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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. Transgressões Audiovisuais: A influência mútua entre formato e conteúdo no videoclipe gospel brasileiro. Flávia Medeiros. São Bernardo do Campo 2019.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. Transgressões Audiovisuais: A influência mútua entre formato e conteúdo no videoclipe gospel brasileiro Por Flávia Medeiros. Professor Doutor Helmut Renders. Tese apresentada em cumprimento às exigências do Programa de PósGraduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Doutora.. São Bernardo do Campo. 2019.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. M467t. Medeiros, Flávia Transgressões audiovisuais: a influência mútua entre formato e conteúdo no videoclipe gospel brasileiro / Flávia Medeiros - São Bernardo do Campo, 2019. 210 f. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) --Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019. Bibliografia Orientação de: Helmut Renders. 1. Música gospel 2. Cultura gospel 3. Cultura gospel brasileira 4. Linguagem visual 5. Cultura visual 6. Videoclipe gospel I. Título. CDD 782.254.

(4) A tese de doutorado intitulada: “TRANSGRESSÕES AUDIOVISUAIS: A INFLUÊNCIA MÚTUA ENTRE FORMATO E CONTEÚDO NO VIDEOCLIPE GOSPEL BRASILEIRO” elaborada por Flávia Medeiros, foi apresentada e aprovada em 04 de outubro de 2019, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Helmut Renders (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Márcio Cappelli Aló Lopes (Titular/UMESP), Prof. Dr. Vitor Chaves de Souza (Titular/UMESP), Profª. Drª. Ariane Diniz Holzbach (Titular/UFF) e Prof. Dr. Guilherme Bryan (FEBASP).. __________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora. __________________________________________ Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Linguagens da Religião Linha de Pesquisa: Teologias das Religiões e Cultura.

(5) Aos meus pais Vera Lucia e João, à minha irmã Valéria e ao meu sobrinho Anthony Renan, expressões do amor familiar. Aos amigos Jhonatan Candido, Georgina Gomes e Kadu Mattos, expressões do amor fraternal..

(6) Agradecimentos A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, pela bolsa de estudos, sem a qual essa pesquisa não teria sido possível. Ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, IEPG, pela ajuda de custo, que possibilitou minha participação em congressos e a aquisição de toda a bibliografia sobre videoclipe. Ao Professor Doutor Helmut Renders pelas horas de orientação, pelo apoio, pela troca de experiências e conhecimentos, muito obrigada pelas muitas vezes que além de orientador você também foi Pastor. Apreendo muito como sua vida e seus ensinamentos. Aos docentes dos Programas de Pós-graduação em Ciências da Religião e da PósGraduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, que contribuíram de forma tão expressiva para a minha formação acadêmica. Aos professores metres Márcio Antonio Kowalski e José Augusto Quartin de Blasiis do curso de graduação em Rádio, TV e Internet da Universidade Metodista de São Paulo que me receberam de forma tão acolhedora e me ensinaram muito sobre Design de Imagem e Som Digital durante o meu estágio docente. A minha Mãe Vera Lúcia e meu Pai João pelo amor, carinho, paciência e cuidado com a minha vida, obrigada por tudo que vocês me ensinam! A minha irmã Valéria, ao meu sobrinho Anthony Renan e a minha sobrinha agregada Simei, obrigada pelas ajudas com tudo e pelo amor dedicado a mim. Ao amigo Pastor Jhonatan Candido por ter sido o primeiro e certamente o maior incentivador da minha carreira nas pós-graduação, sem sua sugestão o presente trabalho seria sequer um sonho. Obrigada pela amizade, conselhos, pastoreio e cuidado! A amiga “Senhorita das Letras” Georgina Gomes por ser a revisora de praticamente toda a minha produção acadêmica desde os tempos da minha graduação em História. Obrigada pela amizade, conselhos e revisões textuais! Ao amigo de “Café das Cinquepoca” Kadu Mattos, obrigada pela amizade, conselhos, café e mais cafés dialogando sobre nossas inquietações acadêmicas, sem nossos papos sobreviver ao doutorado teria sido muito mais difícil. Valeu “irmãozinho mais velho”. Ao amigo e parceiro de artigos acadêmicos Rodrigo Follis, pela ideia do tema, a “Mtviciada” jamais teria levado a sério a ideia de estudar videoclipe gospel se não fosse a sua sugestão! Obrigada por tudo Rodrigo!.

(7) A família Weishaupt Medeiros e agregados: Vô Oswaldo (in memorian) Vó Tica, Tias e Tios Rosana e Toninho, Suelene e Eliel, prima Kely e primos Jhônatan e Luccas, obrigada por tudo! Aos amigos e amigas de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da UMESP obrigada pela troca de conhecimentos, e apoio mútuo diante das adversidades enfrentadas por nós durante esse tempo. Obrigada ao pessoal do grupo de Pesquisa RIMAGO. Em especial um agradecimento ao Didio! Aos amigos e amigas da Igreja Metodista do Brasil, em especial as Igrejas de Itapecerica da Serra, Rudge Ramos e Vila Floresta. Muito do que sou vem das relações com vocês! Aos amigos e amigas de trabalho das EE Ayrton Senna e EMEBs: Carmem Tablet, Ari Lacerda e Otílio de Oliveira, escolas que trabalhei durante o período do doutoramento. Em especial aos camaradas Joice Galhardo, Maria Rosa e Felipe Simões. A luta continua companheiros/as! Aos meus alunos e alunas por tanto me ensinarem também! Ao Rogério Custódio por tudo o que você me ensinou, lugares que conhecemos e por ter sido um super companheiro na maioria do tempo desse doutorado. Ao Edgar Borges por ter me inspirado tanto no final dessa pesquisa, obrigada por ampliar meus conhecimentos sobre Cultura Geek/Nerd! Thanks for everything Mister Borges! As famílias Kynskowo e Camuçatto por serem tão importantes na minha caminhada! Ao “formatador oficial” dessa tese Rafael Fernandes. A Carmen Kamy Ynguil pela ajuda com o espanhol! A Deus pelo dom da vida, ao Espírito Santo pelo discernimento, a Jesus, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas!.

(8) “O que um ser humano vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver” Thomas S. Khun.

(9) RESUMO Nossa investigação situa-se na área das linguagens religiosas no campo da cultura visual contemporânea. Ela examina o gênero videoclipe gospel brasileiro, e analisa a influência mútua entre o formato do gênero videoclipe e o conteúdo da cultura gospel brasileira. Partimos da compreensão que a linguagem visual e a linguagem musical são duas expressivas linguagens que no transcorrer da história tem contribuído na relação do ser humano com o transcendente. Nesse sentido é a nossa hipótese que haja uma relação mútua entre as características da cultura da música gospel brasileira e a linguagem visual religiosa com o formato do videoclipe gospel brasileiro. Portanto, é nosso objetivo analisá-lo a partir da letra da canção, da imagem, através das características do gênero videoclipe e das características da cultura gospel. Para tal, examinaremos quatro videoclipes, do período entre os anos de 2007 e 2014. Como método para analisar seu formato utilizaremos os conceitos: ideia central (de Danilo Teixeira Bechara), características do formato (Andréa Michelle dos Santos Diogo) e audiovisão (de Michel Chion). Analisaremos a letra da canção utilizando o método da análise do discurso de Eni Puccinelli Orlandi, e as características da cultura gospel brasileira na perspectiva de Magali do Nascimento Cunha e Joêzer Mendonça. Chegamos na conclusão que existe sim uma influência mútua entre o formato do videoclipe e o conteúdo da cultura gospel brasileira; já que seu conteúdo, se comparado ao modelo do gênero videoclipe, modifica o formato do videoclipe religioso, especialmente porque nele a narrativa da linguagem musical aparece na linguagem visual. Bem como, o conteúdo religioso é adaptado ao formato do videoclipe.. Palavras-Chaves: Cultura gospel brasileira; videoclipe; videoclipe gospel brasileiro; Música. Cultura visual; linguagem visual religiosa contemporânea..

(10) RESUMEN Nuestra investigación se sitúa en el área de las lenguas religiosas en el campo de la cultura visual contemporánea. Examina el género de videoclip góspel brasileño y analiza la influencia mutua entre el formato del género de videoclip góspel y el contenido de la cultura góspel brasileña. Partimos de la comprensión de que el lenguaje visual y el lenguaje musical son dos lenguajes expresivos que, en el transcurrir de la historia ha contribuido con la relación entre el ser humano y lo trascendente. En este sentido, nuestra hipótesis es que hay una relación mutua entre las características de la cultura de la música góspel brasileña y del lenguaje visual religioso con el formato del videoclip góspel brasileño. Por lo tanto, es nuestro objetivo es analizarlo a partir de la letra da canción, de la imagen, a través de las características del género del videoclip y de las características de la cultura góspel. Para tal fin, se examinarán cuatro videoclips del período comprendido entre los años 2007 y 2014. Como método para analizar su formato, utilizaremos los conceptos: idea central (por Danilo Teixeira Bechara), características de formato (Andréa Michelle dos Santos Diogo) y audiovisión (por Michel Chion). Analizaremos la letra de la canción, utilizando el método del análisis del discurso de Eni Puccinelli Orlandi, y las características de la cultura gospel brasileña desde la perspectiva de Magali do Nascimento Cunha y Joêzer Mendonça. Llegamos a la conclusión de que existe una influencia mutua entre el formato del videoclip y el contenido de la cultura gospel brasileña; dado que su contenido, en comparación con el modelo del género del videoclip, cambia el formato del video musical religioso, especialmente porque en él aparece la narrativa del lenguaje musical en el lenguaje visual. Además, el contenido religioso se adapta al formato del videoclip.. Palabras Clave: Cultura góspel brasileña. Videoclip. Videoclip góspel brasileño. Música. Cultura visual. Lenguaje visual religioso contemporáneo..

(11) ABSTRACT Our investigation is in the area of religious languages in the field of contemporary visual culture. She examines the Brazilian gospel video clip genre, and analyzes the mutual influence between the format of the video clip genre and the content of Brazilian gospel culture. We start from the understanding that visual language and musical language are two expressive languages that throughout history have contributed to the relationship between the human being and the transcendent. In this sense, it is our hypothesis that there is a mutual relationship between the characteristics of Brazilian gospel music culture and religious visual language with the format of the Brazilian gospel video clip. Therefore, it is our objective to analyze it from the lyrics of the song, from the image, through the characteristics of the video clip genre and the characteristics of the gospel culture. To do so, we will examine four video clips between 2007 and 2014. As a method to analyze their format we will use the concepts: central idea (by Danilo Teixeira Bechara), format characteristics (Andréa Michelle dos Santos Diogo) and audiovision (by Michel Chion). We will analyze the lyrics using the speech analysis method of Eni Puccinelli Orlandi, and the characteristics of Brazilian gospel culture from the perspective of Magali do Nascimento Cunha and Joêzer Mendonça. We concluded that there is a mutual influence between the format of the video clip and the content of Brazilian gospel culture; since its content, when compared to the model of the video clip genre, changes the format of the religious video clip, especially since the narrative of the musical language appears in the visual language. As well as religious content is adapted to the format of the video clip.. Keywords: Brazilian gospel culture. Videoclip. Brazilian gospel videoclip. Music. Visual culture. Contemporary religious visual language..

(12) Sumário Autobiografia............................................................................................................................14 Introdução ................................................................................................................................18 Capítulo Um .............................................................................................................................29 Linguagens Religiosas Cristãs Visuais e Musicais: Uma História de Formatos, Conteúdos e Transgressões ...........................................................................................................................29 Introdução ............................................................................................................................29 1.1. Linguagem Musical e Cristianismo: formatos, conteúdos e transgressões ...............34 1.1.1. A música Cristã na Idade Média, entre os séculos VI e XVI: um modelo se estabelece através do canto gregoriano ...........................................................................36 1.1.2. Um reformador de formato e conteúdo da canção cristã: A música em Martinho Lutero ...............................................................................................................42 1.1.3. A música evangélica brasileira no século XIX: O formato e os conteúdos dos primeiros missionários .....................................................................................................47 1.1.4. Um formato transformador: A gravação musical e seu uso pelos evangélicos brasileiros ..........................................................................................................................52 1.1.5. Corinhos e grupos musicais paraeclesiásticos: as transgressões de conteúdo e formatos da linguagem musical evangélica brasileira a partir de 1950........................57 1.1.6. Transgressões tupiniquins: a brasilidade na música evangélica brasileira ........61 1.2. A linguagem visual e o Cristianismo ............................................................................63 1.2.1. A relação do uso das imagens entres os cristãos católicos e os cristãos protestantes .......................................................................................................................65 1.2.2. O início do uso da linguagem visual entre os católicos romanos e os evangélicos no Brasil ............................................................................................................................72 1.2.3. Imagens em movimento: O formato do cinema e seu uso pelos evangélicos brasileiros ..........................................................................................................................76 1.2.4. A imagem em movimento em casa: a criação da televisão e seu uso pelos evangélicos ........................................................................................................................79 1.2.5. A chegada da televisão do Brasil e seu uso pelos evangélicos brasileiros ...........83 Considerações Intermediárias .............................................................................................85 Capítulo Dois ............................................................................................................................87 O Desenvolvimento do Videoclipe e da Cultura Gospel no Brasil: Histórias Paralelas .....87 Introdução ............................................................................................................................87 2.1. Música para apreciar também com os olhos: A criação do formato videoclipe........90 2.1.1. O videoclipe brasileiro em três momentos ............................................................98 2.1.2. A fase videoclipe no Fantástico ..............................................................................99 2.1.3. A fase MTV Brasil ................................................................................................102 2.1.4. A fase Internet ......................................................................................................106.

(13) 2.2. O início da cultura gospel brasileira ..........................................................................110 2.2.1. Características da cultura gospel brasileira .......................................................117 2.2.2. As características do conteúdo musical da Cultura Gospel Brasileira .............127 2.3. A cultura gospel brasileira e o uso do videoclipe.......................................................129 Considerações Intermediárias ...........................................................................................134 Capítulo Três ..........................................................................................................................136 O Videoclipe Gospel Como Linguagem Religiosa Audiovisual: Análise de Formato, Conteúdo e Transgressões .....................................................................................................136 Introdução ..........................................................................................................................136 3.1. Os elementos de análise do videoclipe ........................................................................139 3.2. Os elementos de análise da letra da música ...............................................................146 3.3. O videoclipe A cruza vazia (2014) de Kleber Lucas ...................................................150 3.4. O videoclipe Batismo no ônibus (2007) de Andrea Fontes ........................................163 3. 5. O videoclipe Filho Meu (2013) de Thalles Roberto ..................................................174 3. 6. O videoclipe Nosso Deus (2013) de Gui Rebustini ....................................................184 Considerações Intermediárias ...........................................................................................191 Considerações Finais ..............................................................................................................193 Referências..............................................................................................................................199.

(14) 14. Autobiografia Como a maior parte das pesquisas acadêmicas surgem a partir de alguma inquietação pessoal sobre algum tema, meu caso não foi diferente. Para perceber o meu lugar de fala, bem como as motivações que me levaram ao estudo do videoclipe gospel brasileiro é preciso, inicialmente, uma narrativa sobre minha experiência pessoal acerca do assunto. Quando uma pessoa nasce e cresce em uma família evangélica bastante atuante na igreja local, todas as suas primeiras experiências sociais e culturais acontecem dentro do âmbito religioso. Para mim, pelo menos, foi assim. Sendo metodista de sexta geração, meus primeiros contatos com o mundo passaram pelo viés da religião. Não por acaso um dos meus apelidos nos primeiros anos escolares foi o de “crente”. As primeiras canções que ouvi e cantei foram as apreendidas nas classes da Escola Dominical, os hinos e os “corinhos” nos momentos litúrgicos. Ainda que a música secular nunca fosse algo proibido em casa, pois, ouvíamos os mais variados estilos musicais em família também. Entretanto, o tempo foi passando e descobri aquele tal de “rock and roll” e logo me apaixonei por esse estilo. Apreciar as músicas de rock tornou-se muito mais divertido quando para além da rádio 89 FM descobri o canal de televisão MTV Brasil, ainda no início da adolescência, por volta de 1994. Aquele canal me fascinou muito, pois, ao assisti-lo eu podia apreciar as músicas e as bandas que tanto gostava através do som e também da imagem, e era uma das minhas melhores possibilidades de acesso ao entretenimento. Isso porque eu morava em uma cidade da região metropolitana de São Paulo, com características de interior, com poucas disponibilidades de entretenimento, pois, nem cinema Itapecerica da Serra tinha na época. E minha família também não tinha videocassete ou videogame, logo, a opção de lazer era, além das festas religiosas da igreja, assistir televisão. Mas foi quando a família comprou um televisor com a frequência UHF que pude ter contato com o fantástico “mundo da MTV Brasil”. Ainda que no começo eu não conseguisse entender muito bem aquela grade de programação, que me parecia confusa, e liberal demais para o meu modelo religioso de vida. Foi nesse período que o apelido escolar se ampliava, para além de “crente” eu era também a “Mtviciada”. A negociação entre o estilo de vida de “crente” e a apreciação “profana” da MTV Brasil foi me rendendo momentos tranquilos e conturbados tanto de reflexão sobre a vida, tanto nas vivências sociais. Pois, como é muito comum em nossa sociedade queremos classificar as pessoas e suas preferências dentro de modelos estereotipados, e uma garota crente que.

(15) 15. gosta de MTV não se encaixava em nenhum modelo dentro ou fora da igreja. Era transgressor dentro do contexto religioso apreciar a MTV e seus apelos “libertários e progressistas” para a juventude. Bem como era transgressor dentro de uma juventude MTV ser “crente”. Porém, diante do crescimento da Cultura Gospel Brasileira, os amigos “crentes” nos apresentaram as primeiras bandas de rock gospel tornou-se um pouco mais fácil explicar a negociação entre minhas apreciações musicais e meu modelo de vida religioso. Dentro das variadas possibilidades de entretenimento da cultura gospel, estavam o programa Clip Gospel, da Emissora Televisiva Rede Gospel. Aparentemente esse deveria ser um programa que viria de encontro a minha necessidade de negociar entre as coisas que eu gostava. Apesar disso a “Mtviciada” não conseguia assistir mais que dois videoclipes do programa, eles tinham algo de diferente, algo que não conseguia prender minha atenção. Talvez o hibridismo entre a linguagem religiosa e o formato do gênero videoclipe fossem demais para a concepção e compreensão de mundo da garota que tanto buscava a junção dos “dois mundos”. Com os anos aquela jovem “crente” e “Mtiviciada” deu lugar a estudante de licenciatura em História. Vale ressaltar que decidi cursar a graduação em história justamente por causa de um programa da MTV Brasil: o Jornal MTV. O jornal além de apresentar notícias sobre o mundo musical levava um profissional para contar detalhes de sua profissão e ajudar aos jovens telespectadores a escolher uma carreira a seguir. No dia em que um historiador narrou suas experiências ao VJ Edgard Piccoli e encerrou dizendo: “Se você quer ter uma visão crítica do mundo faça faculdade de história”. Descobri desde aquele momento o curso que iria fazer. Na graduação, quando chegou o momento de escolha do tema do trabalho de conclusão de curso eu queria pesquisar algo relacionado a história da música evangélica no Brasil. O tema ficou melhor definido quando me deparei com o livro “Explosão Gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil”, da professora Magali do Nascimento Cunha, encontrado num stand de livros de um Concílio Regional da Igreja Metodista. Apesar do enfoque do livro ser a cultura gospel o tema que chamou minha atenção foi os movimentos musicais paraeclesiásticos dos anos 1960. Aprofundei minhas pesquisas num desses grupos e discuti sua relação com o período histórico brasileiro. Assim, meu TCC teve como título: “A Música Evangélica de 1968 até 1973: Alienação e Revolução” (2009) sobre a orientação da Professora Patrícia Albano Maia. Nele trabalhei a introdução de novos ritmos e estilos musicais nas igrejas locais como forma de revolução ao modelo consensualmente aceito para a música evangélica brasileira, baseado essencialmente na.

(16) 16. hinologia estrangeira traduzida. Entretanto, essa mudança só aconteceu para manter os jovens fora dos movimentos de luta contra a ditadura militar no país. Por isso trabalhamos com a ambiguidade entre a “alienação” e a “revolução”. Minhas pesquisas sobre história da música evangélica teriam parado aí se não fosse por um amigo: Jhonatan Candido. Na época ele estava fazendo faculdade de teologia na Universidade Metodista de São Paulo, e em uma de nossas conversas, na qual eu o ajudava com um trabalho da faculdade, ele me sugeriu fazer o mestrado em Ciências da Religião. Pois, segundo ele, eu deveria aprofundar minhas pesquisas e seguir a carreira acadêmica. Inicialmente a ideia me pareceu bastante distante. Refleti alguns dias sobre isso. Enquanto eu pensava na possibilidade, ele foi mais prático e dirigiu-se até secretária da pós-graduação em Ciências da Religião da UMESP e obteve todas as informações sobre a estrutura do curso e me levou um cronograma das matérias do semestre. Tive que me render a ideia e fui com ele à secretaria para me matricular em uma disciplina como ouvinte: “só para ver como funciona”. Como a escolha da disciplina foi pelo nome, me matriculei em uma ministrada pelo professor Paulo Nogueira que tinha como prérequisito leitura de textos em grego. Depois dos primeiros risos com a turma, e graças a sugestão muito sábia e atenciosa do professor, a jovem historiadora matriculou-se em uma outra disciplina que ele ministrava sobre religião e literatura. A matéria não tinha ligações com minha linha de pesquisa. Entretanto, os temas das aulas, e o envolvimento da turma como o curso me convenceram a enfrentar o mestrado. Meu projeto inicial era estudar as diferentes formas que Deus havia sido cantado na música evangélica brasileira no transcorrer do tempo. Todavia, como todo projeto acadêmico sofre alterações diante das possibilidades da pesquisa, trabalhei na dissertação as mudanças na música evangélica comparando dois períodos históricos e utilizando dois grupos musicais diferentes. E teve como título: Música, igreja e juventude: Um estudo comparativo dos Vencedores por Cristo (anos 1970) e Ministério Diante do Trono (anos 2000) (2014), sobre a orientação do Professor Leonildo Silveira Campos. O mestrado acabou e com ele veio aquela incerteza sobre continuar ou não os estudos acadêmicos. Foi nesse momento que outro amigo, que na época fazia doutorado em Ciências da religião, entrou em cena: Rodrigo Follis. Ele me fez lembrar daquela adolescente “Mtviciada” ao me enviar dois videoclipes: “Kátia não vá” e “Batismo no Ônibus”, e a sugestão que eu estudasse videoclipe gospel. A ideia dele a princípio me pareceu bastante maluca, até mesmo porque os videoclipes citados pareciam mais vídeos de humor. Entretanto, após um tempo de reflexão sobre o tema, sobre minha trajetória de.

(17) 17. vida e de pesquisa me convenci que era um objeto de estudo viável. A concretização de que aquilo tudo não era apenas uma alucinação acadêmica de amigos aconteceu quando numa conversa informal com o Professor Helmut Renders no estacionamento da Igreja, ele também percebeu uma possibilidade de pesquisa. Aquela conversa informal tornouse uma proposta concreta e assim chegamos até essa tese de doutorado.

(18) 18. Introdução A linguagem religiosa se manifesta e se manifestou através de diferentes agentes e formas no transcorrer da história da humanidade. Por isso os estudos sobre cultura visual religiosa brasileira precisam de um olhar para o videoclipe gospel. Pois, esse gênero audiovisual tem de alguma maneira transmite conteúdo religioso na pós-modernidade. Isso porque, os evangélicos brasileiros, durante muitos anos acreditaram que a centralidade de sua propagação estava na racionalidade da leitura e pregação da Bíblia, considerada a “Palavra de Deus”. Logo, um gênero audiovisual que transmite um conteúdo, uma mensagem evangélica, pode ser considerado transgressor por essência, em relação ao modelo consensualmente aceito para distribuição desse conteúdo. E é por nós considerada pós-moderna, porque partimos do pressuposto de que após o início da década de 1990 a denominada “virada icônica”, transforma a maneira de ver e estudar as imagens, pois, indica preceitos visuais de comunicação e suas expressões. Além disso, como afirma Paulo Augusto de Souza Nogueira em relação aos estudos da religião e as mídias em nossos tempos: “Como as mídias criam novas textualidades nos discursos das religiões. Temos interesse especial pelo hibridismo dos códigos” (NOGUEIRA, 2015, p. 9). Além disso: “(...) os signos visuais e, em especial suas formas híbridas (teatro, liturgia cinema, na mistura de palavra, gesto, imagem) são os mais importantes e os mais potencialmente aptos à geração de novos sentidos” (NOGUEIRA, 2015, p. 10). Como toda pesquisa acadêmica escolhas precisam ser feitas, muitas delas acontecem em função do objeto, outras da possibilidade de acesso aos materiais que podem ser utilizados para sua concretização. Cabe-nos ressaltar que quando começamos nossas primeiras leituras sobre o tema videoclipe fomos surpreendidas com os poucos estudos sobre ele. E de antemão percebemos que apesar da nossa originalidade na escolha do tema ela também representaria alguns desafios. O videoclipe é um gênero audiovisual que foi pensado originalmente para ser utilizado como peça de divulgação musical através da televisão, no qual existe a supremacia da imagem, e tornou-se uma das formas de apreciar música na pós-modernidade. É essencialmente transgressor em termos de formato, se comparado a qualquer outro audiovisual. Como todo gênero audiovisual o conteúdo passa a ser transmitido tanto pela linguagem musical quanto pela linguagem visual. Logo, nossa proposta de analisar o videoclipe gospel brasileiro busca entender: Como o formato do gênero videoclipe foi utilizado para a transmissão do conteúdo.

(19) 19. religioso. E em que medida aconteceu uma transgressão em relação ao modelo estabelecido para a transmissão desse conteúdo. Para que essa compreensão possa ser possível é preciso entender que nas últimas quatro décadas o jeito de ser dos evangélicos brasileiros transformou-se. Isso aconteceu em razão de diversos fatores, dentre os quais destacamos dois: as mudanças sociais que o país passou e a criação e expansão das igrejas denominadas neopentecostais. Essas instituições trabalham dentro de lógicas de nichos de mercado, com ênfase em públicos específicos, e ações que visam o alcance dessas pessoas. Assim, as que tem como público específico os jovens desenvolvem ações que valorizam a diversidade de estilos musicais como ferramenta de evangelização. Entretanto, a música sempre foi importante nas celebrações e nos rituais religiosos, desde as sociedades primitivas. O que a cultura gospel “trouxe de novidade” no uso da linguagem musical nas igrejas brasileiras foi a utilização dos novos ritmos e estilos que foram criados durante o século XX, que por muitos anos foram considerados “profanos”. Bem como a utilização em maior escala dos mecanismos da indústria fonográfica em relação a produção e divulgação musical. Vale ressaltar que em outros momentos históricos, a negociação e reciprocidade entre o que era considerado música “sagrada” e “profana” também aconteceu, entretanto, no Brasil, o estilo baseado no uso de hinos europeus e estadunidense traduzidos prevaleceu como consensualmente como o modelo de música “sagrada”. Se novos ritmos e estilos eram utilizados, novos instrumentos musicais também entraram em cena, e a exclusividade da utilização do órgão e do piano, considerados sacros por excelência desde a chegada dos primeiros missionários evangélicos ao Brasil, foi perdendo espaço. A utilização de novos instrumentos e ritmos nas igrejas evangélicas brasileiras já haviam ocorrido em algumas denominações nas décadas de 1950 a 1970. Essas décadas foram marcadas por movimentos musicais paraeclesiásticos, seguindo os modelos avivalistas dos EUA, que utilizavam ritmos contemporâneos “profanos” e os grupos musicais ligados a teologia da libertação que buscavam a implementação de ritmos latinos e brasileiros, em iniciativas isoladas. Contudo, a mudança musical mais abrangente nas igrejas evangélicas aconteceu a partir da segunda metade da década de 1980, através do estabelecimento da cultura gospel, que para além dos usos dos novos estilos e ritmos musicais na liturgia evangélica passou a receber influências da forma de produção da indústria cultural musical. Dentro desses mecanismos de produção fonográfico está a criação do “ídolo musical”, que na esfera da música secular contribui para o lançamento de moda e comportamento, e na.

(20) 20. esfera do gospel ajuda a desenvolver a “moda religiosa” e o modelo de conduta evangélica a ser seguido. Os encontros musicais desses cantores e bandas gospel ultrapassaram as barreiras dos momentos cúlticos e de celebrações dentro das igrejas locais e tornaram-se comuns suas apresentações em programas de rádio e televisão de emissoras seculares. Como o padrão da música gospel estava mais próximo das lógicas do mercado fonográfico do que da música utilizada no culto, de repente, novas formas de divulgação musical foram utilizadas dentre as quais, a incorporação do gênero audiovisual videoclipe. Nas últimas décadas, aspectos da cultura gospel tem sido objeto de estudo de muitas pesquisas, que buscavam temas como análise de canções, grupos e cantores específicos, influência da indústria cultural, grupos das denominações neopentecostais, a história da música evangélica brasileira, eventos, capas de CDs. Entretanto, nenhuma delas se dedicou a aprofundar questões relacionadas ao videoclipe gospel brasileiro. Por isso nossa proposta de objeto de pesquisa. Pois, a linguagem musical e a linguagem visual são fundamentais para as experiências religiosas dos fiéis em todos os tempos históricos, nas diferentes culturas. Se na contemporaneidade, a cultura gospel brasileira tem antes expresso, ou em determinados casos construído, a relação dos fiéis com suas experiências religiosas. E trazendo um modelo para suas práticas de fé. Dessa maneira todas as ferramentas que ela utiliza para esse fim precisam ser melhor estudadas e entendidas a partir de seus mecanismos de composição, isso porque, através dessas pesquisas podemos perceber como a linguagem religiosa, em especial no nosso caso a linguagem visual, se constitui, para que possamos entender as relações que os seres humanos têm com o transcendente na pós-modernidade. Então, se na lógica da cultura gospel brasileira a experiência religiosa também está relacionada com o entretenimento, e o videoclipe faz parte do entretenimento musical em nosso tempo, o videoclipe gospel brasileiro torna-se um objeto a ser estudado. Especialmente para a compreensão de como a religião, particularmente o cristianismo evangélico, tem relacionado seu conteúdo religioso com o formato audiovisual para a transmissão de sua mensagem. E perceber em que medida essa relação é transgressora. Assim, surge nossa hipótese principal: existe uma relação mútua entre as características da cultura da música gospel brasileira e a linguagem visual religiosa utilizadas no formato do videoclipe gospel brasileiro1.. 1. A riqueza de todos os detalhes relacionados a nossa hipótese se desenvolverão no transcorrer do capítulo..

(21) 21. Afinal, com o transcorrer do tempo, os estudos sobre a religião buscaram a compreensão das relações do fiel com o transcendente, bem como os mecanismos culturais para que essa relação acontecesse. Assim, a transmissão do conteúdo religioso utilizou de diferentes ferramentas das linguagens musical e visual em muitas oportunidades, aproveitando das tecnologias que aperfeiçoaram e transformaram seu formato de produção. Cinema, rádio, televisão e internet, foram os meios pós-modernos para a distribuição de conteúdo religioso por som e imagem. O videoclipe surgiu dentro desse contexto. Sua aceitação pelo público, seu uso pelos artistas musicais, suas possibilidades de experimentação entre os produtores, e as mudanças de perspectivas dentro dos estudos acadêmicos recentes permitiram que o videoclipe atingisse o patamar de gênero audiovisual. Principalmente porque ele se preocupa em difundir ideias tanto através da linguagem musical, quanto da linguagem visual, para além da intenção publicitária. A apreciação do videoclipe tornou-se tão naturalizado na nossa cultura nas últimas quatro décadas, especialmente pelas gerações pós anos 1980, que todos que estão envolvidos na indústria fonográfica precisam produzi-lo para utilizá-lo como ferramenta de divulgação. Recentemente, com as possibilidades de distribuição de conteúdo audiovisual com plataformas específicas através da internet, um artista musical ao lançar um novo álbum musical pode simultaneamente lançá-lo em sua integridade como videoclipes. A cultura gospel em seu ramo musical, percebeu que dentro da lógica de distribuição e consumo fonográfico também precisava produzir videoclipes para o seu cast. Todavia, como toda a lógica de produção religiosa, que para além dos atuais interesses de mercado, existe a necessidade da divulgação do conteúdo religioso, visando o aumento de sua membresia e propagação de suas ideias. Portanto, acreditamos que o estudo do videoclipe gospel brasileiro é necessário. Além de acreditarmos que nosso objeto de estudo e tema possuem uma originalidade nos estudos da linguagem visual religiosa contemporânea. Pois, até o momento nenhuma outra pesquisa dedicou-se a estudar exclusivamente o videoclipe gospel brasileiro. E uma pesquisa no campo das linguagens da religião que visa explorar um objeto ainda não estudado que possui um espaço relevante na forma pela qual os seres humanos se relacionam com a religião com as criações variadas da pós-modernidade. Diante disso, nosso estudo tem como objetivo geral analisar a transmissão de um conteúdo gospel no formato do gênero videoclipe, e suas possíveis transgressões. E como objetivos específicos apresentar numa perspectiva histórica conceitual a relação do cristianismo, mais especificamente os evangélicos brasileiros, com as linguagens visuais.

(22) 22. e musicais. Apresentar numa perspectiva histórica gênero videoclipe e a cultura gospel brasileira e realizar uma análise da influência mútua entre o conteúdo da cultura e a linguagens visual e musical no videoclipe gospel brasileiro. Como já destacamos anteriormente, na escolha do caminho que tornaria nossa pesquisa possível, muitas possibilidades foram levantadas. E toda escolha gera a renúncia de tantos outros caminhos. Além disso, quando as leituras sobre videoclipe avançavam, avançava também a percepção, de que ao contrário do que acontece nas análises de filmes, que podem ser feitas a partir de diferentes correntes e linhas de pensamento, o videoclipe, por suas características peculiares não possui ainda uma teoria que poderia ser utilizada para nossa finalidade. Foi necessário então, a junção de dois estudos em especial para que pudéssemos chegar ao nosso objetivo de análise do videoclipe, e porque não afirmar de maneira metafórica que essa junção é hibrida e sobreposta tal qual um videoclipe. Assim utilizaremos o a pesquisa de Danilo Teixeira Bechara (2003), Videoclipe Uma Ideia Central; a pesquisa de Andrea Michelle dos Santos Diogo (2018), “Sound and Vision”: a videografia de David Bowie (1969-2017). Contributos para o estudo do videoclipe. Através dessa união analisaremos as questões técnicas, de formato e narrativa do gênero videoclipe. Além da união dessas três pesquisas para a análise do formato do videoclipe, outros pensadores que nos ajudam a conceitual o que é um videoclipe e sua história, em especial no Brasil, são eles: Tiago Soares (2004; 2013), Guilherme Bryan (2005;2011) Ariane Diniz Holzbach (2016); Roberto Maia Icizuca (1992); Zico Goes (2014), entre outros. Ainda sobre a relação entre conteúdo e formato do videoclipe gospel utilizaremos o conceito de audiovisão de Michel Chion, em especial o seu livro “A audiovisão: Som e Imagem no Cinema”. Para a discussões sobre as características da cultura gospel brasileira, nossa principal teórica será Magali do Nascimento Cunha, através do seu livro A Explosão Gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Além dos estudos de Joêzer Mendonça (2014) e Lucas Ávila (2017). Para a melhor compreensão da relação entre o conteúdo da letra da canção e a narrativa visual do videoclipe, bem como sua relação com a cultura gospel também realizaremos uma análise das letras das canções. Assim, utilizaremos os conceitos da análise do discurso, em especial as discussões propostas para a análise do discurso religioso segundo os estudos de Eli Pulcinelli Orlandi (1987; 2015)..

(23) 23. Portanto, o caminho de análise que desenvolvemos em nossa tese está baseado na junção especialmente de três pesquisas. Assim sendo, trabalharemos com as ideias de análise de videoclipe elaboradas por Danilo Teixeira Bechara (2003), Michel Chion (2016), e principalmente as de Andrea Michelle dos Santos Diogo (2018). Foi nossa opção utilizar um autor brasileiro, uma autora portuguesa e um autor francês, de diferentes épocas e abordagens para poder construir nossa própria analise do videoclipe com diferentes olhares sobre o mesmo gênero. Bechara parte do princípio de que todo o videoclipe tem uma ideia central e esta é desenvolvida a partir de elementos caracterizantes de formato, ou seja, alguns elementos que sobressaem conforme o objetivo da ideia central. Utilizaremos os 16 elementos de ideia central que ele destaca para observarmos aspectos relacionados ao formato do gênero. Já de Diogo, utilizaremos as classificações que a autora propõe para a observação da constituição das características do videoclipe. Chion, propõe o conceito de audiovisão, em relação as análises de cinema, que, todavia, podem e serão por nós utilizadas para a observação do videoclipe. Para o autor a visão e a audição possibilitam diferentes percepções, na apreciação de um audiovisual, ou seja, uma cena pode ser vista sem áudio, ou sem imagens e com a junção de ambos e possibilitar diferentes sensações para o público. Partindo dessa linha de raciocínio observaremos se ao assistirmos um videoclipe gospel sem o áudio é possível identificar, apenas através da linguagem visual se ele traz um conteúdo religioso. Além disso, também realizaremos a análise da letra da canção, isso porque, é uma de nossas intenções observar como a linguagem musical buscou uma sincronia, ou uma diacronia, ou sequer se preocupou com isso na sua linguagem visual. Por isso utilizaremos alguns princípios da análise de discurso, especialmente as discussões de Eni Pulcinelli Orlandi. Além, é claro, da análise de conteúdo, baseado na cultura gospel e nos temas cristãos e das narrativas bíblicas. Nosso método será a pesquisa bibliográfica com estudos descritivos do videoclipe gospel brasileiro, a partir da observação para análise e síntese de conteúdo, formato e transgressões. Sendo assim, nossa bibliografia básica é composta por livros, artigos, teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso. No que se refere ao tema videoclipe foi necessário leituras e pesquisas realizadas em diferentes áreas do conhecimento. Isso aconteceu porque ele ainda é um assunto relativamente recente nos estudos acadêmicos por ter sido considerado por muito tempo apenas pelo seu valor publicitário e não como um gênero audiovisual. Assim, para compreendê-lo em suas faces publicitárias, audiovisuais e técnicas foi necessário buscar pesquisas em temas que tangenciam a.

(24) 24. comunicação, a publicidade, a propaganda e o cinema, especialmente porque nossa tese pretende ter um caráter interdisciplinar. O caminho que escolhemos seguir para o material de observação é a análise foi a difícil tarefa de entre tantos videoclipes conseguir escolher apenas quatro para a análise desse presente trabalho. Cabe-nos aqui alguns apontamentos, nossa intenção inicial era analisar 20 videoclipes, no período de uma década, entre 2006 até 2016. Utilizando como base de dados os videoclipes mais executados em três programas que os exibiam em emissoras religiosas. Contundo, alguns problemas aconteceram logo no início ao tentarmos os primeiros contatos com as emissoras. Isso porque algumas sequer responderam nosso contato, e a única que respondeu revelou que a emissora nunca se preocupou em fazer uma lista dos videoclipes que exibia por programa, não havia tipo algum de arquivo sobre isso. Quando perguntamos se ao menos a lista, que teoricamente deveria ser enviada ao ECAD para garantir os direitos autorais, existia, recebemos a resposta que a emissora não se considerava comercial e tal lista nunca existiu. Percebemos que além de não conseguirmos os dados que queríamos ainda poderíamos arranjar um problema em relação a lei do direito autoral para a emissora. Bem, como julgamos que a falta de reposta das demais emissoras as nossas solicitações poderiam estar relacionadas ao mesmo tipo de questão. Diante da impossibilidade dessa obtenção dos dados, como imaginávamos a princípio, e não querendo entrar em nenhum problema maior, resolvemos mudar nossa escolha de material a ser analisado. Vale ressaltar ainda que em função da falta de acesso aos materiais relacionados aos programas que foram pioneiros na exibição de videoclipes gospel nosso desejo de construir um panorama histórico do videoclipe gospel brasileiro também ficou totalmente comprometido, porque sem os dados das emissoras, e nenhum outro estudo ou material que possibilita essa construção não conseguimos realizá-lo. Todavia, realizamos buscas de videoclipes antigos que foram postados no YouTube e conseguimos perceber que uma das primeiras bandas a utilizar o gênero videoclipe dentro da cultura gospel foi Rebanhão, a partir do início da década de 1990, todavia, a falta de informações precisas sobre o ano de sua criação também nos fez desistir da análise desses videoclipes. Em relação a escolha do material a ser analisado, como sugerido tanto por nosso orientador quanto pela mesa de leitores da qualificação, focamos nossa análise em quatro videoclipes, escolhidos entre os anos de 2007 até 2014. Escolhemos os videoclipes em termos de sua originalidade e seu impacto na transmissão de um conteúdo religioso. Conscientes de que outros tantos poderiam ser escolhidos, entretanto, cientes de que os escolhidos já revelariam aspectos que gostaríamos de.

(25) 25. enfatizar na relação mútua entre o formato e o conteúdo. Nossa opção foi escolher um cantor e uma cantora que já produziam álbuns antes da consolidação da cultura gospel brasileira, que, contudo, com o transcorrer dos anos foram incorporando elementos desta em sua produção, a saber Kleber Lucas e Andrea Fontes. Um cantor que fez carreira na música secular e posteriormente migrou para a música gospel, Thalles Roberto. E um cantor que aparece quando a música gospel está bem estabelecida, Gui Rebustini. Do cantor Kleber Lucas analisaremos o videoclipe A cruz Vazia, produzido em 2014. Da cantora Andreia Fontes, um dos videoclipes que foi a primeira inspiração para nossa pesquisa sobre videoclipe, Batismo no Ônibus de 2007. Do cantor Thalles Roberto o videoclipe Filho Meu, especialmente, porque a letra da música foi recebida com muita polêmica entre os teólogos brasileiros. E de Gui Rebustini Nosso Deus (Our God), que foi campeão na categoria de melhor videoclipe do ano do Troféu Promessas 2013. Acreditamos que através da análise desses quatro videoclipes poderemos abrir caminho para futuras pesquisas com a mesma temática. Os três capítulos de nossa tese foram divididos em duas partes cada um. O primeiro está dividido entre a relação do Cristianismo, particularmente os evangélicos e especialmente os brasileiros se relacionaram com as linguagens musicais e visuais no transcorrer do tempo. Estamos utilizando metaforicamente o conceito de que assim como um videoclipe é fragmentado e sobreposto, nossa viagem histórica panorâmica também terá essa característica. Por isso, nossos apontamentos históricos sobre a relação, e alguns casos na construção do formato musical, do visual, dos seus conteúdos e das suas transgressões ao ser utilizado pela linguagem religiosa. Isso porque essa relação não foi retilínea, em alguns momentos foi necessário dialogar com as mudanças culturais e as evoluções tecnológicas, em outros foi preciso ressignificar doutrinariamente para que esses elementos pudessem ser utilizados tantos nas celebrações cúlticas quanto pelos fiéis. Ao longo da história modelos musicais e visuais foram se constituído, buscando separar o que era sagrado do que era considerado secular, ou profano. Para quebrar esses modelos aconteceu o que estamos denominando transgressões. Partiremos do uso de som e imagem pelos povos primitivos, depois abordaremos o período da Idade Média, da Idade Moderna e da Pós-modernidade. Isso em termos de linguagem musical vai desde a concepção dos sons e sua criação organizada que dá origem a música, até sua divulgação através das ondas do rádio. E em termos de imagens suas primeiras utilizações entre os povos primitivos até a produção e reprodução da imagem em movimento através do cinema e da televisão. A primeira parte do capítulo aborda a linguagem musical e a.

(26) 26. segunda a linguagem visual. Esse primeiro capítulo se faz necessário para que possamos perceber como as linguagens visuais musicais foram se estabelecendo, tanto como posição oficial da instituição religiosa ou como modelos consensualmente aceitos tanto em relação aos formatos quanto dos conteúdos, e quando e o quanto essa utilização foi uma transgressão. Especialmente porque a utilização de audiovisual como o videoclipe não é uma novidade na linguagem religiosa, e sim uma adaptação ao espírito da época como aconteceu com outros formatos de música e imagem. Bem, como é preciso perceber quais os conteúdos religiosos são comumente utilizados nessas produções. O segundo capítulo também dividido em duas partes. Na primeira abordaremos a história do videoclipe, particularmente no Brasil, essa história está dividida em três fases: A fase Videoclipe no Programa Fantástico, a fase MTV Brasil e a fase da internet. Cada uma imprimi uma característica diferente a este audiovisual. Também identificaremos suas principais características em termos de gênero audiovisual. Para isso utilizares a concepção de vários pesquisadores, como já citamos anteriormente. A segunda parte do capítulo irá se dedicar a narrar a história da cultura gospel desde seu início, da sua construção, bem como seu estabelecimento no Brasil. E seus quatro pilares de estruturação: música, mídia, consumo e entretenimento. Também trataremos de suas principais características, em especial o que se refere a linguagem musical. Decidimos construir esse capítulo com a história do videoclipe bem como da cultura gospel junto porque ambos se desenvolveram de forma contemporânea. Através dele poderemos entender nosso objeto de estudo, o videoclipe gospel brasileiro, bem como suas características enquanto gênero audiovisual e em relação ao conteúdo da música gospel, além de identificar suas transgressões. O terceiro capítulo se dedica à análise do videoclipe gospel. Ele também está dividido em duas partes, na primeira conceituamos e as teorias que utilizamos para a análise, e como fizemos realizamos a função de pensamentos para poder chegar no nosso objetivo. Utilizando, como já citado, os conceitos de Bechara, Bryan, Diogo e Chion formamos a análise enquanto gênero audiovisual. Em nossa análise do audiovisual estarão elementos relacionados ao formato, questões técnicas (luz, cor, enquadramento etc.), de narrativa e de categorização. Posteriormente, também conceituamos a teoria de análise de discurso religioso, que utilizaremos para análise da letra da canção, utilizando especialmente os conceitos da Orlandi. Na segunda parte do capítulo cada um dos quatro videoclipes, A cruz Vazia (2014), Batismo no Ônibus (2007), Filho Meu (2013) e Nosso.

(27) 27. Deus (2013). Em cada um dos videoclipes também trazemos informações sobre a carreira dos cantores e da cantora, além de uma breve descrição do videoclipe. É necessário ainda nessa nossa introdução da tese definir o significado de alguns termos que utilizaremos. O primeiro deles é a palavra formato, que utilizaremos no sentindo de: “Estrutura de uma programação de rádio ou televisão, geralmente representada por um esquema a ser seguido pelos roteiristas e programadores. (...) O arranjo definido de um determinado suporte” (RABAÇA; BARBOSA, 2001, p. 321-322). Ou ainda, como o sentindo da palavra forma que se refere ao: “(...) princípio de organização da expressão em uma obra, em vista de um efeito de sentindo ou de afeto” (AUMONT; MARIE, 2006, p. 134). O segundo é a palavra conteúdo, utilizando: “(...) para designar os fatos, os conhecimentos pelos quais ela é enriquecida, que podem ser apreciados independente de suas qualidades estéticas” (AUMONT; MARIE, 2006, p. 60). A matéria do conteúdo, que: “(...) é o conjunto semântico das significações que uma linguagem está em condições de exprimir. Instância comum a todas as linguagens, tendo em vista que todas têm por função transmitir sentido” (AUMONT; MARIE p. 60). E a forma do conteúdo que: “(...) é tudo o que assegura o recorte e a organização de uma matéria semântica em unidades pertinentes de significação” (AUMONT; MARIE, p. 60). Ela pode ser classificada em três níveis, em relação ao cinema, que, contudo, pode nos ajudar na compreensão em relação ao conteúdo religioso: temas ou gêneros; a maneira como um cineasta trata um tema num filme e a organização interna e a maneira de agenciar as diferentes sequências de um tema dominante (AUMONT; MARIE, 2006). O terceiro termo que definiremos é a palavra transgressão que no grego (παράβασις : parábasis) significa “ultrapassagem, extrapolação, transgressão” (BAUER; ARNDT;GINGRICH, 2001). Do latim (transgressio) “passar além, violar, transgredir, infringir” (SILVA, 2010). Partiremos assim do princípio de que todo o uso da linguagem musical ou da linguagem visual pela religião, quebraram os modelos estabelecidos por esta, ele transgrediu, pois, entendemos o próprio videoclipe como uma transgressão dos modelos visuais e estéticos estabelecidos para um gênero audiovisual até o momento de sua criação. Outro termo que precisamos definir é nossa escolha pela palavra evangélico, estamos entendendo que a palavra em nosso texto terá o sentindo de se referir: “(...) as pessoas que pertencem ao conjunto de igrejas neopentecostais, pentecostais e protestantes” (RENDERS, 2018, p. 12). Todavia, sabemos de sua limitação e: “(...) não defendemos que essas igrejas sejam consideradas doutrinariamente próximas nem que elas possuam uma agenda em comum”. (RENDERS, 2018, p. 12). O termo protestante.

(28) 28. será utilizado quando nos referirmos especificamente a Reforma Protestante de Martinho Lutero. Bem como, quando os autores que utilizamos usarem essa e outras expressões que são utilizadas para classificar as diferentes denominações evangélicas no Brasil. Ou ainda quando alguma especificidade doutrinária precise ser ressaltada. Para além das discussões teóricas sobre os termos “sagrado” e “profano”, em nosso caso utilizamos a palavra “sagrado” quando nos referimos as questões sobre linguagem religiosa, e “profano” em relação ao que não é religioso, e para esse conceito também utilizaremos a palavra “secular” em alguns casos. Uma outra expressão que utilizamos e que precisa ser conceituada é a “modelo consensualmente aceito”. Estamos partindo do pressuposto de que os modelos de formatos e os conteúdos das linguagens musicais e visuais podem ser estabelecidos tanto de modo institucional, pelas próprias instituições religiosas, quanto por modelos que não estão nos documentos oficiais, que, contudo, por seu uso contínuo, abrangente e costumeiro nas igrejas locais, e pela membresia das comunidades tornaram-se modelos consensualmente aceitos. Acreditamos que em alguns casos esses modelos têm tanta, ou maior força, do que os próprios modelos oficiais. Cabe-nos ainda nessa introdução destacarmos uma opção que fizemos ao que se refere a não utilização de imagens em nosso trabalho. Pois, estamos analisando o videoclipe em termos do seu formato e características audiovisuais, e se optássemos por colocar imagens perderíamos em termos de análise do gênero como um todo. Isso porque uma das características do formato é a sobreposição de imagens de forma veloz. Além disso como argumentam Jacques Aumont e Michel Marie, em relação a análise de filmes, que podemos aplicar em relação ao videoclipe: “(...) a decomposição plano a plano contribui por definição, para perpetuar o privilégio unanimemente (e muitas vezes inconsciente) concedido a imagem” (AUMONT; MARIE, 2013, p. 52). Eles ainda destacam que: “Os gestos, mímicas e situações fixados mais ou menos arbitrariamente pela pausa transforma-se profundamente, ao ponto de às vezes lhes percebemos o sentido contrário” (AUMONT; MARIE, 2013, p. 75). Em função disso nossa escolha de não colocarmos imagens em nossa pesquisa..

(29) 29. Capítulo Um Linguagens Religiosas Cristãs Visuais e Musicais: Uma História de Formatos, Conteúdos e Transgressões “A música é a linguagem universal, porque todos os sentidos humanos são expressos por ela e feitos bem claros a todos os homens”. (FransLiszt). “Falamos em um mundo, vemos em outro. A imagem é simbólica, mas não tem as propriedades semânticas da língua: é a infância do signo. Esta originalidade dá-lhe um poder de transmissão inigualável. A imagem faz o bem porque cria vínculos. Mas sem comunidade, não há vitalidade simbólica. A privatização do olhar moderno é, para o universo das imagens, um fator de anemia”. (Régis Debray).. Introdução Para discutir a mútua relação entre o formato, o conteúdo e identificar as transgressões do videoclipe gospel brasileiro é preciso primeiramente perceber com a religião, especialmente o cristianismo, e mais particularmente, as denominações evangélicas brasileiras se relacionaram com as linguagens musicais e visuais no transcorrer do tempo. Por isso, este Capítulo Um visa construir um cenário sobre esses processos. Faremos um panorama histórico conceitual sobre a relação dos conteúdos, dos formatos e das transgressões na utilização da imagem e da música pela linguagem religiosa. Tal como um videoclipe, fragmentado e sobreposto, metaforicamente, nossa construção histórica irá seguir uma ordem cronológica dos fatos, com uma narrativa linear, que começa nos povos primitivos e chega até o uso da televisão e do rádio pelos evangélicos brasileiros. E que, contudo, em termos de apontamentos sobre formato, conteúdo e transgressão será fragmentada e sobreposta. Não buscaremos aqui uma longa história do uso das linguagens visuais e musicais e sim, destaques e apontamentos de momentos que julgamos necessários para a compressão histórica de todas essas relações. Como método neste capítulo utilizaremos a pesquisa bibliográfica, utilizando diferentes autores e autoras com diferentes abordagens. Acreditamos que esse panorama será útil para nossa análise de videoclipe, pois, para a compreensão dos três eixos bases de nossa.

(30) 30. pesquisa, conteúdo, formato e transgressões, é preciso entender como ele foram sendo construídos, hora sendo aceitos como modelo oficial ou como consensualmente aceitos pelas instituições religiosas. Assim sendo, o capítulo está dividido em duas partes, na primeira discorremos sobre a linguagem musical, e na segunda a linguagem visual e suas relações com o Cristianismo. Começamos o primeiro item discorrendo sobre a relação dos seres humanos com o som, até a produção de música pelos povos primitivos e sua relação com a religiosa. No segundo item faremos um salto histórico para a Idade Média, especificamente o período entre os séculos VI e XVI. Período este no Cristianismo Católico Romano no qual o modelo de música sacra se estabelece através do Canto Gregoriano. Além do mais, nesse item discorreremos sobre como o formato da linguagem musical foi se estabelecendo através de religiosos cristãos. Posteriormente a fragmentação histórica sobreposta aborda a reforma no formato da linguagem musical cristã com a Reforma Protestante de Martinho Lutero e as mudanças da Igreja Católica Romana com o estilo Palestrino. Do início da Idade Moderna vamos para o fim do século XIX, tempo esse marcado por uma profunda transformação no formato da linguagem musical causado pela possibilidade de reprodução e gravação através da invenção de diferentes aparelhos. A partir desses itens discorreremos sobre a relação dos evangélicos brasileiros com a música e como eles foram se relacionando, ou se adaptando ao uso dessas tecnologias. Destacaremos três modelos musicais dos evangélicos brasileiros anteriores a cultura gospel, a hinologia, dos primeiros missionários e que foi o estilo sacro consensualmente aceito como modelo durante muitas décadas, os corinhos com os grupos musicais paraeclesiásticos a partir da década de 1950, e dos movimentos que buscavam uma brasilidade da música sacra brasileira. Ao discorrer sobre esses grupos abordaremos também os conteúdos das letras das canções. Esperemos que com esses fragmentos de períodos históricos se torne possível perceber como a linguagem musical evangélica no Brasil foi se construindo. Na segunda parte do capítulo os fragmentos históricos se relacionam a linguagem visual, assim começamos a abordagem a partir da relação dos povos primitivos com a imagens, e como ela é percebida pelos seres humanos, para isso, em alguns momentos utilizaremos teóricos da História da Arte para construir esse panorama. Posteriormente, nossa fragmentação história chega a Idade Média e a Idade Moderna para descrever a relação entre as imagens, os cristãos católicos romanos e os reformadores protestantes. A partir, especialmente das três percepções do uso da imagem: a iconofilia, o iconoclasmo.

(31) 31. e a iconolatria. As percepções diferentes desses grupos levaram a momentos de tensão entre as instituições e os membros das igrejas. Com isso, pretendemos evidenciar que a relação entre imagem e o Cristianismo vai se transformado, com constantes movimentos de mudança de entendimento. Nos itens finais da segunda parte do capítulo nosso panorama histórico fragmentado chega ao Brasil para discorrer sobre essa relação que foi sendo construídas entre os católicos romanos e dos evangélicos com a linguagem visual. Terminamos o capítulo discutindo a mudança no formato na utilização da linguagem visual pelos seres humanos através da imagem em movimento, após a invenção do cinema e posteriormente da televisão, enfatizando seu uso pelos evangélicos brasileiros. Acreditamos que através da construção desse cenário histórico será possível perceber a relação do Cristianismo com os formatos, conteúdos e as transgressões no uso das linguagens visuais e musicais pela linguagem religiosa ao longo do tempo que nos preparam para o entendimento e as análises do videoclipe gospel brasileiro. Vale ainda destacar que nosso objeto de estudo é híbrido, nossa pesquisa é interdisciplinar. Em função disso estamos em constante diálogo com outras áreas do conhecimento para expandir nossos apontamentos e argumentação. Por isso, é necessário nesta introdução discutirmos ainda alguns aspectos da relação modelo estabelecido e a transgressão. Nesse sentindo tomaremos como base os fundamentos de Thomas Samuel Kuhn, que discute as relações de paradigma e rupturas em relação a estrutura das revoluções científicas. Apesar da discussão de Kuhn estar relacionada a história do desenvolvimento científico, acreditamos que seus conceitos podem ser aplicados em nossa perspectiva de modelo e transgressão. Kuhn, ao argumentar sobre um caminho para a construção histórica do pensamento científico, especialmente no ocidente, pensa essa relação em relação ao que denomina paradigma e ruptura de paradigma, ou seja, alguma teoria científica estabelece um paradigma, que como o transcorrer do tempo é superado por uma ruptura, total ou parcial em relação a teoria anterior. O que o autor denomina paradigma, em nosso caso é o que chamaremos na pesquisa modelo estabelecido, todavia, suas definições sobre paradigma partem do mesmo pressuposto do que queremos estabelecer em relação ao modelo. Para Kuhn, o paradigma pode ser compreendido através de dois conceitos diferentes: De um lado, indica toda a constelação de crenças, valores, técnicas etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada. De outro, denota um tipo de elemento dessa constelação: as soluções concretas de quebra-cabeças que, empregadas como modelos ou.

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