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as cousas, das que são enquanto são, e das que nao sao en­ quanto não são Tu o leste alguma vez? (T eetetos): Li-o e

m uitas vêzes. (Sócrates): Nao disse de certo modo que que me parece qualquer cousa, tal e p a r a mim e tal como te parece! tal é para ti, e que eras homem e eu também. sou homem? (T eetetos): Disse isso, exatamente. (S ócrates). Sigamo-lo, então, um pouco. Não acontece as vezes que,

soprando o mesmo vento um de nós sente frio e o outro não? Que um apenas sente um pouco e o outro muito? — Sim, certamente. — Então, diremos que êste vento é por si mes­ mo frio ou não frio? Ou acreditaremos em Protágoras, de que é frio para quem trema e para quem não trema, não? — Parece-me. — Então, não parece assim a cada um dos dois? — Certamente. — E

parecer

não significa

ser sentido

?

— É verdade. — Então, aparência e sensação são a mesms> cousa para o frio e para tôdas as cousas semelhantes. Da mesma maneira que cada um sente as coisas, assim lhe pa­ recem ser elas a cada um. (Platão,

Teetetos,

151-152).

[Sexto Em pírico, citando a m esm a proposição (Pyrrhon. hyp., I, 216 e ss.), explica: “por medida entende o critério do juízo, por cousas, os fatos; o que quer dizer que o homem é o meio do juízo de todos os fatos, dos que são enquanto são e dos que não são enquanto não são. E por isso, adm ite somente aquilo que parece a cada um, e assim introduz a relatividade” .

E já Aristóteles (Afeia/., XI, 6, 1 062): “Protágoras dizia que o homem é a medida de tôdas as cousas, o que significa que o que parece a cada um tam bém o é para êle com certeza”.

Estas explicações excluem a interpretação proposta por B urnet, que atribui a proposição ao único problem a geométrico das grandezas incomen­ suráveis (lado e diagonal do quadrado) das quais Protágoras, contra os matem áticos, asseguraria que o homem é a medida na prática da vida. Que Protágoras haja discutido problem as geométricos, de grandezas e me­ didas, é atestado por Aristóteles (Metaf., I II , 2, 997; X, 1, 1 053), por Platão (.Teetetos, 154-5 e 168), pelos Scholia graeca in Aristophanem (Nubi); m as para êle, êste não era senão um caso particular do princípio de que o homem é medida ou juiz da realidade. Por isso, contra as grandezas racionais estudadas pelos geôm etras, opunha as grandezas sensíveis: “As linhas sen­ síveis não são tais como dizem os geôm etras pois, com efeito, não é assim nem a reta nem a curva sensível; que o círculo não toca a tangente em um só ponto, mas da m aneira como dizia Protágoras, refutando os geôme­ tra s ” (Aristóteles, Metaf., III, 2, 997).

Gomperz propôs um problem a de interpretação m ais sério sustentando que Protágoras com preende o homem como espécie e não como indivíduo, juiz da existência e não das propriedades das cousas. Mas os exemplos citados em Platão e em outros testem unhos que se relatam como aduzidos pelo próprio Protágoras, referem-se à qualidade (o como) e não à existência (o quê) das cousas. E está explicitam ente dito que o homem-medida é o indivíduo em sua variável subjetividade mom entânea. Os exemplos do ca­ lor e do frio, do são e do doente, são dados pelo m esmo Protágoras. E, para confirm ar a interpretação tradicional, corrobora tam bém a derivação do princípio de Protágoras do de Heráclito, confirm ada p o r Platão, (Teete­ tos) e também por Sexto Em pírico (Pyrrhon. hyp., I, 217-219). “Diz-se pois êste (Protágoras) que a m atéria é fluente e, fluindo continuam ente, produ­ zem-se os acréscim os em troca das perdas, e as sensações transformam -se

e m udam segundo a idade e as outras disposições dos corpos. Diz tam bém que as razões de todos os fenômenos estão na m atéria, pelo que esta pode, enquanto está por si mesma, ser tôdas essas cousas como parecein a todos. E os homens percebem sucessivamente ora um a ora outra aparência, se­ gundo as suas diversas condições; porque aquêle que se acha em suas condições naturais percebe na m atéria os fenômenos que se m anifestam a quem esteja em condições naturais; entretanto aquêle que se ache em um estado norm al percebe os que aparecem a quem esteja em estado anorm al. E tam bém em relação à idade e segundo o estado de sono ou de vigília e conforme tôdas as espécies de condições é o mesmo discurso. Pelo que, segundo êle, o homem é o juiz da realidade das cousas. Tudo aquilo, de fato, que parece aos homens é; e o que não parece a nenhum homem, não é ”].

2. A relatividade e a verdade dos contrários: negação do princípio de contradição.

O p rin cíp io.. . expresso por Protágoras, que afirmava ser o homem a medida de tôdas as cousas. . . outra cousa não é senao que aquilo que parece a cada um também o é certamente. Mas, se isto é verdade, conclui-se que a mesma cousa é e não é ao mesmo tempo, e que é boa e má ao mes­ mo tempo, e, assim, desta maneira, reúne em si todos os opostos, porque, amiúde, uma cousa parece bela a uns e feia a outros, e deve valer como medida o que parece a cada um (Aristóteles,

Metaf.,

XI, 6, 1 062). — Não só agora, mas por muitas e muitas vêzes tendo ouvido-êste mesmo discurso (de que não é possível a contradição) sempre me maravilha. Pois dêle se servia m uitas vêzes a escola de Protágoras, e também outras mais antigas (os heraclitianos); mas a mim me parece sempre o mais surpreendente e destruidor dos outros raciocínios e de si mesmo (Platão,

Eutidemo,

286).

3. A identidade do verdadeiro e do falso.

Sôbre cada argumento podem-se adiantar dois discursos em perfeita antítese entre si (fr. de Protágoras em

Dióge­

nes Lãercio,

IX, 50). Se tôdas as opiniões e tôdas as apa­ rências são verdadeiras, conclui-se necessàriamente que cada um a é verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Visto que, amiú­ de, surgem, entre os homens, opiniões contrárias, e cremos

que se engana quem não pensa como nós, é óbvio que existe e não existe ao mesmo tempo a mesma cousa. Isso admi­ tido, deve-se admitir também que tôdas as opiniões são ver­ dadeiras. Assim, quem m ente e quem diz a verdade afirmam duas cousas contrárias; porém, se as cousas são como afir­ m a Protágoras, será verdade o que quer que se diga. (Aris­ tóteles, Metaf., IV, 5 1 009).

[Disto Aristóteles tirava a dedução da identidade de tôdas as cousas; “Ora, se são verdadeiras a um tem po tôdas as afirm ações contrárias em tôrno da m esm a cousa, é claro que tôdas as cousas serão um a só. Será de fato a m esm a cousa um a trirrem e, um m uro e um homem se se adm itir que sôbre cada cousa se possa afirm ar ou negar o que seja, como é, ne­ cessàriam ente, para quem aceite o afirm ado por Protágoras. Pois, se a alguém não parece que um homem é um a trirrem e, é evidente que não será um a trirrem e; assim tam bém será verdadeira a afirm ação contrária” . (Metaf., IV, 4, 1 007). O conceito da existência de duas proposições con­ trárias sôbre cada cousa torna-se a encontrar em Eurípedes, que assimilava o pensamento dos sofistas. “Não se poderia extrair de cada cousa motivo para dois raciocínios opostos se alguém tivesse grande poder de eJoqüê»- cia?” (Antiop., fr. 139)].

4. Avaliação não teórica (verdade) mas prática (utilidade) das opiniões. Valor prático da sabedoria e papel da edu­ cação.

Eu (Protágoras) digo que a verdade é tal como escrevi; que cada um de nós é medida do que é e do que não é; e que há um a imensa diferença entre um e outro indivíduo, por isso, precisamente, é que são e parecem ser certas cou­ sas para um, e para outro, outras. E a sabedoria e o homem sábio estou bem longe de negar que existam; chamo, porém, homem sábio àquele que nos faça parecer cousas boas, por via de transformação, as que nos pareciam e eram cousas m á s . . . Procura compreender mais claramente o que quero dizer. Lembra o que se dizia há pouco, que ao doente o ali­ m ento parece e é amargo, ao sadio, o contrário. Ora, ne­ nhum dos dois deve considerar-se mais sábio do que o ou­ tro, o que não seria possível, nem mesmo se deve dizer que o doente seja um ignorante, porque tem tal opinião, e que o sadio seja sábio porque tem um a opinião diferente; mas é preciso entretanto trocar o primeiro hábito pelo segundo, porque o segundo é melhor. Assim também na educação é

necessário mudar um hábito por outro melhor; somente que, enquanto o médico ajuda o estado do indivíduo com remédios o sofista o transforma com discursos. Nego por isso que seja possível que alguém creia no falso e outro o faça crer depois no verdadeiro, porque não é possível opinar sôbre o que não é, nem opinar diferente sôbre o que se pro­ vou: o que então é sempre verdadeiro, por isso. Mas creio que quem opina sôbre cousas conformes com um estado de mau ânimo, um estado útil do mesmo ânimo talvez o faça opinar cousas diversas: as que alguns, por ignorância, chamam de verdadeiras em compensação eu as denomino umas melhores do que as outras, mas de nenhum modo mais verdadeiras. E aos sábios. . . para os corpos, chamo-os de médicos, para as plantas, agricultores. Porque afirmo que também êstes, quando uma planta está enferma produzem-lhes, em vez de sensações más, sensações úteis e sãs, e (não) verdadeiras, e da mesma maneira, os sábios e bons oradores fazem pare­ cer, como justas à cidade, as cousas úteis em lugar das más. As cousas que lhe parecem justas e boas, são também para ela, enquanto as crê tais. Mas o sábio faz ser e pajecer (jus­ tas) as cousas úteis, em lugar daquelas que lhe são prejudi­ ciais. (Platão, Teetetos, 166-7).

[Esta concepção do papel do sábio e do educador influía na arte da O ratória para to rn ar mais fortes as razões consideradas mais fracas de que se gabava Protágoras (cfr. Aristóteles, Retór., II, 24, 1 042): “to rn ar mais forte a razão m ais débil” . E sta jactância que está no carater geral da sofística (cfr. a exaltação do poder da palavra em Górgias, ja eit.), foi de­ pois um a das principais acusações contra Sócrates].

5. Agnosticismo sôbre os deuses.

Quanto aos deuses, não posso saber se existem nem se não existem nem qual possa ser a sua forma; pois muitos são os impedimentos para sabê-lo: a obscuridade do problema e a brevidade da vida do homem (fr. 4, em Diógenes Laércio, IX, 51 e em Eusébio, Proep. ev., 3, 7).

[A êste agnosticismo teológico de Protágoras opõem-se, em outros so- Justas, concepções bem diversas. B asta recordar Antifonte, fr. 10, Diels. divindade nada falta e nada tem que aceitar senão que é infinita e sem defeito”. Afirmação digna de nota sob m uitos aspectos: 1) porque nos m ostra a infinidade como atributo de perfeição na divindade, contra o p re­

conceito tradicional, que atribui aos gregos somente o conceito negativo da infinidade (como im perfeição) e a exaltação do lim ite como perfeito;

2) porque, no seu dogmatismo, antitético do agnosticismo de Protágoras, nos oferece um a das mais significativas entre as m últiplas provas de que a sofistica não foi um a escola que tivesse a sua doutrina comum a todos os sofistas, m as um m ovim ento cultural, em que se desenvolveram as mais diversas correntes e se firm aram as m ais variadas orientações],

ESCOLA DE PROTAGORAS

A relatividade das valorizações éticas, estéticas e