simplesmente revelar algum desinteresse daqueles que receberam a enquete, questão que não cabe refletir no ínterim da presente tese.

A respeito do gênero documentário, esse tipo de documento visual-textual-sonoro que é gerado a partir de acontecimentos históricos, políticos, culturais etc., vale ponderar que:

os documentários representam o mundo histórico ao moldar o registro fotográfico de algum aspecto do mundo de uma perspectiva ou de um ponto de vista diferente. Como representação, tornam-se uma voz entre muitas numa arena de debate e contestação social (NICHOLS, 2005, p.86).

Pelas descrições disponibilizadas em cada canal, é possível observar a identificação dos sujeitos organizadores, produtores e/ou diretores com o movimento social de ocupação, o que sugere, em princípio, que tais registros apresentem a visão daqueles que se mobilizaram nas ocupações das instituições públicas de ensino contra as ações do governo.

Conforme reflete Monasta:

Gramsci e Maquiavel nos colocam uma importante questão: qual é a função “educativa” de uma descrição objetiva dos mecanismos do poder político e, no caso de Gramsci, dos mecanismos da ideologia? Educar as pessoas para que tenham uma postura realista e, consequentemente, participem da luta política contra os poderes, ou então desvendar o lado oculto da política, para que as pessoas desconfiem da mesma, vivam sua vida de forma independente e tenham uma opinião própria à margem do poder político? (2010, p. 29).

Partindo desse ponto, nesta pesquisa, e considerando a materialidade histórica da luta pelos direitos à educação pública de qualidade, busca-se identificar metodologicamente a função educativa e filosófica estabelecida nos atos de

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resistência – principalmente por conta do perfil dos sujeitos atuantes no movimento estudantil: jovens atuantes refletindo criticamente sobre a realidade, em sua maioria ainda adolescentes, que o senso comum julga como apáticos e alheios ao cenário social e político do país.

Segundo Gramsci, “o pensamento crítico é a investigação contínua e o desvendamento das bases materiais da própria teoria, isto é, a crítica da utilização ideológica da teoria” (MONASTA, 2010, p. 30). Por esse pensamento e por outras reflexões carcerárias gramscianas, como pressuposto téorico-metodológico, propõe-se tecer uma análise crítica a partir da filosofia da práxis, considerando a sua aplicação nos acontecimentos e na história em construção contínua, ou seja, na base “material” histórica.

1.3 PROCESSO INVESTIGATIVO EM ETAPAS

Mais detalhadamente a respeito do processo investigativo da presente tese, seguem as descrições das etapas sistematizadas e realizadas em seu percurso de construção:

A) Levantamento das principais fontes bibliográfico-documentais, mapeando artigos, trabalhos e obras de autores importantes para subsidiar teórico-metodologicamente a pesquisa, especialmente a parte de cunho exploratório-descritivo da tese;

B) Definição do período cronológico da pesquisa, considerando o início em agosto de 2016, a coincidir com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e o final, em dezembro do mesmo ano, mês em que foi aprovada a PEC 241-55/2016;

C) Identificação do recurso sistêmico virtual mais adequado para realizar o levantamento do corpus de análise segundo a lógica da cibercultura e a partir do provedor mundialmente líder de mecanismo on-line de buscas, o Google;

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D) Mapeamento do corpus baseado na localização e seleção de composições narrativas realizadas pelos próprios alunos, nas quais tenham sido consolidados imagens, textos e vídeos publicados no Twitter, Facebook, YouTube e blogues à época do movimento;

E) Por último, reflexões filosóficas à luz dos pensamentos carcerários gramscianos, a partir da filosofia da práxis do estabelecimento do corpus da pesquisa – quatro vídeos documentários disponíveis em ambiente virtual –, da atuação multimidiática nos discursos em rede, percebendo e registrando, nesta tese, o desenvolvimento do fenômeno, e identificando suas potencialidades em prol da democracia virtual.

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2. PENSAMENTO GRAMSCIANO

“E é necessário definir a ‘vontade coletiva’ e a vontade política em geral no sentido moderno, a vontade como uma consciência operativa de necessidade histórica, como protagonista de um drama histórico real e imediato”.9

(Antonio Gramsci)

Segundo Marcos Del Roio (2018), vive-se, atualmente, uma crise ainda mais grave do que a vivida pelo italiano Antonio Gramsci em sua juventude. O filósofo nasceu na Sardenha, ilha localizada em área periférica da Itália, conhecida como uma região colonizada pelo norte do país – algo que sempre o preocupou.

Gramsci dedicou sua vida às questões operárias, posto que, ao sair de sua cidade natal, foi para a região industrial de Piamonte, local no qual pôde conviver com o mundo dos operários, o que o aproximou do partido socialista.

Posteriormente à Revolução Russa, também se tornou próximo do bolchevismo, além de outras influências essenciais ao desenvolvimento de suas próprias ideias, tais como os pensamentos de Karl Marx, Lenin, Rosa Luxemburgo, George Sorel etc. Reflexões estas que compareceram, anos mais tarde, nos Cadernos do Cárcere.

À época de 1919 e 1920, ocorreu uma experiência significativa nas fábricas da cidade de Turim entre os conselhos operários – ações inspiradas nos conselhos da Rússia (“sovietes”, expressão traduzida do russo “совет”). Gramsci participou da fundação do Partido Comunista Italiano (PCI), em 1921, após a derrota dos conselhos, o que foi fundamental para o desenvolvimento intelectual do pensador sardo. Ele assumiu a direção do partido em 1924, sendo consagrado

secretário-9 Tradução livre. Original: “E occorre che si definisca la ‘volontà collettiva’ e la volontà politica in

generale nel senso moderno, la volontà come coscienza operosa della necessità storica, come protagonista di un reale e immediato dramma storico”.

Referências

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