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Imagens em movimento: O formato do cinema e seu uso pelos evangélicos

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1.2. A linguagem visual e o Cristianismo

1.2.3. Imagens em movimento: O formato do cinema e seu uso pelos evangélicos

Com o passar dos séculos, as evoluções tecnológicas e as criações de novas invenções possibilitaram o desenvolvimento de meios diferentes de se produzir e distribuir imagens. Até a chegada de aparelhos que possibilitaram a criação e a reprodução de imagens em movimento. Tais fatos aconteceram a partir do final do século XIX com a criação do cinema, e desde então, a maneira de se consumir imagens pela humanidade nunca mais foi a mesma. A religião também foi adaptando seu discurso para se relacionar com essas novas possibilidades de distribuição de imagens. Entretanto, para chegar ao formato imagem em movimento foi necessário que a humanidade conseguisse produzir imagens reais e isso só foi possível com a criação da fotografia, num processo gradual desenvolvido por diferentes inventores. Entretanto a grande revolução no que tange a distribuição das imagens em movimento aconteceu com a invenção do cinema, no finalzinho do século XIX. A primeira exibição cinematográfica pública aconteceu em 28 de dezembro de 1895, em Paris, numa tela do “Grand Café”, através da exibição de filmes curtinhos, em preto em branco, que foram gravados com câmera parada. Dentre eles um mostrava: (...) “a vista de um trem chegando na estação, filmada de tal forma que a locomotiva vinha vindo de longe e enchia a tela, como se fosse se projetar sobre a plateia. O público levou um susto, de tão real que a locomotiva parecia” (BERNARDET, 1985, p. 12). Essa reação de susto e surpresa do público ao ver a imagem em movimento do trem numa tela grande, ainda que sem som, já que no início o cinema era mudo, já foi capaz de demostrar como o público se envolveria com a mistura de sensações entre a realidade e a ilusão través da reprodução das imagens em movimentos (BERNARDET, 1985).

Através da denominada “magia do cinema” as imagens ganham movimento e criam um mundo paralelo através da arte da ilusão. Ilusão essa que a humanidade só havia experimentando quando sonhava. O cinema foi capaz de juntar ilusão e realidade. E por causa desse poder é que o cinema gera em seu público tamanho fascínio, mesmo depois de mais de um século de sua criação. Como um ritual pós-moderno de entretenimento

milhões de pessoas ao redor do planeta frequentam salas de cinema após o lançamento de um filme. O cinema foi capaz de criar uma linguagem nova, universal, porque é feita para todas as pessoas, pois: “Ao contrário da escrita, que as palavras estão sempre de acordo com um código que você deve saber ou ser capaz de decifrar (você aprende a ler e a escrever), a imagem em movimento estava ao alcance de todo mundo” (CARRIÈRE, 2014, p. 18). O cinema desenvolveu-se como uma arte capaz de envolver outras artes: “Quando ganhou a fala em 1930, requisitou o serviço de escritores; com o sucesso da cor, arregimentou pintores; recorre a músicos e arquitetos. Cada um contribuiu com sua visão, com sua forma de expressão” (CARRIÈRE, 2014,p. 21). Mesmo depois da criação da televisão e mais recentemente da internet como meios de criação e distribuição das imagens em movimento o cinema sobreviveu, segundo Jean-Claude Carrière por ser: “Uma linguagem que continua em mutação, dia a dia, como reflexo veloz dessas relações obscuras, multifacetadas, complexas e contraditórias: as relações que constituem o singular tecido conjuntivo das sociedades humanas” (CARRIÈRE, 2014, p. 21). O cinema preservou uma das características que imagem possui desde os povos primitivos: a ideia da presença da ausência, como uma maneira do ser humano vencer a morte. Pois: “a imagem filmada constitui, de longe, a única vitória que temos sobre a morte. O cinema é a continuação da vida, com a aparência da vida prevalecendo sobre a morte. Vivemos para sempre com os nossos fantasmas” (CARRIÈRE, 2014, p. 204).

Assim como em outros momentos históricos em diferentes culturas, a religião, no caso do nosso recorte especificamente o cristianismo, adaptou-se rapidamente ao novo meio artístico de comunicação em massa. Todavia, ele não agradou a todos. Algumas denominações cristãs perceberam e ainda percebem no cinema uma ameaça as suas doutrinas e a suas interpretações bíblicas, em função disso acontecem a censura, a pressão e a própria produção realizada pelas instituições religiosas, cuja “(...) a finalidade principal era garantir a qualidade moral dos produtos cinematográficos e midiáticos que seriam consumidos por seus fiéis e por toda a sociedade” (VADICO, 2015, p. 42). Já os roteiristas e as produtoras de cinema perceberam na religião, nos temas religiosos, um nicho de público para o sucesso garantido de bilheteria. Dessa maneira, com o transcorrer do tempo surgiram duas fontes de produção de filmes com conteúdo religioso: os produtores confessionais e os produtores não confessionais. Os produtores confessionais “(...) pertencem a uma instituição religiosa e servem aos seus propósitos” (VADICO, 2015,p. 30). Enquanto os filmes dos produtores não confessionais são produzidos por “(...) produtoras e estúdios quem tratam de temas e assuntos religiosos esporadicamente,

conforme suas necessidades de mercado e podem, às vezes estarem mais próximos à conveniência de alguma instituição religiosa” (VADICO, 2015, p. 30).

Luiz Vadico acredita que não existe um gênero específico de filmes religiosos, e sim um campo de expressão e de manifestação do religioso nos filmes considerados religiosos, pois:

(...) sua diversidade produtiva, dinâmica de mercado e instituições e os seus múltiplos gêneros, observamos que esses filmes obedeciam às necessidades afetivas e efetivas de expressão e manifestação religiosas e não às regras de produção cinematográficas, mesmo tendo que dialogar com estas (VADICO, 2015, p. 24).

Por definir a produção de filmes religiosos não como um gênero e sim como um campo, Vadico define as características desse campo da expressão e manifestação religiosa: Tema ou assunto religioso, socialmente reconhecido como tal; a busca de despertar as emoções especificamente ligadas ao mundo religioso (tais como: compaixão, arrependimento, esperança, e que desejar fortalecer a fé dos seguidores); a produção fílmica possui alguma forma de teologia; participação dos consultores religiosos em suas produções; vinculação à instituições de origem religiosa; a intenção da produtora ou do cineasta em fazer um filme que trate do sagrado; produto “outro”, ou seja diferenciado, puro adequado; garantia do conteúdo diferenciado, puro, adequado; são militantes por não causarem a indiferença (VADICO, 2015.)

No Brasil o uso do cinema pelas instituições religiosas com intenção de distribuição de conteúdo confessional é relativamente recente, especialmente porque a própria indústria cinematográfica brasileira passa por constantes oscilações, com períodos de produções de qualidade com distribuição em grande escala e períodos de quase inexpressiva produção. A maior parte do que se consome em termos de cinema no Brasil é importado, especialmente, dos EUA. Das recentes produções com enfoque cristão, filmado por produtoras seculares, podemos destacar os filmes estrelados pelo Padre Marcelo Rossi: Maria, Mãe do Filho de Deus (2003) e Irmãos de Fé (2004). E os filmes produzido pela produtora evangélica Record Filmes, que é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus: Os Dez mandamentos (2016), Jonas (2016) baseado em histórias bíblicas e Nada a Perder (2018), que narra a história de um dos fundadores da igreja, Edir Macedo. O uso do cinema pelos cristãos brasileiros não foi transgressor, até mesmo porque não havia nenhum modelo pré-estabelecido para ser quebrado. No uso do cinema, salvo algumas denominações evangélicas que percebem o cinema como uma afronta aos

seus costumes doutrinários, a maioria delas adaptou-se ao seu uso como modo de entretenimento, numa adaptação cultural religiosa ao espírito da época. É comum, inclusive, nas igrejas locais de diferentes denominações acontecerem tardes de exibição de filmes, com conteúdo cristão para o debate entre a membresia. Ou mesmo a organização de grupos das igrejas para irem juntos ao cinema para assistirem o lançamento de algum novo filme com tema religioso. É evidente que filmes que trabalham os temas religiosos de uma maneira considerada progressista recebem pressão de alas conservadoras das diferentes denominações para serem censurados ou boicotados. Todavia, em termos gerais a relação dos evangélicos brasileiros com o formato de distribuição de imagens através do cinema com conteúdo religioso acontece de maneira natural.

1.2.4. A imagem em movimento em casa: a criação da televisão e seu uso pelos

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