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MONDOLFO, Rodolfo (1971). O Pensamento Antigo I

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C) PENSAM ENTO ANTIGO RODOLFO M ONDOLFO nasceu em S enigalia ( Itá lia ) em 1877. E studou n a U niversidade de F lo ren ça onde se form ou em F ilosofia em 1899. Foi cated rático de H istó ria d a F ilosofia em v ária s U ni­ versidades italianas.

Compelido pelo regim e fasc ista a exilar-se, tran sfe riu -se p a ra a A rg e n ­ tina, ocupando c á te d ra s n a s U niversi­ dades de Córdoba e de T ucum an. M an­ teve cursos em o u tra s U niversidades arg e n tin a s e de outros paises am eri­ canos a té 1945, quando lhe foi devol­ vid a a c á te d ra de B ologna que o cupara de 1913 a 1938.

O govèrno helénico condecorou-o po r su a s obras de filosofia g re g a e a A cadem ia de Lince, de Rom a, o u to r­ gou-lhe em 1949, o P rêm io N acional.

E m 1952 foi nom eado “P ro fesso r em érito ”.

A s o b ras de Mondolfo atin g em cer­ ca de 400 e tr a ta m de tem as de socio­ logia, pedagogia, ética, metodologia, e scbretudo de h istó ria da filosofia a n ti­ ga, re n a sc e n tista e m oderna. H á vinte anos, dedica-se especialm ente ao e s tu ­ do da filosofia grega.

N este livro, O P ensam ento A ntigo, encontram os exposta, com o vigor que c a ra c te riz a o au to r, a h istó ria do pen­ sam ento, desde o s u rg ir da reflexão fi­ losófica n a G récia a té o neoplatonism o e o cristianism o em R om a, concluindo com u m a tá b u a cronológica ab ra n g e n ­ do o extenso período que vai do século X a.C. ao século V I de no ssa era.

C om pleta o livro, valiosa bibliogra­ fia a tu a liz a d a pelo autor.

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PENSAMENTO ANTIGO

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

GRECO-ROMANA

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RODOLFO MONDOLFO

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HISTÓRIA DA FILOSOFIA

GRECO-ROMANA

I

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EDITORA MESTRE JOU São Paulo

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Prim eira edição em italiano ... 1927

T erceira edição em italiano ... 1961

P rim eira edição em espanhol ... 1942

Q uarta edição em espanhol ... 1959

P rim eira edição em português ... 1984

Segunda edição em português ... 1966

Terceira edição em português ... 1971

Tít u l o o k i g i n a l:

I L P E N S I E R O A N T I C O

Direitos reservados p ara todos os países de língua portuguêsa pela

E D ITÔ RA M E S T R E JO U

Rua Guaipá, 518 — Vila Leopoldina (Alto da Lapa) Tradução d e:

LVCURGO GOMES DA MOTTA

idos p ara todos os países de líi pela

E D ITÔ RA M E S T R E JO U ipá, 518 — Vila Leopoldina (Alto

São Paulo

P R E F Á C I O

Nossa bibliografia filosófica é tão pobre que aos editores, no que se refere a traduções, se impõe cuidadosa seleção, a fim de que o pouco que se faz se faça ao menos com a esco­ lha do que há de melhor e mais adequado às nossas necessi­ dades. Quanto a êste livro de Rodolfo Mondolfo, não h á dú­ vida, a escolha foi muito acertada. Já bem conhecido entre nós em sua edição argentina da Editora Losada, sempre o recomendamos aos nossos alunos da Faculdade de Filosofia como um bom livro de iniciação em estudos da Filosofia antiga.

Os autores de manuais de História da Filosofia se encon­ tram, na verdade, diante de problemas difíceis. Os manuais são úteis, são necessários. Como, porém, fazer um resumo do que escreveram os filósofos, sem trair o seu pensamento, sem pô-lo em esquemas pobres e entediantes, e até sem afeiçoá-los aos pontos de vista do próprio autor? Mesmo os mais conscienciosos e objetivos sabem que, em resumo, não é possível pôr seus leitores no ambiente cultural em que viveram os filósofos. Assim, os manuais, ainda os melhores, são mais informativos do que formativos. Raramente se en­ contrará entre êles algum que seja capaz de estimular a mente dos jovens para a Filosofia, pois que, em regra, ofe­ recem aos leitores frias abstrações em lugar do pensamento vivo e tantas vêzes dramático dos grandes pensadores.

Rodolfo Mondolfo procura escapar a êsses perigos, ao menos em parte, apresentando o pensamento dos filósofos em textos dos próprios filósofos, escolhidos com grande cui­ dado e competência. É claro que tal seleção também poderá ser feita de modo a justificar determinadas interpretações. Em um livro de iniciação, porém, êsse perigo não será grande. Trata-se de selecionar n a obra dos filósofos, ou nos fragmen­ tos que dêles nos restam, os textos mais significativos, mais

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interessantes, aquêles que justificam as apresentações tra­ dicionais, ou mostram em que sentido devem ser corrigidas. De qualquer modo, há pelo menos a vantagem de pôr o leitor diretamente em contato com os filósofos. No Manual de Rodolfo Mondolfo distingue-se, até pela feição tipográfica, entre o que o filósofo disse e aquilo que o historiador lhe atribui. Assim, procurou o ilustre Áutor aliar a um primeiro contato com os textos uma indispensável orientação inicia­ dora, que se faz de duas maneiras:

l.o) A sistematização dos textos em capítulos que têm como assunto os grandes temas de cada filósofo. Por exemplo, os textos de Platão se subordinam aos seguintes títulos: I. — O conhecimento; II. — O ser e o mundo das idéias; III. — Deus e o m un­ do; IV. — O homem e a alma; V. — O bem e a virtude; VI. — A lei e o Estado.

2.°) Entre os textos ou conjunto de textos que tratam de determinado assunto, o autor intercala notas de caráter explicativo, assinalando o sentido e a importância que têm na obra do filósofo estudado e no quadro geral da História da Filosofia.

O resultado é compensador. O aspecto um tanto frag­ mentário que resulta do método de exposição escolhido e de sobra corrigido hão só pela já assinalada sistematizaçao em capítulos, como também pela elegância da linguagem nas traduções e de sua simplicidade e clareza nos comentai ios

aos textos. _

Em suma, ótimo livro de introdução ao pensamento antigo, tanto para os estudantes universitários, como a títu ­ lo de obra de vulgarização filosófica. _ ^ _

Assinalemos, finalmente, que esta tradução é mais ^ uma homenagem ao ilustre filósofo e historiador, que fuginao ao “fascismo”, veio para a Argentina, onde há muitos anos vive, oferecendo à nação irmã um a colaboração preciosa como professor em suas universidades e à América espanhola e portuguêsa, uma série de importantes obras filosóficas.

Livio T e i x e i r a

I N T R O D U Ç Ã O

AS ORIGENS E OS ELEMENTOS PREPARATÓRIOS

DA FILOSOFIA GREGA

I . O problema das origens das culturas orientais: as noções científicas e os conceitos especulativos orientais.

[A H istória da Filosofia Grega encontra-se, em seu início, frente ao discutidíssim o problem a das origens, que se refere particularm ente às re­ lações da Ciência e da Filosofia helénicas com a anterior sabedoria oriental. As grandes civilizações orientais, mesopotâmicas (isto é, sum érica e caldaica ou assírio-babilônica, iraniana, egípcia, fenícia etc.), com as quais já havia estado em relações diretas ou indiretas a civilização pré-helênica (egéia ou creto-micênia), exerceram influxos, por todos reconhecidos, tam bém sôbre a cultura helénica em vários campos, da técnica e da arte aos mitos e às idéias religiosas. Já H eródoto, Platão, Aristóteles, Eudem o e Estrabão^ faziam provir dos caldeus, egípcios e fenícios, ciências cultivadas depois pelos gregos, como a Astronomia, a Geometria, a Aritmética; e Platão fazia, gabar pelo velho sacerdote egípcio a antigüidade da sua sabedoria em com­ paração com a infância da grega].

Os gregos aprenderam com os babilônios o uso do qua­ drante solar, o gnômon e as doze partes do dia (Heródoto, II, 109). Constituídas já tôdas as artes (aplicadas às neces­ sidades e ao conforto da vida), passou-se à descoberta das ciências que não eram dirigidas nem ao prazer nem às ne­ cessidades da existência; primeiramente, nos países onde havia quem desfrutasse o ócio das ocupações intelectuais. Por isso, criaram-se no Egito antes de em qualquer outro lugar, as disciplinas matemáticas, porque aí era concedido êsse conforto à classe sacerdotal (Aristóteles, Metafísica, I, 1, 981 5).

O primeiro a observar estas cousas (astronômicas) foi

u m estrangeiro (bárbaro). Pois um antigo país gerou os

primeiros observadores dessas cousas que, pela beleza da es­ tação estival de que o Egito e a Síria gozam com prodigali­ dade, notavam, por assim dizer, sempre visíveis, tôdas as

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estréias, como os que habitavam partes do mundo sempre afastadas das nuvens e da chuva. E desde então (essas no­

ções astronômicas) chegaram a tôdas as partes e também aqui (na Grécia), provadas desde tempos imemoriais e infi­ n itos. . . Mas fixemos que aquilo que nós, os gregos, adqui­ rimos dos estrangeiros (bárbaros) foi finalmente aperfeiçoa­ do por nós (Epígnomis platônico: escrito provavelmente por

Filipe de Opunte, 987 a, 987 e).

Oh! Sólon, Sólon!; vós, os gregos, sois sempre crian­ ças . . . Não tendes ciência, que, por efeito do tempo, chegou a ser a n tig a . . . Neste país (E g ito ). . . o que é transmitido se considera que seja o mais antigo que existe (Platão, Tini.,

22 b; 23).

[Mas, a um a derivação da Ciência e da Filosofia gregas da oriental (afirm ada especialmente pelo helenismo tardio e por alguns orientalistas m odernos), a crítica histórica do século XIX objetou que a cultura orien­ tal não podia dar aos gregos aquilo que ela própria não tinha, isto é, o •espírito científico e o processo lógico da pesquisa. A Astronomia caldaica perm anecia, com tôdas as suas observações e registros seculares, simples Astrologia, cujo fim essencial era o horóscopo; a Geometria egípcia, limi­ tada a um a técnica de m edidas p ara fins práticos, espécie de Agrimensura; a M atemática do Egito e da Caldéia, lim itadas a cálculos em píricos, sem elevar-se às exigências lógicas da dem onstração, representariam um estádio pré-científico, que o gênio grego logo superou por virtude própria, tornan­ do-se criador da Ciência e da Filosofia. Todavia, estudos mais recentes reva­ lorizaram em parte a Ciência mesopotâmica e egípcia, reconhecendo, junto à técnica dirigida a fins práticos utilitários, também , às vêzes, um interêsse científico desinteressado, um a tendência à generalidade e um encam inham en­ to à racionalidade. E junto a êste início de pesquisa científica (reconhecido entre os babilônios especialmente na Matemática, e entre os egípcios na Medicina) admite-se também , nas culturas orientais, dentro da especulação religiosa, a existência e a form ação de conceitos, envoltos, é verdade, em form as m íticas, m as capazes de desenvolvimentos filosóficos. Lembremos o s principais' 1 ) A idéia da unidade universal, afirm ada entre egípcios e mesopotâmicos sob a form a de unidade divina, em vagas form as de pan­ teísm o ("o Deus dos inum eráveis nomes, que cria os próprios m em bros, que são os Deuses”; “o Uno, único, pai dos pais, m ãe das m ães”; “ soma das existências e dos sêres” , de que surge todo devir, que logo reflui a êle; •2) a Cosmogonia concebida, nas suas várias exposições, como passagem da unidade caótica indistinta prim ordial à distinção dos sêres, c o m o passagem •do caos (caos aquoso: Tiamat, em Babilônia, Nun, no E g i t o ) e das trevas à ordem e à luz (com Marãuk, na Babilônia, Ra ou Rie, no Egito); ¿J as diferentes explicações dadas ao processo cosmogónico quer pela potencia intrínseca do mesmo princípio originário (como na Babilonia Tiamat m a •da totalidade, criadora de tôdas as cousas” ), quer p e l a intervenção de um

espírito sôbre a m atéria que contém os germes de todos os s e r e s (como A to n Ra, o espírito que sobrenada as águas de Nun, na Cosmogonia g p

•de Heliópolis), quer através da luta entre as potências opostas do caos e d a ordem, das trevas e da luz, da m orte e da vida, do ódio e do am or (Seíft e Horus, no Egito; Tiamar e Marãuk, na Babilônia); 4) a visão de uma conexão e simpatia universal, que une todos os sêres da natureza; 5) a noção de um a necessidade ou lei que a todos governe, e a concepção desta lei como retorno cíclico universal que se com pleta no grande ano cósmico, com um a volta periódica de tôdas as cousas; 6) a idéia de um ■dualismo entre corpo m ortal e alm a im ortal e a preocupação do além-tú- m ulo e do juízo dos m ortos que se liga (como aparece no Livro dos Mortos egípcio) ao desenvolvimento das exigências éticas da justiça e da pure­ za moral.

São todos elementos fecundos de desenvolvimentos filosóficos, fáceis de transm itir na roupagem do mito, sob a qual se difundiram , de um a a outra, nas antigas culturas orientais. Como escreveu um autorizado orientalista •contemporâneo (G. Furlani, O poema da criação: Enum a Elis, Bolonha, 1934, pág. 19), “nos últim os decênios começou-se a com preender que todo o Orien­ te antigo teve sempre um a civilização discretam ente uniform e, form ada de inum eráveis e complicadíssimos contatos, intensos e contínuos, entre as seis -ou sete civilizações, da islam ítica à egípcia, das m icrasiáticas à sum érica” . Através de contatos diretos ou indiretos, elementos im portantes destas cul­ turas, da técnica aos m itos, já se haviam transm itido à civilização pré-helê- nica; e tornam-se a transm itir à grega. E não deixa de te r significação o fato de terem a Ciência e a Cultura gregas nascido e se afirmado prim ei­ ram ente nas colônias da Ásia Menor e n a época (entre os séculos VII e VI) em que Mileto, Samos, Éfeso etc. tinham intensificado as suas relações di­ retas com o Egito e indiretas com a M esopotâmia e o Irã , especialmente através da Fenícia e da Lídia.

Apresentamos aqui, em breves citações, algumas provas das cosmogonias e teorias cósmicas orientais: duas relativas à derivação do cosmos, de um •caos aquoso prim ordial (como no mito grego de Oceano e na Cosmologia de Tales) na Cosmogonia babilónica e na egípcia; a outra relativa à idéia •do grande ano, em que, periodicamente, se desenvolveria o ciclo cósmico].

Quando a parte de cima não era (ainda) chamada Céu, — a parte de baixo, a (Terra) firme, não tinha (ainda) um nome, — Apsu primeiro, o seu gerador, — M um mu e Tiamat, a geratriz de tôdas elas — suas águas misturavam-se entre si — não se havia (ainda) construído habitações (para os D eu ses), — e a estepe ainda não era visível, — quando (ain­ da) nenhum Deus tinha sido criado, — e (ainda) não ti­ nham nome, e os destinos não haviam sido determinados a nenhum , — os Deuses foram procriados no meio d ê le s .. .

{Enuma Elis, poema babilónico da criação: exórdio).

[Apsu é o abismo prim ordial, Mummu, o ruído das águas, Tiamat, o Oceano universal, que form am juntos o Caos aquoso originário, antes de nascer e te r nome algum outro Deus. Continua depois a história do nasci­ m ento dos outros Deuses (sêres e fôrças cósmicas) e de form ação do cos­

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m os e depois a grande luta entre as divindades prim ordiais ou fôrças do· caos tenebroso e as divindades ou fôrças da luz e da ordem cósmica, que term ina com a vitória destas últim as].

No comêço era Nun, massa liqüida primordial, em cuja infinita profundidade flutuavam confusos os germes de tô- das as cousas. Quando o Sol começou a brilhar, a Terra foi aplainada e as águas separadas em duas massas distintas: uma gerou os rios e o Oceano; a outra, suspensa no ar, for­ m ou a abóbada celeste, as águas do alto, nas quais, astros e Deuses, transportados por um a corrente eterna, se puse­ ram a navegar (Maspero, Hist. anc. des peuples de l Oi ient 27, de antigos papiros egípcios).

ro Sol A tum Rie, é o espirito que sobe acima das águas e dá lugar à

geração da prim eira tríade cósmica, de que se origina depois a eneada di­ vina" dos elementos e das potências cósmicas].

Beroso (babilônio), que interpretou Belo, disse que o grande ano cósmico se completa pelo curso das estréias, e afirma-o com tal segurança, como para determinar o mo­ mento da conflagração e do dilúvio (Sêneca).

ro grande ano cósmico, que é o período em que se com pleta o ciclo do eterno retôrno dos giros cósmicos, tem o seu estio na conflagraçao, o seu inverno no dilúvio universal. Beroso, sacerdote caldeu do I II seculo a.C. eco de antigas tradições da Babilônia, calculava-o em 432 mil anos (Cfr. Fragm. historie, graec., fr. 4 de Beroso); m as os autores gregos cal­ culavam-no entre 10 e 30 mil anos, no máximo].

2. Os elementos preparatórios na reflexão religiosa e moral dos gregos.

a) O nascimento da reflexão e da pesquisa da maravi­

lha (consciência de não compreender ou consciência dos pro­ blemas) :

[Conquanto os gregos pudessem auferir, das culturas orientais, num ero­ sos e fecundos elementos de conhecimento e estím ulos de reilexao, nao obstante, êles, que eram impelidos, na sua mesma atividade de m ercadores e colonizadores (como Aristóteles, na Constituição dos Atenienses, cap. XI, disse de Sólon), pelo duplo desejo “de com erciar e de ver”, tm ham na sua curiosidade inata e característica, um estímulo eficacíssimo para a criaçao da Ciência e da Filosofia. E os documentos e as notícias que temos sobre

,a sua atividade intelectual, anterior ao surgir das prim eiras escolas filosó­ ficas, m ostram um vivo ferm entar de pensamento, que ia preparando o desenvolvimento da Filosofia: a qual, por outro lado, no seu significado mais geral, de reflexão do homem sôbre si mesmo, a vida e o mundo, é tão antiga como a hum anidade pensante].

É característico do filósofo êsse estado de ânimo: o ma­ ravilhoso, porque outro não é o princípio da Filosofia; e aquêle que disse ser íris (a Filosofia) filha de Thaumante (a m aravilha), parece que não estabeleceu m al a genealogia (Platão, Teeteto, 155 d).

A maravilha sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio perma­ necendo surpresos pelas dificuldades mais comuns; depois, a pouco e pouco, avançando mais, propuseram problemas cada vez mais importantes, como por exemplo os que gira­ vam em tôrno dos fenômenos da Lua, do Sol e dos astros, e finalm ente os relativos à gênese do todo (Universo). Ora, quem duvida e se maravilha, crê ignorar. E por isso, sob um certo aspecto, também o amante do mito é filósofo: uma vez que o mito se compõe de maravilhas (Aristóteles, Meta­

física, I, 2, 982 b).

b) A primeira forma da reflexão: o m ito e o seu paren­

tesco com a Filosofia. A unidade primordial im ediata entre os problemas humanos e problemas cósmicos. — O amante

do mito é de certo modo também um filósofo, uma vez que o mito se compõe de maravilhas. (Aristóteles, loc. c i t.) . Por tradição os antigos, ou melhor, os antiquíssimos, (teólogos), transmitiram a nós, seus descendentes, na forma do mito, que os astros são Deuses e que o divino abrange tôda a na­ tureza . . . Costuma-se dizer que os Deuses têm forma hu­ mana, ou se transformam em sem elhantes a outros sêres viventes. . . Porém, pondo-se de lado tudo o mais, e conser­ vando-se o essencial, isto é, se se acreditou que as substân­ cias primeiras eram Deuses, poderia pensar-se que isto foi dito por inspiração divina, e, provavelmente de tôda Árte e Filosofia. . . perdidas (nas catástrofes cósmicas cíclicas), estas opiniões conservaram-se até agora, quase como relíquia (da mais antiga sabedoria). E, assim, as opiniões dos pais e dos primeiros progenitores manifestaram-se na mesma medida (Aristóteles, Metafísica, XII, 8, 1074 b).

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Há alguns que crêem que,_tambem os mais a n t ^ s , que viveram muito antes da geraçao atual e 03 Pr^ e a res. ar, tenham pensado do mesmo e de peito da natureza, um a vez que fizeram pelos Tétis os progenitores da geraçao £ ramento dos Deu-poetas Estígia, a p r e s e n t a r a m - m com ^ juramento é a

L : « » . I . 3 , 9 8 3 í » .

cípio deste S ™ 1 0 *“ ¿ d0 Hesiodo ou qualquer outro, se

™ s % u e ? r e SSsaTent?e “ doS os imortais” - m anilestando f ñ e ' S d a t nos sêres, d u m a causa que mova e una as

cousas (Aristóteles, Metafísica, I, 4, 984).

[A form a m ítica e a n t r o p o « ^

S o S l T M o s . r — .ta . « e l e s Jé estav. p i™ » » * « » » ­

grande im portancia sob um outro ;asp«<3 . q problem as hu­ m as cósmicos são concebld° s, as norm as dêstes, com a personifi- manos, isto é, acham-se modelados s - dag guas reiações como se cação dos elementos naturais e P e regem as relações entre os estivessem governado% PealaSfe“ !e n te mente) que, ao contemplar e procurar homens. O que significa (evidenteme:n > q , ( do mesmo m odo com preender a natureza, o Pe— ito “ ^ L m a n o : ou seja, que a re­ possa usar) os conceitos relat reflexão sôbre o mundo natural, flexão sôbre o m undo humano p entrelaçou e se apoiou naquele, que por isso, no seu Pr ™ eir° surgir _da bagta para desorientar as E esta observação, tao evidente qu q , rafia)j de que a atenção

convicções tradicionais (lugar-comum mUndo humano,

do homem se volte para a natureza fisn°a > " í f 3¿ f a tran sf0rmar-se em e por isso a Filosofia começa c o m o ^ E m realidade, a Antropologia, sòmente em um a to; e (0 que não é menos precedência da form a mitológica dem °ns £ u aparecimento conserva

5 S ” ã* í . p t r f S"com o aparece nas p » * » . « * » ■* *

das; e já havia sido visto claram ente por Platão, quando notava que os. elementos naturais são personificados pelos cosmólogos, que concebem as­ suas relações recíprocas como m atrim ônios, gerações e lutas, governadas, pelas fôrças opostas do Amor e do Ódio.

“ Parece-me que cada um dêles (os filósofos que querem definir quais e· quantas são as cousas) nos relata um a espécie de mito, como se fôssemos- meninos: um, que os sêres são três e que algumas vêzes se com batem entre si, e outras vêzes, tornando-se amigos, convidam-nos p ara assistir às suas· núpcias e nascim entos e educação da prole. Outro, que são dois (úmido e sêco ou quente e frio), une-os e desposa-os. A estirpe dos eleatas en tre­ nós, que começa em Xenofonte, ou até antes, conta-nos os seus mitos, como se o que se chama “tôdas as cousas” fôsse um a cousa só. Certas m usas jónicas (Heráclito) depõem, e algumas sicilianas posteriores a elas (Em pe­ docles), concordam em pensar que seja mais seguro entrelaçar um mito· com outro, e dizer que o ser é múltiplo e um , e que é conservado unido· pelo ódio e pelo am or” (Sofista, 242 c).

Deve-se acrescentar a estas observações que não só as cosmogonías fi­ losóficas se modelam em p arte sôbre as precedentes teogonias m íticas, do­ minadas pelas relações de geração e luta, m as que o mesmo conceito de­ cosmos é tirado do m undo humano (a acomodação, a ordem da dança, a, ordem dos exércitos) para ser aplicado a natureza, e que a idéia de lei n atural é, no comêço, um a idéia de justiça (Dike), com a pena de Talião para tôdas as infrações: ou seja, que tôda visão unitária da natureza é apenas um a projeção da visão da polis (sociedade e estado dos homens) no universo. A prim eira reflexão sôbre a natureza apóia-se e une-se à re­ flexão sôbre o m undo humano, que deve tê-la precedido para poder fome- cer-lhe os próprios quadros e conceitos diretivos].

3. Os primeiros problemas relativos ao universo.

[Tendo presentes as observações já feitas, sôbre a dependência inicial da prim eira reflexão a respeito da natureza da precedente reflexão sôbre o· m undo humano, podemos, sem inconvenientes, seguir a ordem costum eira, na exposição, e examinar as meditações relativas ao universo antes das que se referem ao homem. E sta é um a ordem lógica de exposição, que não· quer significar ordem cronológica de apresentação histórica],

I. O PROBLEMA DAS ORIGENS CÓSMICAS EM HOMERO

Oceano gerador dos Deuses, e Tétis m ãe (Ilíada,, XIV, 201 e 302).

[A lenda de Oceano progenitor de todos os Deuses — isto é, das deri­ vações do cosmos de um princípio aquoso — leva-nos novamente à civilização pré-helênica (egéia), de que Homero representa o eco. Trata-se do m ito já. comum a tôdas as antigas civilizações orientais — babilónica, egípcia, he­ braica, fenícia etc. — a cujas provas, relativas à Babilônia e ao Egito, já nos referimos. A interpretação cosmogônica do m ito, como se viu já havia sido- confirmada na Grécia, antes de Aristóteles.

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•■Há quem creia que tam bém os m ais antigos que viverami muite, antes

e Tétis os progenitores da geração e a agua, — d a ^ ^ "E stígia” apresentaram como juram ento dos Deuses, isto ,

venerada, ou seja, a mais antiga de tôdas” . » * c a I 983 ^ : E n t r e ^ “ alguns” de que fala Aristóteles, e Tétis a m ãe, tam bém vez H omero disse que Oceano e g e ra d o rd o s Deuses^ e Tetis, *

Hesiodo em algum °

das belas ondas, foi o prim eiro que * _ ^ íülelta„ rrâtiln 402 b). Tétis, - sua irm ã nascida da, m e s m a j n a ^ q pen; amento de

Ho-Também M e m o c® sel^ a 0 neoplotônico Damáscio m ais tarde m ero sobre a origem das coubat,, ui„rfornn h« nue H om ero comece

objetava: a Noite é um a

p or Oceano e Tetis, porque paieo h «DOÍS se absteve de come-“ da6 ingratidão^'contra T S e , que se abism a”. « , XXV, 261).

Ma~ gr r a - t e é tam bém cham ada:

“dom adora dos Deuses e dos homens (2o9)].

IX. PROBLEMAS DO COSMOS EM HESÍODO

a) As origem·, o ser v r ir m r d M {Caos) ?

domina no coraçao de todos os moi

lho prudente. De Caos nasceram E r e b o e a negra _wo« (Nix) ; e da Noite foram gerados o E t e re o Dia (Ei ) pois ela os concebeu ao unir-se com É ieba E pnm euo Terra gerou, semelhante a si propna em grandeza o Ce« estrelado (Urano), para que tudo cobrisse, paia qu ^ morada segura para os Deuses ditosos. E g _ _ P d&g grandes M o n t e s , habitações agraaaveis dos Deus s , Ninfas, que habitam as montanhas cheias dy vaies. C<jnce beu depois P o n t o , o mar indomável e estenl que ao mtu- mescer-se, se lança furioso, sem (o concurso) de amoroso amplexo. (T e o g o n i a, 113 e ss.).

[A êste relato da geração dos Deuses, que continua em lon°a série e pretende ser história da geração de todos os sêres cósmicos, sesue ém Hesiodo a narração das lutas ferozes que surgem entre as divindades h o stis: que quer ser história dos trem endos conflitos entre as grandes fôrças cós­ micas. E stas teomaquias term inam com a vitória de Zeus, isto é, das fôrças da ordem e da lum inosidade do cosmos. Nas descrições, que acompanham o relato da luta, são expressas idéias cosmológicas que influíram sôbre várias concepções dos filósofos naturalistas posteriores. Daremos alguns exemplos],

&) A Terra, o Céu, o Tártaro. — “O Céu está tão dis­

tante da Terra como o Tártaro nebuloso se acha afastado desta. Precipitando-se, pois, do Céu, um bólide de bronze durante nove noites e nove dias, chegaria à Terra somente no décimo; por sua vez, precipitando-se da Terra, o mesmo bólide chegaria ao Tartaro no fim de nove noites e de nove dias. Em tôrno dêste acha-se estendida uma barreira de bronze; ao seu redor,a noite distende a sua tríplice faixa de sombras na estrada; mais acima estão as raízes da Terra e do mar imenso” ( Teogonia, 720 e ss.).

[Aqui se vê um a concepção de vastidão do cosmos que aparece tanto mais grandiosa quando se pensa no valor m ístico de núm eros perfeitos atribuídos ao 9.» e ao 10.° dias de queda e de chegada do bólide que se precipita do Céu à T erra ou da T erra ao T ártaro. E stas concepções teogô- nicas influirão sôbre a visão do infinito nos cosmólogos pré-soeráticos: a idéia, pois, da raiz da T erra e do m ar, que se estende ao Tártaro, dará a Xenófanes o estím ulo p ara afirm ar que as raízes da T erra se prolongam por baixo ao infinito, para assim elim inar o Tártaro],

c) A persistência do Caos nos confins, como continente

do cosmos: a tempestuosiãade do Caos, preparação da idéia do ciclo de formações e dissoluções dos cosmos. — Ali, além

de tôdas as cousas, acham-se as fontes e os limites da Terra escura, e do Tártaro nebuloso e do mar infinito e do Céu estrelado; fontes e limites terríveis, tenebrosos, que os Deu­ ses odeiam: é o grande Abismo (casma); e não bastaria ain­ da todo um período astronômico para que as cousas che­ gassem a tocar o fundo, após haverem transposto as suas portas a princípio, mas daqui para ali seriam levadas por tremendas tempestades, prodígio espantoso também para os Deuses imortais; e as terríveis moradas da Noite tenebrosa estão cobertas de nuvens profundas. (Teogonia, 736 e ss.)

(11)

t4sslm é o caos, , * . «

em Hesíodo com a foim açao do< J0®“ 1 ’ ^ elag Daí pr0vém, nos cosmó-té rm in o d e todas as prim ordial, que permanece como conti-logos jonicos, a ideia. d o : P Também aqui, n a sua tem-nente dos cosmos, fonte e u m ameaca à conservação do cosmos,

P— » o C“ S„ í ” ”S S a

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um a vez que ainda, porque as tem pestades do Caos formação cíclica). E m uito mai , extraído delas Anaximandro, podiam sugerir também a idéia q^fi te movimentos rotatórios da form ação de remoinhos » ™ pox ^ & ^ seria d i s t r i b u í d a a m atei i a , de¡aco r q de um cosmos; f0rmando-se um a ordem concêntrica qu . Q resuitam cosmos coexistentes em mul-S « " a eda infinita m ultiplicidade dos turbilhões, surgidos entre

as m últiplas tem pestades que agitam o Caos]. III. OS ÓRFICOS

/•a Ds vrimeiros sêres divinos, a Noite, a função cósmi

Caos e a Noite, o negro ebo<3 o profiancc> Ta ;

havia a Terra, nem o Ar o ò vo de ne- recessos do Erebo gera o P ado ios ventoS) nasce no

Í c t ) O c e S a e a (Terra) e tôda a t o h d d j bem-aventurados. (Aristófanes, Aves, 693 e ss., em Kern,

Orphicorum fragmenta, fr. 1).

[Além dos dados oferecidos por A m tó ían es sôbre a n tig a J e o g o m a

órfica, reconstrução da série das

teles, Metafísica 983 b, 1 071 to, i uai , p núm ero de seis. “ Na sexta gerações divinas, que os órficos disti g oanto». (Platão, Filebo 66 c). geração, disse Orfeu, in te rro m p e ¡a or ingênito s : Caos, Noite, Érebo

.

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2 So“ z s z x s r ^ r z £ r ~ .

como sede das gerações e dos ajuntam entos, tem-se a serie segumte aas

gerações: 1) Ôvo-Eros; 2) Urano e Gea; 3) Oceano e Tétis; 4) Cronos, Rea e irm ãos; 5) Zeus, E ra e irm ãos; 6) Dionisios, com o qual “se interrom pe a ordem do canto” .

Assim, através dêstes dados e esclarecimentos, comprecndem-se, no seu verdadeiro significado, os diferentes testem unhos que atribuem aos órficos a colocação da Noite como princípio originário.

“ Como dizem os teólogos, que fazem gerar tudo da Noite” (Aristóteles, Metafísica, 1071 b). "A Teologia, reproduzida pelo peripatético EüHemo, como obra de O rfe u ... estabelece o comêço pela Noite” (Damáscio, De Primis principiis, 124). “ ó mãe, nutriz, suprem a entre os Deuses, Noite im ortal, como, dize-me, como devo estabelecer o principio magnánimo dos Im ortais?” (Versos órficos em Proclo, I n Tim. B., pr.; fr. 164 em Kern, Orphic. frag.).

Mas, tam bém pode explicar-se por que algum outro testem unho cai no êrro de supor como prim eiro princípio, segundo os órficos, o Caos: “Segun­ do Orfeu, o Caos nasceu prim eiro, depois o Oceano, em terceiro lugar a Noite, em quarto o Céu, e depois Zeus, rei dos im ortais” . (Alex. Aplirod. in Metaphys, 1 091; fr. 107, em Kern, op. cit.)

Todavia, esta poderia ser um a das tantas variantes, que a Teogonia órfica nos apresenta nas suas varias redações. Diferentes daquelas que resultam de Aristófanes, Platão, Aristóteles e Eudemo, são as três referidas respectivamente: 1) por Apolónio Ródio (Argonaut., I, 494 e ss.); 2) por Damáscio (De prim. princ., 123) tom ada a Jerónim o e Helánico; e 3) do mesmo Damáscio (op. cit.), por Proclo e por outros como Teogonia rapsódica.

A prim eira coloca no inicio um a m istura geral de todas as cousas; a segunda, a água e o lôdo: a terceira, Cronos (o Tempo). Cito alguns frag­ mentos destas duas ú ltim a s]:

b) Teogonias de Jerónimo e Helánico: as matérias pri­

mordiais: Cronos e Ananke. — “A Teogonia, referida por

Jerónimo e Helánico, narra déste modo: no comêço existiam somente a água e o lôdo, de que se formou a térra. . . Dêstes dois princípios gerou-se um terceiro, um dragão. . . chamado Cronos, que não envelhece, e Héracles; a êle junta-se Anan­ ke (Necessidade), que tem a mesma natureza de Adrastéia incorpórea (outra personificação da Necessidade), difundida em todo o cosmo, até atingir os con fin s. . . Cronos. . . gerou uma tríplice prole: o Éter úmido, o Caos infinito e o Érebo nebuloso. . . Porém Cronos gerou nestes um ô vo. . . E esta Teologia celebra o Protógonos (Primogênito) e chama Zeus o ordenador de tôdas as cousas”. (Damáscio, De prim.

princ., 123)

c) Teogonia rapsódica: o Tempo gerador dos sêres. —

“Nestas rapsódias órficas que nos transmitiram, há uma teologia em tôrno do inteligível, (como os filósofos também

(12)

Tempo o L cousas”

chama ao Tempo a P11™ “ ae.,0 teótog0 (0 r Ieu) £ ? £ & “p o ^ r i n o s o Éter “ Ca“ S (Froclo, i n W ,< * ) .

^‘Denois da única causa dos Deuses, que Orfeu celebra em Cronos diz haver-se produzido o Éter e o Abismo mons tmoso" (Simplicio, Física, 528). “êste Cronos imortal, do conselho eterno, gerou o Éter e uma voragemJ

orande üor todos os lados: nenhum limite havia abaixo, nem g n d o ? n e m sustento algum ” (Versos órficos, em Proclo,

™ ^ “èep o is1^ grande Cronos gerou no Éter divino um ôvo brilhante como prata” (Versos órficos, em Damascio, o p .c it .

55) E Cronos gerou, da imensidade do seu seio Eter e Eros ilustre de dupla natureza, que olha para todas as pa-tes, p af celebrado da Noite e te r n a ..,

própria geração, o fogo, o ar e a agua (fr. 37, em Kern).

rPínrtnrn é talvez eco dos conceitos órficos: “O Tempo pai de tôdas as cousas” (Olymp. II, 17); “O Tempo, senhor que supera a todos os hem--aventurados” . (Fr. 33)].

rn a unidade divina·, unidade do princípio e unidade

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n lt^ r e z l^ m o w n à o ^ s e ^ o r ^ to d o1 o ^ M iv er so ^ íP la tã o , &L e is ,

715 e).

[Platto refere-se „ um antigo S«™<k>

ao verso seguinte nêle contido].

, · - 7om n meio de Zeus emanam tôdas Zeus é o principio, Zeus o meio. ae ^ ^seudo-aristotélico

S T A T . 2 1 « em k ern ).

Zeus é o Éter, Zeus a Terra, Zeus o Céu, Zeus é o Todo, e tudo quanto exite além disto (Ésquilo, fr. 70, Nauck, em Kern, 21 a).

Um só é Zeus, um só é Hades, um só é Hélios, um só é Dionísios, um só Deus está em todos (fr. 239 b, em Kern).

Zeus foi o primeiro, Zeus senhor do raio é o último, Zeus é o comêço, Zeus é o meio, de Zeus tudo d eriv a .. . de Zeus fulcro da Terra e do Céu estrelado, Zeus rei, Zeus primeiro autor de tôdas as cousas, é a única potência, o único Deus, grande chefe de tôdas as cousas, único corpo real em que circulam tôdas as cousas, fogo e água, Terra e Éter e Metis (sabedoria) primeira geração, e o mui dileto Eros: porque tôdas estas cousas jazem no grande corpo de Zeus. A sua cabeça e o seu rosto, belos ao olhar, são o Céu cintilante, em tôrno do qual oscilam douradas cabeleiras de estréias r u tila n te s.. . Seus olhos: o Sol e a oposta Lua; m ente não enganosa do Deus o Éter im ortal. . . ; ombros e peito e largo dorso do Deus, o ar de grande fô r ç a .. . ; a Terra é para êle regaço sagrado, mãe de tudo e os ásperos cumes dos mon­ tes; cintura média o enchimento altíssimo do mar; base profunda as raízes dêste solo, e o escuro Tártaro e os extre­ mos confins da T e r r a ... (fr. 168 em Kern; cfr. também o 169, 245 e 247).

e) O domínio do cosmos conferido ao princípio da or­

dem. — Nisto, os antigos poetas estão de acôrdo entre si,

quando dizem que o senhorio e o mando pertencem a Zeus e não àquele que é o primeiro no tempo: a Noite, por exem­ plo, o Céu ou o Caos ou o Oceano (Aristóteles, Metafísica, XIV, 4, 1 091 b ) .

/) A lei universal de justiça. — Deus, como quer o an­

tigo Discurso, tem em suas mãos o princípio, o meio e o fim de tudo o que existe; e porta-se reta m e n te .. . por todo o Uni­ verso. Acompanha-o sempre Dike, castigadora de todos os que infringem a lei divina (Platão, Leis, 715 e). É a ine­ xorável e veneranda Dike, da qual Orfeu, que nos ensinou os primeiros mistérios sagrados, disse estar sentada perto do trono de Zeus para vigiar tôdas as ações dos homens (Ps. Demóstenes, Contra Aristógito, I, 11).

(13)

[Dike cósmica é um a £ p e - t f í e que os órficos julgam rem ar no ^ lem bradas e identificadas entre Ananke e Adrasteia, que já Q conceito de Dike cósmica passa, si na Teogonia de Jeromm o e g e l a r a j áclito e a Parmênides. De Ananke pois, do oríism o a Anaximandro, _ ^ ^ Damáscio), podem-se ver (sôbre a qual cfr. o frag.■ > 6Q). Euripedes (Helena 513, e frag-já reflexos em Píndaro ( 0 « II, do fuso de Ananke que mentos 115-116) e especia m ^ ^ ^ de origem órfico-pitagórica. atravessa todo o cosmos ÍRep. X, ^ & gl& relatlvos aparecem Quanto à Adrasteia, os J ; e pg Demóstenes, XXV, 37 e em Platão, Fedro, e2S Ê ‘C b 5 e T eS s e Jque a Adrastéia é guardiã de todo o demiurgo S r.' 152 em K ern de Proclo, Theol. plat. IV, 16, 206)].

„) o s elementos e as /ôrgos. - No principio n f a ta w ta

m a,. Não existiam antes que Eios unisse aot> Terra, Ar, · · ■ p . Terra Oceano (Aristófanes, ní)rPq tôdas as c o u s a s ... Ceu, í e n a , wuean \ T„rrt, paies luu<ií> r. rfpn pantou como, no começo, a Teria, f 5 u e ° Ò M aí'achavani-se confundidos em um a só massa e cada um, depois daquela mistura cheia de discordia fo d i S o e diferenciado (Apolônio Ródio, A ,g m „ I, 615 e ss.).

IV. OUTEAS TEOGONIAS

ai Museu e Aaisilau. — Alguns autores dizem q u e da

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r ^ V S r e s c - t o T e ^ m io f existiam o « r t a

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se dissolvem (Museu, fr. A, 4, em Diels, Frag. der vorso

k a Hesiodo narra que primeiro foi o Caos, depois a ^erra

de vasto p e it o .. . e E r o s .. . Acusilau tambem esta de acoido com Hesiodo (Platão, Simpósio, 178 6). c im e ir o

Parece-me que Acusüau supoe ser o Caos o

nnncipio como do todo incognoscivel. . . Erebo e o macho,

Í K á f ê m e a . . . e dta q u e d a s u a u n i ã o f o r a m g e r a d o s o

Éter, Eros e Metis etc. (Damáscio, op. cit. 124).

b) Epimêniães. — Supõe dois primeiros princípios: o

Ar s a N oite. . . Por êles foi gerado o Tartaro, o terceiro prin­ cípio, creio, como um resultante misto de entre ambos, deles 0s dois Titãs (chamando com êsse nome a mediania inteli­ gível porque se estende para cima e para o fim ); mesclan­ do-se pois um com o outro, sai à luz o Ôvo. . . de que provem ainda uma outra geração (Eudemo, fr. 117, em Damascio).

c) Fereciães. O ser perfeito nos começos e não no fim.

__ Aqueles dentre êsses (antigos) que, misturando a reflexão à poesia, não se expressaram somente nas formas do mito, oor exemplo Ferecides e alguns outros, puseram o gerador primeiro como bem supremo (Aristóteles, Metafísica, 1 091 b ) .

Os três princípios primordiais eternos·, sempre foram Zas, Cronos e Ctônia; e de Ctônia vem o nome de Gea depois

que Zas lhe doou a Terra (fr. de Ferecides: cf. Diels, Frag.

der Vorsokr.).

rZas é Zeus; Cronos é um conceito ambíguo entre o Céu e o Tempo, derivado da contaminação popular entre Kronos e Cronos; Ctônia é a deusa da Terra, a quem Zeus desposando, doou a m esm a T erra].

O processo de formação do cosmos. Ferecides de Siros

disse que Zas e Cronos e Ctônia foram eternamente os três primeiros p rin cíp io s... e que Cronos, da própria semente, fêz o fogo, o ar e a á g u a .. . e dêles, divididos em cinco re­ dutos, deriva tôda a estirpe dos Deuses, chamada dos cinco redutos, que é o mesmo que dizer dos cinco mundos (Da­ máscio, op. cit., 124 b).

[Dos cinco redutos (m ychoi) parece que se originou o título da obra de Ferecides; Pentemychos].

A fôrça formadora do cosmos: Eros. Dizia Ferecides que

Zeus, preparando-se para formar o mundo, se transformou em Eros, a fim de, pondo juntos o mundo com os contrários, levá-lo à concórdia e à amizade e infundisse a identidade em tôdas as cousas e a unidade que penetra o todo. (Proclo,

(14)

4. Os problemas relativos ao homem.

A. A vida e o problema do mal; a derivação do mal de

um a cu lp a :

a) A idéia de u m fato inelutável (ou vontade divina).

__ Muitas vêzes os aqueus fizeram-me êste discurso e me censuraram; mas não sou o culpado (Agamémnon), mas Zeus e o Fado e as Erinas habitantes do ar, que na assem­ bléia me inspiraram na alma uma selvagem cegueira no dia em que arrebatei a Aquiles a sua prêsa. Mas, que poderia eu fazer? O Deus executa tudo até o fim (Homero, lltaaa, X IX 85 e ss.). A que conclusão podem chegar os homens sem a intervenção de Zeus? (Ésquilo, Agamémnon, 1485).

Deus gera a culpa nos mortais quando quer destruir completamente um a família. (Ésquilo, fragm. de Ntobe)

Ninguém pode escapar aos males que Deus manda (Es­ quilo, Os sete em Tebas).

b) O conceito da responsabilidade da vontade humana:

Ai de mim! De quantas cousas nos acusam os mortais, a nós, os Deuses (fala Z eu s): pois dizem que de nós provém o mal; e êles próprios o procuram com as suas arrogancias contra o destino! (Homero, Odisséia, I, 32 e ss.). Quando Zeus se enfurece com os homens, que na assembléia decre­ tam com violência sentenças injustas e atiram para um lado a justiça sem preocupar-se com o olhar vingador dos Deuses, então os rios furiosos inundam os campos e as enxurradas fragorosas, precipitando-se dos montes, arrasam as mar­ gens . . . (Homero, Ilíada, XVI, 386 e s s.).

[O conceito de que os males se originam de culpas de que são respon­ sáveis os homens predom ina depois em Hesíodo, Trabalhos e ãias, em todo o relato da culpa de Prom eteu (furto do fogo divino) e no do envio de Pan­ dora com o vaso cheio de todos os males, e tôda a história das cinco idades, que assinalam um a decadência progressiva da idade de ouro, como conse­ qüência de culpas crescentes. Aos poucos o conceito da responsabilidade do homem insinua-se como tendendo a ser acolhido tam bém em Ésquilo, por quem já foram citadas as afirmações de fatalidade inelutável do homem. O utras vêzes, em compensação p ara êle, é a culpa hum ana que gera a culpa u lterior: “A ação ím pia (dos pais) produz outras semelhantes nas gerações seguintes da sua raça” (Agamémnon, 759 e ss.). E também , dada essa pro­ dução de culpa por culpa, o homem tem a possibilidade de resistir com a sua vontade e, por meio de tais inibições, pode salvar-se da sina que o

espera: “Afasta o princípio do funesto im p u lso ... Porque o demônio, m u­ dando por troca do querer que acontece com o tempo, poderia talvez transform ar-se em vento m ais brando”. (Os sete em Tebas, 687, 705 e ss.)]

c) A lei de justiça (Dike) e a infalibilidade da sanção.

— Porque tal é a lei que o filho de Cronos institui para os homens: os peixes, os animais selvagens e os pássaros se en- tredevoram, porque entre êles não existe a Justiça. Porém êle (Zeus) deu aos homens a Justiça, que é o melhor dos bens (Hesíodo, Trabalhos e dias, 275 e ss.). O homem que causa dano aos outros é artífice dos seus próprios males; a má intenção é pior ainda para quem a concebe. O olhar de Zeus vê tôdas as cousas e a tôdas compreende, e, quando lhe agrada fazê-lo, presta-lhes atenção, e não lhe escapa que es­ pécie de justiça encerra dentro de si uma c id a d e .. . É mau ser justo, se o mais injusto deve ter a preeminência no con­ flito jurídico. Não creio, porém, que isso seja obra do sapien- tíssimo Zeus (Ibid. 265 e ss.). A Justiça tem o seu assento perto de Zeus, seu pai, filho de Cronos, e comunica-lhe os injustos propósitos dos homens (Ibid., 259 e ss.). E Zeus dá com facilidade a fôrça e com facilidade m altrata os for­ tes; facilmente hum ilha o soberbo e exalta os humildes; e sem esforço endireita o que estava torto e atormenta o arro­ gante (Ibid., 5 ss.).

Um paga logo a culpa, o outro, mais tarde; e se o evi­ tam e não os encontra o divino fado à sua chegada, volta em cada caso mais tarde: sem sua culpa, pagam a culpa os seus filhos ou a geração ulterior (Sólon, fr. 12, versos 29 e ss.).

[Êstes conceitos, aplicados ao m undo hum ana por Hesíodo e Sólon, transformam-se depois em conceitos cósmicos, com um a projeção da hu­ manidade no universo. O conceito de Dike cósmica aparece já nos órficos, como se viu; e dêstes passa aos naturalistas jónicos e itálicos. Em Ana­ ximandro eneontra-se tam bém , transferida do m undo hum ano ao da natu­ reza universal, a representação do Tempo juiz, que Sólon já fazia intervir para proferir a sentença inexorável contra os homens],

d) O mistério do destino insondável para o homem. —

A intenção dos Deuses imortais é inteiramente oculta aos homens (Sólon, fr. 17). Filho meu, Zeus tem em mãos o fim de tôdas as cousas e dêle dispõe como deseja. Mas os

(15)

homens nada sabem. Criaturas efêmeras, vivemos como animais no prado, ignorantes da maneira como a divindade levará a seu têrmo cousa alguma. Todos vivem de esperan­ ça e ilusões somente, e o seu meditar tende ao inatingível. Velhice, enfermidade, morte no campo de batalha ou nas ondas do mar, atingem o homem antes que êste haja alcan­ çado a sua meta. Outros acabam suicidas. Se me atendes­ sem não amaríamos a nossa própria infelicidade, e não nos atormentaríamos procurando dores incuráveis. (Simônides de Amorgo, fr. 1).

e) A consciência das dificuldades temperadas pela fé

na atividade fecunda; a consciência dos males aliviada pelo pensamento dos bens alcançáveis. — Pode-se chegar fácil­

mente à condição miserável: a via é lisa e bem próxima a sua morada. Mas os Deuses imortais molharam com suor a que conduz ao bom êxito. Até alcançá-la, o caminho é longo e íngreme, mas, alcançando o cimo, torna-se fácil e desaparece a fadiga da jornada. (Hesíodo, Trabalhos e dias, 286 e ss.). Lembra-te pois da m inha exortação e tra b a lh a .. . Os Deuses e os homens odeiam o que vive inativo. Asseme­ lha-se, na sua inatividade, aos zangãos que devoram o pro­ duto do trabalho fadigoso das abelhas. . . O trabalho não é vergonha; vergonha é a inoperância (Ibid.).

Homero (o homem de Chios) disse um a cousa, a mais bela: os homens são como as fôlhas. Recebem, é verdade, nos seus ouvidos esta noção, mas não a gravam no coração. Porque a esperança que cresce no coração da juventude é inata em cada um. Enquanto estão ainda na flor dos anos, os mortais têm a vontade fraca e desdenham muitas cousas inexeqüíveis. Pois nenhum pensa na velhice e n a morte e, durante a higidez, rião se preocupa com a doença. Todos os que assim pensam, e não sabem que aos mortais é conce­ dido um breve período de juventude e de existência. Mas não o esqueças e, pensando no fim da vida, compraze-te em conceder à tua alma alguma cousa de agradável (Simônides de Amorgo, fr. 29).

f) A visão pessimista·, a vida é u m mal. ■— Nenhum

homem é feliz. Assoberbados de fadiga são todos os mortais sob o Sol (Sólon, fr. 15). De tôdas as cousas, a melhor para nós, sêres terrenos, seria não nascer e não ver jamais os

raios vivos do Sol; nascidos, porém, o melhor seria atraves­ sar o mais cedo possível o limiar do Hades e jazer sepultados sob m uita terra (Teognis, 424 e s s .).

[Esta m esm a afirm ação de que o m elhor para o homem seria não ter jam ais nascido e, nascido, m orrer o m ais breve possível, era atribuída ao mítico Sileno interrogado pelo rei Midas: e os órficos, ao repeti-la e fazê-la sua, atribuíam -lhe a significação de que a vida corpórea é um a prisão para a alma, um a expiação dos pecados (Cfr. Aristóteles, Euãemo, fr. 6 Walzer).

A afirm ação de Teognis passa depois a todo o desenvolvimento sucessi­ vo das correntes pessim istas, com acentuações ulteriores. Cfr. Sófocles, Eletra, 1010 e ss.: "O pior dos males não é m o rre r m as desejar m o rrer e não poder conseguir nem mesmo isso” . Eurípedes, Creofonte, fr. 449: “ Seria preciso chorar quando alguém nasce, por tantas dores que vai en­ contrar; e alegrar-se quando m orre, porque se liberta dos sofrim entos” . Herâelides, 592 ss. e fr. 916: “Tom ara que não haja nada debaixo da Terra! Porque se tam bém lá tiverm os afãs, nós m ortais que m orrem os, não sei para onde alguém se voltará, pois a m orte é, segundo se crê, o m aior remédio para os m ales” .

Com êsse pessimismo une-se nos poetas gregos, desde Teognis para diante, a advertência de m oderação, resignação e humildade, como cons­ ciência da sujeição do hom em a um poder transcendente e da sua imensa inferioridade. Também nas sentenças dos Sete sábios esta advertência ocupa um lugar central, e po r outro lado, continua um a tradição que já se ori­ gina em Hesíodo].

g) A advertência de moderação e medida. — Insensa­

tos! não sabem quanto os atinge o ditado: “a metade vale mais do que o todo” e que bênção se encontra até na erva mais vil que a terra faz crescer para o homem! (Hesíodo,

Trabalhos e dias, 40 e ss.). A mais difícil de tôdas as cousas

é perceber a invisível medida da sabedoria que traz em si, somente ela, os limites de tudo o que existe (Sólon, fr. 16). ótim a cousa é a medida (Cleóbulo).

Têm existido desde os tempos an tigos. . . (sábios), em cujo número se contaram Tales de Mileto, Pítaco de Miti­ lene, Bias de Priene, o nosso Sólon, Cleóbulo de Lindos e Misão de Kenas, e o sétimo chamou-se Quilão de Esparta, todos. . . amantes e discípulos destá sabedoria. . . que, de comum acôrdo, consagraram a Apoio, no templo de Delfos, uma prímícia da sua sabedoria, escrevendo aquelas palavras que todos celebram: “conhece-te a ti mesmo”, e “nada em excesso” . . . Esta era a forma da filosofia dos antigos, uma concisão lacônica (Platão, Protágoras, 343 a).

(16)

[Estas duas sentenças, célebres entre tôdas as outras da antiga sabedo­ ria, têm am bas o mesmo caráter de advertência ao homem p ara te r cons­ ciência de sua lim itação e de não exceder a medida do que é concedido ao homem, para não cair no pecado de insolência (hybris). E sta seria ferida pelo castigo divino, em defesa do privilégio divino contra tôda pretensão de usurpação hum ana (inveja dos deuses). Êste conceito acha-se presente no m ito de Prometeu, em Hesíodo],

B. A alma e a sua imortalidade:

a) Os órficos e Ferecides. — Há uma doutrina antiga

(órfica) que diz existirem além (no Hades) almas chegadas daqui, e que de lá voltam novamente para aqui, e que res­ suscitam os mortos e nascem dêles novos sêres (Platão,

Fédon, 70 c ) . É necessário crer nos antigos Discursos sagra­ dos, que nos advertem de que somos almas imortais e que

teremos juizes e que encontraremos as maiores penas (Pla­ tão, Epístola, VII, 335 a).

Ferecides Sírio foi o primeiro a afirmar que as almas dos homens são eternas (Cícero, Tuscul, I, 16, 38).

[A idéia da im ortalidade da alm a desenvolve-se na Grécia prim eiram en­ te nos m istérios eleusinos, dos quais passa depois aos m istérios órficos e aos mitólogos e filósofos gregos],

b) O dualismo de alma e corpo no orfism o: o pecado

original e a vida corpórea como expiação. — Os que cele­

bram as iniciações dizem que a alma paga a culpa e que vivemos em expiação de certos grandes pecados (Aristóte­ les, Protrept, fr. 10 b, W alzer). Afirmam também os antigos teólogos e adivinhos que, por algum castigo, a alma está uni­ da ao corpo e neste sepultada como em um túmulo (Clemen­ te Alexandrino, Stromata, III, 433).

As palavras que se ouvem pronunciar em certos misté­ rios, de que nós os homens estamos como em um a espécie de cárcere, e de onde não nos podemos libertar por nós mes­ mos . . . (Platão, Fédon, 62 b ) . Alguns dizem que o corpo

(soma) é túmulo (sem a) da alma, visto que esta está sepul­

tada no corpo onde se a c h a . . . Parece-me que Orfeu e os seus lhe deram, principalmente êsse nome (soma) enquanto a alma expia a pena dos pecados que tem de descontar; e que o invólucro, imagem de um cárcere, a tem para

salvar--se (sozesthai), um a vez que para a alma isso é justamente aquilo de que toma o nome, isto é, um corpo (so m a ), até que a alma não haja pago o seu débito (Platão, Crátilo, 400 c).

[O pecado original na mitologia órfica é o dos Titãs rebeldes a Zeus, que despedaçam e devoram Dionisio menino. Zeus fulmina-os, e com as suas cinzas cria o homem; por isso existe neste um a p arte titânica pecaminosa (o corpo) e um a p arte dionisíaca divina (a alma) que aspira a libertar-se da união com a outra].

c) O ciclo dos nascimentos (transmigração) e a liber­

dade da alma segundo o orfismo. — Orfeu também transmi­

te claramente estas cousas, quando, depois da m ítica expia­ ção dos Titãs e a sua geração dêstes mortais viventes, disse, antes de tudo, que as almas permutam as vidas em certos períodos, e entram mais vêzes em diferentes corpos de ho­ mens: “os mesmos espíritos transformam-se alternadamen­ te, pela troca das gerações, em pais e filhos nos palácios e bem ordenadas esposas e mães e filhas”. Dêste modo, rea­ lizam a sua transmigração de corpos humanos para huma­ nos . . . Além disso, existe também uma passagem de almas humanas para animais: também isto Orfeu ensina em têr- mos precisos, quando determina: “por isso, mudando se­ gundo o ciclo do tempo, a alma do homem provém de outra parte em outros animais: ora transforma-se em c a v a lo ... ora em carneiro, ou então aparece comò um a ave monstruo­ sa ou também com a aparência de cão e voz grave e, em ou­ tras ocasiões, em rasteira geração de frias serpentes, na terra divina (Proclo, em Rern publ. II, 338 e ss. na edição Teubner).

[Esta concepção da transm igração das almas, que tom ou depois o nome im próprio de metempsicose, foi considerada po r H eródoto (II, 123) de ori­ gem egipcia. “Tam bém isto foi dito pela prim eira vez pelos egípcios: que a alma do hom em é im ortal, e, dissolvendo-se o corpo, penetra sem pre em outro vivente gerado, porque, depois que haja percorrido tôda a série de animais terrestres, m arinhos e voláteis, penetra novamente no corpo gerado de um homem; e tal ciclo realiza-se em três mil anos. Desta opinião são aquêles gregos que, alguns antes e outros depois, a sustentaram como se fôsse sua própria; conheço os seus nomes m as não quero escrevê-los. Os gregos aqui acusados de plágio são, além dos órficos, os pitagóricos e Empédocles; Heródoto, porém , incorria em êrro ao assim ilar a teoria órfi- co-pitagórica da transm igração com a crença egípcia na possibilidade de ressurreição, da qual se derivava tam bém o rito mágico da ressurreição animal. Nos m istérios egípcios vigorava, precisam ente, a crença de que o

Referências

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