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O fundo para o pagamento

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5 PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

5.6 O fundo para o pagamento

A implementação de mecanismos de pagamentos por serviços ambientais destinados à manutenção de áreas de reserva legal demanda a existência de uma fonte de custeio que o sustente e o viabilize, até porque ainda não há, no Brasil, marco legal federal consolidado para o pagamento por serviços ambientais.

Entre os obstáculos que gravitam em torno do tema, a correta valoração dos serviços ecossistêmicos tem sido objeto de expressiva discussão, uma vez que a compensação para a preservação dos recursos naturais deve ser significativa e mais rentável do que o retorno resultante de sua exploração econômica. Essa equação, todavia, não apresenta fácil solução, sobretudo pela variabilidade da capacidade florestal na armazenagem de carbono, considerando seu estágio de desenvolvimento e densidade de biomassa (COSTA, 2008, p. 199).

Relativamente à preservação de florestas, o mercado de créditos de carbono, implementado pelo Protocolo de Quioto, destaca-se como um esquema de PSA mundialmente difundido, com impactos diretos na mitigação do aquecimento global, embora os critérios para elegibilidade de um projeto, no âmbito de Quioto, pouco favoreceriam as atividades de reflorestamento e conservação das áreas de reserva legal. No Brasil, os programas para conservação florestal baseados em mecanismo de PSA, como o bolsa floresta e a bolsa verde, ainda que contemplem apenas a agricultura familiar, os povos indígenas e os povos e comunidades tradicionais, constituem experiências que evidenciam a possibilidade da implantação de sistema de PSA para incentivar a manutenção das áreas de reserva legal com uma maior abrangência.

Nesse sentido, a estratégia adotada no programa bolsa floresta instituído SHORHVWDGRGR$PD]RQDVGHPRQVWUDTXHRFRPSURPHWLPHQWRGH³UHFXUVRVS~EOLFRV como contrapartida para atrair recursos de terceiros, por meio de acordos, apresenta alto potencial para captação de recursos internacionais e do setor privado em âmbito QDFLRQDO´ :81'(5S 

A participação do setor privado pode ser estimulada pela implementação de mecanismos nacionais de incentivo que revertam em benefícios ambientais, como o selo verde ou marketing ecológico, conceitos comum no mercado europeu, que podem ser adotados no País, como uma estratégia de mercado, capazes de despertar o interesse de empresas privadas para investirem na conservação de ecossistemas naturais ou projetos de reflorestamento.

Para Pereira (2010, p. 5) o Poder Público não deveria figurar como comprador de serviços ambientais, haja vista que a alternância do poder pode ensejar a suspensão do pagamento ante a eleição de outras prioridades do novo governo. Assim, o poder público deveria atuar apenas como parceiro na viabilização

do PSA, legislando sobre a criação, viabilização, monitoramento e fiscalização dos programas de pagamento por serviços ambientais e promovendo a captação de potenciais financiadores de ações de reflorestamento e assistência técnica aos produtores rurais que pretenderem se integrar no sistema de PSA.

Apontando possíveis fontes de financiamentos de PSA, sem esgotar todas as possibilidades, Pereira (2010, p. 5) faz referências às instituições bancárias públicas ou privadas; aos fundos nacionais ou internacionais; ao orçamento da União, Estados e Municípios e taxas e impostos; aos royalties e compensações financeiras e instrumentos de gestão ambiental; aos apoios e programas governamentais; às iniciativas de financiamento, apoios, programas de empresas e entidades privadas e ao Fundo Federal de Pagamento por Serviços Ambientais55.

Relativamente à participação das instituições bancárias, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiam projetos com componentes de Pagamento por Serviços Ambientais desenvolvidos em várias partes do mundo. São exemplos desta parceria o investimento destinado ao projeto Reflorestar, no Estado de Espírito Santo, na ordem de R$ 560 milhões, com o objetivo de recuperar 30 mil hectares de cobertura vegetal até o ano 201456; o projeto Plantar57, também financiado pelo Banco Mundial, visando à produção de carvão vegetal com o propósito de contribuir para a mitigação do aquecimento global, que deverá reduzir a concentração de CO2 equivalente na atmosfera em mais de 12 milhões de toneladas, por meio de sumidouros de carbono e pelas reduções de emissão na indústria; o fundo da Amazônia, criado com o propósito de captar recursos e incentivar a preservação da floresta amazônica; o programa de desenvolvimento sustentável no Estado de Acre, entre outros.

Dentre os fundos nacionais ou internacionais, sobressaem-se o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Global Environment Facility±GEF)58,

criado em 1991, com o objetivo de financiar projetos e programas para a preservação ambiental global, nos países em desenvolvimento; o Fundo Nacional do

55 Projeto de Lei 5.487/09, em tramitação na Câmara dos Deputados.

56 Disponível em <http://www.sedurb.es.gov.br/default.asp>. Acesso em 10/12/2011. 57 Disponível em <http://www.projetoplantar.com.br/>. Acesso em 10/12/2011. 58 Disponível em < http://www.thegef.org/gef/whatisgef >. Acesso em 10 dez 2011.

Meio Ambiente (FNMA), criado pela PNMA; o Fundo de Direitos Difusos59; o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF)60; o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO)61; o Fundo Nacional para Mudança do Clima (FNMC)62 e

outros fundos criados por lei estadual para manter o pagamento de serviços ambientais em âmbito estatal, como o Fundo Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais no Estado de Santa Catarina63; o Fundo Estadual de Recursos Hídricos

do Espírito Santo (FUNDÁGUA)64; o Fundo da Amazônia65; o Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural Proambiente (Proambiente)66 e outros.

Outra fonte de custeio para o PSA decorre do repasse financeiro dos estados aos municípios que implementem políticas públicas ambientais, por meio do ICMS Ecológico, já adotado por vários estados: Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rondônia e Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins e Pernambuco (FURLAN, 2010, p. 226).

No âmbito nacional evidencia-se a Lei da Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97), que permitiu a implementação de um mecanismo de serviços ambientais por meio do Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas. A lei instituiu o marco normativo para a cobrança pelo uso da água, que é

59 Criado em 24 de julho de 1985 pela Lei nº 7.347, e regulamentado pela Lei nº 9.008, de 21 de

março de 1995, tem como objetivo a reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, por infração à ordem econômica e a outros interesses difusos e coletivos.

60 Criado pela Lei nº 11.284 de 6 de março de 2006, mantido no âmbito do Orçamento Geral da

União e gerido pelo Serviço Florestal Brasileiro, e tem por finalidade fomentar o desenvolvimento de atividades florestais sustentáveis no Brasil e promover a inovação tecnológica no setor.

61 Associação civil sem fins lucrativos que trabalha para conservar a diversidade biológica do País.

Foi criada em 1996, com uma doação de US$ 20 milhões do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (Global Environment Facility-GEF) para complementar as ações governamentais, em consonância com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), de âmbito mundial, e o Programa Nacional da Diversidade Biológica (Pronabio).Representantes dos setores empresariais, ambiental, acadêmico e governamental formam o Conselho Deliberativo, responsável pelas decisões do Funbio, que depois são transformadas em ações pela Secretaria Executiva.

62 Criado pela Lei nº 12.114, de 09 de dezembro de 2009. 63 Criado pela Lei Estadual nº 15.133, de 19 de janeiro de 2010. 64 Criado pela Lei Estadual nº 8.995, de 22 de setembro de 2008. 65 Criado pelo Decreto nº 6.527, de 1º de agosto de 2008.

66 O objetivo do Proambiente é compatibilizar a conservação do meio ambiente com os processos de

desenvolvimento rural, por meio do aproveitamento social e econômico da terra, sob baixos riscos de degradação ambiental. Resultado da iniciativa da sociedade civil, atualmente o Proambiente foi incluído no PPA 2004/07 como programa do Ministério do Meio Ambiente (FURLAN, 2010, p. 226).

fonte importante de recursos para o pagamento pelos serviços ambientais relacionados aos recursos hídricos.

Atualmente, discute-se em nível global a implementação do mecanismo REDD como uma das formas de pagamento por serviço ambiental. No Brasil, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto nº 5.586/2009, com o propósito de incentivar o desenvolvimento de um mercado interno de carbono florestal que financie a redução de desmatamento e a conservação florestal com recursos oriundos dos setores industriais e da produção e consumo de energia no país.

O projeto de reforma do Código Florestal67, em trâmite no Congresso Nacional, incluiu sistema de pagamento por serviços ambientais para a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APP) e de reserva legal (RL), combinando mecanismos de comando e controle com regras de premiação àqueles que preservam os recursos naturais, com recursos a serem definidos pelo Poder Executivo.

Por outro lado, o Projeto de Lei que institui a Política Nacional dos Serviços Ambientais, em trâmite no Congresso Nacional, estabelece um fundo misto para custear projetos para pagamento de serviços ambientais, com a participação de um percentual oriundo dos recursos obtidos no contexto da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, que instituiu a política energética nacional e as atividades relativas ao monopólio do petróleo; de dotações consignadas em lei orçamentária da União e doações realizadas por entidades nacionais e agências multilaterais de cooperação internacional ou, na forma do regulamento, de outras pessoas físicas ou jurídicas e, por fim, de rendimentos obtidos pelo fundo, decorrentes de aplicações de seu patrimônio.

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