• Nenhum resultado encontrado

Meio Ambiente: definição legal

No documento Download/Open (páginas 95-98)

4 A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

4.1 Meio Ambiente: definição legal

A definição legal de meio ambiente foi introduzida pela Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, promulgada em resposta às pressões sociais intensificadas após a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente Humano34, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972.

A Conferência de Estocolmo constituiu marco decisivo para a implementação de uma legislação ambiental brasileira, até então limitada à preservação da fauna e flora, utilização da água e recurso minerais. A preocupação com os impactos ambientais causados pelo processo do desenvolvimento, somada a necessidade de conferir ao tema ecológico tratamento consentâneo com as recomendações da Conferência de Estocolmo, contribuiu para a edição de uma legislação ambiental brasileira, com alcance maior (ALMEIDA, 1998, p. 137).

A importância de uma legislação ambiental interna se acentuou a partir da década de 1970, quando grandes projetos de desenvolvimento foram implantados

34

A Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, realizada de 05 a 16 de junho de 1972, em Estolcomo, Suécia, foi considerada um marco histórico político internacional para a evolução do tratamento das questões ligadas ao meio ambiente no plano internacional e também no plano interno de grande número de países. O evento, decisivo para o surgimento de políticas de gerenciamento ambiental, direcionou a atenção das nações para as questões ecológicas (PASSOS,2009, p.02), pela primeira vez.

no Brasil35 e, por exigência de organismos multilaterais de financiamento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial (BIRD), bem como por recomendação da Conferência de Estocolmo, deveriam ser submetidos a avaliação de impacto ambiental (IBAMA, 1995, p. 24).

No entanto, à época, não havia no Brasil normas ambientais adequadas para o processo de avaliação de impacto ambiental, o que obrigou os projetos a se submeterem a estudos realizados segundo as normas das agências internacionais (IBAMA, 1995, p. 24).

Compreendendo-se, assim, que referidas normas não seriam adequadas para considerar a biodiversidade local, bem como diante das pressões decorrentes dos movimentos ambientalistas e das exigências dos organismos internacionais de financiamento, a necessidade de uma legislação ambiental doméstica se concretizou na edição da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (IBAMA, 1955, p. 24).

A Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional de Meio Ambiente) define meio ambiente no art. 3º, inciso I, nos seguintes termos:

Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL,1981).

Weyermüller (2010, p. 11), analisando o citado dispositivo, ressalta que o conceito legal reflete a moderna compreensão humana sobre o meio ambiente, em que o homem é considerado parte integrante da natureza, superando-se a antiga postura que o situava como mero destinatário dos recursos naturais.

Reconhecendo a importância da definição legal do termo, Thomé (2011, p.180) acrescenta a necessidade de ser conferida maior dimensão ao conceito, ultrapassando os aspectos naturais:

Apesar de fundamental à época em que foi elaborada (ainda em 1981), trata-se de uma definição tímida em relação às necessidades e anseios da sociedade moderna, ao abranger apenas os aspectos naturais do meio ambiente. A análise do princípio do

35 Destacam-se, neste sentido, as usinas hidrelétricas de Sobradinho-BA, Tucuruí-PA e o terminal porto

ferroviário Ponta da Madeira, no Maranhão, ponto de exportação do minério extraído pela Companhia Vale do Rio Doce, na Serra do Carajás

desenvolvimento sustentável deixa evidentes as interfaces e a comSOH[LGDGHGRTXHKRMHGHQRPLQDPRV³PHLRDPELHQWH´

Silva (2009, p. 834) entende que à concepção legal de meio ambiente deve ser conferido um enfoque unitário, de interação de todos aqueles conjuntos, para, além dos recursos naturais, alcançar os valores culturais. É o que conclui o autor:

O conceito mostra a existência de três aspectos do meio ambiente: (a) meio ambiente artificial ± constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaços urbanos abertos); (b) meio

ambiente cultural ± integrado pelo patrimônio histórico, artístico,

arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se impregnou; (c)

meio ambiente natural ou físico ± constituído pelo solo, água, ar,

atmosférico, flora; enfim, pela interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre as espécies e as relações desta com o ambiente físico que ocupam.

No mesmo sentido é a abordagem conferida por Miranda (2009, p. 24), VXVWHQWDQGRTXH³RFRQFHLWRGHPHLRDPELHQWHGHYHVHUDEUDQJHQWHGHWDOVorte que DOEHUJXHWRGRVRVDVSHFWRVSRVVtYHLVTXHOKHVmRFRUUHODWRV´ De igual forma, Fiorillo

apud Miranda (2009, p. 25) assevera:

[...] que a definição de meio ambiente é ampla, devendo-se observar que o legislador optou por trazer um conceito jurídico indeterminado, a fim de criar um espaço positivo de incidência da norma.

Refletindo, ainda, sobre a conceituação legal de meio ambiente, Justiniano (2010, p. 16) infere:

Note-se que o legislador referiu-se a todas as formas de vida bem como às influências e interações entre elas, incluindo-se, neste item, os aspectos relacionados à ação humana sobre o meio ambiente. Destaquem-se os efeitos da ocupação humana sobre o meio ambiente, em seus diversos níveis: cobertura vegetal, fauna, clima, ictiofauna.

A interpretação doutrinária do dispositivo legal converge para o HQWHQGLPHQWRGHTXHRPHLRDPELHQWH³GHYHVHUDPSORDJOXWLQDGRUHQYROYHQGRH interconectando os aspectos bióticos (flora e fauna), abióticos (físicos e químicos)

econômicos e sociais, culturais, enfim, os aspectos que conjuntamente formam o DPELHQWH´ 7+20eS 

A Constituição Federal Brasileira de 1988, recepcionando a PNMA, confere ao meio ambiente o status GH EHP ³FRP XP YDORU LQHUHQWH D VHU SUHVHUYDGR H garantido. Um bem essencial e fundamental [...] que transcende a questão da propriedade para atingir outra dimeQVmR´ (WEYERMÜLLER (2010, p. 12).

Assim, com o advento da nova ordem constitucional, o conceito normativo de meio ambiente foi ampliado para abranger, também, outras faces, como o meio ambiente artificial, meio ambiente do trabalho e meio ambiente cultural.

SeJXQGR  '¶LVHS  S   R MXULVWD 0LFKHO 3ULHXU UHIHULD-se ao meio DPELHQWHFRPR³FDPDOHmR´HPUD]mRGHVXDDSOLFDELOLGDGHQRXQLYHUVRMXUtGLFRHQD diversidade de direitos que um só objeto é capaz de alcançar.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente ± CONAMA36, no ano de 2008,

após a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, ampliou, por meio da Resolução nº 306, de 19 de julho de 2002, o conceito conferido pela PNMA sobre o meio ambiente, para englobar a dimensão cultural, social e urbanística, Neste sentido, o CONAMA define meio ambiente nos seguintes termos:

XII - Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (grifamos).

A definição jurídica de meio ambiente, interpretada pelo pensamento científico, assume característica globalizante (SILVA, 2009, p. 834) e, como valor indispensável à vida na Terra, exige o equilíbrio entre as atividades humanas e os processos ecológicos fundamentais (SAMPAIO apud THOMÉ, 2011, p. 181).

No documento Download/Open (páginas 95-98)