Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0000.15.006549-8/000

Número do Númeração 0065498-

Des.(a) Carlos Levenhagen Relator:

Des.(a) Carlos Levenhagen Relator do Acordão:

18/06/2015 Data do Julgamento:

26/06/2015 Data da Publicação:

EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO COMINATÓRIA - F O R N E C I M E N T O G R A T U I T O D E M E D I C A M E N T O A M E N O R - COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE - ACOLHIMENTO DO CONFLITO. - Fundando-se a ação na proteção de interesse individual de menor, é de se aplicar o Princípio da Especialidade, definindo-se pela competência do juízo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Muriaé para processar e julgar o feito, 'ex vi' do disposto nos artigos 148, IV, e 209, do ECA.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 1.0000.15.006549-8/000 - COMARCA DE MURIAÉ - SUSCITANTE: JD JUIZADO ESPECIAL COMARCA MURIAÉ - SUSCITADO(A): JD V CR INF JUV COMARCA MURIAÉ - INTERESSADO:

RAQUEL CAZEDEI BARBOSA REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE SILVANA SILVA CASADEI, MUNICIPIO MURIAE

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DECLARAR O SUSCITADO COMO COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO.

DES. BARROS LEVENHAGEN

RELATOR.

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O DES. BARROS LEVENHAGEN (RELATOR)

V O T O

Trata-se de CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA suscitado pelo JD JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE MURIAÉ em face do JD DA VARA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE MURIAÉ, que, nos autos da AÇÃO COMINATÓRIA ajuizada por RAQUEL CAZEDEI BARBOSA REPRESENTADA P/ MÃE SILVANA SILVA CASADEI contra o MUNICÍPIO DE MURIAÉ, declinou a competência, conforme razões de fl. 39/41.

Informações pelo Juiz suscitado à fl. 58 - TJ.

Com vista dos autos, a d. Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se pela competência do da vara de Infância e Juventude da Comarca de Muriaé, ora suscitado (fl. 60/61 - TJ).

É o relatório.

Conheço do conflito de competência.

Razão, contudo, não assiste ao suscitado, 'data venia'.

Fundando-se a ação em que foi proferida a decisão objurgada na proteção de interesse individual de menor, é de se aplicar à hipótese o Princípio da Especialidade, definindo-se pela competência do juízo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Muriaé para processar e julgar o feito.

Apesar da competência exposta na Lei Federal nº 12.153/09, que

prescreve, no seu art. 2º, § 4º, que "no foro onde estiver instalado Juizado

Especial da Fazenda Pública, a sua competência é absoluta."

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A Lei de Organização e Divisão Judiciárias estabelece, no âmbito da justiça de primeiro grau do Estado de Minas Gerais:

Art. 62. Compete ao Juiz da Vara da Infância e da Juventude exercer as atribuições definidas na legislação especial sobre menores bem como as de fiscalização, orientação e apuração de irregularidades de instituições, organizações governamentais e não governamentais, abrigos, instituições de atendimento e entidades congêneres que lidem com menores, garantindo- lhes medidas de proteção.

A seu turno, o Estatuto da Criança e Adolescente prevê:

"Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

(...)

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos, afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art.

209."

"Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deve ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvada a competência da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores."

A propósito, ainda, o que estabelece o art. 208, do ECA:

"Art. 208 - Regem-se pelas disposições desta lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta regular:

(...)

VII - de acesso à ações e serviços de saúde;"

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Neste sentido, o entendimento do colendo STJ:

PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSES INDIVIDUAIS, D I F U S O S O U C O L E T I V O S V I N C U L A D O S À C R I A N Ç A E A O A D O L E S C E N T E .

1. A pretensão deduzida na demanda enquadra-se na hipótese contida nos arts. 98, I, 148, IV, 208, VII e 209, todos da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e Adolescente), sendo da competência absoluta do Juízo da Vara da Infância e da Juventude a apreciação das controvérsias fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos vinculados à criança e ao adolescente.

2. As medidas de proteção, tais como o fornecimento de medicamentos e tratamentos, são adotadas quando verificadas quaisquer das hipóteses do art. 98 do ECA.

3. A competência da Vara da Infância e da Juventude é absoluta e justifica-se pelo relevante interesse social e pela importância do bem jurídico a ser tutelado nos termos do art. 208, VII do ECA, bem como por se tratar de questão afeta a direitos individuais, difusos ou coletivos do infante, nos termos dos arts. 148, inciso IV, e 209, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Precedentes do STJ.

4. O Estatuto da Criança e Adolescente é lex specialis e prevalece sobre a regra geral de competência das Varas de Fazenda Pública, quando o feito envolver Ação Civil Pública em favor da criança ou adolescente, na qual se pleiteia acesso às ações ou serviços e saúde, independentemente de a criança ou o adolescente estar em situação de abandono ou risco. Recurso Especial provido. (REsp 1486219/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 04/12/2014)

Há precedentes desta Corte:

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Relator: Des. Edilson Fernandes Órgão Julgador: 6ª CÂMARA CÍVEL Data de Julgamento: 29/05/2012

Data da publicação da súmula: 06/06/2012

EMENTA: AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - COMPETÊNCIA DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS E INSUMOS - TUTELA ANTECIPADA - PRESENÇA DOS REQUISITOS. RECURSO NÃO PROVIDO. A competência da Vara da Infância e Juventude encontra respaldo na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, de modo que não há que se falar em incompetência absoluta do juízo. A prescrição médica que demonstra a necessidade de alimentos indispensáveis ao correto tratamento da paciente preenche os requisitos previstos no artigo 273 do CPC, tornando imperiosa a manutenção da tutela antecipada deferida no juízo de origem."

"Agravo Regimental-Cv 1.0145.11.036041-2/002 Relator: Des. Peixoto Henriques

Órgão Julgador: 7ª CÂMARA CÍVEL Data de Julgamento: 21/08/2012

Data da publicação da súmula: 31/08/2012

EMENTA: AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.

DECLINATÓRIA PARA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. DECISÃO RECORRIDA PROLATADA POR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (ART. 19-A, I, "B", RI/TJMG). AGRAVO INTERNO PROVIDO.

Por força do art. 19-A, I, "b", do vigente Regimento Interno do Tribunal de

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Justiça de Minas Gerais, compete a uma de suas oito primeiras Câmaras Cíveis processar e julgar o recurso interposto contra "decisão proferida por juiz da infância e da juventude". AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. TUTELA ANTECIPADA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. CRIANÇA. COMPETÊNCIA DO JUIZADO DA INFÂNCIA E D A J U V E N T U D E . V E R O S S I M I L H A N Ç A E P E R I C L I T A Ç Ã O DEMONSTRADOS. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. I - Em face dos arts. 4º, 11, 98, I, e 148, "caput", IV, todos do ECA (Lei n.º 8.069/90), impossível negar a competência absoluta da Vara da Infância e da Juventude para cuidar da ação ordinária onde um ente municipal resiste ao fornecimento de medicamento tido por necessário ao tratamento de uma criança. II - Constatados, ainda que em cognição sumária, os requisitos elencados no art. 273 do CPC, pois verossímeis as alegações de imprescindibilidade do medicamento prescrito, amparadas em idôneos receituário e laudo firmados por médicos vinculados ao próprio SUS que descrevem a moléstia e a necessidade de utilização do fármaco para o êxito do tratamento do paciente, é imperativo o deferimento da antecipação de tutela, mormente em face da inequívoca premência de proteção à vida digna, bem jurídico maior, e em atendimento ao exposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº. 8069/90), que assegura absoluta prioridade aos menores no atendimento integral do direito à saúde."

Com estas considerações, ACOLHO o Conflito Negativo de Competência e, em consequência, declaro competente para o processamento e julgamento do feito o juízo suscitado.

DES. VERSIANI PENNA - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. ÁUREA BRASIL - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DECLARARAM O SUSCITADO COMPETENTE PARA

PROCESSAR E JULGAR O FEITO"

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