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Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal: principais diferenças

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3 A RESERVA LEGAL FLORESTAL 3.1 Perspectiva histórica

3.7 Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal: principais diferenças

O Código Florestal, conforme acentua Padilha (2010, p. 330), reconhecendo ³DV IORUHVWDVH GHPDLV IRUPDV GH YHJHWDomR H[LVWHQWHV QR WHUULWyULR QDFLRQDO FRPR úteis às terras que revestem, tornando-as bens de interesse comum a todos os

KDELWDQWHV GR 3DtV´ HVWDEHOHFHX GRLV LPSRUWDQWHV LQVWUXPHQWRV Sara protegê-las: áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente.

As áreas de preservação permanente (APP), assim como as áreas de reserva legal, são institutos jurídicos que impõem limites à exploração absoluta da propriedade, por serem considerados espaços territoriais especialmente protegidos, com função ambiental diferenciada e definida por lei, o que justifica o gravame da propriedade pelos dois institutos.

A conceituação desses institutos foi estabelecida pelo Código Florestal, consignando-se que as APPs possuem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, além de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas, deixando evidente que seu objetivo principal é a proteção dos recursos naturais, conforme estabelece o artigo 1º, II, da Lei nº 4771/65.

A reserva legal, por sua vez, é compreendida como necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas, tendo, ainda, a finalidade de garantir a diversidade de exemplares de ecossistemas, nos moldes determinados pelo artigo 1º, III, da Lei nº 4771/65.

Importa considerar que a área de reserva legal, conforme já discorrido, corresponde a uma porcentagem variável do domínio de cada propriedade rural, cuja manutenção é obrigatória para a conservação da vegetação nativa, sendo sua localização, no interior da propriedade, definida pelo órgão ambiental competente que considera, entre outros critérios, o local onde há maior diversidade ecológica.

As áreas de preservação permanente, diversamente, têm localização definida pela legislação florestal (artigo 2º), podendo também ser declarada pelo poder público (artigo 3º). Assim, a proteção das APPs se dirige àquelas florestas e GHPDLVIRUPDVGHYHJHWDomRORFDOL]DGDVDRORQJRGRVFXUVRVG¶iJXDQDVHQFRVWDV nas restingas, ao redor dos lagos e lagoas, ao longo das rodovias, nos topos de PRUURVPRQWHVPRQWDQKDVHVHUUDVQDVQDVFHQWHVHQRVROKRVG¶iJXDHDRXWUDV enumeradas pelos referidos dispositivos, cuja importância ecológica reclama integral proteção.

Relativamente à possibilidade de utilização da vegetação componente desses espaços protegidos, o Código Florestal adotou dois regimes de utilização

das florestas: o regime especial, em que a exploração florestal de regra não é permitida, e o regime de utilização limitada, permitindo-se a exploração florestal mediante o manejo florestal. As APPs se enquadram na primeira situação e as ARLs, na segunda.

Comentando os regimes de utilização das florestas, Magalhães (2001, p. 55) afirma que no regime especial há verdadeira preservação ecológica, enquanto no regime de utilização limitada há conservação. Tecendo distinção entre os termos preservação e conservação, segue o autor aduzindo que

A preservação cuida de manter os ecossistemas intactos e com suas características originais, enquanto que a conservação implica a utilização dos recursos do ambiente, mediante manejo, com o propósito de se obter a mais alta qualidade sustentável da vida humana.

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), introduziu o conceito de preservação e conservação:

Conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral;

Preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais (art. 2º, II e V). A obrigatoriedade de serem averbadas as áreas de reserva legal não se estende às áreas de preservação permanente. Registra-se, ainda, outra diferença quanto à localização dessas áreas, encontrando-se as APPs em áreas urbanas ou rurais, ao passo que as reservas legais são exigíveis apenas nas propriedades rurais.

Quanto ao ato de constituição, as áreas de RL podem ser instituídas por lei ou ato do poder público, enquanto as APPs somente podem ser instituídas por lei.

A supressão de vegetação em APP somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e

locacional ao empreendimento proposto (art. 4º, da Lei nº 4771/65). Nas áreas de RL admite-se o manejo sustentável, sem descaracterizar ecologicamente os recursos florestais e o ecossistema (art. 16, § 2º, da Lei nº 4771/65).

Dentre os aspectos comuns aos dois institutos, destaca-se que ambos são considerados espaços territoriais especialmente protegidos; possuem natureza jurídica de limitação ao direito de propriedade; a sua destinação é inalterável, senão por lei, conforme estabelece a Constituição Federal em seu artigo 225.

Esses espaços territoriais, ao lado de outros, ganharam proteção constitucional pela relevante função que desempenham para a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial ao bem-estar público e à sadia qualidade de vida.

Em razão das funções diferenciadas que tais áreas desempenham, a propriedade rural, além da área de preservação permanente, ainda deve destinar um percentual de sua área total para instituição reserva legal, não se admitindo, via de regra, sua sobreposição.

Atualmente, a única possibilidade de se considerar a área de preservação permanente como parte integrante da reserva legal é na hipótese vislumbrada pelo parágrafo 6º da atual redação do artigo 16 do Código Florestal, ou seja, quando a soma da APP e reserva legal ultrapassarem o equivalente a 80 % (oitenta por cento) da propriedade rural localizada na Amazônia Legal, 50 % (cinquenta por cento) da propriedade rural localizada nas demais regiões do país e 25% (vinte e cinco por cento) da pequena propriedade.

Portanto, nas demais situações em que há coexistência desses espaços em uma mesma propriedade rural, a demarcação da reserva legal não deverá abranger as áreas de preservação permanente, conforme disposição expressa no artigo 16 da legislação florestal.

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