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Servidão Florestal

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3 A RESERVA LEGAL FLORESTAL 3.1 Perspectiva histórica

3.5 Ausência de vegetação nativa no imóvel

3.5.1 Servidão Florestal

Dentre as inovações introduzidas pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, destaca-se a servidão florestal, capaz de ensejar oportunidade compensatória, conforme artigo 44 do Código Florestal, in verbis:

Art. 44-A. O proprietário rural poderá instituir servidão florestal, mediante a qual voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa localizada fora da reserva legal e da área com vegetação de preservação permanente.

Por meio deste instituto, permite-se ao proprietário de um imóvel rural destinar parte deste para reserva legal de imóvel rural de terceiro, desde que estejam ambos localizados na mesma bacia hidrográfica e pertença ao mesmo ecossistema, conforme dispositivo supratranscrito.

Pretendendo o proprietário instituir servidão florestal, deve renunciar, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou exploração de vegetação nativa em área localizada fora da Reserva Legal, devendo averbá-la no registro de imóveis.

Registre-se, por outro lado, que a servidão florestal não se confunde com outras modalidades de servidões previstas no ordenamento jurídico.

Conforme entendimento de Meirelles (1997, p. 544), a servidão civil se caracteriza por um direito real, de um prédio particular sobre o outro, instituído com finalidade de serventia privada. Já a servidão administrativa caracteriza-se pela imposição de um ônus real, pelo poder público, sobre propriedade particular, destinando-se à serventia pública.

Salienta Silva (2002, p. 189) que a servidão florestal não é considerada direito público, vez que não é instituída pelo Poder Público, mas pelo particular, proprietário do imóvel rural, podendo ser identificada como um instituto não idêntico ao da servidão simples, mas análogo ao da servidão acima tratada, por possuir características próprias.

Para Antunes (2005, p. 6), a servidão florestal, ao contrário da servidão administrativa regulada pelo Código Civil, não pode ser considerada uma limitação ao uso da propriedade, pois sua constituição é de caráter voluntário e incide sobre um imóvel específico, ao passo que, para que se configure uma limitação

administrativa à propriedade, deverá sempre existir um interesse público genérico e abstrato incidente sobre propriedades indeterminadas e decorrentes de lei expressa.

Acrescente-se, ainda, que sob o aspecto fiscal as áreas de servidão florestal podem ser beneficiadas pela isenção do Imposto Territorial Rural (ITR), bastando o protocolo do Ato Declaratório Ambiental (ADA) no Ibama ou em órgãos ambientais estaduais no prazo de até seis meses, contado a partir do término do prazo fixado para a entrega da declaração.

A servidão florestal, ainda, pode ser representada por um título: a cota de reserva florestal. Trata-se de uma espécie de crédito conferido ao proprietário rural que se dispõe a preservar a vegetação natural além do que a legislação determina.

Art. 44-B. Fica instituída a Cota de Reserva Florestal - CRF, título representativo de vegetação nativa sob regime de servidão florestal, de Reserva Particular do Patrimônio Natural ou reserva legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder os percentuais estabelecidos no art. 16 deste Código. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

Parágrafo único. A regulamentação deste Código disporá sobre as características, natureza e prazo de validade do título de que trata este artigo, assim como os mecanismos que assegurem ao seu adquirente a existência e a conservação da vegetação objeto do título. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001).

O instituto pode trazer benefícios às políticas econômicas e ambientais do Brasil, possibilitando aos interessados a criação de um novo mercado ligado à conservação de recursos naturais, com reflexos econômicos consideráveis para as regiões que apresentam áreas de melhor produtividade e outras de baixa aptidão para explorações agropecuárias, que poderiam se destinar à preservação ambiental. Assim, instituída a servidão florestal, o proprietário pode comercializá-la, transferindo a terceiros que, por sua vez, poderão adquirir o direito à existência e à conservação da sua vegetação.

A diferença entre servidão florestal e a cota de reserva florestal é enfrentada por Pompermayer (2006, p. 40):

A diferença entre os artigos 44-A e 44-B é que o artigo 44-A é dirigido ao proprietário, o qual será o beneficiário da servidão, de forma definitiva ou temporária, podendo computar essas áreas para a instituição da RL em outra área. Ao passo que o art. 44-B integra o mercado de produtos, que, através de um título a ser criado entre o

Cartório de Registros de Imóveis e o órgão ambiental competente, represente a Cota de Reserva Florestal; no entanto, até a presente data ainda não há regulamentação do artigo.

De fato não há, até então, regulamentação do artigo 44-B do Código Florestal, dispondo sobre as características, natureza e prazo de validade da Cota de Reserva Legal, assim como os mecanismos que assegurem ao seu adquirente a existência e a conservação da vegetação objeto do título.

A importância do instituto, como instrumento capaz de estimular o cumprimento da legislação florestal, tem sido objeto de estudo objetivando a sua regulamentação,

Desde março de 2005 existem estudos para regulamentar a Cota de Reserva Florestal. Até uma comissão conjunta foi instituída para estudar a regulamentação do dispositivo 44-B, composta por representantes dos Ministérios do Meio Ambiente, Fazenda e Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Estima-se que sua regulamentação propiciará a operacionalização dos instrumentos disponíveis para viabilizar a compensação da reserva legal, ocasionando o alcance de sua finalidade, qual seja, de suas funções de recuperação e conservação da biodiversidade, ou seja, possibilitará a compatibilização das atividades econômicas rurais com a conservação e preservação dos recursos naturais. (SILVA; CUREAU; LEUZINGER, 2010, p. 451).

O Projeto de Lei nº 1.876/99, em trâmite perante o Congresso Nacional, disciplina o instituto com a designação de Cota de Reserva Ambiental (CRA), titulo nominativo representativo de área com vegetação nativa correspondente à área de reserva legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder àquela destinada à constituição da reserva legal.

O diploma legal em tramitação estabelece, inclusive, todo o procedimento para a emissão da Cota de Reserva, bem como seu registro em bolsas de mercadorias de âmbito nacional e a hipótese de transferência e cancelamento do título.

De acordo com o projeto, as cotas de reserva ambiental poderão ser adquiridas por qualquer proprietário de terras com déficit de vegetação, o que não é permitido, atualmente, aos proprietários que, sem autorização legal, após a edição da Medida Provisória nº 1.736/98, suprimiram a vegetação de suas propriedades.

Como mecanismo de gestão ambiental, objetivando suprir o déficit da reserva florestal nas propriedades rurais, a compensação por meio da aquisição de

cotas de reserva legal se apresenta como uma ferramenta capaz de contribuir para a diminuição do desflorestamento, acenando ao proprietário com ativo ambiental oportunidade lucrativa na conservação do excedente de vegetação que venha possuir.

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